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quinta-feira, 30 de abril de 2009
A "DITABRANDA" POR LATUFF - DITABRANDA É A PQP! MODOLINKAR COM "MÍDIA INDEPENDENTE" (clique na imagem para vê-la ampliada)
O continuismo
Auri 02/03/2009 08:51
Por mais que o povo reprove, é normal que os meios de comunicações que apoiaram a ditadura (sendo portanto cúmplices com medo da cadeira dos réus) continuem fazendo todo esforço para pintar os crimes dos anos de chumbo com cores fantasiosas!
A esse grupo está praticamente toda grande mídia brasileira: Folha, Globo, Veja, SBT .... Elas se nutriram e se criaram na teta da ditadura, de modo que defendem-na agora assim como qualquer filho tende a defender com todos os meios seus pais, independentemente do tamanho dos crimes que eles tenham cometido. É uma relação sanguínia e o povo brasileiro continua sendo a vítima!
Isso somente vai mudar no dia em que os meios de comunicações forjados pela ditadura militar forem democratizados!
Quanto à ilustração de Latuff, genial como sempre!
FONTE: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/03/441848.shtml
A esse grupo está praticamente toda grande mídia brasileira: Folha, Globo, Veja, SBT .... Elas se nutriram e se criaram na teta da ditadura, de modo que defendem-na agora assim como qualquer filho tende a defender com todos os meios seus pais, independentemente do tamanho dos crimes que eles tenham cometido. É uma relação sanguínia e o povo brasileiro continua sendo a vítima!
Isso somente vai mudar no dia em que os meios de comunicações forjados pela ditadura militar forem democratizados!
Quanto à ilustração de Latuff, genial como sempre!
FONTE: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/03/441848.shtml
ABAIXO ESSA MÍDIA DE MASSA PORCA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(Nadia Stabile - 30/04/09)
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"FOLHA" É CONDENADA A INDENIZAR MILITANTE QUE CALUNIOU
Acaba de ter desfecho exemplar o episódio algoz e vítima, o primeiro em que um contingente mais amplo de leitores contestou as versões deturpadas da Folha de S. Paulo sobre acontecimentos dos anos de chumbo: a Justiça de São Paulo condenou a empresa Folha da Manhã a pagar R$ 18 mil de indenização a Dulce Maia, falsamente acusada pela coluna do Élio Gaspari de haver participado de um atentado ao consulado estadunidense em 1968.
Antes, em julho de 2007, a Folha já se posicionara de maneira grotesca na polêmica sobre decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça favorável aos herdeiros de Carlos Lamarca. Em editorial, o jornal propôs que se fizesse uma distinção entre os militantes que foram torturados e/ou assassinados sob a custõdia do Estado e os demais, só reconhecendo aos primeiros o direito à reparação da União.
Na ocasião, fiquei praticamente sozinho na defesa pública do ex-companheiro de lutas, talvez porque muitos hesitassem em identificar-se com personagem tão polêmico. Mas rebati as agressões à memória de Lamarca e rechacei a adjetivação falaciosa da Folha, que se referiu a ele como "terrorista".
Contestei, ainda, o tal editorial por não levar em conta que dezenas de militantes foram capturados, levados a centros clandestinos de tortura, supliciados e executados, sem terem sido colocados formalmente sob a custódia do Estado; e, em termos mais amplos, porque "tal distinção só caberia se o Brasil não estivesse, no momento dos acontecimentos, submetido à ditadura e ao terrorismo de estado por parte de um bando armado que usurpou o poder em 1964 e violou de todas as formas os direitos constitucionais dos cidadãos brasileiros".
Faço questão de repetir o parágrafo no qual proclamei uma verdade há tanto e por tantos escamoteada: "Os cidadãos brasileiros que ousaram confrontar esse regime totalitário, em condições de enorme desigualdade de forças, nada mais fizeram do que exercer o direito de resistência à tirania, que existe e é reconhecido há tanto tempo quanto a própria democracia, já que também remonta à Grécia antiga. Então, não cabe recriminá-los por assaltar bancos, seqüestrar embaixadores e matar agentes de segurança. Também durante a luta contra o nazifascismo foram descarrilados trens, explodidos quartéis, assaltados bancos e mortos policiais e traidores, sem que a ninguém ocorra hoje vituperar os mártires e heróis da Resistência".
O ALGOZ QUE NÃO ERA ALGOZ - Veio em seguida o episódio algoz e vítima, em março de 2008, que dissequei em três artigos publicados em vários espaços virtuais, sem que Gaspari ou a Folha me respondessem diretamente.
Tudo começou em 12/03/2008, quando Gaspari publicou na Folha de S. Paulo uma diatribe contra a União por ter decidido pagar ao suposto algoz Diógenes Carvalho de Oliveira uma indenização duas vezes maior do que a outorgada à sua suposta vítima Orlando Lovecchio Filho.
Como o primeiro era um militante da Resistência à ditadura e o segundo, o cidadão que perdera a perna no atentado supostamente por ele cometido, o assunto logo transbordou do circuito habitual do Gaspari para outros jornais, revistas semanais, sites de extrema-direita e correntes de e-mails neo-integralistas.
Como de praxe, as refutações foram ignoradas pela Folha ou relegadas à seção de cartas (cortadas até se tornarem anódinas, publicadas com imenso atraso, etc.), enquanto os espaços nobres serviam para repercutir o texto de Gaspari ou trazer-lhe acréscimos, na vã tentativa de respaldar suas afirmações indefensáveis.
Tanto a Folha quanto Gaspari chegaram a reconhecer que, dos quatro militantes apontados levianamente como autores do atentado ao consulado estadunidense em 1969, Dulce Maia era inocente e havia sido por eles caluniada.
Mas, nem mesmo o depoimento do único participante ainda vivo desse atentado obteve o merecido destaque, apesar de provocar uma verdadeira reviravolta no caso: Sérgio Ferro, admitiu sua culpa e seus remorsos, mas desmentiu a participação de Diógenes de Carvalho e Dulce Maia, além de esclarecer que se tratou de uma ação da ALN e não (como Gaspari afirmara) da VPR.
Outra informação importantíssima que a Folha sonegou de seus leitores: Ferro foi acionado na Justiça por Lovecchio e obteve ganho de causa graças aos relatórios médicos que apresentou como prova. O primeiro dava conta de que o ferimento de Lovecchio era grave, mas existia possibilidade de recuperação. Depois, o socorro a Lovecchio foi interrompido pelo Deops, que quis interrogá-lo, provavelmente para saber se ele era vítima do atentado ou um participante azarado. Quando os policiais afinal o liberaram, sua perna já havia gangrenado e teve de ser amputada (2º relatório).
Ora, se o algoz não era algoz, então o texto inteiro do Gaspari perdia o gancho e desabava, bem como as matérias caudatárias publicadas por outros veículos.
A consciência da vulnerabilidade de sua posição aos olhos dos (poucos) cidadãos bem informados fez Gaspari voltar ao assunto na coluna dominical de 25/03/2008. E o fez recorrendo às informações que, desde o início, foram a viga-mestra de suas perorações fantasiosas: os famigerados inquéritos inquéritos policiais-militares da ditadura, contaminados pela prática generalizada da tortura.
Como um mero araponga, ele se pôs a revolver o lixo ensanguentado da repressão, dando grande importância ao fato de que havia congruência entre os depoimentos extorquidos dos torturados e omitindo que os torturadores forçavam todos os presos a coonestarem a versão oficial, a síntese elaborada pelos serviços de Inteligência das Forças Armadas, para que o resultado final tivesse alguma verossimilhança.
Como historiador, Gspari deveria saber (ou sabia e omitiu) que os militantes eram coagidos a admitir os maiores absurdos nas instalações militares e, depois, encaminhados a delegacias civis onde deveriam repetir, sem torturas, as mesmas afirmações. Os que, pelo contrário, desmentiam tudo, eram recambiados aos quartéis e novamente submetidos a sevícias brutais, até se conformarem em obedecer ao script.
Destrambelhado, Gaspari ousou até fazer novo ataque a Dulce Maia, a quem pedira humildes desculpas no domingo anterior. Embora ela não houvesse mesmo participado do atentado contra o consulado dos EUA, Gaspari quis imputar-lhe outras ações armadas, como se isto fosse atenuante para tê-la acusado falsamente.
Sobre essa escalada de abusos, eis alguns trechos da sentença emblemática do juiz Fausto Martins Seabra, da 21ª Vara Civel Central da Capital:
"No caso em foco não se pode esquecer que a notícia inexata foi produzida por jornalista bastante respeitado por substancial obra em quatro volumes sobre a história recente do país, o que lhe impunha maior responsabilidade na divulgação de informações sobre aquele período.
"Impossível supor que todos os leitores da notícia inexata tenham também lido as erratas e os pedidos de desculpas do articulista.
"Ter o nome associado à prática de um crime do qual não participou é suficiente para sofrer sensações negativas de reprovação social, angústia, aflição e tantas outras que consubstanciam danos morais relevantes sob o aspecto jurídico e, portanto, indenizáveis. A ré sustenta que exerceu o direito de crítica (...).De fato, assim agiu ao tecer considerações e até mesmo juízos de valor sobre a discrepância entre as diversas indenizações pagas às vítimas do regime militar.
"Sucede, contudo, que a partir do momento em que afirmou a participação da autora no episódio relatado nos autos, não só extrapolou o direito de crítica, como olvidou o compromisso legal e ético com a verdade. Pouco importa que a autora tenha de fato pertencido a grupo ao qual foram atribuídas ações violentas nas décadas de 60 e 70. A notícia de que participou do atentado ao consulado norte-americano não era verdadeira e, assim, não pode prevalecer diante do direito à honra."
Antes, em julho de 2007, a Folha já se posicionara de maneira grotesca na polêmica sobre decisão da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça favorável aos herdeiros de Carlos Lamarca. Em editorial, o jornal propôs que se fizesse uma distinção entre os militantes que foram torturados e/ou assassinados sob a custõdia do Estado e os demais, só reconhecendo aos primeiros o direito à reparação da União.
Na ocasião, fiquei praticamente sozinho na defesa pública do ex-companheiro de lutas, talvez porque muitos hesitassem em identificar-se com personagem tão polêmico. Mas rebati as agressões à memória de Lamarca e rechacei a adjetivação falaciosa da Folha, que se referiu a ele como "terrorista".
Contestei, ainda, o tal editorial por não levar em conta que dezenas de militantes foram capturados, levados a centros clandestinos de tortura, supliciados e executados, sem terem sido colocados formalmente sob a custódia do Estado; e, em termos mais amplos, porque "tal distinção só caberia se o Brasil não estivesse, no momento dos acontecimentos, submetido à ditadura e ao terrorismo de estado por parte de um bando armado que usurpou o poder em 1964 e violou de todas as formas os direitos constitucionais dos cidadãos brasileiros".
Faço questão de repetir o parágrafo no qual proclamei uma verdade há tanto e por tantos escamoteada: "Os cidadãos brasileiros que ousaram confrontar esse regime totalitário, em condições de enorme desigualdade de forças, nada mais fizeram do que exercer o direito de resistência à tirania, que existe e é reconhecido há tanto tempo quanto a própria democracia, já que também remonta à Grécia antiga. Então, não cabe recriminá-los por assaltar bancos, seqüestrar embaixadores e matar agentes de segurança. Também durante a luta contra o nazifascismo foram descarrilados trens, explodidos quartéis, assaltados bancos e mortos policiais e traidores, sem que a ninguém ocorra hoje vituperar os mártires e heróis da Resistência".
O ALGOZ QUE NÃO ERA ALGOZ - Veio em seguida o episódio algoz e vítima, em março de 2008, que dissequei em três artigos publicados em vários espaços virtuais, sem que Gaspari ou a Folha me respondessem diretamente.
