quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Paul Robin: o primeiro pedagogo libertário, por Paulo Marques

*via página do Centro de Cultura Social

Paul Robin: o primeiro pedagogo libertário, por Paulo Marques

http://libertariosufpel.blogspot.com.br/2014/02/paul-robin-o-primeiro-pedagogo.html






Paul Robin: o primeiro pedagogo libertário, por Paulo Marques


Paul Robin(1837-1912)

Dentre os principais pensadores anarquistas europeus, precursores das experiências de Educação Libertária, está o educador francês Paul Robin(1837-1912), junto a ele também podemos identificar o educador catalão Francesc Ferrer i Guàrdia(1849-1909) e o francês Sebastién Faure(1853-1942). Todos eles terão seus nomes lembrados na história da Educação Libertária por serem os primeiros à passar da teoria (do qual também serão referências fundamentais) à prática com a construção das primeiras experiências educacionais de caráter libertário. Neste post daremos início a uma série de breves perfis destes três pioneiros, iniciando com Paul Robin, considerado o primeiro pedagogo libertário. Apresentaremos uma breve contextualização do movimento libertário de onde emerge o jovem pedagogo francês para posteriormente apresentar sua biografia.

O movimento anarquista e a educação

A história do movimento anarquista mostra que educação foi uma questão que esteve no centro do pensamento libertário desde seu nascimento no século XIX. Para os primeiros anarquistas estava claro que a educação não era o único ou mesmo o principal instrumento responsável pela revolução social, mas que sem mudanças profundas no modo de pensar das pessoas, efetivadas a partir da educação, a revolução não teria condições de ser realizada. Portanto, a educação tinha um papel fundamental na formação de homens e mulheres libertários. Foi com essa compreensão que diversos pensadores anarquistas se debruçaram sobre essa temática, debatendo e propondo alternativas aos modelo então predominantes.

É importante destacar que existiram diferentes formas de atuação do primeiros teóricos anarquistas no que tange a questão da educação. Alguns se ocuparam sistematicamente do tema e outros apenas de forma mais difusa. Da mesma forma é posíivel identificar as diferentes ações de cada um, ou seja, enquanto alguns direcionam sua preocupação para a crítica à educação burguesa e a propor genéricas reformulações no sistema escolar, outros autores se preocupavam com os fundamentos de uma educação libertária e estimulavam a criação e até se vinculavam à experiências concretas de escolas, no qual seria possível praticar um ensino condizente com os princípios da educação libertária.

Pode-se dizer que no primeiro grupo estão os também fundadores da filosofia anarquista como Proudhon(1809-1865) e Bakunin(.1814-1876), que foram protagonistas da primeira fase da relação do movimento anarquista com o tema da educação que se deu no Contexto das discussões da Primeira Internacional no período 1840 a 1882. Essa fase se caracterizou pela crítica ao sistema educacional vigente no qual se denunciava a submissão das instituições de ensino aos interesses da classe capitalista em perpetuar o seu sistema político e econômico. Proudhon denunciava: “ Nossas escolas quando não são estabelecimentos de luxo ou pretextos para sinecuras, são seminários da aristocracia” ( Luizetto, 1987, p. 48) .

Preocupado , principalmente com a situação da classe operária, excluída totalmente de qualquer tipo de educação, Proudhon defende a generalização do ensino politécnico e o acesso de todos a todos os graus do ensino, pois isso seria um importante passo no processo de emancipação dos trabalhadores. Com a morte de Proudhon a discussão foi retomada por Bakunin.

Segundo Luizetto(1987) foi com o Programa Educacional , elaborado em por um grupo de militantes em 1882, reunidos no Comitê para o ensino anarquista, que pode ser considerado o marco inicial da segunda fase da construção de uma ideia de educação anarquista, que avançava para a além da crítica e apresentava proposições para uma educação libertária, uma discussão que se prolongará até o século XX. Entre os principais protagonistas deste período e considerado o precursor da pedagogia libertária, está o educador francês Paul Robin.


Paul Robin, o teórico da Educação Integral




Paul Robin nasceu em 3 de abril de 1837 em Toulon, Distrito francês. Filho de família católica praticante ele recebeu uma educação bastante rígida. Conforme Passetti e Augusto(2008), estes precursores da educação anarquista eram todos eles descendentes de famílias católicas que romperam com a religião e se voltaram para a educação experimental libertária como maneira de ultrapassar a família monogâmica, o sagrado, a obediência aos superiores, o sistema de castigos e recompensas. A escola integrada à educação anarquista passou, então, a ser compreendida no interior do exercício da vida associativa livre, em preparação para a revolução” (Passetti e Augusto, 2008, p. 38).

