Triplo A: a nova ameaça à soberania brasileira na Amazônia
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No Dia Mundial do Meio Ambiente, o Brasil se vê diante de uma proposta do presidente da Colômbia para criar um “corredor ecológico” que iria dos Andes ao Atlântico, passando pela Amazônia. Segundo o professor Rogério Maestri, porém, as preocupações supostamente ambientais do projeto podem esconder interesses estrangeiros bem mais perversos.
“Esse
tal corredor ecológico, que pra mim não é um corredor, é uma verdadeira
ocupação. É o germe de uma ocupação de uma parte do Brasil com o
objetivo de isolá-lo do norte, do Caribe, e a América do Sul da parte
norte”, disse o especialista em entrevista à Sputnik.
Professor visitante de Engenharia Hidráulica na Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maestri se preocupa não apenas com os
aspectos técnicos da questão ambiental, mas também com os fatores
geopolíticos por trás de ideias como a do chefe de Estado colombiano,
Juan Manuel Santos, que anunciou publicamente em fevereiro que iria
propor ao Brasil e à Venezuela este “ambicioso” corredor ecológico.
Fundação Gaia Amazonas
Projeto do corredor ecológico Triplo A
Em primeiro lugar, conforme aponta o professor, o termo “corredor ecológico” é impróprio para qualificar o projeto do Triplo A. “De acordo com o costume internacional, se fazem corredores com largura de, digamos, no máximo 1 km. (…) O que chamam de corredor ambiental é algo que varia aqui [no Triplo A] de 50km a 500km”, ressaltou.
“Pode ser qualquer coisa, menos corredor ambiental. É um rasgo que se faz no norte do Brasil”.
De
fato, segundo lembra Maestri, um corredor ecológico legítimo na
Amazônia, a saber, que levasse em conta a necessidade de preservar a
integridade de uma determinada extensão de mata a fim de garantir o
fluxo genético entre espécies e evitar a endogamia, deveria integrar
outras regiões mais prejudicadas pela exploração humana na região, e não
teria a necessidade ambiental de ir até o Atlântico.
“Por que ir até o Atlântico? Se é problema
ambiental, era pra ir mais para o sul, mais para baixo da Venezuela, por
exemplo, e não precisava ir exatamente até o Atlântico. Chegar de um
lado a outro é claramente estratégico, e não é por acaso que [o Triplo
A] teria dois pontos de acesso”.
Talvez seja interessante notar que a ideia inicial do “ambicioso” projeto de Santos seja atribuída a Martín von Hildebrand,
fundador da ONG Gaia Amazonas e membro da Gaia Foundation, organização
também não governamental, mas com fortes vínculos com a Casa Real
Britânica.Segundo o site oficial da ONG inglesa, o trabalho na Amazônia começou com a mediação do ambientalista brasileiro José Lutzenberg, que também atuou no ministério do governo Fernando Collor de Mello. Na época, ele sofreu diversas críticas, sendo acusado inclusive de receber dinheiro indevido da Gaia Foundation, como noticiado pela revista Executive Intelligence Review, bem como de isolar os ambientalistas brasileiros das decisões políticas, preferindo o conselho de estrangeiros.
“Todas as cabeças coroadas europeias gostam
muito de ONGs – não as que queiram fazer alguma coisa no seu próprio
país, mas que queiram fazer nos outros países”, afirmou o professor da
UFRGS.
De acordo com Maestri, de fato, o envolvimento da Gaia Foundation na
proposta do Triplo A é mais um indício “de uma direção em termos de
ocupação de espaço por outros países”. “Se se olha a tradição europeia, vê-se que eles enxergam muito longe… Não é, por exemplo, como o americano, que é um pouco mais intempestivo, que tenta invadir no momento. Os ingleses, europeus, em geral, têm um raciocínio mais em longo prazo. Então eles vão implantando essas pequenas coisas, esse tal corredor ecológico, que pra mim não é um corredor, é uma verdadeira ocupação”. Além disso, Maestri também chama a atenção para o fato de a ideia ser patrocinada pela Colômbia, um dos maiores aliados dos EUA na América Latina, onde Washington dispõe de sete bases militares.
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AFP 2015/ Norberto Duarte
“Essas tribos estão em um processo de
incorporação de tecnologias modernas, algumas ainda bem atrasadas,
outras mais evoluídas. (…) Com essa autogestão, eles [os índios] ficam
sujeitos à manipulação. É mais ou menos o que acontece em diversos
países da África, que foram fragmentados ao extremo e agora são sujeitos
a invasões permanentes de tropas neocoloniais. (…) Ou seja, essa visão
de uma autodeterminação também serve [a interesses estrangeiros]; pode
levar eles, daqui a um tempo, a escolherem o país que vai ser o seu
suporte. Isso já contraria o princípio pétreo da Constituição que é a
indivisibilidade do Brasil”, adverte o especialista.
“Essas comunidades têm todo o direito e devem ser preservadas (…).
Porém, provavelmente com o tempo – e isso é mais ou menos lógico –,
essas culturas indígenas não vão ficar satisfeitas em viver na ‘Idade da
Pedra’ e vão querer mais. Bem, quem vai fornecer esse mais? Vai ser o
Brasil, a Colômbia, a Venezuela, ou os países europeus?”, acrescentou.
Amazônia Conectada/ Exército Brasileiro
De qualquer forma, o presidente colombiano prometeu apresentar o projeto na próxima conferência ambiental da COP 21, que será realizada entre os dias 7 e 8 de dezembro em Paris. Na opinião de Maestri, entretanto, a ideia não deve dar frutos pelo menos dentro dos próximos cinco anos. “É um projeto de longo prazo. Depois da COP 21, [a ideia] vai evoluindo, evoluindo, até que vão questionar a própria capacidade do Brasil de gerir essa parte. Como se eles, os europeus, americanos, fossem capazes de gerir. As florestas deles simplesmente foram acabadas. Onde teve colonialismo, acabaram com florestas imensas”, notou o professor.
“Somos tão incompetentes assim? Se a Amazônia
existe, é porque tinha um governo brasileiro, que bem ou mal ainda
conservou. Qual a moral que têm países que desmataram, que
colonializaram ao máximo – e ainda colonizam, agora com o
neocolonialismo –, em chegar e falar que o Brasil é incapaz?”
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Sputnik/ Maksim Bogodvid
“Se o Estado brasileiro ocupar aquela região
efetivamente, ninguém entra. Ocupar integralmente, desde o médico, da
professora, do pequeno hospital, até as Forças Armadas”, concluiu o
especialista.
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