Tudo começou em 12/03/2008, quando Gaspari publicou na Folha de S. Paulo uma diatribe contra a União por ter decidido pagar ao suposto algoz Diógenes Carvalho de Oliveira uma indenização duas vezes maior do que a outorgada à sua suposta vítima Orlando Lovecchio Filho.
Como o primeiro era um militante da Resistência à ditadura e o segundo, o cidadão que perdera a perna no atentado supostamente por ele cometido, o assunto logo transbordou do circuito habitual do Gaspari para outros jornais, revistas semanais, sites de extrema-direita e correntes de e-mails neo-integralistas.
Como de praxe, as refutações foram ignoradas pela Folha ou relegadas à seção de cartas (cortadas até se tornarem anódinas, publicadas com imenso atraso, etc.), enquanto os espaços nobres serviam para repercutir o texto de Gaspari ou trazer-lhe acréscimos, na vã tentativa de respaldar suas afirmações indefensáveis.
Tanto a Folha quanto Gaspari chegaram a reconhecer que, dos quatro militantes apontados levianamente como autores do atentado ao consulado estadunidense em 1969, Dulce Maia era inocente e havia sido por eles caluniada.
Mas, nem mesmo o depoimento do único participante ainda vivo desse atentado obteve o merecido destaque, apesar de provocar uma verdadeira reviravolta no caso: Sérgio Ferro, admitiu sua culpa e seus remorsos, mas desmentiu a participação de Diógenes de Carvalho e Dulce Maia, além de esclarecer que se tratou de uma ação da ALN e não (como Gaspari afirmara) da VPR.
Outra informação importantíssima que a Folha sonegou de seus leitores: Ferro foi acionado na Justiça por Lovecchio e obteve ganho de causa graças aos relatórios médicos que apresentou como prova. O primeiro dava conta de que o ferimento de Lovecchio era grave, mas existia possibilidade de recuperação. Depois, o socorro a Lovecchio foi interrompido pelo Deops, que quis interrogá-lo, provavelmente para saber se ele era vítima do atentado ou um participante azarado. Quando os policiais afinal o liberaram, sua perna já havia gangrenado e teve de ser amputada (2º relatório).
Ora, se o algoz não era algoz, então o texto inteiro do Gaspari perdia o gancho e desabava, bem como as matérias caudatárias publicadas por outros veículos.
A consciência da vulnerabilidade de sua posição aos olhos dos (poucos) cidadãos bem informados fez Gaspari voltar ao assunto na coluna dominical de 25/03/2008. E o fez recorrendo às informações que, desde o início, foram a viga-mestra de suas perorações fantasiosas: os famigerados inquéritos inquéritos policiais-militares da ditadura, contaminados pela prática generalizada da tortura.
Como um mero araponga, ele se pôs a revolver o lixo ensanguentado da repressão, dando grande importância ao fato de que havia congruência entre os depoimentos extorquidos dos torturados e omitindo que os torturadores forçavam todos os presos a coonestarem a versão oficial, a síntese elaborada pelos serviços de Inteligência das Forças Armadas, para que o resultado final tivesse alguma verossimilhança.
Como historiador, Gspari deveria saber (ou sabia e omitiu) que os militantes eram coagidos a admitir os maiores absurdos nas instalações militares e, depois, encaminhados a delegacias civis onde deveriam repetir, sem torturas, as mesmas afirmações. Os que, pelo contrário, desmentiam tudo, eram recambiados aos quartéis e novamente submetidos a sevícias brutais, até se conformarem em obedecer ao script.
Destrambelhado, Gaspari ousou até fazer novo ataque a Dulce Maia, a quem pedira humildes desculpas no domingo anterior. Embora ela não houvesse mesmo participado do atentado contra o consulado dos EUA, Gaspari quis imputar-lhe outras ações armadas, como se isto fosse atenuante para tê-la acusado falsamente.
Sobre essa escalada de abusos, eis alguns trechos da sentença emblemática do juiz Fausto Martins Seabra, da 21ª Vara Civel Central da Capital:
"No caso em foco não se pode esquecer que a notícia inexata foi produzida por jornalista bastante respeitado por substancial obra em quatro volumes sobre a história recente do país, o que lhe impunha maior responsabilidade na divulgação de informações sobre aquele período.
"Impossível supor que todos os leitores da notícia inexata tenham também lido as erratas e os pedidos de desculpas do articulista.
"Ter o nome associado à prática de um crime do qual não participou é suficiente para sofrer sensações negativas de reprovação social, angústia, aflição e tantas outras que consubstanciam danos morais relevantes sob o aspecto jurídico e, portanto, indenizáveis. A ré sustenta que exerceu o direito de crítica (...).De fato, assim agiu ao tecer considerações e até mesmo juízos de valor sobre a discrepância entre as diversas indenizações pagas às vítimas do regime militar.
"Sucede, contudo, que a partir do momento em que afirmou a participação da autora no episódio relatado nos autos, não só extrapolou o direito de crítica, como olvidou o compromisso legal e ético com a verdade. Pouco importa que a autora tenha de fato pertencido a grupo ao qual foram atribuídas ações violentas nas décadas de 60 e 70. A notícia de que participou do atentado ao consulado norte-americano não era verdadeira e, assim, não pode prevalecer diante do direito à honra."
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Cingapura - JOSÉ ORLANDO RANGEL MACHADO (clique aqui)
Em kamikaze estourou seus tímpanos
ao som de incenso, ao sabor das rosas
nem sabe ele de onde ou quando
ao seu redor infinitas paragens.
De fato ouviu um som metálico
de sino rouco, de rock e raiva
seu corpo estático estalou cravado
no coração dilacerado do meio-dia.
Tentou perante alicerces sólidos
reconstruir canções e valsas
instalar vertentes no calor das veias
fazer-se herói no fogo dos sacrifícios.
Em Cingapura sonhou distante
como se fosse nostálgica a insensatez
meteu seu pé diante da incerteza
pois que tudo soava sonho.
Depois da fúria, a flor de lótus de sempre
no silêncio de seu ouvido fragmentado
Kitaro em sombras de Budas astronautas
melhor o tempo dizendo Gautama.
Desejou furor e paixão por amores
amor primeiro de primeira cama
de sino rouco, de mantra e calma
no coração exacerbado do seu meio-dia.
BLOG DO POETA : http://oceuderimbaud.blogspot.com/
ao som de incenso, ao sabor das rosas
nem sabe ele de onde ou quando
ao seu redor infinitas paragens.
De fato ouviu um som metálico
de sino rouco, de rock e raiva
seu corpo estático estalou cravado
no coração dilacerado do meio-dia.
Tentou perante alicerces sólidos
reconstruir canções e valsas
instalar vertentes no calor das veias
fazer-se herói no fogo dos sacrifícios.
Em Cingapura sonhou distante
como se fosse nostálgica a insensatez
meteu seu pé diante da incerteza
pois que tudo soava sonho.
Depois da fúria, a flor de lótus de sempre
no silêncio de seu ouvido fragmentado
Kitaro em sombras de Budas astronautas
melhor o tempo dizendo Gautama.
Desejou furor e paixão por amores
amor primeiro de primeira cama
de sino rouco, de mantra e calma
no coração exacerbado do seu meio-dia.
BLOG DO POETA : http://oceuderimbaud.blogspot.com/
Insídia (Walder Maia do Carmo)
Se todas as vozes falassem
do tempo natural do homem.
Se todos os gritos,gritassem
sua adaptação social.
Se todas palavras tentassem ensinar.
Se tudo isto ressoasse
no intelecto do sistema social
assim mesmo existiria insídia.
do tempo natural do homem.
Se todos os gritos,gritassem
sua adaptação social.
Se todas palavras tentassem ensinar.
Se tudo isto ressoasse
no intelecto do sistema social
assim mesmo existiria insídia.
A figura do herdeiro na civilização do café – problema literário desde José de Alencar
Por Regina M. A. Machado*
Os romances do século XIX têm freqüentemente em comum uma grande empatia com as preocupações básicas de um público nacional que se constrói enquanto público leitor e como cidadão de nações que se modernizam, paralelamente ao desenvolvimento do gênero literário. Por outro lado, são considerados leitura nociva, veículos de idéias subversivas, gênero vulgar e indigno de verdadeiros artistas, ao mesmo tempo que vão aparecendo as obras-primas que dão a forma mais adequada a essa que é a reflexão literária por excelência sobre a modernidade burguesa. Em seguida, no século seguinte, várias vezes tentou-se acabar com o romance, decretando sua morte natural, seu desaparecimento puro e simples, seu caráter supérfluo. Mas ele tem resistido, como é fácil constatar, certamente mudando e se adaptando a novas formas e a novas responsabilidades do escritor. Raramente, diga-se de passagem, obtendo o mesmo efeito de comunhão com um largo público, como lembra Orhan Pamuk.
A ascensão do romance como forma de arte coincidiu com a ascensão do Estado-nação. Quando os grandes romances do século 19 estavam sendo escritos, a arte do romance era uma arte nacional. Balzac, Dickens, Dostoiévski e Tolstói escreviam à classe média emergente em seus países, capaz de reconhecer nos livros cada cidade, rua, casa, sala e cadeira; os leitores compartilhavam nos livros de seus mesmos gostos e discutiam as mesmas idéias.
No século 19, os romances eram publicados nos cadernos de cultura dos jornais, porque seus autores falavam a uma nação. No fim do século 19, ler e escrever romances era participar de discussão nacional, fechada aos que estavam de fora.[1]
Sem necessariamente aderir à idéia de restrição de difusão da obra a um espaço nacional, podemos encontrar esse sentimento de responsabilidade para com seu próprio público tanto em escritores brasileiros como europeus ou outros, cada um na sua língua e na sua época criando obras que abriam um largo espaço para que os leitores participassem da discussão nacional que lhes incumbia.
Alguns temas e construções comuns percorrem esses romances desde a Europa até o Brasil, onde o que vai nos interessar aqui é a figura do herdeiro da família aristocrática. Para começar, evocaremos o modelo europeu, tal como é visto pelo personagem inculto que dá nome ao romance de Henry James, O Americano. Este faz amizade com o jovem conde de Bellegarde, que explica ao amigo ignorante das regras de vida da aristocracia européia que qualquer trabalho o faria derrogar às tradições familiares. Como se diz na França, Valentin era um gentilhomme de pura cepa e sua regra de vida, por pouco explícita que fosse, consistia em cumprir o papel de um gentilhomme (JAMES, 1994: cap. 7).[2] Esse rapaz cujos horizontes não ultrapassam os limites de um bairro parisiense e que vive preso a valores do passado, morre em duelo por uma questão de honra que o amigo americano vê como absurda, mas que é perfeitamente aceita e legitimada pela família e pelo padre que o assiste. A única pessoa a lamentar a perda dessa vida cheia de promessas de um indivíduo jovem é o perplexo americano que questiona, com sua incompreensão, os valores da nobreza européia.
Também em José de Alencar, ora o personagem do herdeiro se expõe em diálogos com um interlocutor, ora é simplesmente descrito pelo narrador, que tampouco o julga, apenas alinha suas características sociais. Os exemplos escolhidos aqui são geralmente oriundos das fortunas então recentes do café, em romances onde a função literária do herdeiro é esmiuçada e questionada por Alencar. Em A viuvinha, o narrador apresenta o jovem rico de curta nobreza em toda sua futilidade, sem a rígida formação dada pelo sistema de valores do nobre europeu, mas chegando ao mesmo tipo de desocupação:
Chegando à maioridade, Jorge tomou conta de seu avultado patrimônio e começou a viver essa vida dos nossos moços ricos, os quais pensam que gastar o dinheiro que seus pais ganharam é uma profissão suficiente para que se dispensem de abraçar qualquer outra (ALENCAR, 1959: 232, cap. I).
