vou tentar explicar a meu primo Celso Lungaretti o que houve com a minha geração. em 1968 eu tinha 10 anos, era uma total criancinha, nasci 8 anos depois de meu primo e o que posso dizer sobre ele é que era criança muito inteligente desde o grupo escolar, tanto que Jânio Quadros o premiou como sendo o aluno do curso primário, mais bem dotado em redação! (continuo a postagem deste link:
http://sarauxyz.blogspot.com.br/2015/02/geracoes-e-viva-dionisio-reflexoes.html
minha geração foi mesmo a do meio dos anos 70 até final da década de 80, a arte sempre esteve muito presente na minha vida, valorizava muito o teatro, as peças Mortos sem Sepultura, Murro em Ponta de Faca e as de Plínio Marcos e etc.
Paulo Freire, Augusto Boal, Chico Buarque de Holanda...a maioria gostava da Jovem Guarda, eu preferia o Chico. Difícil falar da geração da gente, porque enquanto estamos vivos ainda estamos na nossa geração, porém, posso dizer o que havia no contexto da época em que eu era adolescente e jovem, havia muito medo, havia alienação quase que total no meu bairro, os jovens eram fúteis, só pensavam em festas, moda, vaidade geral, o colégio era ruim demais, professores alienados, reacionários, alheios a tudo, negavam sem vergonha alguma, os valores mais importantes da educação.
Cidadania? nem se sabia o que era isto! um familiar meu era o único a falar de esquerda, de revolução , de socialismo e era visto como total maluco! O povo era apolítico e só o que sentiam era medo da ditadura militar que perseguia, torturava e matava, tomar partido de alguém? nem pensar!! o povo era covarde e só lá pelo meio da década de 80 é que pude presenciar organização política no teatro do bairro, teatro da prefeitura que precisava de reforma e então havia tempo vago para que pudéssemos nos reunir por lá! o bairro era a Mooca, lá mesmo onde Celso Lungaretti nasceu e viveu como eu. No início da década de 80 pude me sentir um ser cultural graças a um grupo de amigos que tocavam, faziam poesia, teatro, tudo hiper amador, e com objetivo de cooperação... este grupo posso dizer, marcou muito, tínhamos tudo a ver com arte e cultura, além de ter a ver com educação e política, mesmo que de uma forma indireta, como por exemplo participar de um grupo ligado a PUC que debatia formas de comunicação popular, era 1982, por ai!
Nos anos 70 as pessoas de classe média, só pensavam em suas sobrevivências, eram individualistas demais, só estudavam, só trabalhavam e se divertiam como se vivessem fora da realidade, era triste, era deprimente, a tv começou a separar as famílias, os pais deixavam de conversar com os filhos para assistir a programação televisiva, era triste demais, revoltante. O que me salvou foi ter estudado arte, mesmo que em época de ditadura, tínhamos alguns professores diferentes da maioria que conseguiram nos motivar a conhecer o cinema de arte, o teatro, a música clássica e etc. Sempre dei muita importância a cultura do povo que na minha opinião precisava ser resgatada logo e foi ai que resolvi fazer um curso sobre folclore e entendi o valor da cultura que existe fora da escola que urge ser valorizada pelo povo, para que assim viremos povo de verdade! Convivi com pessoas malucas que tentavam romper muitas coisas que o contexto achava normal, e alguns destes morreram cedo demais, morreram antes que eu tivesse consciência pra poder compreendê-los.
Daquela época pouquíssimos restaram, digo para conviver, parece que o tempo dá jeito mesmo nas coisas e nos afasta de pessoas que nem precisamos mais rever!
Restam poucos, às vezes restam aqueles que a gente quase nem convivia muito como é o caso de meu primo Celso Lungaretti, que em 1984 o encontrei num cine clube e no escuro o reconheci, e deve ter sido a terceira vez que o via na vida, rsrsrsrs, graças a ele tentei escrever esta postagem e o agradeço muito.
nadia gal stabile - 11 02 2015
* em 1985 assisti muitos filmes de Godard
que só se assistia em cine clubes
http://issuu.com/revista.cult/docs/cult_126_final2
parte 3 : http://sarauxyz.blogspot.com.br/2015/02/parte-3-geracoesw-e-viva-dionisio.html
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