A aeronave
Augusto dos Anjos
Cindindo a vastidão do Azul profundo,
Sulcando o espaço, devassando a terra,
A aeronave que um mistério encerra
Vai pelo espaço acompanhando o mundo.
E na esteira sem fim da azúlea esfera
Ei-la embalada n’amplidão dos ares,
Fitando o abismo sepulcral dos mares,
Vencendo o azul que ante si s’erguera.
Voa, se eleva em busca do infinito,
É como um despertar de estranho mito,
Auroreando a humana consciência.
Cheia da luz do cintilar de um astro,
Deixa ver na fulgência do seu rastro
A trajetória augusta da Ciência.
Sulcando o espaço, devassando a terra,
A aeronave que um mistério encerra
Vai pelo espaço acompanhando o mundo.
E na esteira sem fim da azúlea esfera
Ei-la embalada n’amplidão dos ares,
Fitando o abismo sepulcral dos mares,
Vencendo o azul que ante si s’erguera.
Voa, se eleva em busca do infinito,
É como um despertar de estranho mito,
Auroreando a humana consciência.
Cheia da luz do cintilar de um astro,
Deixa ver na fulgência do seu rastro
A trajetória augusta da Ciência.
A poética EU do maior poeta paraibano do século XX, Augusto dos Anjos, é o grito desesperado para salvar a humanidade por meio de seu projeto fracassado, na promessa de ressurreição tal como sucedeu com Jesus Cristo, vencendo a morte da estética e a instaurando numa cena inaugural doutra nova e gigantesca civilização brasileira que assombrará o mundo.
Se o artista na pintura do quadro Banho Turco faz a reprodução da carne, o poeta Augusto dos Anjos propaga sua apologia da carne, a partir de EU e do soneto "Vencedor", conforme constata o ensaio crítico Que ninguem doma um coração de poeta!9 Augusto dos Anjos, na sua poética da transgressão, instaura a festa da carne, a subversão, a constatação da miséria da natureza humana: espírito e corpo, da matéria; as virtudes sociais humanas, a moral cristã, a política, a cultura, a economia, a saúde, a sociologia, a antropologia e a ética, são questionadas, à luz das teorias científicas vigentes na época desse poeta à frente de seu tempo. É como se Augusto dos Anjos abrisse a cena inaugural de sua poética do Cosmos por meio de estranha epifania, com o propósito imperioso de salvar a humanidade numa nova Roma instaurada noutra civilização brasileira que assombrará o mundo.
Sua linguagem orgânica, muitas vezes cientificista e agressivamente crua, mas sempre com ritmados jogos de palavras, ideias, e rimas geniais, causava repulsa na crítica e no grande público da época. Ele somente apresentou grande vendagem anos após a sua morte.
Muitas divergências há entre os críticos de Augusto dos Anjos quanto à apreciação de sua obra e suas posições são geralmente extremas. De qualquer forma, seja por ácidas críticas destrutivas, seja através de entusiasmos exaltados de sua obra poética, Augusto dos Anjos está longe de se passar despercebido na literatura brasileira.(...)
leia mais em : http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos
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