Em O tronco do ipê, a heroína caricatura os filhos de um fazendeiro vizinho, fazendo notar que o herdeiro enviado à Europa para se educar corre o risco de voltar sem nada ter aprendido, feito um boneco de cheiro, como aqueles dois bobos, que lá estão na corte deitando fora a herança do pai... (ALENCAR, 1977: 272, cap. VII, 2ª. parte). [3].
O herdeiro das fortunas da época imperial segundo Bernardo Guimarães também acaba indo buscar um aperfeiçoamento social fora do país, pois está convencido de que só na Europa poderia desenvolver dignamente a sua inteligência, e saciar a sua sede de saber em puros e abundantes mananciais. Assim escreveu ao pai, que deu-lhe crédito e o enviou a Paris, donde esperava vê-lo voltar feito um novo Humboldt (GUIMARÃES, 1976: 33, cap. II). As probabilidades do trajeto presumido do herdeiro de um rico comendador do império vêm magistralmente resumidas em A escrava Isaura. Esse roteiro modelar é objeto de uma narração sarcástica, que aproveita para denunciar paralelamente o prestígio social de que gozavam sem contestação os traficantes de escravos. O comércio de importação e exportação de gêneros, mesmo em larga escala, o próprio tráfego de africanos, lhe pareciam especulações degradantes e impróprias de sua alta posição e esmerada educação. A atividade comercial nesse romance é vista com o mesmo desprezo que os mascates do Recife mereciam dos aristocratas de Olinda (ALENCAR, 1958), cujos nobres herdeiros são moldados pelo mesmo modelo descrito acima: Álvaro Cavalcanti, o filho do capitão-mor, um desbragado que levava a vida a pautear, não cuidando senão de jogo, mulheres e comezainas. Na peça O crédito, a especulação que se banaliza na sociedade imperial é satirizada nos mesmos termos explicitados por Guimarães: O negócio de balcão e retalho, esse inspirava-lhe asco e compaixão. Só lhe convinham as altas especulações cambiais, as operações bancárias, e transações, em que jogasse com avultados capitais (GUIMARÃES, 1976: 34). Este personagem da Escrava Isaura é ironicamente construído em oposição ao protagonista, um jovem remanescente dos engenhos do Nordeste açucareiro, este idealizado tanto física como moralmente: Tinha ódio a todos os privilégios e distinções sociais, e é escusado dizer que era liberal, republicano e quase socialista (Id., 88, cap. XI).
Até aqui, o herdeiro é visto com simpatia ou tem seu contraponto num duplo que supre suas deficiências. Porém esses traços vão se acentuar, tornando-se mais nítidos e, poder-se-ia dizer, grotescos em Machado de Assis, através de seu amoral narrador póstumo das próprias falcatruas, Brás Cubas, ele próprio ascendente direto de um herdeiro contemporâneo nosso, um Bom paulista quatrocentão, fruto decadente de família tradicional, bisneto de um cara que ajudou a fundar São Carlos[4].
Mesmo se o nosso centro de interesse é a produção literária anterior ao Modernismo de 22, fica atualizada acima, no conto de Cícero Sandroni, esta linhagem ainda produtiva, certamente representativa de uma problemática literária instigante, mas que suscita também questões sobre nossa organização social e a degradação acelerada de uma certa elite retratada no provérbio nacional Pai rico, filho nobre, neto pobre. No vale do Paraíba encontramos uma versão local interessante que retrata perfeitamente as etapas históricas das primeiras grandes fortunas do café nessa região, Pai mineiro, filho cavaleiro, neto sapateiro. Esta última geração empobrecida, no entanto, raramente terá tido competência para se estabelecer com um ofício manual – o sapateiro do provérbio –, tendo muito mais freqüentemente dado com os costados na função pública e burocrática, como já denunciava Joaquim Nabuco: … os descendentes dos antigos morgados e senhores territoriais acham-se hoje reduzidos à mais precária condição imaginável, (…) obrigados a recolher-se ao grande asilo das fortunas desbaratadas da escravidão, que é o funcionalismo público (NABUCO, 2000: 106). Retornando ao Tronco do ipê, de 1871, é bom lembrar que o pai do herói é sumariamente suprimido da intriga ao ser surpreendido no cabo da enxada, num capítulo sugestivamente intitulado “Desastre”, o que pode atestar da imprudência social e literária de se trabalhar com as próprias mãos numa sociedade escravista. Um ano depois do O tronco do ipê, o próprio Alencar retoma e acentua a visão do trabalho nessa sociedade, através do personagem Jão Fera, em Til.
O trabalho, ele o tinha como vergonha, pois o poria ao nível do escravo. Prejuízo este, que desde tempos remotos dominava a caipiragem de São Paulo, e se apurava nesse homem, cujo espírito de sobranceira independência havia robustecido a luta que travara contra a sociedade.
Era a enxada para ele um instrumento vil: o machado e a fouce ainda concebia que os pudesse empunhar a mão do homem livre; mas em seu próprio serviço, para abater o esteio da choça ou abrir caminho através da floresta (ALENCAR, 1973: 70, cap.XIV, 2ª parte).
É de se notar que Jão Fera, homem livre e pobre, é um personagem mais prudente e avisado que o aristocrata decadente do romance anterior, retratado como um idealista que se marginaliza de sua própria classe ao incidir no trabalho braçal. O narrador pouco confiável, que induz suspeitas sem dar garantias ao leitor, já aponta nesses romances da maturidade de José de Alencar, antes de sua concretização fulgurante em Machado de Assis.
Este escritor, que não deixou passar nada do que seus predecessores já haviam notado e que lia com atenção o mundo que o rodeava, conforme sua própria exigência, adapta a linhagem dos Cubas a essa necessária negação de qualquer relação com o mundo do trabalho. Como este apelido de Cubas lhe cheirasse excessivamente a tanoaria, alegava meu pai, bisneto de Damião, que o dito apelido fora dado a um cavaleiro, herói nas jornadas da África, em prêmio da façanha que praticou, arrebatando trezentas cubas aos mouros. Meu pai era homem de imaginação; escapou à tanoaria nas asas de um ca1embour (ASSIS, 1994: cap. III).
Nossa crônica do herdeiro literário teria muito mais a dizer, mas corre o risco de encompridar demais e, assim, termina sem final feliz, evocando a narração que faz na primeira pessoa um produto contemporâneo da riqueza gerada pela epopéia paulista do café, uma a mais na repetitiva seqüência dos ciclos sucessivos de monoculturas que salvam o país, sem muito abalar velhas distribuições de glebas herdadas das capitanias hereditárias. A literatura brasileira parece tomar a si a figura do herdeiro como um problema não resolvido e, assim, merecendo ainda e sempre novas e sucessivas recriações ficcionais.
Recebi minha parte da herança de um avô fazendeiro e, sem o menor arrependimento ou sentimento de culpa, gastei tudo nas bocas do luxo e depois nas bocas do lixo de São Paulo. Só me restou o apartamento do Alto das Perdizes. Aos 42 anos, depois de trinta dissipados numa boa vida, sou hoje o que os bem-pensantes, os bem sucedidos, os que venceram, chamam de fracassado.[5]
**************************************************************************
Bibliografia
ALENCAR José de. A guerra dos mascates. Obra completa, Vol. III. Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda., 1958.
__________. A viuvinha. Obra completa, Vol. I. Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda., 1959.
__________. O tronco do ipê. Rio de Janeiro, José Olympio/ Brasília, INL, 1977.
__________. Til- Romance brasileiro (9a. edição – Reprodução fiel do texto da edição de 1872). São Paulo, Edições Melhoramentos, 1973.
ASSIS Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1994. Vol. I.
GUIMARÃES Bernardo. A escrava Isaura. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1976.
JAMES Henry. L’Américain. Paris, Liana Levi, 1994.
NABUCO Joaquim. O abolicionismo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/São Paulo, Publifolha, 2000.
SANDRONI Cícero, O suicida. In http://www.releituras.com/releituras.asp, editado por Arnaldo Nogueira Jr.
****************************************************************
[1] In Literatura Política & Sociedade, http://antoniozai.blogspot.com/ ,sábado, 10/5/2008.
[2] Numerosas expressões são mantidas em francês no texto original inglês.
[3] No capitulo seguinte, intitulado “A merenda”, os convivas do barão debatem sobre a educação dos jovens herdeiros na Europa.
[4] SANDRONI Cícero, O suicida. Publicado em http://www.releituras.com/releituras.asp, organizado por Arnaldo Nogueira Jr.
[5] SANDRONI Cícero, op. cit.
REGINA M. A. MACHADO
FONTE : http://www.espacoacademico.com.br/094/94machado.htm
Os romances do século XIX têm freqüentemente em comum uma grande empatia com as preocupações básicas de um público nacional que se constrói enquanto público leitor e como cidadão de nações que se modernizam, paralelamente ao desenvolvimento do gênero literário. Por outro lado, são considerados leitura nociva, veículos de idéias subversivas, gênero vulgar e indigno de verdadeiros artistas, ao mesmo tempo que vão aparecendo as obras-primas que dão a forma mais adequada a essa que é a reflexão literária por excelência sobre a modernidade burguesa. Em seguida, no século seguinte, várias vezes tentou-se acabar com o romance, decretando sua morte natural, seu desaparecimento puro e simples, seu caráter supérfluo. Mas ele tem resistido, como é fácil constatar, certamente mudando e se adaptando a novas formas e a novas responsabilidades do escritor. Raramente, diga-se de passagem, obtendo o mesmo efeito de comunhão com um largo público, como lembra Orhan Pamuk.
A ascensão do romance como forma de arte coincidiu com a ascensão do Estado-nação. Quando os grandes romances do século 19 estavam sendo escritos, a arte do romance era uma arte nacional. Balzac, Dickens, Dostoiévski e Tolstói escreviam à classe média emergente em seus países, capaz de reconhecer nos livros cada cidade, rua, casa, sala e cadeira; os leitores compartilhavam nos livros de seus mesmos gostos e discutiam as mesmas idéias.
No século 19, os romances eram publicados nos cadernos de cultura dos jornais, porque seus autores falavam a uma nação. No fim do século 19, ler e escrever romances era participar de discussão nacional, fechada aos que estavam de fora.[1]
Sem necessariamente aderir à idéia de restrição de difusão da obra a um espaço nacional, podemos encontrar esse sentimento de responsabilidade para com seu próprio público tanto em escritores brasileiros como europeus ou outros, cada um na sua língua e na sua época criando obras que abriam um largo espaço para que os leitores participassem da discussão nacional que lhes incumbia.
Alguns temas e construções comuns percorrem esses romances desde a Europa até o Brasil, onde o que vai nos interessar aqui é a figura do herdeiro da família aristocrática. Para começar, evocaremos o modelo europeu, tal como é visto pelo personagem inculto que dá nome ao romance de Henry James, O Americano. Este faz amizade com o jovem conde de Bellegarde, que explica ao amigo ignorante das regras de vida da aristocracia européia que qualquer trabalho o faria derrogar às tradições familiares. Como se diz na França, Valentin era um gentilhomme de pura cepa e sua regra de vida, por pouco explícita que fosse, consistia em cumprir o papel de um gentilhomme (JAMES, 1994: cap. 7).[2] Esse rapaz cujos horizontes não ultrapassam os limites de um bairro parisiense e que vive preso a valores do passado, morre em duelo por uma questão de honra que o amigo americano vê como absurda, mas que é perfeitamente aceita e legitimada pela família e pelo padre que o assiste. A única pessoa a lamentar a perda dessa vida cheia de promessas de um indivíduo jovem é o perplexo americano que questiona, com sua incompreensão, os valores da nobreza européia.
