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Paul Robin: o primeiro pedagogo libertário, por Paulo Marques
http://libertariosufpel.blogspot.com.br/2014/02/paul-robin-o-primeiro-pedagogo.htmlPaul Robin: o primeiro pedagogo libertário, por Paulo Marques
Paul Robin(1837-1912)
Dentre os principais pensadores
anarquistas europeus, precursores das experiências de Educação
Libertária, está o educador francês Paul Robin(1837-1912),
junto a ele também podemos identificar o educador catalão Francesc
Ferrer i Guàrdia(1849-1909) e o francês Sebastién
Faure(1853-1942). Todos eles terão seus nomes lembrados na história
da Educação Libertária por serem os primeiros à passar da teoria
(do qual também serão referências fundamentais) à prática com a
construção das primeiras experiências educacionais de caráter
libertário. Neste post daremos início a uma série de breves
perfis destes três pioneiros, iniciando com Paul Robin, considerado
o primeiro pedagogo libertário. Apresentaremos uma breve
contextualização do movimento libertário de onde emerge o jovem
pedagogo francês para posteriormente apresentar sua biografia.
O movimento anarquista e a
educação
A história do movimento anarquista
mostra que educação foi uma questão que esteve no centro do
pensamento libertário desde seu nascimento no século XIX. Para os
primeiros anarquistas estava claro que a educação não era o único
ou mesmo o principal instrumento responsável pela revolução
social, mas que sem mudanças profundas no modo de pensar das
pessoas, efetivadas a partir da educação, a revolução não teria
condições de ser realizada. Portanto, a educação tinha um papel
fundamental na formação de homens e mulheres libertários. Foi com
essa compreensão que diversos pensadores anarquistas se debruçaram
sobre essa temática, debatendo e propondo alternativas aos modelo
então predominantes.
É importante destacar que existiram
diferentes formas de atuação do primeiros teóricos anarquistas no
que tange a questão da educação. Alguns se ocuparam
sistematicamente do tema e outros apenas de forma mais difusa. Da
mesma forma é posíivel identificar as diferentes ações de cada
um, ou seja, enquanto alguns direcionam sua preocupação para a
crítica à educação burguesa e a propor genéricas reformulações
no sistema escolar, outros autores se preocupavam com os fundamentos
de uma educação libertária e estimulavam a criação e até se
vinculavam à experiências concretas de escolas, no qual seria
possível praticar um ensino condizente com os princípios da
educação libertária.
Pode-se dizer que no primeiro grupo
estão os também fundadores da filosofia anarquista como
Proudhon(1809-1865) e Bakunin(.1814-1876), que foram protagonistas da
primeira fase da relação do movimento anarquista com o tema da
educação que se deu no Contexto das discussões da Primeira
Internacional no período 1840 a 1882. Essa fase se caracterizou
pela crítica ao sistema educacional vigente no qual se denunciava a
submissão das instituições de ensino aos interesses da classe
capitalista em perpetuar o seu sistema político e econômico.
Proudhon denunciava: “ Nossas escolas quando não são
estabelecimentos de luxo ou pretextos para sinecuras, são seminários
da aristocracia” ( Luizetto, 1987, p. 48) .
Preocupado , principalmente com a
situação da classe operária, excluída totalmente de qualquer tipo
de educação, Proudhon defende a generalização do ensino
politécnico e o acesso de todos a todos os graus do ensino, pois
isso seria um importante passo no processo de emancipação dos
trabalhadores. Com a morte de Proudhon a discussão foi retomada por
Bakunin.
Segundo Luizetto(1987) foi com o
Programa Educacional , elaborado em por um grupo de militantes
em 1882, reunidos no Comitê para o
ensino anarquista, que pode ser considerado o marco inicial da
segunda fase da construção de uma ideia de educação anarquista,
que avançava para a além da crítica e apresentava proposições
para uma educação libertária, uma discussão que se prolongará
até o século XX. Entre os principais protagonistas deste período e
considerado o precursor da pedagogia libertária, está o educador
francês Paul Robin.
