terça-feira, 31 de agosto de 2010

MATE-ME -Vídeo poema de Marcelo Roque

A CLAQUE

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Thomas Carlyle , em A História da Revolução Francesa, conta sobre os claqueurs, 270 pessoas que Luís XVI tinha contratado, em 1792, depois da frustrada tentativa de fuga que terminou em Varennes e de seu aprisionamento nas Tulherias. Eram pessoas pagas para aplaudir o rei sempre que ele saía para alguma pequena volta. Estava preso, mas podia dar essas pequenas saídas, desde que não fosse além dos muros de Paris. Fico imaginando o casal real dando alguns passos até onde fosse possível e aquelas pessoas gritando “Vive le Roi!”, “Vive le Reine!” – e vaiados pelos jacobinos.

     Pois no domingo passado, 29 de agosto, eu estava em casa aí pelas seis da tarde quando comecei a ouvir buzinas, apitos e similares. Pensei que tinha havido um Ba-Guá o clássico de futebol de Bagé, e que o meu time, o Bagé, teria perdido de novo, porque as buzinas vinham do lado do estádio do Guarani e o Bagé anda tão mal das pernas que, no último Ba-Guá, quando perdemos por 2x0 para o “tradicional adversário”, a única coisa que pude responder no dia seguinte, quando um torcedor do Guarani veio me cornetear, foi: “Pois é, o Bagé tá tão ruim que até perdeu pro Guarani!” - o que deixou ele meio desconcertado, pois esperava uma outra reação. E não deixa de ser verdade a triste situação dos nossos clubes, que há muito tempo estão na 2ª divisão, sem condições de subir. Restringiram-se a “celeiros” de jogadores para os times mais fortes, e quando surge um jogador um pouquinho melhor imediatamente é vendido. E os clubes de futebol profissional daqui vivem da possibilidade e do sonho. Ouvi falar de casos de jogadores da várzea que foram convidados para treinar no Bagé ou no Guarani e recusaram, porque não teriam futuro.

     Mas tinha me enganado: não acontecera nenhum Ba-Guá. Espiei pelas janelas e não vi cores de times, mas cartazes de candidatos colados em carros, e um grupo que gritava e tocava tambores - até com certo ritmo. Pensei: “Contrataram algum bloco carnavalesco...“ Buzinas, carnaval e foguetes = política atual. Só poderiam ter contratado. De sã consciência, ninguém, hoje em dia, sai gritando, atirando foguetes e buzinando alegremente por qualquer candidato que seja. E todo candidato tem a sua claque pronta para fingir alegria para aqueles que, como eu, ficam olhando. Parece que acreditam que o barulho faz votos.

     E o pior é que faz. Tem gente que espera a época das eleições para ver quem faz mais barulho para decidir o seu voto, ou para ser contratado para algum serviço que diga respeito à campanha de algum candidato, não interessa qual, desde que pague... Não será por mera coincidência que os candidatos que gastarem mais provavelmente serão eleitos. E não se pode culpar o povo por vender o seu voto. Este é um país de muita miséria e extrema desigualdade social. Época de eleições é o momento de ganhar algum dinheiro a mais.

     Também por isso, período de eleições no Brasil é o momento em que a democracia é mais fraudada.

     Não há como chamar de democracia um sistema em que alguns candidatos gastam milhões – investindo em marqueteiros, pesquisa monitorada e todo o tipo de propaganda induzida – e os outros candidatos mal tem condições de fazer a sua propaganda. Não é democracia: é plutocracia, o governo dos ricos.

     Não pode ser democracia quando o espaço na televisão para alguns candidatos é quase irrestrito e para os outros é quase inexistente. E não adianta dizerem que tem uma lei que prevê isso, porque com certeza é uma lei injusta.

     Democracia para quem? Apenas para um pequeno grupo que já detêm o poder ou para o outro grupo que já o teve nas mãos. Os dois grupos defendendo o mesmo sistema, com unhas e dentes e, com unhas e dentes – e bastante repressão – farão de tudo para que nada seja mudado.