Também em José de Alencar, ora o personagem do herdeiro se expõe em diálogos com um interlocutor, ora é simplesmente descrito pelo narrador, que tampouco o julga, apenas alinha suas características sociais. Os exemplos escolhidos aqui são geralmente oriundos das fortunas então recentes do café, em romances onde a função literária do herdeiro é esmiuçada e questionada por Alencar. Em A viuvinha, o narrador apresenta o jovem rico de curta nobreza em toda sua futilidade, sem a rígida formação dada pelo sistema de valores do nobre europeu, mas chegando ao mesmo tipo de desocupação:
Chegando à maioridade, Jorge tomou conta de seu avultado patrimônio e começou a viver essa vida dos nossos moços ricos, os quais pensam que gastar o dinheiro que seus pais ganharam é uma profissão suficiente para que se dispensem de abraçar qualquer outra (ALENCAR, 1959: 232, cap. I).
Em O tronco do ipê, a heroína caricatura os filhos de um fazendeiro vizinho, fazendo notar que o herdeiro enviado à Europa para se educar corre o risco de voltar sem nada ter aprendido, feito um boneco de cheiro, como aqueles dois bobos, que lá estão na corte deitando fora a herança do pai... (ALENCAR, 1977: 272, cap. VII, 2ª. parte). [3].
O herdeiro das fortunas da época imperial segundo Bernardo Guimarães também acaba indo buscar um aperfeiçoamento social fora do país, pois está convencido de que só na Europa poderia desenvolver dignamente a sua inteligência, e saciar a sua sede de saber em puros e abundantes mananciais. Assim escreveu ao pai, que deu-lhe crédito e o enviou a Paris, donde esperava vê-lo voltar feito um novo Humboldt (GUIMARÃES, 1976: 33, cap. II). As probabilidades do trajeto presumido do herdeiro de um rico comendador do império vêm magistralmente resumidas em A escrava Isaura. Esse roteiro modelar é objeto de uma narração sarcástica, que aproveita para denunciar paralelamente o prestígio social de que gozavam sem contestação os traficantes de escravos. O comércio de importação e exportação de gêneros, mesmo em larga escala, o próprio tráfego de africanos, lhe pareciam especulações degradantes e impróprias de sua alta posição e esmerada educação. A atividade comercial nesse romance é vista com o mesmo desprezo que os mascates do Recife mereciam dos aristocratas de Olinda (ALENCAR, 1958), cujos nobres herdeiros são moldados pelo mesmo modelo descrito acima: Álvaro Cavalcanti, o filho do capitão-mor, um desbragado que levava a vida a pautear, não cuidando senão de jogo, mulheres e comezainas. Na peça O crédito, a especulação que se banaliza na sociedade imperial é satirizada nos mesmos termos explicitados por Guimarães: O negócio de balcão e retalho, esse inspirava-lhe asco e compaixão. Só lhe convinham as altas especulações cambiais, as operações bancárias, e transações, em que jogasse com avultados capitais (GUIMARÃES, 1976: 34). Este personagem da Escrava Isaura é ironicamente construído em oposição ao protagonista, um jovem remanescente dos engenhos do Nordeste açucareiro, este idealizado tanto física como moralmente: Tinha ódio a todos os privilégios e distinções sociais, e é escusado dizer que era liberal, republicano e quase socialista (Id., 88, cap. XI).
Até aqui, o herdeiro é visto com simpatia ou tem seu contraponto num duplo que supre suas deficiências. Porém esses traços vão se acentuar, tornando-se mais nítidos e, poder-se-ia dizer, grotescos em Machado de Assis, através de seu amoral narrador póstumo das próprias falcatruas, Brás Cubas, ele próprio ascendente direto de um herdeiro contemporâneo nosso, um Bom paulista quatrocentão, fruto decadente de família tradicional, bisneto de um cara que ajudou a fundar São Carlos[4].
Mesmo se o nosso centro de interesse é a produção literária anterior ao Modernismo de 22, fica atualizada acima, no conto de Cícero Sandroni, esta linhagem ainda produtiva, certamente representativa de uma problemática literária instigante, mas que suscita também questões sobre nossa organização social e a degradação acelerada de uma certa elite retratada no provérbio nacional Pai rico, filho nobre, neto pobre. No vale do Paraíba encontramos uma versão local interessante que retrata perfeitamente as etapas históricas das primeiras grandes fortunas do café nessa região, Pai mineiro, filho cavaleiro, neto sapateiro. Esta última geração empobrecida, no entanto, raramente terá tido competência para se estabelecer com um ofício manual – o sapateiro do provérbio –, tendo muito mais freqüentemente dado com os costados na função pública e burocrática, como já denunciava Joaquim Nabuco: … os descendentes dos antigos morgados e senhores territoriais acham-se hoje reduzidos à mais precária condição imaginável, (…) obrigados a recolher-se ao grande asilo das fortunas desbaratadas da escravidão, que é o funcionalismo público (NABUCO, 2000: 106). Retornando ao Tronco do ipê, de 1871, é bom lembrar que o pai do herói é sumariamente suprimido da intriga ao ser surpreendido no cabo da enxada, num capítulo sugestivamente intitulado “Desastre”, o que pode atestar da imprudência social e literária de se trabalhar com as próprias mãos numa sociedade escravista. Um ano depois do O tronco do ipê, o próprio Alencar retoma e acentua a visão do trabalho nessa sociedade, através do personagem Jão Fera, em Til.
O trabalho, ele o tinha como vergonha, pois o poria ao nível do escravo. Prejuízo este, que desde tempos remotos dominava a caipiragem de São Paulo, e se apurava nesse homem, cujo espírito de sobranceira independência havia robustecido a luta que travara contra a sociedade.
Era a enxada para ele um instrumento vil: o machado e a fouce ainda concebia que os pudesse empunhar a mão do homem livre; mas em seu próprio serviço, para abater o esteio da choça ou abrir caminho através da floresta (ALENCAR, 1973: 70, cap.XIV, 2ª parte).
É de se notar que Jão Fera, homem livre e pobre, é um personagem mais prudente e avisado que o aristocrata decadente do romance anterior, retratado como um idealista que se marginaliza de sua própria classe ao incidir no trabalho braçal. O narrador pouco confiável, que induz suspeitas sem dar garantias ao leitor, já aponta nesses romances da maturidade de José de Alencar, antes de sua concretização fulgurante em Machado de Assis.
Este escritor, que não deixou passar nada do que seus predecessores já haviam notado e que lia com atenção o mundo que o rodeava, conforme sua própria exigência, adapta a linhagem dos Cubas a essa necessária negação de qualquer relação com o mundo do trabalho. Como este apelido de Cubas lhe cheirasse excessivamente a tanoaria, alegava meu pai, bisneto de Damião, que o dito apelido fora dado a um cavaleiro, herói nas jornadas da África, em prêmio da façanha que praticou, arrebatando trezentas cubas aos mouros. Meu pai era homem de imaginação; escapou à tanoaria nas asas de um ca1embour (ASSIS, 1994: cap. III).
Nossa crônica do herdeiro literário teria muito mais a dizer, mas corre o risco de encompridar demais e, assim, termina sem final feliz, evocando a narração que faz na primeira pessoa um produto contemporâneo da riqueza gerada pela epopéia paulista do café, uma a mais na repetitiva seqüência dos ciclos sucessivos de monoculturas que salvam o país, sem muito abalar velhas distribuições de glebas herdadas das capitanias hereditárias. A literatura brasileira parece tomar a si a figura do herdeiro como um problema não resolvido e, assim, merecendo ainda e sempre novas e sucessivas recriações ficcionais.
Recebi minha parte da herança de um avô fazendeiro e, sem o menor arrependimento ou sentimento de culpa, gastei tudo nas bocas do luxo e depois nas bocas do lixo de São Paulo. Só me restou o apartamento do Alto das Perdizes. Aos 42 anos, depois de trinta dissipados numa boa vida, sou hoje o que os bem-pensantes, os bem sucedidos, os que venceram, chamam de fracassado.[5]
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Bibliografia
ALENCAR José de. A guerra dos mascates. Obra completa, Vol. III. Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda., 1958.
__________. A viuvinha. Obra completa, Vol. I. Rio de Janeiro, Editora José Aguilar Ltda., 1959.
__________. O tronco do ipê. Rio de Janeiro, José Olympio/ Brasília, INL, 1977.
__________. Til- Romance brasileiro (9a. edição – Reprodução fiel do texto da edição de 1872). São Paulo, Edições Melhoramentos, 1973.
ASSIS Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1994. Vol. I.
GUIMARÃES Bernardo. A escrava Isaura. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1976.
JAMES Henry. L’Américain. Paris, Liana Levi, 1994.
NABUCO Joaquim. O abolicionismo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/São Paulo, Publifolha, 2000.
SANDRONI Cícero, O suicida. In http://www.releituras.com/releituras.asp, editado por Arnaldo Nogueira Jr.
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[1] In Literatura Política & Sociedade, http://antoniozai.blogspot.com/ ,sábado, 10/5/2008.
[2] Numerosas expressões são mantidas em francês no texto original inglês.
[3] No capitulo seguinte, intitulado “A merenda”, os convivas do barão debatem sobre a educação dos jovens herdeiros na Europa.
[4] SANDRONI Cícero, O suicida. Publicado em http://www.releituras.com/releituras.asp, organizado por Arnaldo Nogueira Jr.
[5] SANDRONI Cícero, op. cit.
Tradutora e Doutora pela Universidade Paris III/La Sorbonne Nouvelle, com tese defendida em fevereiro 2007 sobre Ficção e café no vale do Paraíba –Três romances da fazenda escravagista.
FONTE : http://www.espacoacademico.com.br/094/94machado.htm
METAMORFOSE - Lúcia Gönczy (AMIGA M.LÚCIA FINAMOR ENVIA)
não devo ser amada como imagem
nem desejo corresponder à expectativa
do meu retrato
cuja moldura expira a cada ato
não quero e não posso ser confundida
com paisagens que admiras
nem com o horizonte que almejas
em qualquer ocaso
lava incandescente escorro por tua mente
sem nunca ter sido oásis na tua miragem
tenha sede minha
como quem come cactos
deixe-se devorar consentido
pelo cárcara dos meus atos
mas não espere que eu "seja"
porque apenas SOU
tampouco pense que estou em sua teia
pois me corre sangue nas veias
e meu amor por mim ainda é maior...
vivamos simplesmente felizes
a morte dos pequenos insetos
que escapam entrededos entremeios
entrelinhas entreredes...
cujo destino é e sempre será
a sorte das lagartas
nem desejo corresponder à expectativa
do meu retrato
cuja moldura expira a cada ato
não quero e não posso ser confundida
com paisagens que admiras
nem com o horizonte que almejas
em qualquer ocaso
lava incandescente escorro por tua mente
sem nunca ter sido oásis na tua miragem
tenha sede minha
como quem come cactos
deixe-se devorar consentido
pelo cárcara dos meus atos
mas não espere que eu "seja"
porque apenas SOU
tampouco pense que estou em sua teia
pois me corre sangue nas veias
e meu amor por mim ainda é maior...
vivamos simplesmente felizes
a morte dos pequenos insetos
que escapam entrededos entremeios
entrelinhas entreredes...
cujo destino é e sempre será
a sorte das lagartas
"2001" - TOM ZÉ (AMIGA M.LÚCIA FINAMOR ENVIA)
"Astronarta" libertado
Minha vida me ultrapassa
Em qualquer rota que eu faça
Dei um grito no escuro
Sou parceiro do futuro
Na reluzente galáxia
Eu quase posso "palpar"
A minha vida que grita
Emprenha e se reproduz
Na velocidade da luz
A cor do céu me compõe
O mar azul me dissolve
A equaçao me propõe
Computador me resolve
Amei a velocidade
Casei com sete planetas
Por filho, cor e espaço
Não me tenho nem me faço
A rota do ano-luz
Calculo dentro do passo
Minha dor é cicatriz
Minha morte não me quis
Nos braços de dois mil anos
Eu nasci sem ter idade
Sou casado, sou solteiro
Sou baiano e estrangeiro
Meu sangue é de gasolina
Correndo não tenho mágoa
Meu peito é de "sar" de fruta
Fervendo no copo d'água
Minha vida me ultrapassa
Em qualquer rota que eu faça
Dei um grito no escuro
Sou parceiro do futuro
Na reluzente galáxia
Eu quase posso "palpar"
A minha vida que grita
Emprenha e se reproduz
Na velocidade da luz
A cor do céu me compõe
O mar azul me dissolve
A equaçao me propõe
Computador me resolve
Amei a velocidade
Casei com sete planetas
Por filho, cor e espaço
Não me tenho nem me faço
A rota do ano-luz
Calculo dentro do passo
Minha dor é cicatriz
Minha morte não me quis
Nos braços de dois mil anos
Eu nasci sem ter idade
Sou casado, sou solteiro
Sou baiano e estrangeiro
Meu sangue é de gasolina
Correndo não tenho mágoa
Meu peito é de "sar" de fruta
Fervendo no copo d'água
SOSSEGA CORAÇÃO - FERNANDO PESSOA (AMIGA M.LÚCIA FINAMOR ENVIA)
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme.