Paul Robin, o teórico da Educação Integral
Paul Robin nasceu em 3 de abril de 1837
em Toulon, Distrito francês. Filho de família católica praticante
ele recebeu uma educação bastante rígida. Conforme Passetti e
Augusto(2008), estes precursores da educação anarquista eram todos
eles descendentes de famílias católicas que romperam com a religião
e se voltaram para a educação experimental libertária como
maneira de ultrapassar a família monogâmica, o sagrado, a
obediência aos superiores, o sistema de castigos e recompensas. A
escola integrada à educação anarquista passou, então, a ser
compreendida no interior do exercício da vida associativa livre, em
preparação para a revolução” (Passetti e Augusto, 2008, p. 38).
Paul Robin em sua juventude chega a
iniciar o curso de Medicina, que acaba trocando pela Pedagogia da
École Normale (Escola Normal
Superior). Irá exercer a docência a partir de 1861 até 1865
quando abandona a profissão e começa a viajar pela Europa,
iniciando pela Bélgica. Em Liège, no Congresso Internacional dos
Estudantes, ele expõe, publicamente, pela primeira vez, suas ideias
pedagógicas e esboça sua concepção de educação integral, que
será no futuro reconhecida como uma das principais contribuições
de Robin para a teoria pedagógica libertária. Michel Antony
(2011) destaca que Robin, é um teórico antes de ser um prático, ao
contrário do que descrevem muitos historiadores que fazem
referência a este precoce militante e pensador da educação
libertária apenas por sua experiência na coordenação do
Orfanato de Cempuis.
Conforme Gallo(2007) com espírito
crítico e rebelde, Robin sempre foi um incômodo para as
instituições; sua paixão pela educação o leva a criticar
duramente o ensino religioso em sua infância e juventude, e
abandonando as tradições familiares aproxima-se cada vez mais dos
socialistas, em particular dos libertários. Por
ser o primeiro educador a materializar as teorias educacionais
baseadas nos princípios formulados por Proudhon, Paul Robin será
considerado como o primeiro pedagogo libertário.
Foi através da militância na
Associação Internacional dos Trabalhadores (Primeira Internacional)
que Paul Robin vai aderir definitivamente aos postulados
libertários. Neste período de militância Robin dirigirá diversos
cursos e palestras para trabalhadores, sendo também redator e
diretor de diversos periódicos anarquistas da imprensa operária. Em
1866 é publicada sua primeira obra pedagógica importante, o “Método
de Leitura”. Ele adere à “Liga do Ensino pela instrução
popular”. Convidado por Marx, será membro do Conselho Geral
da Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT, da qual
participa em diferentes Congressos. Em 1867 funda na Bélgica um
jornal pedagógico “Le Soir” , e colabora no periódico L
Éducation Moderne. Neste mesmo ano, em Lousanne é encarregado
do relatório sobre o ensino integral, que é exposto no terceiro
Congresso da AIT realizado em Bruxelas em setembro de 1868( Antony,
2011, p. 86).
Expulso da Bélgica em 1869, passa pela
Suiça e vincula-se fortemente a Bakunin e James Guillaume, e é um
dos redatores do texto do 4 Congresso da AIT realizado na Basiléia
que aprovará a primazia da “Educação Integral” como proposta
da entidade. Em seguida, vai para a França e depois para o Reino
Unido. Em seu exílio londrino, trabalha como professor e participa
de inúmeros trabalhos sobre educação. Conforme Antony(2011) “fiel
a Bakunin, Robin é expulso da AIT em outubro de 1871, o que o leva a
juntar-se, definitvamente ao movimento anarquista que se solidificará
no Congresso em Saint-Imier em 1872( Antony, 2011, p. 87).
Entre 1869 e 1872, Robin publica
Lenseignement intégral ( Ensino Integral) na Revue
de Philosophie Positive, publicada por seu amigo Littré. Em
relação a amizade de Robin com Littré, Antony(2011) destaca que a
biógrafa deste, Nathalie Brémand fala de “positivismo de
esquerda” para essa época da vida do pedagogo Littré. Sua
posição, a partir de 1865, amadureceu consideravelmente em função
das relações internacionais de Robin.