Paul Robin em sua juventude chega a iniciar o curso de Medicina, que acaba trocando pela Pedagogia da École Normale (Escola Normal Superior). Irá exercer a docência a partir de 1861 até 1865 quando abandona a profissão e começa a viajar pela Europa, iniciando pela Bélgica. Em Liège, no Congresso Internacional dos Estudantes, ele expõe, publicamente, pela primeira vez, suas ideias pedagógicas e esboça sua concepção de educação integral, que será no futuro reconhecida como uma das principais contribuições de Robin para a teoria pedagógica libertária. Michel Antony (2011) destaca que Robin, é um teórico antes de ser um prático, ao contrário do que descrevem muitos historiadores que fazem referência a este precoce militante e pensador da educação libertária apenas por sua experiência na coordenação do Orfanato de Cempuis.

Conforme Gallo(2007) com espírito crítico e rebelde, Robin sempre foi um incômodo para as instituições; sua paixão pela educação o leva a criticar duramente o ensino religioso em sua infância e juventude, e abandonando as tradições familiares aproxima-se cada vez mais dos socialistas, em particular dos libertários. Por ser o primeiro educador a materializar as teorias educacionais baseadas nos princípios formulados por Proudhon, Paul Robin será considerado como o primeiro pedagogo libertário.

Foi através da militância na Associação Internacional dos Trabalhadores (Primeira Internacional) que Paul Robin vai aderir definitivamente aos postulados libertários. Neste período de militância Robin dirigirá diversos cursos e palestras para trabalhadores, sendo também redator e diretor de diversos periódicos anarquistas da imprensa operária. Em 1866 é publicada sua primeira obra pedagógica importante, o “Método de Leitura”. Ele adere à “Liga do Ensino pela instrução popular”. Convidado por Marx, será membro do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT, da qual participa em diferentes Congressos. Em 1867 funda na Bélgica um jornal pedagógico “Le Soir” , e colabora no periódico L Éducation Moderne. Neste mesmo ano, em Lousanne é encarregado do relatório sobre o ensino integral, que é exposto no terceiro Congresso da AIT realizado em Bruxelas em setembro de 1868( Antony, 2011, p. 86).

Expulso da Bélgica em 1869, passa pela Suiça e vincula-se fortemente a Bakunin e James Guillaume, e é um dos redatores do texto do 4 Congresso da AIT realizado na Basiléia que aprovará a primazia da “Educação Integral” como proposta da entidade. Em seguida, vai para a França e depois para o Reino Unido. Em seu exílio londrino, trabalha como professor e participa de inúmeros trabalhos sobre educação. Conforme Antony(2011) “fiel a Bakunin, Robin é expulso da AIT em outubro de 1871, o que o leva a juntar-se, definitvamente ao movimento anarquista que se solidificará no Congresso em Saint-Imier em 1872( Antony, 2011, p. 87).

Entre 1869 e 1872, Robin publica Lenseignement intégral ( Ensino Integral) na Revue de Philosophie Positive, publicada por seu amigo Littré. Em relação a amizade de Robin com Littré, Antony(2011) destaca que a biógrafa deste, Nathalie Brémand fala de “positivismo de esquerda” para essa época da vida do pedagogo Littré. Sua posição, a partir de 1865, amadureceu consideravelmente em função das relações internacionais de Robin.

Com James Guillaume participa do Dictionaire de Pédagogie et Instruction Publique(Dicionário de Pedagogia e Instrução Pública) por volta de 1878, para o qual redige aproximadamente 17 artigos, a maioria nos campos científicos e técnicos. Em 1880, em Blois, Robin criou o primeiro Cercle Pedagógico de France( Antony, 2011, p. 89).

Em 1882 Robin será um dos redatores do Programa Educacional do Comitê para o ensino anarquista, no qual seus trabalhos sobre Educação Integral serão incorporados ao programa(Luizetto, 1987). Neste Comitê participavam várias personalidades do movimento libertário do final do século XIX, entre os quais Kropoktin, Elisée Reclus, Louise Michel, Jean Grave e Charles Malato.

De acordo com o Programa Educacional, o esforço inicial dos militantes e simpatizantes, ao se envolverem em assuntos educacionais, deveriam estar voltados para a supressão de três práticas habituais nas escolas e que eram muito nocivas, na visão dos anarquistas, para a formação do indivíduo: a disciplina, os programas, e as classificações.