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Sossega coração e adormeça!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme.
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Sossega coração e adormeça!
AUSÊNCIA - Sophia M. Breyner Andresen (AMIGA M.LÚCIA FINAMOR ENVIA)
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior
que seja o desespero
Nenhuma ausência
é mais funda do que a tua.
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior
que seja o desespero
Nenhuma ausência
é mais funda do que a tua.
Penso, logo existo - Filosofia ajuda a compreender a vida (AMIGA M.LÚCIA FINAMOR ENVIA)
Por Simone Muniz
Sócrates, Platão, Nietzsche, Hobbes. Quem tem desses nomes apenas uma remota lembrança, quem nunca teve a curiosidade de descobrir o significado de maiêutica ou nem pensa em discorrer sobre a impotência humana diante do destino, como bem ilustra Édipo Rei, de Sófocles, pode estar perdendo muito do que a filosofia pode dar: a cura dos males da alma.
A filosofia como um exercício de pensar leva ao auto-conhecimento, defende a coordenadora do curso de Filosofia da USP, Olgária Mattos. O contrário do pensamento é uma crise de imaginação que aprisiona as pessoas na busca de prazeres que nada acrescentam ao Ser e velam o real sentido da felicidade.
Quem não lembra do documentário "Janela da Alma", que traz uma abordagem filosófica da visão? Em uma das cenas, o cineasta Wim Wenders proclama que vemos e temos coisas demais e ele prefere selecionar e ver o mundo através da moldura de seus óculos, a enxergar tudo: "Sem esse enquadramento, a realidade me parece excessiva". Assim como o sentido da visão, o pensamento também é atrapalhado pela vontade de onipotência. Nesse contexto, a filosofia está para o pensamento como os óculos para a visão. "Uma correção do pensamento", diz a filósofa Olgária Mattos.
Na busca de felicidade pela civilização grega antiga, a filosofia estava entre os principais remédios. Ela curava o pensamento dos desequilíbrios entre os prazeres e os impulsos irrealizáveis do corpo e da mente. "Os gregos acreditavam que os desejos eram naturais, mas, quando desordenados, poderiam provocar doenças", diz Olgária.
Para detectar a falta de equilíbrio, eles sentiam, conversavam a respeito dos sentimentos e refletiam. "Sócrates dizia que a palavra é para a alma o que o remédio é para o corpo. É quase a mesma situação da psicanálise hoje", exemplifica Olgária. Portanto, na civilização grega antiga, a reflexão deveria acompanhar a maioria das ações. Na busca da prudência - o meio-termo entre a covardia e a temperança, entre a falta e o excesso de confiança - alcançariam a felicidade. "Quem age movido apenas pelos impulsos, como um tirano, um dominador, está prisioneiro do próprio ego e não é feliz", diz Olgária, ao explicar o modo de vida grego.
Olgária acredita que a diferença entre a filosofia grega clássica e a atual é que, na primeira, a reflexão não estava subordinada apenas ao horário das aulas. "A filosofia era um modo de vida. O pensar estava em toda a parte, em qualquer diálogo, nas amizades", explica. Sócrates, por exemplo, não impunha regras aos seus discípulos, mas defendia que o conhecimento primordial do homem deve ser o conhecimento de si mesmo.
O exercício da filosofia, no entanto, não é dos mais fáceis. "É preciso disposição, coisa que não se encontra muito fácil em nossa sociedade. Estamos voltados para o consumo, a rapidez e o prazer", acredita Olgária. E esquecemos de olhar no olho do outro. "Na civilização grega, ao olhar nos olhos do outro estaria olhando para dentro de mim mesmo", conta Olgária. Só conseguia laço afetivo e o amor, quem fosse capaz de compreender o outro como a si próprio.
Os valores, na sociedade grega clássica, eram outros. "Hoje, em meio à correria e à busca do prazer, valores como a compaixão estão definhando", opina Olgária. E, quando se percebe que não se pode realizar todos os desejos nem correr contra o tempo, a vida perde o sentido. "Vivemos uma crise de imaginação. As pessoas não mais se imaginam no lugar do outro nem conseguem encontrar a própria felicidade", diz. Nesse momento, aparece como a cura, integrada a outros aspectos da vida, o amor, a amizade, a compaixão e a filosofia, pois ela pode ajudar a imaginar outras formas de pensar. Cabe ao homem a árdua tarefa de reverter o que está posto.
Serviço
Para os iniciantes, uma pequena bibliografia recomendada pela professora Olgária Mattos:
Convite à filosofia
Marilena Chauí
Editora Ática
História da Filosofia - Vol. 1
Dos pré-socráticos até Aristóteles
Marilena Chauí -
Companhia das Letras
Filosofia - A Polifonia da Razão
Olgária Mattos
Editora Scipione
Coleção Logos
da Editora Moderna
Publicações dedicadas a explicar brevemente, de maneira didática, vida e obra de cada filosófo.
Documentário "Janela da Alma"
Diretor: Wim Wenders
Sócrates, Platão, Nietzsche, Hobbes. Quem tem desses nomes apenas uma remota lembrança, quem nunca teve a curiosidade de descobrir o significado de maiêutica ou nem pensa em discorrer sobre a impotência humana diante do destino, como bem ilustra Édipo Rei, de Sófocles, pode estar perdendo muito do que a filosofia pode dar: a cura dos males da alma.
A filosofia como um exercício de pensar leva ao auto-conhecimento, defende a coordenadora do curso de Filosofia da USP, Olgária Mattos. O contrário do pensamento é uma crise de imaginação que aprisiona as pessoas na busca de prazeres que nada acrescentam ao Ser e velam o real sentido da felicidade.
Quem não lembra do documentário "Janela da Alma", que traz uma abordagem filosófica da visão? Em uma das cenas, o cineasta Wim Wenders proclama que vemos e temos coisas demais e ele prefere selecionar e ver o mundo através da moldura de seus óculos, a enxergar tudo: "Sem esse enquadramento, a realidade me parece excessiva". Assim como o sentido da visão, o pensamento também é atrapalhado pela vontade de onipotência. Nesse contexto, a filosofia está para o pensamento como os óculos para a visão. "Uma correção do pensamento", diz a filósofa Olgária Mattos.
Na busca de felicidade pela civilização grega antiga, a filosofia estava entre os principais remédios. Ela curava o pensamento dos desequilíbrios entre os prazeres e os impulsos irrealizáveis do corpo e da mente. "Os gregos acreditavam que os desejos eram naturais, mas, quando desordenados, poderiam provocar doenças", diz Olgária.
Para detectar a falta de equilíbrio, eles sentiam, conversavam a respeito dos sentimentos e refletiam. "Sócrates dizia que a palavra é para a alma o que o remédio é para o corpo. É quase a mesma situação da psicanálise hoje", exemplifica Olgária. Portanto, na civilização grega antiga, a reflexão deveria acompanhar a maioria das ações. Na busca da prudência - o meio-termo entre a covardia e a temperança, entre a falta e o excesso de confiança - alcançariam a felicidade. "Quem age movido apenas pelos impulsos, como um tirano, um dominador, está prisioneiro do próprio ego e não é feliz", diz Olgária, ao explicar o modo de vida grego.
Olgária acredita que a diferença entre a filosofia grega clássica e a atual é que, na primeira, a reflexão não estava subordinada apenas ao horário das aulas. "A filosofia era um modo de vida. O pensar estava em toda a parte, em qualquer diálogo, nas amizades", explica. Sócrates, por exemplo, não impunha regras aos seus discípulos, mas defendia que o conhecimento primordial do homem deve ser o conhecimento de si mesmo.
O exercício da filosofia, no entanto, não é dos mais fáceis. "É preciso disposição, coisa que não se encontra muito fácil em nossa sociedade. Estamos voltados para o consumo, a rapidez e o prazer", acredita Olgária. E esquecemos de olhar no olho do outro. "Na civilização grega, ao olhar nos olhos do outro estaria olhando para dentro de mim mesmo", conta Olgária. Só conseguia laço afetivo e o amor, quem fosse capaz de compreender o outro como a si próprio.
Os valores, na sociedade grega clássica, eram outros. "Hoje, em meio à correria e à busca do prazer, valores como a compaixão estão definhando", opina Olgária. E, quando se percebe que não se pode realizar todos os desejos nem correr contra o tempo, a vida perde o sentido. "Vivemos uma crise de imaginação. As pessoas não mais se imaginam no lugar do outro nem conseguem encontrar a própria felicidade", diz. Nesse momento, aparece como a cura, integrada a outros aspectos da vida, o amor, a amizade, a compaixão e a filosofia, pois ela pode ajudar a imaginar outras formas de pensar. Cabe ao homem a árdua tarefa de reverter o que está posto.
Serviço
Para os iniciantes, uma pequena bibliografia recomendada pela professora Olgária Mattos:
Convite à filosofia
Marilena Chauí
Editora Ática
História da Filosofia - Vol. 1
Dos pré-socráticos até Aristóteles
Marilena Chauí -
Companhia das Letras
Filosofia - A Polifonia da Razão
Olgária Mattos
Editora Scipione
Coleção Logos
da Editora Moderna
Publicações dedicadas a explicar brevemente, de maneira didática, vida e obra de cada filosófo.
Documentário "Janela da Alma"
Diretor: Wim Wenders
POESIA DE LUCIANO LUZ (clique aqui)
Blog de Luciano :
Lembro-me, de momentos inesquecíveis...
Momentos em que aprendi a amar a vida, mesmo com todos os seus problemas.
Lembro-me, dos passos dados, em direção ao desconhecido.
O medo de sofrer com os espinhos encontrados...
Num horizonte, imaginado, idealizado e distante.
De uma realidade que consome, corrói e mortifica os sonhos...
Lembro-me, da alegria, alegre e confiante;
Num gesto de cumplicidade,
Com todos os outros seres que se encontram desesperançosos...
Momentos em que aprendi a amar a vida, mesmo com todos os seus problemas.
Lembro-me, dos passos dados, em direção ao desconhecido.
O medo de sofrer com os espinhos encontrados...
Num horizonte, imaginado, idealizado e distante.
De uma realidade que consome, corrói e mortifica os sonhos...
Lembro-me, da alegria, alegre e confiante;
Num gesto de cumplicidade,
Com todos os outros seres que se encontram desesperançosos...
terça-feira, 28 de abril de 2009
Big Bang e o Nada
antes o nada era tudo!
aí o Big Bang fez o nada ser nada!
a vida surge de uma gigantesca explosão!
para compreender o Big Bang
deve-se antes entender
a expansão do universo!
diz a Wikipédia!
e dizia Eistein,que uma cabeça
expandida nunca voltará
ao seu tamanho original!
...ou algo assim!
universo e cabeça
estão sempre expandindo-se!
se não houvesse o nada,
o tudo não poderia existir!