     Eleger Dilma ou Serra é a mesma coisa.

     Dilma é o continuísmo do lulismo, que se vendeu às multinacionais, entregou o campo aos grandes fazendeiros e empresas de cultivo, incentivando o plantio de sementes transgênicas e a derrubada das matas nativas para plantar pasto.

     O lulismo da construção de grandes barragens, como a de Belo Monte, para ganhar dinheiro com a exportação de energia, destruindo o ecossistema e expulsando o povo das suas terras.

     O lulismo da repressão aos trabalhadores sem terra e sem teto; o lulismo da repressão ao povo miserável das favelas, que transformou o exército em polícia e a polícia em exército de assassinos sem lei.

     O lulismo da corrupção consentida no Congresso, da proteção aos grandes banqueiros e ao capital internacional.

     O lulismo que promoveu a invasão ao Haiti e a lidera, oficialmente; o lulismo que fez um espúrio tratado militar com a matriz do império e que defende a política intervencionista dos Estados Unidos na América Latina.

     O lulismo hipócrita da verborragia demagógica.

     E Serra é tudo isso e mais o golpismo.

     Dilma e Serra são como “Plano A” e “Plano B”. Ambos tem o apoio da mídia, que joga para os dois lados. Os dois lados de uma mesma moeda, de um mesmo plano maquiavélico para o Brasil.

     Marina não chega a ser um “Plano C” – é uma caricatura de oposição. Traz para o seu lado os descontentes, a elite paisagística dos intelectuais que se reúnem no fim de tarde nos bares do Rio – ou nos bares de qualquer outra cidade do Brasil – e querem votar “verde” porque está na moda e é bonito. Sem ideologia alguma.

     Os outros seis candidatos são abafados totalmente pela mídia antidemocrática e pelo antidemocrático sistema eleitoral.

     A razão é que alguns deles são perigosos para o sistema; tem outras idéias e até propostas ideológicas que poderiam levar o povo a pensar. E tudo o que o sistema – através dos seus mentores – não quer é que o povo pense.

     Futebol, carnaval e programas de televisão é a receita para evitar pensamentos e idéias próprias. Sexo e drogas também. Os cinco sentidos devem ficar satisfeitos para que a mente não funcione. É uma receita que garante o voto nos candidatos indicados pela mídia, mesmo que subliminarmente. E que garante que tudo que a mídia disser seja aceito por você - se você não pensar, se não usar aquele filtro, se não procurar saber mais, além do que lhe é oferecido.

     Por falar nisso, você já pensou de onde vem os milhões que os candidatos do sistema anunciaram que estão gastando nesta campanha eleitoral?

     Marina anunciou que gastará um máximo de 90 milhões de reais; Serra anunciou um gasto provável de 180 milhões de reais e Dilma estima a sua campanha em 157 milhões de reais.

     Quem dá todo esse dinheiro a eles? E com qual objetivo? Com certeza não são os respectivos partidos. Alguém gasta a fundo perdido para ter o seu retorno depois, quando um deles for eleito Presidente e os outros obtiverem cargos de confiança no governo do eleito. Quem pode gastar tanto assim com campanhas eleitorais? Pense. Pensar faz bem.

     Acrescente a esse pensamento o fato de que, no Brasil, apenas 15% da população pode ser considerada alfabetizada. Segundo dados do IBOPE, de 2005, 75% da população brasileira é formada por pessoas que não sabem ler e escrever ou por analfabetos funcionais. Somente 7% são totalmente analfabetos. Os demais 68% são pessoas que sabem ler e escrever, mas não possuem o domínio pleno da leitura, da escrita ou das operações matemáticas. Ou seja, não sabem interpretar o que lêem, tem pouca capacidade de compreensão.