A disciplina deverá ser suprimida, pois causa dispersão e mentira entre os alunos. Os programas deveriam ter o mesmo destino, porque anulam a originalidade, a iniciativa e a responsabilidade das crianças. Por fim a escola deverá deixar de ser fonte de comportamentos baseados na rivalidade, na inveja, e no rancor, e , para tanto, deverão ser abolidas as classificações destinadas a distinguir os alunos entre si ( Luizetto, 1987, p. 49).

Nesta fase os anarquistas demostraram uma grande disposição também para desafiar os métodos das escolas tradicionais através da criação de experiências como os “Centros de Estudos”, “Ateneus Libertários”, Escolas Livres, “Modernas” ou “Racionalistas” e Universidades “Livres” ou “Populares”
(Luizetto, 1987, p. 52). É a partir dessa disposição que Paul Robin também será pioneiro, ao assumir a coordenação de um Orfanato público na França, o que lhe possibilitará colocar em prática suas teorias sobre Educação integral e experimentações pedagógicas de caráter libertário.


Orfanato de Cempuis, a experiência prática de educação libertária de Paul Robin




Como Coordenador do Orfanato Prévost de Cempuis, na cidade de Oise, no norte da França, Paul Robin será protagonista, segundo Antony(2011) de “uma das mais profundas experiências pedagógicas libertárias, que vai influenciar fortemente o catalão Ferrer i Guardia e Sébastién Faure”, pois “a utopia expressa desde 1867 vai poder ser amplamente realizada, e , o que é alguma coisa, escolhendo tentá-la em meio público, não à margem”( Antony, 2011, p. 88). Ou seja,

No orfanato, erguido como parte da herança de um certo senhor Prévost e administrado pela prefeitura, Paul Robin levou adiante sua maneira de educar libertariamente, recebendo entre 120 e 180 crianças de ambos os sexos, a partir de 6 anos de idade na formação geral e que, entre os 12 e 16 anos, se iniciavam na formação específica( Passetti, Augusto, 2008, p. 42).



Paul Robin dirige a instituição de Cempuis de 1880 a 1894, data em que é destituído após uma campanha de difamação sobretudo ligada às suas idéias neomalthusianas. No orfanato viviam um grupo de adultos e crianças em quase comunidade de afinidade, que Robin denominava de “família societária”. A proximidade ideológica e pedagógica, o senso de devotamento e o respeito pela infância constituem o minimo comum entre todos. Segunso Antony:

Eles terão de se responsabilizar por quase 600 jovens até 1894, numa gama que vai de 4 a 17 anos. Em todo o caso, os educadores, os funcionários, suas famílias(esposas e esposos, crianças...), os alunos formam uma atêntica família ampliada e convivial, o mais igualitário possível, pois todos estão no mesmo plano, inclusive no que concerne aos trajes. Cempuis é uma comuna no sentido de meio de vida alternativo. Mas a autoridade de Robin é evidente, e a dimensão coletiva, autogestionária , é de fato, muito reduzida
(Antony, 2011, p. 89)


Robin em Cempuis vai buscar implementar principalmente os pressupostos de sua teoria da Educação Integral que foi elaborada a partir de seus encontros com Bakunin, Kropoktin e Elisée Reclus, durante o tempo em que militou na AIT( Passetti, Augusto, 2008, p.42). Segundo Passetti e Augusto(2008), Paul Robin foi o primeiro a levar a diante a escola anarquista, implantando um método de convivência com saberes que contemplava , simultaneamente, os aspectos intelectuais, físicos e morais na formação de crianças e jovens, de ambos os sexos, , por professores homens e mulheres. A dinamica de ensino de Cempuis fica explicito nesta descrição de Antony:

Nesse espaço livre, as crianças evoluem em toda a liberdade e em regime de co-educação. A saúde e a higiene são colocadas em primeiro plano: alimentação variada, atividades ao ar livre, banhos, ginástica, natação e ciclismo, práticas de manutenção corporal, aprendizagem dos cuidados e da higiene, etc... Desde 1882 ele conduz o grupo em férias à beira-mar(Mers -les-Bains), o que é sem dúvida uma das primeiras colônias de férias no meio educativo. A educação integral é uma evidência: teoria e trabalhos manuais alternam-se. As experimentações, os trabalhos práticos, o papel das oficinas são muito importantes. A vida esportiva e artística é muito desenvolvida (boxe, canto, fanfarra, teatro, etc.), e a imprensa na escola ( e a máquina de escrever) é uma novidade que inúmeros movimentos pedagógicos posteriores vão reutilizar
como Freinet claramente mais tarde(Antony, 2011, p. 89-90).

