Os Saudosos Golpistas
de Novo
Vamos Permitir?
Carlos A. Lungarzo
A direita não se conforma com o
resultado das eleições. Tendo a seu favor, de maneira escancarada, a grande
mídia, e, de maneira mais sutil, boa parte de judiciário, junto com a classe
média tradicional, racista e messiânica, mesmo assim, foi derrotada. Nem as "pesquisas"
escandalosas de Sensus e das misteriosas Paraná e Veritá, nem a sistemática
recusa do direito de resposta do TCE (salvo alguma vez por aí), nem as
"denúncias" amparadas pelo juiz Sérgio Moro, da Operação Lavajato, nem as absurdas queixas contra os Correios,
foram suficientes. Eles querem um golpe mais forte, e aquele pequeno grupo de
engravatados nanocefálicos que saem a "manifestar" na Av. Paulista, é
apenas um sintoma. O governo de Dilma
mostrou que estar com o povo é algo mais que ajuda econômica. É permitir que
esse povo defenda sua dignidade. É fundamental reconstruir a militância do
PT, dispersada durante anos. Também a esquerda, apesar de pequena, deve deixar
seu sectarismo e apoiar o governo, criticamente, duramente, como seja, mas
apoiando-o contra o fascismo. Rejeitemos o QUANTO PIOR, MELHOR, o TUDO OU NADA.
O risco não é voltar ao Brasil de FHC ou de Costa e Silva. O risco é nos
tornarmos o Chile de Pinochet ou a Argentina de Videla. Não se devem subestimar
os inimigos.
Em maio de
1973, o povo do Chile duvidava que fosse possível um golpe no país. O
presidente Allende e seu grupo mais íntimo estavam muito alertas sobre isso,
mas tinham medo que a militância popular se arriscasse demais e ela própria
fosse exterminada pela direita. O que aconteceu? Em 11 de setembro desse ano, a
direita atacou, mas o povo não tinha possibilidade de defender-se. Milhares de
pessoas morreram e o país foi afundado no fascismo.
A ideia de
unidade total de uma sociedade é, ou ingênua, ou demagógica. No caso da
direita, esse chamado à unidade é, simplesmente, totalitário. Quer dizer:
"Vocês, coitados, unam-se a nós; a gente tem a corda e vocês vestem a
coleira".
Todas as sociedades, até as mais pequenas e
abastadas, têm algum grau de divisão. No Brasil, em Honduras e lugares
semelhantes, essa divisão é enorme. Ignorá-la pode ser explicado pelo temor.
Nossos inimigos (eles, como
corretamente dizia o presidente Lula) tem o dinheiro, as armas, e o poder de
envenenar as mentes. Nós temos a razão, a coragem e a inteligência. Mesmo
assim, é uma luta desigual, mas não pode ser ignorada. Talvez o perigo de golpe
possa se esvaziar aos poucos, mas não temos certeza.
No Brasil,
as FFAA não parecem interessadas num golpe. É melhor nos ater ao que vemos e
não ao que imaginamos. Mas o que vemos é claro. O golpe da mídia é implacável,
a pressão dos fascistas aqui e no exterior é forte. O ex ministro de FHC já
esfregava as mãos pensando num brinde delicioso: Petrobrax+Caixa+BB+ alguns
bônus. Disse algo como (não lembro literalmente): "dos bancos públicos não
sei o que vai sobrar". "Se dou
algo aos velhinhos vou precisar tirar das criancinhas".
Os
neofascistas estavam próximos de um orgasmo antes do dia 26. O futuro era
maravilhoso, o lucro aumentando: R$40 bi do “Bolsa Família”, outro tanto do
“Minha Casa Minha Vida”. Nossa! Quanta grana! Que tentação! Os médicos já não
teriam o fantasma do “Mais Médicos”. Claro que eles não iam atender aos que
foram tratados pelos cubanos, mas haveria menos pobres vivos. Um mundo mais
limpo. O sonho dos boers (os fascistas
Sul Africanos), até que chegou aquele maluco de Mandela...
O outro
setor da direita (pior ou melhor ?) também prepara sua festa. Tiragem de
duzentos milhões de bíblias, até para crianças e analfabetos. Dízimos de todos
os habitantes do país: afinal, não pagamos ao INSS? Por que investir em
aposentadoria, quando podemos investir no céu? Fim do Alzheimer, o Parkinson, o
câncer, curados pelos milagres...
Enfim, o
assunto pode pensar-se como comédia, para nos sentirmos mais leves. Acho o
humor muito saudável.