     É para esses 75% da nossa população que as barulhentas campanhas eleitorais são feitas; para eles a propaganda é dirigida; é neles que se baseiam as esperanças dos candidatos para se elegerem. Porque sabem que a ilusão faz parte das campanhas eleitorais em países como o nosso, composto de pessoas com mentes subdesenvolvidas.

     E esta é uma das razões principais para o nosso sistema de ensino ser um dos piores do mundo: há grande interesse para que continue assim.

     Enquanto isto, as tediosas campanhas eleitorais na televisão, nas rádios e em todos os lugares. Por mais que a claque grite e toque tambores e atire foguetes nas passeatas, os candidatos não tem nada a dizer, porque são desprovidos de qualquer ideologia, de qualquer proposta mais séria. São o reflexo do sistema que os produziu – amorfos, mas vorazes.

TEDxUSP - Luis Carlos Menezes - Aprender com o Imponderável




Corpo a Corpo



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'Não desistimos de barrar Belo Monte', diz procurador sobre usina - notícias em Economia e Negócios

G1 - 'Não desistimos de barrar Belo Monte', diz procurador sobre usina - notícias em Economia e Negócios

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domingo, 29 de agosto de 2010

SOBRE AMAR - Marcelo Roque

Amo-te assim,

aqui e ali

e em qualquer tempo

Amo-te dentro e fora,

antes

e depois de mim

Citador - Citações do Tema: Liberdade

Citador - Citações do Tema: Liberdade

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Heloisa Buarque de Hollanda » Estética da Periferia

Estética da Periferia

Atualizado em 18 de agosto | 16:56

Respostas às perguntas para catálogo da Exposição Estética da Periferia

Gringo Cardia e Heloísa Buarque de Holanda

1) Qual é a importância da estética que vem da periferia?

Num tempo em que a comunicação não possuía o alcance que tem hoje e, controlava os conteúdos a serem difundidos, as estéticas do povo ficavam circunscritas aos seus territórios, encontrando pouca ressonância, salvo quando artistas e intelectuais lançavam outros “olhares” sobre tais manifestações.

Hoje, a noção de território não é mais determinante. Com o suporte das novas tecnologias a comunicação assumiu não só maior velocidade, como novas características no relacionamento social e individual. Vivemos a era dos fluxos. A materialidade que outrora determinou as relações humanas e o próprio conhecimento, está transformada. Nesse sentido, as estéticas produzidas pelas periferias ganham nova visibilidade, uma vez que as tecnologias, em seu caráter rizomático[1], destituíram a hegemonia de algumas expressões estéticas em favor da multiplicidade de estéticas.

Quanto ao valor cultural que tem as estéticas da periferia é inquestionável a importância dessas expressões culturais no conjunto da diversidade que nos caracteriza. Não podemos definir identidade cultural nacional, simplesmente porque ela não existe no singular. Nossa cultura é plural e as estéticas centrais e periféricas, como o tecnobrega de Belém, o funk carioca ou o hip hop paulistano, compõem essa multiplicidade, sendo cada vez mais reconhecidas, também por isso.

2) A estética da periferia sempre subverte os padrões culturais vigentes? Qual a sua impressão sobre essa afirmação?

De modo geral as estéticas populares periféricas mobilizam códigos e significados menos comportados, pois emanam como solução imediata às práticas de sobrevivência, geralmente, árduas. Muito das manifestações estéticas da periferia emergem com certa espontaneidade e, enquanto expressão de desejos de populações, pode afrontar as estéticas centrais e os códigos morais vigentes. Deixa-se, muitas vezes, de apreender ou reconhecer os conteúdos revelados por tais estéticas, por pré-conceitos que definem a arte e seu papel, ou por descrença nas qualificações desse público criador e reprodutor de tais estéticas.

Um outro exemplo de subversão das estéticas da periferia está assinalado nas características assumidas pelo modernismo em São Paulo e no Brasil. Aqui transformamos os princípios da arte e da estética vigentes a partir da redefinição antropofágica de nossas influências européias e eruditas somadas aos traços mais populares de nossas manifestações culturais.