Com James Guillaume participa do
Dictionaire de Pédagogie et Instruction
Publique(Dicionário de Pedagogia e Instrução Pública) por
volta de 1878, para o qual redige aproximadamente 17 artigos, a
maioria nos campos científicos e técnicos. Em 1880, em Blois, Robin
criou o primeiro Cercle Pedagógico de France( Antony, 2011, p. 89).
Em 1882 Robin será um dos redatores do
Programa Educacional do Comitê para o ensino anarquista, no
qual seus trabalhos sobre Educação Integral serão
incorporados ao programa(Luizetto, 1987). Neste Comitê
participavam várias personalidades do movimento libertário do
final do século XIX, entre os quais Kropoktin, Elisée Reclus,
Louise Michel, Jean Grave e Charles Malato.
De acordo com o Programa
Educacional, o esforço inicial dos militantes e simpatizantes,
ao se envolverem em assuntos educacionais, deveriam estar voltados
para a supressão de três práticas habituais nas escolas e que eram
muito nocivas, na visão dos anarquistas, para a formação do
indivíduo: a disciplina, os programas, e as
classificações.
A disciplina deverá ser suprimida, pois causa dispersão e
mentira entre os alunos. Os programas deveriam ter o mesmo destino,
porque anulam a originalidade, a iniciativa e a responsabilidade das
crianças. Por fim a escola deverá deixar de ser fonte de
comportamentos baseados na rivalidade, na inveja, e no rancor, e ,
para tanto, deverão ser abolidas as classificações destinadas a
distinguir os alunos entre si ( Luizetto, 1987, p. 49).
Nesta fase os anarquistas demostraram
uma grande disposição também para desafiar os métodos das
escolas tradicionais através da criação de experiências como
os “Centros de Estudos”, “Ateneus Libertários”, Escolas
Livres, “Modernas” ou “Racionalistas” e Universidades
“Livres” ou “Populares”
(Luizetto, 1987, p. 52). É a partir
dessa disposição que Paul Robin também será pioneiro, ao
assumir a coordenação de um Orfanato público na França, o que lhe
possibilitará colocar em prática suas teorias sobre Educação
integral e experimentações pedagógicas de caráter libertário.
Orfanato de Cempuis, a
experiência prática de educação libertária de Paul Robin
Como Coordenador do Orfanato Prévost
de Cempuis, na cidade de Oise, no norte da França, Paul Robin
será protagonista, segundo Antony(2011) de “uma das mais
profundas experiências pedagógicas libertárias, que vai
influenciar fortemente o catalão Ferrer i Guardia e Sébastién
Faure”, pois “a utopia expressa desde 1867 vai poder ser
amplamente realizada, e , o que é alguma coisa, escolhendo tentá-la
em meio público, não à margem”( Antony, 2011, p. 88). Ou seja,
No orfanato, erguido como parte da herança de um certo senhor
Prévost e administrado pela prefeitura, Paul Robin levou adiante sua
maneira de educar libertariamente, recebendo entre 120 e 180 crianças
de ambos os sexos, a partir de 6 anos de idade na formação geral e
que, entre os 12 e 16 anos, se iniciavam na formação específica(
Passetti, Augusto, 2008, p. 42).
Paul Robin dirige a instituição de
Cempuis de 1880 a 1894, data em que é destituído após uma campanha
de difamação sobretudo ligada às suas idéias neomalthusianas. No
orfanato viviam um grupo de adultos e crianças em quase comunidade
de afinidade, que Robin denominava de “família societária”. A
proximidade ideológica e pedagógica, o senso de devotamento e o
respeito pela infância constituem o minimo comum entre todos.
