domingo, 20 de maio de 2018

RESPOSTA A OTAVIO - Por Pierre Schaeffer - Paris 07.02.1990

 
 



 
 
 
 
RESPOSTA A OTAVIO

Amizade e estima exigem sinceridade. Azar do Otavio se sua fidelidade para comigo o leva a pedi-me algumas linhas de introdução a sua perseverante conduta, digna de interesse e de incondicional admiração.
Comecemos por dizer que por sua técnica Otavio Henrique Soares Brandão não precisa de nenhum apadrinhamento. Sua livre inspiração, sua fecundidade musical e sua independência com relação às pressões contemporâneas o tornam livre diante dos grupos de pressão e, assim, independente de qualquer conteúdo musical deles. Ainda é possível admirar-se na paisagem musical contemporânea jovens audaciosos que traçam seu caminho pessoal, numa selva bem delimitada e mesquinha, onde poucos atalhos são os únicos autorizados, numa paisagem muito bem defendida pela coação, cercada de arames farpados, moldada pela pressão social e pelo esnobismo estético.Por causa desta atitude inicial de singular independência e desta audácia em criar seu universo musical próprio, algo um tanto raro nos dias de hoje, o procedimento de Soares Brandão é digno de estima.
Mas esta independência precisa repousar sobre uma conquista certa, uma técnica experiente, uma maestria sobre o instrumento e os métodos, Este é o caso de Soares Brandão. Admire-se, pois, sem reservas, a conduta e o empenho de quem percorre único a sua estrada, sem recorrer aos apoios fáceis como as do esnobismo, ao gosto da moda do dia e de algumas “panelinhas” que fazem chover e acontecer na paisagem musical. Meu principal motivo para estimar o trabalho de Soares Brandão é o fato dele ser fiel à tradição musical, ao mesmo tempo como instrumentista e compositor, envolto em uma certa modéstia que inspira as suas mais notáveis audácias. Enfim, sendo ele instrumentista e virtuose do instrumento mais difícil de manipular, o piano, deve-se admirar, também, dentro da audácia, a fidelidade e o respeito aos costumes.

Entre os jovens músicos que tiveram a gentileza de se inspirar em meus trabalhos, considerando uma certa tradição de pesquisa, conheço poucos que o tenham feito com tal escrúpulo, com um cuidado igualmente laborioso e com um tamanho respeito pelo essencial.
De bom grado, derrogo minha norma atual que é não escrever nenhuma linha sobre música alguma, para trazer a este virtuose-compositor o buquê de minhas flores, mas que ainda guardam, eu espero, o perfume de quando eram jovens.
Pierre Schaeffer - Paris 07.02.1990. 


 *enviada por:

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