Rede atemporal e a criatividade
por Hernani Dimantas
Tenho trabalhado com esse tema desde 1998, numa vertente hacker que deu sentido as teorias de redes preconizadas nos meus livros marketing hacker, linkania e zonas de colaboração.
A gambiarra aparece como a arte de fazer com as ferramentas que se tem à mão. Isso faz uma diferença pois a inovação está em usar o não usual para resolver problemas do cotidiano.
A rua encontra os próprio sentido para as coisas* e, dessa maneira, a apropriação das tecnologias e as possibilidades de desvio do uso original aproxima o ideal hacker, ou seja romper com o sistema imposto, da criatividade e inovação.
A prática da gambiarra não está em aprender a fazer brinquedinhos techies ou simplesmente na utilização de material heterodoxo. A questão da gambiarra é mais profunda. Cabe uma análise da contemporaneidade, da vida em rede, da virtualização dos espaços e, principalmente, na possibilidade de produção de subjetividades como consequência do zeitgeist (espirito do tempo). Gambiarra é processo de apropriação.
A ideia está em entender que gambiarra não é fazer algo mal feito. É estabelecer uma nova relação dos objetos técnicos (desconfigurando a técnica), estabelecendo novas aventuras tecnológicas (que diferente da técnica se torna quase transparente para o ‘final user’).
Nesse sentido, a gambiarra abre as portas para um conceito que tem sido muito utilizado no FabLabs, o faça vc mesmo ou DIY. No entanto, o faça vc mesmo se expande pelo uso da rede colaborativa atemporal, ou seja, tutoriais, youtube, debates e tudo que tem acontecido nas redes ampliam as possibilidades de se utilizar experiências de outras pessoas.
Cabe salientar que cada vez mais o contemporâneo nos leva a reaprender a fazer ‘coisas’. Perdemos esta habilidade na era industrial. Mas, como civilização estamos quase que nos obrigando a retomar estes conhecimentos para a nossa própria sobrevivência.
referência: A rua encontra os próprio sentido para as coisas* William Gibson
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