'o nada' é o suporte da vida?
incrível é conseguir imaginar
'o nada',quando nada existia!
pois se fazemos parte do 'tudo'...
se estamos dentro do 'tudo'...
é como se fossemos pinceladas numa tela,
e conseguíssemos ver atrás da tela!
Nadia Stabile - 28/04/09
aí o Big Bang fez o nada ser nada!
a vida surge de uma gigantesca explosão!
para compreender o Big Bang
deve-se antes entender
a expansão do universo!
diz a Wikipédia!
e dizia Eistein,que uma cabeça
expandida nunca voltará
ao seu tamanho original!
...ou algo assim!
universo e cabeça
estão sempre expandindo-se!
se não houvesse o nada,
o tudo não poderia existir!
'o nada' é o suporte da vida?
incrível é conseguir imaginar
'o nada',quando nada existia!
pois se fazemos parte do 'tudo'...
se estamos dentro do 'tudo'...
é como se fossemos pinceladas numa tela,
e conseguíssemos ver atrás da tela!
Nadia Stabile - 28/04/09
NADA
O côncavo do ferro e o côncavo do mundo
O 'nada côncavo',habitava
O prólogo dos sonhos da menina!
Tinha só 4 anos de idade...
E grande experiência
no filosofar sobre o nada.
Por que o nada?
Um grande buraco no universo...
se houvesse um buraco ...
Haveriam margens...e aí!?
Isto não poderia ser o nada!
Nadia Stabile - 28/04/09
O 'nada côncavo',habitava
O prólogo dos sonhos da menina!
Tinha só 4 anos de idade...
E grande experiência
no filosofar sobre o nada.
Por que o nada?
Um grande buraco no universo...
se houvesse um buraco ...
Haveriam margens...e aí!?
Isto não poderia ser o nada!
Nadia Stabile - 28/04/09
FERRO E LAGOS 2
Olhos perdidos no lago
De água enferrujada...
Para a menina um grande
E divertido lago
Barquinhos de papel
Tingiam-se de ferrugem
Para o pai da menina apenas
côncavos de uma parte
de ferro fundido de máquina
sendo temperado ao relento.
O equilíbrio, a estabilização do ferro...
Passava pelos lagos enferrujados
E inventados da menina!
Nadia Stabile - 28/04/09
De água enferrujada...
Para a menina um grande
E divertido lago
Barquinhos de papel
Tingiam-se de ferrugem
Para o pai da menina apenas
côncavos de uma parte
de ferro fundido de máquina
sendo temperado ao relento.
O equilíbrio, a estabilização do ferro...
Passava pelos lagos enferrujados
E inventados da menina!
Nadia Stabile - 28/04/09
Ferro e lagos
Da inércia programada
Com a função de temperar...
Equilibrar,estabilizar,
Uma parte fundida de máquina...
Surgia a ferrugem....
O sol,o sereno,a chuva...
E um pequeno lago enferrujado surgia
Para que eu fizesse navegar
meus barquinhos de papel!
Nadia Stabile - 28/04/09
Com a função de temperar...
Equilibrar,estabilizar,
Uma parte fundida de máquina...
Surgia a ferrugem....
O sol,o sereno,a chuva...
E um pequeno lago enferrujado surgia
Para que eu fizesse navegar
meus barquinhos de papel!
Nadia Stabile - 28/04/09
Primeiro de Maio (Walder Maia do Carmo)
O Primeiro de Maio deveria ser data comemorativa
nas suas origens...
Nos restou à comemorar oquê? Perda de poder de compra;
falta de cursos preparatórios;desempregos;"sindicatos pelegos."...
Herança dessa colonização exploradora com subtração de tudo,
sem nada deixar.Desta colonização infeliz, deste País que até
hoje é o mais atrasado da Europa.A exploração continua pelos
nossos governantes que desviam nossas riquezas para paraísos
fiscais, com direitos "passagens aéreas grátis".
Afirmação de nossa dignidade precisa ser encontrada na educação.
Paulo Freire dizia:"A educação sozinha não transforma a sociedade.
Tampouco sem ela a sociedade não muda."
nas suas origens...
Nos restou à comemorar oquê? Perda de poder de compra;
falta de cursos preparatórios;desempregos;"sindicatos pelegos."...
Herança dessa colonização exploradora com subtração de tudo,
sem nada deixar.Desta colonização infeliz, deste País que até
hoje é o mais atrasado da Europa.A exploração continua pelos
nossos governantes que desviam nossas riquezas para paraísos
fiscais, com direitos "passagens aéreas grátis".
Afirmação de nossa dignidade precisa ser encontrada na educação.
Paulo Freire dizia:"A educação sozinha não transforma a sociedade.
Tampouco sem ela a sociedade não muda."
GÊNESE
Deus nasceu de parto normal
durante o silêncio das noites
enquanto os homens dormiam
e seus filhos
sonhavam com as estrelas
Marcelo Roque
durante o silêncio das noites
enquanto os homens dormiam
e seus filhos
sonhavam com as estrelas
Marcelo Roque
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Humanizadores con la no violencia I "Tolstoi" (A NÃO VIOLÊNCIA DE TOLSTOI, NA QUAL GANDHI BASEOU-SE)
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O Evangelho Proibido de Judas - Parte I
O Evangelho de Judas não é apenas mais um dos escritos ignorados no momento em que o Cristianismo se fundamentava; é também uma das peças mais valiosas da arqueologia bíblica. Entretanto, este manuscrito, se comprovada sua veracidade, produziria um profundo impacto nas bases da religiosidade cristã.
A equipe da National Geographic Society, fortalecida pelo acompanhamento de vários estudiosos do cristianismo primitivo e dos mais respeitáveis cientistas, produziu o documentário O Evangelho Proibido de Judas, no qual são abordadas as origens, percurso histórico, restauração e veracidade deste manuscrito.
Este documentário é certamente uma peça essencial para que estudiosos do tema e espectadores leigos tenham uma idéia mais clara sobre a complexidade e amplitude da religiosidade humana.
ARCHÉ - O PRINCÍPIO ,A ORIGEM...FILÓSOFOS PRÉ- SOCRÁTICOS
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. Segundo Rudini Sampaio, “A fonte ou origem, foz ou termo último, e permanente sustento (ou substância) de todas as coisas”. Assim, é a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.
Tales de Mileto : Água
Para Tales, a arché seria a água. Jostein Gaarder observa que provavelmente ao visitar o Egito, Tales observou que os campos ficavam fecundos após serem inundados pelo Nilo. Tales então viu que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. É preciso observar que Tales não considerava a arché agua como nosso pensamento de agua líquida, e sim, na água em todos os seus estados físicos. Tudo, então, seria a alteração dos diferentes graus desta. Aristóteles atribuiu a Tales a idéia de uma causa material como origem de todo o universo.
“... a água é o princípio de todas as coisas...”
Anaximandro de Mileto : O apeíron
Rudini observa que Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagónicas entre si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível. Anaximandro foi um dos pré-socráticos que mais se diferenciaram na sua concepção da arché por não a ver como um elemento determinado, material. Considerava o infinito como o princípio das coisas, e o chamou de apeíron, considerava então, que o limitado não poderia ser a origem das coisas limitadas. Explica que as coisas nascem do infinito através de um processo de separação dos contrários (seco-úmido). "Anaximandro ainda afirmaria que os primeiros animais nasceram no elemento líquido e, pouco a pouco, vieram para o ambiente seco, mudando o seu modo de viver por um processo de adaptação ao ambiente, extremamente coerente com as teorias evolucionistas de Charles Darwin."
“... o ilimitado é imortal e indissolúvel...”
Anaxímenes de Mileto : O ar
Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, discorda de que os contrários podem gerar várias coisas. Colocou o ar como Arché, porque o ar, melhor que qualquer outra coisa, se presta à variações, e também devido a necessidade vital deste para os seres vivos. A rarefação e condensação do ar formam o mundo. A alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Destacou-se por ser o primeiro a fornecer a causa dinâmica que faz todas as coisas derivarem do princípio uno (condensação e rarefação).
“... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”
Xenófanes de Cólofon : A terra
O elemento primordial para Xenófanes é a terra, através do elemento terra desenvolve sua cosmologia. Sua filosofia tinha sua lógica, pois, afinal, tudo o que existe começa na terra e tudo volta para a terra, tanto animais quanto plantas. Apesar de tudo, ainda temos aqueles que acreditam que a água seja o começo e questionam o por que da terra como justificativa, se a maior parte do planeta era feita de água. Tal questão era respondida com a justificação de que o fundo do oceano era feito de terra.
“... tudo sai da terra e tudo volta à terra...”
Heraclito de Éfeso : O fogo
Heraclito atribuiu o fogo como princípio de todas as coisas. "O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água, em fogo." Mas Heráclito era mobilista e afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. Ou seja, usa o fogo apenas como símbolo de todo este movimento. Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.
“... descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos...”
Pitágoras de Samos : O número
Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números - para eles o número (sinônimo de harmonia) era considerado como essência das coisas - é constituído então da soma de pares e ímpares, noções opostas (limitado e ilimitado) respectivamente números pares e ímpares expressando as relações que se encontram em permanente processo de mutação. Teriam chegado à concepção de que todas as coisas são números.
“... o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas...”
Os pitagóricos se dispersam e passam a atuar amplamente no mundo helênico, levando a todos os setores da cultura o ideal de salvação do homem e da polis através da proporção e da medida.
Empédocles de Agrigento : Os quatro elementos
Empédocles acreditava que a natureza possuía quatro elementos básicos, ou raízes: a terra, o ar, o fogo e a água. Não é certo, portanto, afirmar que “tudo” muda. Basicamente, nada se altera. O que acontece é que esses quatro elementos diferentes simplesmente se combinam e depois voltam a se separar para então se combinarem novamente. O que unia e desunia os quatro elementos eram dois princípios: o amor e o ódio. Os quatro elementos e os dois princípios seriam eternos e imutáveis, mas as substâncias formadas por eles seriam pouco duradouras. Jostein Gaardner afirma que talvez Empedócles tenha visto uma madeira queimar, alguma coisa aí se desintegra. Alguma coisa na madeira estala, ferve, é a água, a fumaça é o ar, o responsável é o fogo, e as cinzas são a terra. As verdades não seriam mais absolutas, como nos eleatas, mas proporcionais à medida humana. As coisas são imóveis, mas o que percebemos com os sentidos não é falso. Então, as duas forças atuariam nas substâncias, o amor e o ódio. O amor agiria como força de atração e união, o ódio como força de dissolução. Em quatro fases, existe a alternância dos dois. Estabelece um ciclo, com a tensão da convivência dessas forças motrizes.
Anaxágoras de Clazomena : As homeomerias
Anaxágoras achava que a natureza era composta por uma infinidade de partículas minúsculas, invisíveis a olho nu. Assim, em tudo existia um pouco de tudo. Segundo Jostein Gaarder, de certa forma, nosso corpo também é construído dessa forma. Se retiro uma célula da pele de meu dedo, o núcleo desta célula contém não apenas a descrição da minha pele. Em cada uma das células existe uma descrição detalhada da estrutura de todas as outras células do meu corpo. Em cada uma das células existe, portanto, “um pouco de tudo”. O todo está também na menor das partes. Anaxágoras chamou as infinitas partículas de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.
“...todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez, pois o pequeno era ilimitado...”
Demócrito de Abdera : Os átomos
Os atomistas seguiram a linha de que a natureza era comporta por partículas infinitas. Diziam que tudo que realmente existia era constituído de átomos e de vazio (este último os espaços entre os átomos). considera que nada pode surgir do nada, assim, os átomos eram eternos, imutáveis e indivisíveis. O que acontecia, era que eles eram irregulares e podiam ser combinados para dar origem aos corpos mais diversos. Demócrito é considerado o mais lógico dos pré-socráticos.