A experiência do Orfanato possibilitou a Robin colocar em prática as suas concepções de Educação Integral, que havia elaborado no seio do movimento operário. Segundo afirmou Robin, citado por Lipiyanski(2007):
Por esse termo Educação Integral entendemos aquela que tende ao desenvolvimento progressivo e bem equilibrado do ser por inteiro; ela contém e reúne os três fatores habituais, a saber: a educação física, intelectual e moral... Não se deve esquecer que a educação física e intelectual ou instrução deve compreender a ciência e a arte, o “saber e o “fazer”. Um verdadeiro ensino integral é ao mesmo tempo teórico e prático(Lipianski, 2007, p. 45)


Como descreve Lipiansky em seu livro “Pedagogia Libertária”, em Cempuis, as crianças, meninos e meninas, vivem na maior parte do tempo ao ar livre, nos jardins e no campo. Praticam todo o tipo de esportes, da natação à equitação e dança. Outra parte do ensino se dá nos espaços de atividade prática, para isso são organizadas no Orfanato uma fazenda, uma oficina de sapato, uma tipografia, uma marcenaria e um ateliê de costura, no qual os alunos trabalham com madeira, ferro, aprendendo a costurar couro e tecido para a confecção de sapatos. Até os treze anos praticam “la paillone”, expressão criada por Fourier para identificar o processo de passagem de uma oficina para outra, e somente após conhecer as diferentes atividades produtivas se direciona para uma especialização. Outra característica é que meninos e meninas tem as mesmas ocupações. Segundo Lipiansky “Robin recomenda deixar as crianças fazerem suas descobertas e contentar-se com responder às suas perguntas. O meio deve levar à curiosidade ciêntífica”(Lipiansky, 2007, p. 46). Robin ainda cria em Cempuis um jardim botânico, um museu de matemática, um laboratório de física e química, e uma estação meteorológica.

Sua pedagogia funda-se, sobre o respeito da liberdade da criança e ao mesmo tempo põe em prática fragmentos de uma autogestão, onde todos os sentidos das crianças devem ser despertados e a brincadeira amplamente utilizada. Esse novo modelo de educação terá para os libertários uma finalidade de caráter revolucionário, pois é preciso formar um homem novo, antiautoritário, visando ao apoio mútuo e à autogestão federalista, mesmo que isso ainda não seja profundamente aplicada na experiência do Orfanato de Cempuis. Como destacou Antony, “ Robin sempre foi consciente, e ele disse e escreveu que Cempuis também era uma 'obra de experimentação e propaganda', no bom sentido dos termos, evidentemente. Estamos totalmente no coração do “agir utópico” de um libertário convicto”( Antony, 2011, p.90).

Conforme Antony(2011) esse “micromundo” de Cempuis não estava voltado para si mesmo nem fechado, não foi uma “Ilha utópica” fechada e isolada, pois os jovens e adultos podiam sair , convidados eram aceitos. Pedagogos, escritores, libertários visitam o Orfanato. Robin dá Conferências, escreve multiplos artigos, organiza exposições. Neste periodo de funcionamento sob a coordenação de Robin, o Orfanato esteve no centro de toda reflexão sobre educação, em particular a libertária. Desde novembro de 1882 é publicada a revista Bulletin de L Orphelinat Prévost(Boletim do Orfanato de Prévost) para descrever seus métodos, e difundir seus sucessos e projetos. No Orfanato, uma exposição permanente e um museu pedagógico afirmam a abertura das escola para o exterior. Em 1893 cria-se a Association Universitaire d Éducation Integrale, (Associação Universitária de Educação Integral) cuja sede se localiza em Bruxelas. Cempuis, nas palavras de Lipiansky(2007) “tendeu a ser cada vez mais um centro de reflexão pedagógica”.

Todavia como toda ideia ou prática revolucionária, o Orfanato de Cempuis não esteve imune a perseguição por parte dos setores conservadores e reacionários da sociedade francesa, recebendo ataques por parte dos meios católicos e autoridades escolares. Enfim, em 1894 o ministro da educação cede às pressões e exonera Paul Robin do cargo de coordenador do orfanato. Como demostra Lipiansky(2007) a noticia sobre a exoneração publicado no Jornal “Libre Parole” afirmava: O Sr. Robi, diretor da porcaria municipal de Cempuis, foi exonerado ontem em pleno Conselho de ministros. É o desmoronamento do sistema pornográfico da co-educação dos sexos”.