Segunso Antony:
Eles terão de se responsabilizar por quase 600 jovens até
1894, numa gama que vai de 4 a 17 anos. Em todo o caso, os
educadores, os funcionários, suas famílias(esposas e esposos,
crianças...), os alunos formam uma atêntica família ampliada e
convivial, o mais igualitário possível, pois todos estão no mesmo
plano, inclusive no que concerne aos trajes. Cempuis é uma comuna no
sentido de meio de vida alternativo. Mas a autoridade de Robin é
evidente, e a dimensão coletiva, autogestionária , é de fato,
muito reduzida
(Antony, 2011, p. 89)
Robin em Cempuis vai buscar
implementar principalmente os pressupostos de sua teoria da Educação
Integral que foi elaborada a partir de seus encontros com
Bakunin, Kropoktin e Elisée Reclus, durante o tempo em que militou
na AIT( Passetti, Augusto, 2008, p.42). Segundo Passetti e
Augusto(2008), Paul Robin foi o primeiro a levar a diante a escola
anarquista, implantando um método de convivência com saberes que
contemplava , simultaneamente, os aspectos intelectuais, físicos e
morais na formação de crianças e jovens, de ambos os sexos, , por
professores homens e mulheres. A dinamica de ensino de Cempuis
fica explicito nesta descrição de Antony:
Nesse espaço livre, as crianças evoluem em toda a liberdade e
em regime de co-educação. A saúde e a higiene são colocadas em
primeiro plano: alimentação variada, atividades ao ar livre,
banhos, ginástica, natação e ciclismo, práticas de manutenção
corporal, aprendizagem dos cuidados e da higiene, etc... Desde 1882
ele conduz o grupo em férias à beira-mar(Mers -les-Bains), o que é
sem dúvida uma das primeiras colônias de férias no meio educativo.
A educação integral é uma evidência: teoria e trabalhos manuais
alternam-se. As experimentações, os trabalhos práticos, o papel
das oficinas são muito importantes. A vida esportiva e artística é
muito desenvolvida (boxe, canto, fanfarra, teatro, etc.), e a
imprensa na escola ( e a máquina de escrever) é uma novidade que
inúmeros movimentos pedagógicos posteriores vão reutilizar
como
Freinet claramente mais tarde(Antony, 2011, p. 89-90).
A
experiência do Orfanato possibilitou a Robin colocar em prática as
suas concepções de Educação Integral, que havia elaborado no seio
do movimento operário. Segundo afirmou Robin, citado por
Lipiyanski(2007):
Por esse termo Educação Integral entendemos aquela que tende ao
desenvolvimento progressivo e bem equilibrado do ser por inteiro; ela
contém e reúne os três fatores habituais, a saber: a educação
física, intelectual e moral... Não se deve esquecer que a educação
física e intelectual ou instrução deve compreender a ciência e a
arte, o “saber e o “fazer”. Um verdadeiro ensino integral é ao
mesmo tempo teórico e prático(Lipianski, 2007, p. 45)
Como
descreve Lipiansky em seu livro “Pedagogia Libertária”, em
Cempuis, as crianças, meninos e meninas, vivem na maior parte do
tempo ao ar livre, nos jardins e no campo. Praticam todo o tipo de
esportes, da natação à equitação e dança. Outra parte do ensino
se dá nos espaços de atividade prática, para isso são
organizadas no Orfanato uma fazenda, uma oficina de sapato, uma
tipografia, uma marcenaria e um ateliê de costura, no qual os alunos
trabalham com madeira, ferro, aprendendo a costurar couro e tecido
para a confecção de sapatos. Até os treze anos praticam “la
paillone”, expressão criada por Fourier para identificar o
processo de passagem de uma oficina para outra, e somente após
conhecer as diferentes atividades produtivas se direciona para uma
especialização. Outra característica é que meninos e meninas tem
as mesmas ocupações. Segundo Lipiansky “Robin recomenda deixar
as crianças fazerem suas descobertas e contentar-se com responder às
suas perguntas. O meio deve levar à curiosidade ciêntífica”(Lipiansky, 2007, p. 46). Robin ainda cria em Cempuis um jardim
botânico, um museu de matemática, um laboratório de física e
química, e uma estação meteorológica.