FONTE : http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9#A_fam.C3.ADlia_Veiga
Para os filósofos pré-socráticos, a arché (ἀρχή; origem), seria um princípio que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas; no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. Princípio pelo qual tudo vem a ser. Segundo Rudini Sampaio, “A fonte ou origem, foz ou termo último, e permanente sustento (ou substância) de todas as coisas”. Assim, é a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.
Tales de Mileto : Água
Para Tales, a arché seria a água. Jostein Gaarder observa que provavelmente ao visitar o Egito, Tales observou que os campos ficavam fecundos após serem inundados pelo Nilo. Tales então viu que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. É preciso observar que Tales não considerava a arché agua como nosso pensamento de agua líquida, e sim, na água em todos os seus estados físicos. Tudo, então, seria a alteração dos diferentes graus desta. Aristóteles atribuiu a Tales a idéia de uma causa material como origem de todo o universo.
“... a água é o princípio de todas as coisas...”
Anaximandro de Mileto : O apeíron
Rudini observa que Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagónicas entre si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível. Anaximandro foi um dos pré-socráticos que mais se diferenciaram na sua concepção da arché por não a ver como um elemento determinado, material. Considerava o infinito como o princípio das coisas, e o chamou de apeíron, considerava então, que o limitado não poderia ser a origem das coisas limitadas. Explica que as coisas nascem do infinito através de um processo de separação dos contrários (seco-úmido). "Anaximandro ainda afirmaria que os primeiros animais nasceram no elemento líquido e, pouco a pouco, vieram para o ambiente seco, mudando o seu modo de viver por um processo de adaptação ao ambiente, extremamente coerente com as teorias evolucionistas de Charles Darwin."
“... o ilimitado é imortal e indissolúvel...”
Anaxímenes de Mileto : O ar
Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, discorda de que os contrários podem gerar várias coisas. Colocou o ar como Arché, porque o ar, melhor que qualquer outra coisa, se presta à variações, e também devido a necessidade vital deste para os seres vivos. A rarefação e condensação do ar formam o mundo. A alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Destacou-se por ser o primeiro a fornecer a causa dinâmica que faz todas as coisas derivarem do princípio uno (condensação e rarefação).
“... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”
Xenófanes de Cólofon : A terra
O elemento primordial para Xenófanes é a terra, através do elemento terra desenvolve sua cosmologia. Sua filosofia tinha sua lógica, pois, afinal, tudo o que existe começa na terra e tudo volta para a terra, tanto animais quanto plantas. Apesar de tudo, ainda temos aqueles que acreditam que a água seja o começo e questionam o por que da terra como justificativa, se a maior parte do planeta era feita de água. Tal questão era respondida com a justificação de que o fundo do oceano era feito de terra.
“... tudo sai da terra e tudo volta à terra...”
Heraclito de Éfeso : O fogo
Heraclito atribuiu o fogo como princípio de todas as coisas. "O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água, em fogo." Mas Heráclito era mobilista e afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. Ou seja, usa o fogo apenas como símbolo de todo este movimento. Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.
“... descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos...”
Pitágoras de Samos : O número
Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números - para eles o número (sinônimo de harmonia) era considerado como essência das coisas - é constituído então da soma de pares e ímpares, noções opostas (limitado e ilimitado) respectivamente números pares e ímpares expressando as relações que se encontram em permanente processo de mutação. Teriam chegado à concepção de que todas as coisas são números.
“... o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas...”
Os pitagóricos se dispersam e passam a atuar amplamente no mundo helênico, levando a todos os setores da cultura o ideal de salvação do homem e da polis através da proporção e da medida.
Empédocles de Agrigento : Os quatro elementos
Empédocles acreditava que a natureza possuía quatro elementos básicos, ou raízes: a terra, o ar, o fogo e a água. Não é certo, portanto, afirmar que “tudo” muda. Basicamente, nada se altera. O que acontece é que esses quatro elementos diferentes simplesmente se combinam e depois voltam a se separar para então se combinarem novamente. O que unia e desunia os quatro elementos eram dois princípios: o amor e o ódio. Os quatro elementos e os dois princípios seriam eternos e imutáveis, mas as substâncias formadas por eles seriam pouco duradouras. Jostein Gaardner afirma que talvez Empedócles tenha visto uma madeira queimar, alguma coisa aí se desintegra. Alguma coisa na madeira estala, ferve, é a água, a fumaça é o ar, o responsável é o fogo, e as cinzas são a terra. As verdades não seriam mais absolutas, como nos eleatas, mas proporcionais à medida humana. As coisas são imóveis, mas o que percebemos com os sentidos não é falso. Então, as duas forças atuariam nas substâncias, o amor e o ódio. O amor agiria como força de atração e união, o ódio como força de dissolução. Em quatro fases, existe a alternância dos dois. Estabelece um ciclo, com a tensão da convivência dessas forças motrizes.
Anaxágoras de Clazomena : As homeomerias
Anaxágoras achava que a natureza era composta por uma infinidade de partículas minúsculas, invisíveis a olho nu. Assim, em tudo existia um pouco de tudo. Segundo Jostein Gaarder, de certa forma, nosso corpo também é construído dessa forma. Se retiro uma célula da pele de meu dedo, o núcleo desta célula contém não apenas a descrição da minha pele. Em cada uma das células existe uma descrição detalhada da estrutura de todas as outras células do meu corpo. Em cada uma das células existe, portanto, “um pouco de tudo”. O todo está também na menor das partes. Anaxágoras chamou as infinitas partículas de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.
“...todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez, pois o pequeno era ilimitado...”
Demócrito de Abdera : Os átomos
Os atomistas seguiram a linha de que a natureza era comporta por partículas infinitas. Diziam que tudo que realmente existia era constituído de átomos e de vazio (este último os espaços entre os átomos). considera que nada pode surgir do nada, assim, os átomos eram eternos, imutáveis e indivisíveis. O que acontecia, era que eles eram irregulares e podiam ser combinados para dar origem aos corpos mais diversos. Demócrito é considerado o mais lógico dos pré-socráticos.
FONTE : http://pt.wikipedia.org/wiki/Arch%C3%A9#A_fam.C3.ADlia_Veiga
SOBRE METEORITOS
Meteorito pode ser mais antigo do que o Sol
Rocha encontrada no Canadá teria se formado antes do nascimento do sistema solar
Um meteorito que caiu no lago Tagish, no oeste do Canadá, no ano 2000 pode ser mais antigo do que o Sol, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Centro Espacial Johnson da NASA em Houston, no Texas (EUA). Essa idéia é defendida pelo cientista Keiko Nakamura-Messenger, que mediu as proporções de diferentes isótopos de nitrogênio e hidrogênio presentes em diminutas nanoesferas de carbono incrustadas em amostras do meteorito. Messenger constatou que essas nanoesferas apresentam índices de nitrogênio-15 e deutério (um átomo de hidrogênio com um nêutron a mais) muito altos em relação ao restante do material que compõe o meteorito. Esse dado seria um indício de que o corpo celeste teria se formado em temperaturas extremamente baixas, entre 10 e 20 K (aproximadamente - 250º C), encontradas em nuvens geladas situadas nos confins do sistema solar ou talvez até antes de nosso sistema ter se formado.
FONTE: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3504&bd=2&pg=1&lg=
SÃO PAULO - O meteorito Murchison, uma rocha espacial descoberta na Austrália em 1969, contém xantina e uracila, duas substâncias necessárias para a formação de DNA e RNA, moléculas essenciais para a vida na Terra, dizem cientistas dos EUA e Europa na edição de 15 de junho da revista especializada Earth and Planetary Science Letters. Além disso, dizem eles, os átomos de carbono encontrados nas substâncias detectadas no meteorito são de um tipo raro na Terra, o que praticamente garante que elas se formaram no espaço.
Rocha encontrada no Canadá teria se formado antes do nascimento do sistema solar
Um meteorito que caiu no lago Tagish, no oeste do Canadá, no ano 2000 pode ser mais antigo do que o Sol, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Centro Espacial Johnson da NASA em Houston, no Texas (EUA). Essa idéia é defendida pelo cientista Keiko Nakamura-Messenger, que mediu as proporções de diferentes isótopos de nitrogênio e hidrogênio presentes em diminutas nanoesferas de carbono incrustadas em amostras do meteorito. Messenger constatou que essas nanoesferas apresentam índices de nitrogênio-15 e deutério (um átomo de hidrogênio com um nêutron a mais) muito altos em relação ao restante do material que compõe o meteorito. Esse dado seria um indício de que o corpo celeste teria se formado em temperaturas extremamente baixas, entre 10 e 20 K (aproximadamente - 250º C), encontradas em nuvens geladas situadas nos confins do sistema solar ou talvez até antes de nosso sistema ter se formado.
FONTE: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3504&bd=2&pg=1&lg=
Meteorito contém componentes de DNA e RNA, diz estudo
Bases que tomam parte na formação de moléculas essenciais para a vida podem ter surgido no espaço
Carlos Orsi, do estadao.com.br
Reprodução
Um fragmento do meteorito Murchison, descoberto na Austrália em 1969
Meteorito reforça idéia de que bases da vida vieram do espaço
Pesquisa feita nos EUA diz que núcleo da neve contém bactérias
Meteorito raro de 420 kg vai a leilão em Nova York
Vestígios de lago habitável são descobertos em Marte
"Na Terra, todas as reações quimicas envolvendo carbono usam uma forma leve de carbono (carbono 12). Por outro lado, as reações químicas no espaco envolvendo carbono usam uma foma mais pesada (carbono 13)", explica apesquisadora portuguesa Zita Martins, do Imperial College London, principal autora do artigo. "Quando analisamos moléculas orgânicas presentes em meteoritos, podemos saber se são de fato extraterrestres ou simples contaminacao terrestre".
"Estes resultados demonstram que compostos orgânicos, que são componentes do código genético na bioquímica moderna, já estavam presentes nos primórdios do sistema solar e podem ter desempenhado um papel na origem da vida", diz o texto que descreve a descoberta.
Esse resultado soma-se a outros que dão apoio à hipótese de que a vida pode ter começado a partir do encontro, na Terra, de moléculas originadas no espaço. "Ninguém sabe como é que saltamos de simples moléculas organicas na terra primitiva para seres vivos", diz a cientista. "Os nossos resultados mostram que as nucleobases estavam disponiveis na Terra primitiva, de 3,8 a 4,5 bilhões de anos atrás, para serem adotadas por sistemas de visa que estivessem a emergir por essa altura".
A formação dessas moléculas no ambiente espacial também é objeto de estudo - a Nasa, por exemplo, mantém um Laboratório de Gelo Cósmico que tenta recriar as reações químicas que acontecem a baixas temperaturas, pressões e na presença de radiação.
O próprio Murchison já revelou diferentes moléculas orgânicas no passado. E, em fevereiro deste ano, uma equipe diferente de pesquisadores havia anunciado que outro meteorito, achado na Antártida, apresentava uma predominância de aldeídos - os elementos formadores dos aminoácidos, que por sua vez formam proteínas - com o mesmo tipo de conformação visto nas proteínas usadas pelos seres vivos. O trabalho foi publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Além de estabelecer uma relação possível entre moléculas do espaço e a origem da vida na Terra, a descoberta de moléculas orgânicas complexas em meteoritos traz a possibilidade de que outros planetas tenham sido "semeados" com o mesmo tipo de matéria-prima, dizem cientistas.
"Como os meteoritos representarem materiais que sobraram da formação do sistema solar, os elementos chaves da vida podem estar espalhados pelo Universo", disse a pesquisadora. "Com a descoberta de mais e mais moléculas orgânicas fundamentais para a vida presentes em meteoritos e outros corpos celestes, a possibilidade de que a vida pode surgir onde as condições químicas certas ocorram é maior e mais provavel".
