terça-feira, 3 de março de 2015

CASO BATTISTI: Não querem fechar o circo


Caso Battisti: Não querem fechar o circo

Carlos A. Lungarzo


Nota: Ao falar em “circo”, estou referindo-me ao “circo-romano”, onde se realizavam espetáculos sangrentos para divertir a ralé. Não quero ofender, nem remotamente, os verdadeiros artistas, como os do Circo do Soleil.

Parece mentira: De aqui a dois domingos, cumpriram-se oito anos (oito mesmo) que começou no Brasil a grotesca e demencial perseguição contra Cesare Battisti. Não quero me repetir. Por sinal, esta semana está a disposição de quem quiser a versão gratuita de meu livro, que apareceu na Amazon.com.br.

Das numerosas provocações, atos arbitrários, reações dee histeria, e síndromes de abstinência de sangue dos fascistas, inquisidores, pistoleiros da classe dominante, abutres de todas as elites, bacharéis sem clientes e professores precisando sair nos jornais, há algumas que foram tão ridículas e sem significado, que a mesma justiça as ignorou ou as repudiou.

A última conhecida foi a de um jovem (que nada tinha de maluco, como se diz por aí) que foi, sem dúvida, financiado por políticos de direita. Ele fingiu que sequestrava um mordomo de um hotel clamando pela derrubada de Dilma Rousseff, e a extradição de Cesare Battisti.

Das provocações anteriores, houve várias denúncias, representações, e coisas de diverso tipo, que desapareceram porque, mesmo se fossem julgadas, não poderiam ser aprovadas, salvo por algum juiz extremamente parcial que, embora existam (e muitos) deveria ser procurado com bastante antecedência, para não correr riscos. Isto foi o caso de vários militares, policiais, deputados-pastores e outros, que não justificavam o trabalho de montar uma boa armadilha.

Mas, houve outra. A de um procurador federal do DF, esse sim, um cara gabaritado, que já havia ganhado alguns louros perseguindo à família de Lula, num esforço por encontrar “corrupção” entre os filhos do ex presidente, o que não aconteceu.

Essa denúncia teve repercussão e viralizou em vários meios.

O membro do MP exigia que Battisti fosse deportado para México ou a França, pois ele não podia ser extraditado para a Itália, por causa da decisão do Poder Executivo em 31/12/2010, e sua confirmação pelo STF de 08/06/11

Inclusive, na época, o jurista Walter Maierovitch, cuja campanha em prol da extradição de Battisti foi incansável, reconheceu, num artigo em CC, que não se podia “extraditar Battisti no tapetão”. Embora Maierovitch mostrava seu desagrado por isto, ele reconheceu, acho que honestamente, que essa deportação era um expulsão disfarçada.

Se não, vejamos.

O estado italiano pediu a Captura de Battisti à Interpol, que a difundiu a nível internacional. Ora, México é filiado à Interpol, e a França é uma das criadoras desse clube de policiais internacionais. É mais do que óbvio que, se entregue a esses países, a Itália o reclamaria via Interpol.

Este truque pareceria indicar a microcefalia de seus autores, mas não é assim. O truque foi pensado para ter efetividade numa massa linchadora que em nosso país é abundante, por causa de numerosas razões por todos conhecidas (coronelismo, escravocracia, colonialismo, omnipotência das elites, etc. etc. etc.) Essa massa não está interessada em justiça, mas em criar conflitos ao governo, combater a esquerda e linchar tantos inimigos como seja possível.

Observe-se que, apesar da lentidão da justiça seria muita demora 3 anos a meio, para que o pedido do MP do DF chegue até a mesa de uma juíza, também do DF, numa causa totalmente sem sentido. Por que tanta demora?

Durante esses três anos, o processo sobre esse pedido do MP não ficou visível, ninguém falou nada dele. Mas ele foi tirado do arquivo e decidido, pela deportação, justo agora, em março de 2015, quando o golpe da direita está unificando todas suas pontas.

Esses três anos não passaram, acredito, apenas para encontrar o momento certo; penso que também foi necessário que o “magnífico julgador” (assim se fala?) merecesse 100% de confiança dos donos do país, e não fosse hesitante no momento da decisão. Esta obsessão em encontrar um juiz fiel não é mania de direita. É uma preocupação mais do que justa.

Por sinal, durante 2012, esse processo esteve na mesa de outro juiz (ou talvez de dois, não tenho a informação exata) e nada foi feito. É claro, se Dilma perdia as eleições, não haveria necessidade de um truco como este.

Lembrem que, durante o primeiro julgamento do caso Battisti, os fascistas brasileiros davam por certo que Ayres Brito votaria contra o direito do presidente da República a decidir se aplicar ou rejeitar a extradição, e ele votou contra. Um juiz fiel é tão importante para um alto capo das elites, como um consigliero absolutamente confiável para um padrone.

Parece que ainda nada está dando certo para o golpe, e as elites parasitárias e delinquenciais da política nacional têm assuntos mais importantes que o caso Battisti para incomodar o governo.

Mas eles usam o critério de Galileu, muito embora seus antepassados ideológicos tenham torturado o talentoso cientista e confinado até morrer: adicionar forças.

Se o caso Petrobrás pesa 10 Kg, e o caso Battisti pesa 1 grama, a soma dos dois pesa 10.001 gramas. Somando os milhares de truques e fraudes criados com grande velocidade, talvez se chegue ao limiar necessário. Mas, qual é a força total que precisa a direita? Hum, eis a questão.

O recurso contra esta decisão de juíza Adverci (é o nome dela, juro) deve passar ainda pelo TSJ e o STF, de modo que a probabilidade de ser aceita é quase nula. Porém, cuidado! A direita brasileira pode usar qualquer recurso.

O movimento de apoio a Cesare, que fez uma tarefa brilhante entre 2007 e 2011, deve manter-se alerta. A luta continua.



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