Mas não se
pode atuar como numa comédia. Pensemos como, nestes 12 anos, a direita foi escalando
suas figuras:
1) O educado
José Serra, de linguagem soletrada e vibrante, foi derrotado duas vezes a
presidente.
2) O
contrito voluntário do Opus Dei, foi
derrotado uma vez.
Agora, a
direita tinha a solução:
Um playboy hooligan de uma velha dinastia
de coronéis, homem corajoso que não tem medo de bater em mulheres, histórias
mirabolantes de aeroportos, aviões e helicópteros. Auxiliado (voluntariamente
ou não) por alguém que já fora membro do governo. Como dizia o nazista
Kalterbrunner: para combater a esquerda você precisa ter estado perto dela.
Todo mundo
achava que daria certo. Não deu, mas andou perto.
Ninguém sabe
o futuro, mas eles não vão esperar quatro anos. Os governos de Lula e Dilma,
por razões diversas (não por má vontade), talvez não souberam como lidar
adequadamente com o "inimigo em tempo de paz".
Essa vocação
pacifista é louvável, e isso diferenciou a nós, da esquerda, em relação aos da
direita, desde 1799 (fim da Revolução Francesa) quando o termo foi cunhado. Mas
não sabemos até quando eles
seguirão em paz.
A fábula do
doleiro Yousseff se esvaziou. A mídia ficou um pouco sem graça, depois de
apostar todas suas fichas para a derrota de Dilma.
É
necessário, a todo custo, evitar a violência. O combate à corrupção é
fundamental e a proposta de Dilma neste sentido é impecável. Mas, mesmo se o PT
estivesse fora de toda suspeita de corrupção, será que isso conformaria à
direita?
Nós, latinos,
já temos certa experiência: Argentina, Chile, Uruguai, Honduras, Guatemala,
Panamá, Bolívia, Granada, etc.
O que a direita
brasileira quer é muito claro. Qualquer bom leitor de VEJA, sabe isso: negros
com alma branca, pobres subservientes, apenas os imprescindíveis para
trabalhar, bairros nobres sem metros, salários de trabalho semi-escravo. Afinal, por que pensamos
que a nossa burguesia é mais civilizada que a Indiana ou a Chinesa?
O que se
precisa fazer não é nada impossível. Vimos, durante esta campanha, grande
mobilização de petistas e apoiadores progressistas, gente entusiasmada fazendo
o possível e até o impossível para ajudar a campanha. Os
dirigentes do PT devem ter mais contato com suas bases. Devem
retomar a militância como verdadeira base de sustentação. A educação não deve
cingir-se a aprender a usar os produtos da Microsoft ou ter conhecimentos de
tecnologia para a empregabilidade na indústria, no comércio e nos serviços.
Isso é fundamental. Mas se deve dar aos
jovens conhecimento da história e ensinar-lhes a pensar, a ter senso crítico e
compreensão da sociedade em que vivem.
Se uma
pessoa de boa fé duvida entre uma desemprego de 4.9% e um possível desemprego
de 20 a 25%, bom, algo anda muito errado. A educação que damos aos nossos
jovens é pior do que pensamos.
Deve ser
feito o grande esforço de levantar e desengavetar as dúzias (ou centenas) de
atos ilícitos e de corrupção praticados, principalmente aqueles que permanecem
escondidos pelos investigadores, juízes e mídia da oposição.
Deve-se dar
aos Direitos Humanos a prioridade que exige a Constituição. Não podemos seguir
tendo medo de dizer que o Brasil é campeão de linchamento, tortura,
discriminação, etc. Talvez possamos ser linchados por denunciar isto. Mas se
todo o mundo cala, a barbárie nunca acabará. Sabemos que tanto Lula como Dilma,
a esquerda do PT e a esquerda independente, estão de acordo com isto. Mas é
necessário não mostrar medo. Serve a conciliação com a direita? Não Sabemos. Não podemos acreditar
sempre em que tudo se repitam, mas vejamos: a conciliação fracassou na Espanha
do 36, fracassou na Europa de 39, e em toda América Latina. Pode-se negociar
até certo ponto, mas não pode negociar-se tudo. Nesse sentido, foi estimulante
a forma decidida em que Dilma se confrontou com as calúnias de Veja. Mas ação
jurídica deve levar-se até o fim.
Talvez a Reforma
Política demore muito. Mas o Marco Regulatório da Mídia pode ser mais rápido,
embora também seja muito difícil. Os milhões de jovens que estão vivendo uma
sociedade mais justa devem ter certeza de que essa justiça não será arrebatada.
A Presidenta
prometeu isso. O PT, sua base de apoio e a esquerda consciente de seu papel,
devem lutar para que isso possa se cumprir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário