Wilhelm Richard Wagner nasceu em Leipzig (Alemanha) a 22 de maio de 1813. Foi educado em Dresden por seu padastro, o ator Ludwig Geyer. Como estudante, ocupou-se como autodidata, com música e adquiriu vastos conhecimentos literários. Em Leipzig, a partir de 1827, continuou estudando mais sistematicamente harmonia e contraponto, dedicando-se também aos estudos de filosofia. Seus mestres, nessa época, foram: Gottlieb Müller (piano) e T.Weinling (contraponto). Escreveu uma sinfonia em dó maior e outras obras de música instrumental.
Revolucionário na mocidade, Wagner tornou-se depois extremado nacionalista alemão anti-semita e reacionário, dedicando-se também à divulgação do budismo e do vegetarianismo. Essas idéias, dominando no início apenas a pequena seita dos wagnerianos, desembocaram depois o nacional-socialismo alemão.
Ocupou cargos de regente em Würzburg (1833) e do teatro municipal de Magdeburgo (1834), onde apresentou uma pequena obra de sua autoria, denominada Das Liebesverbot inspirada numa peça de Shakespeare, que todavia não alcançou sucesso. Casou com a atriz Minna Planer (1836), mas o matrimônio tornou-se muito infeliz.
Exerceu a função de regente no teatro de Königsberg e em 1837 foi diretor do teatro alemão em Riga. Em 1839 tentou a sorte em Paris, onde viveu na miséria. Exatamente nesse período escreveu sua primeira grande composição, Rienzi (1840). Depois do êxito de O navio fantasma (1841), foi, em 1842, nomeado diretor da ópera em Dresden. Graças à esses sucessos, também conquistou o lugar de mestre de capela da côrte da Saxônia, revelando suas qualidades de regente.
Influenciado pelas idéias de Proudhon, participou em 1849 da revolução em Dresden, fugindo depois para Zurique (Suíça), a fim de evitar a sua prisão. Ali escreveu suas mais importantes obras teóricas: A obra de arte do futuro (1850) e Ópera e drama (1851). Auxiliado por Liszt, conseguiu, mesmo no desterro, fazer representar a sua ópera Lohengrin, em Weimar.
Entrou em contato com Ferreira França, em missão do governo brasileiro na Alemanha: enviou à D. Pedro II uma carta, um livro e as reduções para piano de três óperas suas, e recebeu convite para uma viagem ao Brasil (1857), que não se concretizou.
A leitura assídua de Schopenhauer transformou-o em pessimista quase místico e o amor a Mathilde Wesendonck, esposa de seu mecenas, inspirou-lhe Tristão e Isolda (1859), ópera terminada em Veneza. Em 1861, Tanhäuser foi representado em Paris, mas foi vaiado, intensificando cada vez mais o nacionalismo alemão de Wagner.
Conseguindo o perdão, retornou à Alemanha, sob a proteção do jovem rei Ludwig II, da Baviera: Wagner foi chamado para Munique (1864), e teve à sua disposição grandes recursos financeiros para realizar suas idéias de um novo drama musical, além de ser presenteado com uma vila. Em 1869, ao representar O ouro do Nibelungo, que em Munique alcançou um sucesso ímpar, conseguiu do rei licença para construir um teatro, projetado segundo os mais revolucionários métodos arquitetônicos, ocultando inclusive a orquestra aos olhos do público. Aí seriam representadas especialmente, as suas obras.
Em Munique começaram as relações com Cosima, filha de Liszt e esposa do regente Hans von Bulöw, que tinha feito a propaganda da música de Wagner. Conseguidos os divórcios, Wagner e Cosima casaram em 1870, vivendo em Triebschen (Suíça). Foram anos de completa felicidade: Cosima deu à luz um filho, Siegfried.
Até então tinha sido Wagner tenazmente combatido pelos músicos conservadores (Brahms, Joachim) e pela imprensa liberal. Mas depois da guerra de 1870, os círculos oficiais começaram a apoiar o compositor nacionalista.
Em 1872, Wagner fixou residência na Villa Wahnfried em Bayreuth, rodeado de um grupo de admiradores fanáticos (os wagnerianos). Nesta cidade, em 1876, Wagner inaugurou o seu próprio teatro (Teatro de Festivais), dedicado à representação exclusiva das suas obras. Morreu subitamente em Veneza a 13 de fevereiro de 1883: está enterrado nos jardins da Villa Wahnfried.
Inícios - A primeira ópera de Wagner, As fadas (1834) não passa de imitação do romântico Weber. A proibição de amor (1836), revela a influência da ópera francesa (Auber). Rienzi (1840) é uma ‘grande ópera’ no estilo Meyerbeer. São três obras que Wagner excluiu, mais tarde, do ciclo de representações em Bayreuth.
Neo-Romantismo - Em O navio fantasma (1841), que trata a lenda do holandês errando pelos mares e sua redenção pelo amor de uma mulher, ainda são fortes as influências de Weber e outras. Mas é a primeira obra de Wagner que revela o seu estilo próprio, a instrumentação impressionante e a adaptação perfeita da linha melódica ao texto. Tannhäuser (1844) já é uma obra-prima, de forte dramaticidade, embora ópera ainda em estilo convencional. O romantismo de Wagner aprofundou-se, nesses anos, pela leitura de Schopenhauer e pela descoberta das possibilidades poéticas das lendas medievais.
Em Lohengrin (1848) rompeu Wagner com o esquematismo da ópera convencional. As cenas são durchkomponiert, isto é, as árias e os coros não são interrompidos por diálogos ou recitativos, constituindo cada cena uma unidade musical completa, e os movimentos dramáticos são focalizados por motivos que sempre voltam (leitmotive). É o primeiro drama musical.
As obras-primas - Para acompanhar exatamente a evolução posterior de Wagner, é necessário retificar a cronologia: usualmente se afirma que O anel do Nibelungo, ciclo iniciado já no começo dos anos de 1850, só foi concluído em 1874, sendo precedido por Tristão e Isolda (1859) e Os mestres-cantores de Nuremberg (1867). A verdadeira cronologia é diferente, algo mais complicada. Wagner escreveu primeiro O ouro do Reno (1854), primeira parte da tetralogia de O anel do Nibelungo, tirada da versão nórdica da lenda, ressuscitando a mitologia germância; pois só o mito lhe parecia digno de ser apresentado como drama musical.
Seguiu a segunda parte, As valquírias (1856), que é, do ponto de vista dramático, a obra mais forte de Wagner. A terceira parte, Siegfried, foi começada em 1856, mas o trabalho foi interrompido pelo episódio Mathilde Wesendonck que inspirou ao compositor Tristão e Isolda. É, indubitavelmente, a maior obra do compositor, uma grande tragédia de amor, posta numa música audaciosamente moderna, de fortes cromatismos que levam até a fronteira do sistema tonal.
Em Os mestres-cantores de Nuremberg não continuou Wagner neste caminho: é uma ópera alegre, exaltando o passado renascentista alemão, escrita em admirável linguagem contrapontística; sobretudo, a abertura é uma obra-prima.
Só depois voltou o compositor ao Anel do Nibelungo. As duas primeiras partes foram revistas, Siegfried foi concluído em 1859, e o ciclo foi terminado pela tragédia Crepúsculo dos deuses (1874). É música que parecia revolucionária aos contemporâneos, mas que se afigura hoje, depois de Tristão e Isolda, mais convencional. A última obra de Wagner, Parsifal (1882), é o resumo de sua filosofia pessimista e de sua religiosidade meio cristã e meio budista, numa linguagem musical que volta à de Lohengrin e As valquírias.
Influência - Wagner, embora tão combatido em vida, exerceu sobre a música alemã uma influência avassaladora. Mas de todos os seus adeptos só Bruckner, na sinfonia, e Wolf, no lied, conseguiram produzir algo de original. No terreno próprio de Wagner, na ópera, fracassaram todas as tentativas (com a única exceção de Richard Strauss) de continuar-lhe o caminho. Por volta de 1910, a influência de Wagner na Alemanha, ainda forte por motivos políticos e filosóficos, já foi nula na música. Essa influência foi muito mais forte na França, onde o wagnerismo teve adeptos apaixonados em toda a época entre Baudelaire e Proust.
Política - O impacto de Wagner sobre os círculos intelectuais franceses é surpreendente, numa época de nacionalismo germanófobo. Indubitavelmente, Wagner foi fanático nacionalista alemão (e inimigo da França). Os wagnerianos foram pan-germanistas e seus maiores admiradores seriam, mais tarde, os nazistas. Contra esse fato não adianta citar o proudhonismo revolucionário de Wagner na mocidade (a idéia fundamental de O anel do Nibelungo ainda é a maldição inerente ao ouro). Mas o wagnerianismo em sentido político e filosófico já desaparecem. O que importa é a música.
Dramaturgia - Wagner escreveu, ele próprio, todos os seus libretos. Seu talento como poeta é inexistente: os versos, sem a música, são quase sempre ridículos. Em compensação, foi Wagner um grande dramaturgo. Seu gênio duplo, de dramaturgo e de compositor, levou-o a retomar a reforma da ópera, já tentada um século antes por Gluck, subordinando a música ao enredo dramático, criando o drama musical. Ao drama também quis subordinar a cenografia, retomando a idéia romântica do Gesamtkunstwerk (obra de arte total). Usando com virtuosismo todos os recursos do palco ilusionístico, é Wagner antes de tudo um grande, mesmo um grandíssimo homem de teatro.
A música - A essa arte teatral subordinou Wagner sua música, que hoje é capaz de existir e de impressionar mesmo fora da casa de ópera. Suas artes de orquestração, influenciadas por Berlioz, são incomparáveis e sua arte de adaptar a melodia à língua é personalíssima. Contra esses fatos não prevaleceu o anti-wagnerismo nacionalista de Debussy, e atualmente é o compositor vanguardista Pierre Boulez, um dos maiores regentes da obra de Wagner.
Romantismo e Modernismo - Em plena época industrial recriou Wagner o Romantismo; o que explica, em grande parte, o entusiasmo dos simbolistas franceses. A música de Wagner é mesmo de consumação do Romantismo alemão, dizendo em acordes o que este não conseguiu dizer em palavras. Mas também é a crise do Romantismo, pois o preço foi a quase total dissolução do sistema harmônico em Tristão e Isolda, obra que foi e continua sendo a base da música moderna.
O último grande obstáculo da recepção moderna de Wagner, depois do desaparecimento das suas idéias políticas, foi seu uso de um ilusionismo pomposamente barroco no palco, que é insuportável no século XX. Mas esse obstáculo foi eliminado pelas artes de direção do seu neto Wieland Wagner (1917-1966), que criou em Bayreuth, a partir de 1946, novas encenações de Tristão e Isolda, Os mestres-cantores de Nuremberg, O anel do Nibelungo e Parsifal, sem falso realismo, de feição puramente simbólica.
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