Sua
pedagogia funda-se, sobre o respeito da liberdade da criança e ao
mesmo tempo põe em prática fragmentos de uma autogestão, onde
todos os sentidos das crianças devem ser despertados e a brincadeira
amplamente utilizada. Esse novo modelo de educação terá para os
libertários uma finalidade de caráter revolucionário, pois é
preciso formar um homem novo, antiautoritário, visando ao apoio
mútuo e à autogestão federalista, mesmo que isso ainda não seja
profundamente aplicada na experiência do Orfanato de Cempuis. Como
destacou Antony, “ Robin sempre foi consciente, e ele disse e
escreveu que Cempuis também era uma 'obra de experimentação e
propaganda', no bom sentido dos termos, evidentemente. Estamos
totalmente no coração do “agir utópico” de um libertário
convicto”( Antony, 2011, p.90).
Conforme
Antony(2011) esse “micromundo” de Cempuis não estava voltado
para si mesmo nem fechado, não foi uma “Ilha utópica” fechada e
isolada, pois os jovens e adultos podiam sair , convidados eram
aceitos. Pedagogos, escritores, libertários visitam o Orfanato.
Robin dá Conferências, escreve multiplos artigos, organiza
exposições. Neste periodo de funcionamento sob a coordenação de
Robin, o Orfanato esteve no centro de toda reflexão sobre educação,
em particular a libertária. Desde novembro de 1882 é publicada a
revista Bulletin de L Orphelinat Prévost(Boletim do Orfanato
de Prévost) para descrever seus métodos, e difundir seus sucessos e
projetos. No Orfanato, uma exposição permanente e um museu
pedagógico afirmam a abertura das escola para o exterior. Em 1893
cria-se a Association Universitaire d Éducation Integrale, (Associação Universitária de Educação Integral) cuja sede se
localiza em Bruxelas. Cempuis, nas palavras de Lipiansky(2007)
“tendeu a ser cada vez mais um centro de reflexão pedagógica”.
Todavia
como toda ideia ou prática revolucionária, o Orfanato de Cempuis
não esteve imune a perseguição por parte dos setores conservadores
e reacionários da sociedade francesa, recebendo ataques por parte
dos meios católicos e autoridades escolares. Enfim, em 1894 o
ministro da educação cede às pressões e exonera Paul Robin do
cargo de coordenador do orfanato. Como demostra Lipiansky(2007) a
noticia sobre a exoneração publicado no Jornal “Libre Parole”
afirmava: “O Sr. Robi, diretor da porcaria municipal de
Cempuis, foi exonerado ontem em pleno Conselho de ministros. É o
desmoronamento do sistema pornográfico da co-educação dos sexos”.
Ao
mesmo tempo, Robin receberá a solidariedade de muitos educadores. Segundo
Antony(2011) Octave Mirbeau, é o primeiro pensador que esgue-se
contra a expulsão de Robin ao escrever sobre o fato em um periódico
de grande circulação, Le Journal. Ele aproveita a
oportunidade para elogiar a educação libertária e sua força
utópica, pois entendeu muito bem que aí se encontra o objetivo
principal, que para ele significava que:
Pela primeira vez, tive a impressão de uma infância e de uma
juventude realmente jovens e entusiastas, e compreendi que poderia
emanar dali autênticos homens e autênticas mulheres, isto é, seres
admiravelmente armados para o trabalho e a para a vida social, e que,
protegidos contra as disciplinas escravagistas da autoridade, contra
as decepções enervantes das religiões, e de toda a mentira, saberão
talvez, encontrar a felicidade em si mesmos e realizar a beleza da
vida(Antony, 2011, p.92).
Mesmo afastado do Orfanato, sua
pioneira experiência, Paul Robin continuou atuando na construção
da Educação Libertária. Realizou pesquisas musicais, estenografia,
lecionou na Universidade Nouvelle de Bruxelas, realizou pesquisas em
torno da proposta de uma “lingua universal”, todas atividades que
segundo Antony92011), o “mantém em combate”.