Atualmente, a Nasa procura por matéria orgânica em Marte, com a sonda Phoenix, e tem planos de sondar Europa, uma lua de Júpiter que, acredita-se, tem um oceano de água salgada sob a superfície, em busca de sinais de vida.
FONTE: http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid191132,0.htmA saúde do corpo e a doença mental - LIVRO :A PRODUÇÃO SOCIAL DA LOUCURA DE CIRO MARCONDES FILHO
Por Ivo Lucchesi em 27/5/2008
A mídia, seja na versão impressa, seja, ainda mais, na modalidade eletrônica, muito realça a necessidade de preservação da saúde do corpo. Todavia, por alguma razão não muito clara, igual ênfase, a mídia não confere à necessidade do cuidado quanto à "saúde mental". Será esta apenas uma observação desprovida de fundamento, ou, por outra, será uma indagação procedente, extraída da constatação diária?
A loucura pode ser produzida?
Por razões não menos obscuras, uma publicação de 2003, de Ciro Marcondes Filho, mereceu tímida referência nos veículos de comunicação. Refiro-me ao livro A produção social da loucura, obra editada pela editora Paulus (SP).
Na obra mencionada, o autor, com inúmeras outras publicações, exibe um quadro societário no qual, dado o modelo cultural predominante, se instalam condições propícias para a proliferação de comportamentos psíquicos "desajustados". O tema em si não me é completamente novo, considerando que, em tempos anteriores à publicação, já havia pontuações críticas a respeito. Modestamente, em livro publicado em 1987 (Crise e escritura, RJ, Forense Universitária), na página 134, aludia à formação do "império da esquizofrenia", ao abordar o verbete "existência insular".
Alain Badiou, no livro Manifesto pela filosofia (RJ, Ed. Aoutra, 1991), atentara para o sintoma da emergência da "subjetividade descentrada", fruto de um contexto cultural centrado na multiplicidade de ofertas de conteúdos, gerada pelas recentes tecnologias da informação, o que se confirma na sentença: "(...) o sujeito é descentrado ou vazio /.../" (p. 16). O fato também não escapou à reflexão de Jean Baudrillard ("estado de aturdimento"), na obra As estratégias fratais (RJ, Rocco, 1996). Tampouco, a questão escapou do crivo crítico de Paul Virilio, ao tratar do fenômeno cultural da "dromologia", de Edgar Morin, de Umberto Eco e de Contardo Calligaris, estes, em entrevistas recentes à Folha de S. Paulo, quando tematizaram sobre os malefícios na crença "infantil" do "mito da felicidade". É, portanto, no reconhecimento de um sintoma que, progressivamente, vem gerando noticiários sobre casos escabrosos que reporto à publicação anteriormente mencionada. Examinem-se, pois, cinco afirmações de Ciro Marcondes Filho, constantes na obra já indicada:
"À loucura, ao ritmo frenético da produção, corresponde um novo homem, absolutamente dissociado, racional, isolado do ambiente social, frio, com uma tenacidade cega e preocupante e que busca permanentemente recompor o contato social, mas por meios ilusórios ou literalmente delirantes (máquinas, vídeos, jogos eletrônicos, consumo, linguagem dissociada etc.)". (p. 11)
"O sistema de produção da loucura, reforçando esses estados patológicos latentes nas pessoas, torna-as aptas para entrar na máquina e operá-la, participando do teatro do mundo. O preço do ingresso é a saúde mental". [grifo nosso]. (p. 13)
"(...), pode-se supor que hoje, tendo a sociedade global assumido a função de educar em lugar dos pais, passa então a gerar as paredes do lar e instala-se na sociedade maior, produzindo nosso novo homem da era pós-industrial". (p. 14).
Adiante, o autor, ao abordar o tema da "felicidade", recorrendo a Freud, sentencia que:
"(...) o que os homens buscam na vida é a, também em Freud, a felicidade. No entanto, afirma ele [Freud], a felicidade foi descartada do plano da Criação; nos momentos em que é sentida não passa de um episodisches Phänomenen, prazer esse que é de um contraste: só existe pela existência (anterior) de seu oposto, o desprazer." (pp. 231-232).
No prosseguimento da reflexão, Ciro Marcondes Filho arremata a seguinte afirmação:
Parece-nos que o acoplamento entre as fantasias imaginárias e o real é o que constitui felicidade. Mas, dado que o desejo é uma sensação em permanente deslocamento, a sensação de ser feliz, é, por um lado, apenas o ‘momento de toque’ das fantasias com o real, que a partir daí o desejo já se deslocou e transferiu a felicidade para outro objeto. /.../ (p. 232)
Dedução simples
As cinco citações trazem, para o presente enfoque, a seguinte questão: terá a mídia, dado o formato dominante (impresso e, principalmente, audiovisual), alguma responsabilidade na "produção social da loucura"? Aferições preliminares dão conta de que a mídia, efetivamente, colabora, em grau progressivo, para a proliferação de um estado psíquico coletivo alterado.
O modelo centrado na diversidade temática, somado a uma hierarquização estética do que acentua o "exótico" e "sensacionalista", em detrimento do que é valoroso e ético, não pode querer outro efeito senão o do descentramento da subjetividade. Em outros termos, será que a mídia, ao propagar a "saúde do corpo", além de atender as demandas dos inúmeros anunciantes de plano de saúde, cujo propósito consiste na maximização de receitas e minimização de custos, não auxilia na deformação de estados psíquicos da qual, a posteriori, também extrai alta lucratividade, em função de matérias que tanto rendem pautas quanto vendem exemplares e audiências?
Como está, a dedução é simples: a mídia fatura com a "saúde do corpo" e com a "doença mental". Que respondam os responsáveis pela fórmula.
FONTE: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=487FDS004.
A mídia, seja na versão impressa, seja, ainda mais, na modalidade eletrônica, muito realça a necessidade de preservação da saúde do corpo. Todavia, por alguma razão não muito clara, igual ênfase, a mídia não confere à necessidade do cuidado quanto à "saúde mental". Será esta apenas uma observação desprovida de fundamento, ou, por outra, será uma indagação procedente, extraída da constatação diária?
A loucura pode ser produzida?
Por razões não menos obscuras, uma publicação de 2003, de Ciro Marcondes Filho, mereceu tímida referência nos veículos de comunicação. Refiro-me ao livro A produção social da loucura, obra editada pela editora Paulus (SP).
Na obra mencionada, o autor, com inúmeras outras publicações, exibe um quadro societário no qual, dado o modelo cultural predominante, se instalam condições propícias para a proliferação de comportamentos psíquicos "desajustados". O tema em si não me é completamente novo, considerando que, em tempos anteriores à publicação, já havia pontuações críticas a respeito. Modestamente, em livro publicado em 1987 (Crise e escritura, RJ, Forense Universitária), na página 134, aludia à formação do "império da esquizofrenia", ao abordar o verbete "existência insular".
Alain Badiou, no livro Manifesto pela filosofia (RJ, Ed. Aoutra, 1991), atentara para o sintoma da emergência da "subjetividade descentrada", fruto de um contexto cultural centrado na multiplicidade de ofertas de conteúdos, gerada pelas recentes tecnologias da informação, o que se confirma na sentença: "(...) o sujeito é descentrado ou vazio /.../" (p. 16). O fato também não escapou à reflexão de Jean Baudrillard ("estado de aturdimento"), na obra As estratégias fratais (RJ, Rocco, 1996). Tampouco, a questão escapou do crivo crítico de Paul Virilio, ao tratar do fenômeno cultural da "dromologia", de Edgar Morin, de Umberto Eco e de Contardo Calligaris, estes, em entrevistas recentes à Folha de S. Paulo, quando tematizaram sobre os malefícios na crença "infantil" do "mito da felicidade". É, portanto, no reconhecimento de um sintoma que, progressivamente, vem gerando noticiários sobre casos escabrosos que reporto à publicação anteriormente mencionada. Examinem-se, pois, cinco afirmações de Ciro Marcondes Filho, constantes na obra já indicada:
"À loucura, ao ritmo frenético da produção, corresponde um novo homem, absolutamente dissociado, racional, isolado do ambiente social, frio, com uma tenacidade cega e preocupante e que busca permanentemente recompor o contato social, mas por meios ilusórios ou literalmente delirantes (máquinas, vídeos, jogos eletrônicos, consumo, linguagem dissociada etc.)". (p. 11)
"O sistema de produção da loucura, reforçando esses estados patológicos latentes nas pessoas, torna-as aptas para entrar na máquina e operá-la, participando do teatro do mundo. O preço do ingresso é a saúde mental". [grifo nosso]. (p. 13)
"(...), pode-se supor que hoje, tendo a sociedade global assumido a função de educar em lugar dos pais, passa então a gerar as paredes do lar e instala-se na sociedade maior, produzindo nosso novo homem da era pós-industrial". (p. 14).
Adiante, o autor, ao abordar o tema da "felicidade", recorrendo a Freud, sentencia que:
"(...) o que os homens buscam na vida é a, também em Freud, a felicidade. No entanto, afirma ele [Freud], a felicidade foi descartada do plano da Criação; nos momentos em que é sentida não passa de um episodisches Phänomenen, prazer esse que é de um contraste: só existe pela existência (anterior) de seu oposto, o desprazer." (pp. 231-232).
No prosseguimento da reflexão, Ciro Marcondes Filho arremata a seguinte afirmação:
Parece-nos que o acoplamento entre as fantasias imaginárias e o real é o que constitui felicidade. Mas, dado que o desejo é uma sensação em permanente deslocamento, a sensação de ser feliz, é, por um lado, apenas o ‘momento de toque’ das fantasias com o real, que a partir daí o desejo já se deslocou e transferiu a felicidade para outro objeto. /.../ (p. 232)
Dedução simples
As cinco citações trazem, para o presente enfoque, a seguinte questão: terá a mídia, dado o formato dominante (impresso e, principalmente, audiovisual), alguma responsabilidade na "produção social da loucura"? Aferições preliminares dão conta de que a mídia, efetivamente, colabora, em grau progressivo, para a proliferação de um estado psíquico coletivo alterado.
O modelo centrado na diversidade temática, somado a uma hierarquização estética do que acentua o "exótico" e "sensacionalista", em detrimento do que é valoroso e ético, não pode querer outro efeito senão o do descentramento da subjetividade. Em outros termos, será que a mídia, ao propagar a "saúde do corpo", além de atender as demandas dos inúmeros anunciantes de plano de saúde, cujo propósito consiste na maximização de receitas e minimização de custos, não auxilia na deformação de estados psíquicos da qual, a posteriori, também extrai alta lucratividade, em função de matérias que tanto rendem pautas quanto vendem exemplares e audiências?
Como está, a dedução é simples: a mídia fatura com a "saúde do corpo" e com a "doença mental". Que respondam os responsáveis pela fórmula.
FONTE: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=487FDS004.
A Odisséia Musical de Gilberto Mendes (2005)
Considerado um dos mais importantes compositores brasileiros eruditos de vanguarda da segunda metade do século XX, Gilberto Mendes trouxe para o Brasil, nos anos 1960, o movimento de renovação da música mundial iniciado, no final dos anos 50, por Stockhausen e Pierre Boulez na Europa, e por John Cage, nos Estados Unidos. Sua mais famosa composição para coral, Beba Coca-Cola, sobre o poema homônimo de Décio Pignatari, data também dos anos 1960. Santos Football Music, peça de sua autoria, estreou na Polônia em 1973. Com filmagens no Brasil, Alemanha, Bélgica, Holanda e Rússia, o documentário mistura entrevistas, viagens internacionais e históricas obras do compositor, hoje com 82 anos.
FONTE: http://www2.uol.com.br/mostra/29/p_exib_filme_689.shtml.
ÚltimoTango em Vila Parisi - Gilberto Mendes
FONTE: http://www2.uol.com.br/mostra/29/p_exib_filme_689.shtml.
ÚltimoTango em Vila Parisi - Gilberto Mendes
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