Ao mesmo tempo, Robin receberá a solidariedade de muitos educadores. Segundo Antony(2011) Octave Mirbeau, é o primeiro pensador que esgue-se contra a expulsão de Robin ao escrever sobre o fato em um periódico de grande circulação, Le Journal. Ele aproveita a oportunidade para elogiar a educação libertária e sua força utópica, pois entendeu muito bem que aí se encontra o objetivo principal, que para ele significava que:

Pela primeira vez, tive a impressão de uma infância e de uma juventude realmente jovens e entusiastas, e compreendi que poderia emanar dali autênticos homens e autênticas mulheres, isto é, seres admiravelmente armados para o trabalho e a para a vida social, e que, protegidos contra as disciplinas escravagistas da autoridade, contra as decepções enervantes das religiões, e de toda a mentira, saberão talvez, encontrar a felicidade em si mesmos e realizar a beleza da vida(Antony, 2011, p.92).


Mesmo afastado do Orfanato, sua pioneira experiência, Paul Robin continuou atuando na construção da Educação Libertária. Realizou pesquisas musicais, estenografia, lecionou na Universidade Nouvelle de Bruxelas, realizou pesquisas em torno da proposta de uma “lingua universal”, todas atividades que segundo Antony92011), o “mantém em combate”.

Paul Robin lança ainda em duas ocasiões (1895; 1903-1905) o boletim La Education Integrale. Escreve inúmeros artigos pedagógicos na Revue Generale de Bibliographie Française”. Em 1905, apoia a criação de “La Rouche” ( A Colméia) , de Sebástien Faure. Em 1907, apoia Ferrer i Guardia e participa da criação da Ligue Internationale pour L èducation Rationnelle de L Enfance”( Liga Internacional pela Educação Racional e a Infância) , ao lado de outros anarquistas de grande expressão como Malato, Sebástien Faure, Luigi Fabri e Anatole France. Escreve na revista da Liga, L École Renové. Após 1910, entrega uma grande parte de seu material pedagógico à Escola Ferrer, de Lausanne.

Em 1908, durante uma viagem a Nova Zelaâdia tenta criar, sem sucesso, uma experiência utópica de uma comunidade ideal. Vive como uma asceta, em um meio muito modesto, mesmo com as imensas relações internacionais. Doa seu corpo à ciência e deseja que suas cinzas sejam espalhadas na natureza. Entre os bens que ele distribui, está Lencyclopedia de Diderot que é entregue a CGT sindicalista revolucionária e a tipografia do Orfanato é doada a Sébastién Faure para sua “Colméia”.

O legado de Paul Robin para a educação libertária



Fiel a toda sua vida, Paul Robin suicida-se por envenenamento no verão de 1912, o que segundo Antony(2011), foi seu “último ato de autonomia que havia legitimado anteriormente em um artigo importante, fria e cientificamente intitulado Technique du Suicide( Antony, 20110, p.93)

A obra de Paul Robin, infelizmente pouco conhecida no Brasil, é uma referência fundamental para a Educação Libertária, não só porque foi ele o responsável pela primeira experiência de uma prática de ensino libertário, mas porque elaborou teoricamente sobre a prática, pensou sobre o concreto e contribuiu para outras experiências como a “Colméia” de Faure e fundamentalmente as “Escolas Modernas” de Ferrer i Guardia na Espanha .Posteriormente suas contribuições teóricas continuaram sendo referência para todos os educadores que, no campo da educação, constroem novas sínteses e propostas de caráter libertário. Conforme destaca Antony(2011) sua “Pedagogia ativa” marcou amplamente a pedagogia progressista ulterior, tanto anarquista ou racionalista, quanto “moderna”(Montessori, Freinet reconheceram a importância de Robin).





Por fim, podemos dizer que o educador Paul Robin foi um pioneiro, o primeiro pedagogo libertário, que abriu caminhos no campo teórico e prático para a efetivação de muitas utopias, tais como a possibilidade de uma educação capaz de contribuir para a formação de homens e mulheres livres e autônomos, um projeto ainda inconcluso, que ainda permanece como desafio para os libertários de hoje. Conhecer sua obra e seu legado é fundamental como munição teórica para novos projetos de educação libertária de hoje e de amanhã.


Referências:


ANTONY, Michel. Os Microcosmos. Experiências Utópicas Libertárias, sobretudo Pedagógicas: Utupedagogias. São Paulo, Editora Imaginário, 2011.

GALLO, Sílvio. Pedagogia Libertária. Anarquistas, Anarquismos e Educação. São Paulo, Editora Imaginário, 2007.
LIPIANSKY, Edmond. A Pedagogia Libertária. tradução Plínio Augusto Coelho. São Paulo, Editora Imaginário, 2007.

LUIZZETTO, Flávio. Utopias Anarquistas. São Paulo, Brasiliense, 1987.

PASSETTI, Edson, AUGUSTO, Acácio. Anarquismos & Educação. Belo Horizonte, Autêntica. 2008.

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