Paul Robin lança ainda em duas
ocasiões (1895; 1903-1905) o boletim La Education Integrale.
Escreve inúmeros artigos pedagógicos na Revue Generale de
Bibliographie Française”. Em 1905, apoia a criação de “La
Rouche” ( A Colméia) , de Sebástien Faure. Em 1907, apoia
Ferrer i Guardia e participa da criação da Ligue Internationale
pour L èducation Rationnelle de L Enfance”( Liga Internacional
pela Educação Racional e a Infância) , ao lado de outros
anarquistas de grande expressão como Malato, Sebástien Faure, Luigi
Fabri e Anatole France. Escreve na revista da Liga, L École
Renové. Após 1910, entrega uma grande parte de seu material
pedagógico à Escola Ferrer, de Lausanne.
Em 1908, durante uma viagem a Nova
Zelaâdia tenta criar, sem sucesso, uma experiência utópica de uma
comunidade ideal. Vive como uma asceta, em um meio muito modesto,
mesmo com as imensas relações internacionais. Doa seu corpo à
ciência e deseja que suas cinzas sejam espalhadas na natureza.
Entre os bens que ele distribui, está Lencyclopedia de Diderot
que é entregue a CGT sindicalista revolucionária e a tipografia do
Orfanato é doada a Sébastién Faure para sua “Colméia”.
O legado de Paul Robin para a educação libertária
Fiel a toda sua vida, Paul Robin
suicida-se por envenenamento no verão de 1912, o que segundo
Antony(2011), foi seu “último ato de autonomia que havia
legitimado anteriormente em um artigo importante, fria e
cientificamente intitulado Technique du Suicide( Antony,
20110, p.93)
A obra de Paul Robin, infelizmente
pouco conhecida no Brasil, é uma referência fundamental para a
Educação Libertária, não só porque foi ele o responsável pela
primeira experiência de uma prática de ensino libertário, mas
porque elaborou teoricamente sobre a prática, pensou sobre o
concreto e contribuiu para outras experiências como a “Colméia”
de Faure e fundamentalmente as “Escolas Modernas” de Ferrer i
Guardia na Espanha .Posteriormente suas contribuições teóricas
continuaram sendo referência para todos os educadores que, no campo
da educação, constroem novas sínteses e propostas de caráter
libertário. Conforme destaca Antony(2011) sua “Pedagogia ativa”
marcou amplamente a pedagogia progressista ulterior, tanto anarquista
ou racionalista, quanto “moderna”(Montessori, Freinet
reconheceram a importância de Robin).
Por fim, podemos dizer que o educador
Paul Robin foi um pioneiro, o primeiro pedagogo libertário, que
abriu caminhos no campo teórico e prático para a efetivação de
muitas utopias, tais como a possibilidade de uma educação capaz de
contribuir para a formação de homens e mulheres livres e autônomos,
um projeto ainda inconcluso, que ainda permanece como desafio para os
libertários de hoje. Conhecer sua obra e seu legado é fundamental
como munição teórica para novos projetos de educação libertária
de hoje e de amanhã.
Referências:
ANTONY, Michel. Os Microcosmos.
Experiências Utópicas Libertárias, sobretudo Pedagógicas:
Utupedagogias. São Paulo, Editora Imaginário, 2011.
GALLO, Sílvio. Pedagogia Libertária.
Anarquistas, Anarquismos e Educação. São Paulo, Editora
Imaginário, 2007.
LIPIANSKY, Edmond. A Pedagogia Libertária. tradução Plínio Augusto Coelho. São Paulo, Editora Imaginário, 2007.
LIPIANSKY, Edmond. A Pedagogia Libertária. tradução Plínio Augusto Coelho. São Paulo, Editora Imaginário, 2007.
LUIZZETTO, Flávio. Utopias
Anarquistas. São Paulo, Brasiliense, 1987.
PASSETTI, Edson, AUGUSTO, Acácio.
Anarquismos & Educação. Belo Horizonte, Autêntica.
2008.
INÍCIO
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