No entanto, nem sempre as estéticas periféricas têm força para subverter os padrões culturais mais oficiais. Ao longo da história poderíamos identificar diversas manifestações que, embora incríveis, ousadas e criativas, não conseguiram a adesão necessária para fazerem oposição ao discurso das estéticas centrais.

3) Como você percebe esse movimento de estética que vem da periferia e, cada vez mais é aceita para o consumo amplo da sociedade?

Os “frankfurtianos” (Adorno, Marcuse, Horkeimer) afirmaram que quanto mais avançasse o capitalismo, mais enredado nos interesses de mercado ficariam todos os “produtos e subprodutos” humanos. E desse conjunto fazem parte as subjetividades, os valores, as relações interpessoais e etc… Não compartilho totalmente desse pressuposto, mas não deixo de negar que o interesse comercial pela criatividade das estéticas periféricas causa-me um certo incômodo. Penso que a cooptação do mercado poderia ser minimizada, se os mecanismos de incentivo cultural e as formas de subsídio à cultura fossem melhor ajustados, num primeiro plano, aos interesses do bem público e dos criadores, e, só posteriormente, aos interesses de ordem comercial.


[1] A noção de rizoma, cunhada pelo filósofo Gilles Deleuze e pelo psicanalista Felix Guatari foi extraída da botânica (espécie de raiz) mas, nesse contexto pretendido justifica uma nova ordem na articulação de idéias e significados. Nesse caso, qualquer ponto do rizoma pode ser conectado a qualquer outro. É a afirmação de uma heterogênese em oposição à ordem filiativa do modelo de árvore e raiz. O rizoma é distinto disso tudo, pois não fixa pontos nem ordens – há apenas linhas e trajetos de diversas semióticas, estados e coisas, e nada é desdobramento obrigatório, ou remetem, necessariamente, a outra coisa.



Heloisa Buarque de Hollanda » Estética da Periferia

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lucia Helena

Lucia
Uma pessoa amável
Com ternura
Indo num cântico alegre
Ao seguir pela esperança.

Helena
Em busca desse amor
Lá no destino!
E sua vontade de ser feliz
Na vereda
Ao êxito.

A CAPIVARA

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Naquele tempo, era comum as pessoas se reunirem à volta duma fogueira, tomando um mate amargo e contando causos. No serão. Coisa bonita de se ver: as estrelas se encachoeirando quando a noite vai ficando velha, luzindo no firmamento. Bebia-se o mate com devoção, quietamente. Às vezes, alguém pegava um violão e cantava alguma milonga, uma chimarrita e até uma rancheira, se havia maior motivo de alegria ou de regozijo – ou se o dia seguinte fosse livre para feriar. Mas nada de muito folgado – folgança era para os dias de baile. Um cantar breve, comedido, para alegrar e tirar o susto – quiçá houvesse em algum coração – da escuridão que confrangia a todos e impunha o respeito pelos silêncios da noite.

     Lá pelas tantas, depois que as mulheres já tinham se retirado pras casas, o violão tinha parado e os cuidados do chimarrão tinham passado para o mais moço, alguém pigarreava, se mexia e falava:

     “Pois... como eu tava dizendo..."

     Era o sinal. Todos se ajeitavam mais comodamente para ouvir o primeiro causo, a que se seguiam outros, como se fosse um torneio. A gurizada de menos de trinta anos não tinha direito de participar – ainda não tinham vivido - só o de escutar e de exclamar alguma coisa, quando muito.

     Os causos eram os mais diversos e o tema da noite era ditado por aquele que contava o primeiro, mas sempre ligados aos mistérios da vida na campanha. E sempre ouvidos com muita atenção, por mais que fossem repetidos a cada serão. Eram entremeados de expressões exclamativas a cada pausa do proseador. E eram muitas as pausas, enquanto o fogo ia virando brasa.

- É verdade!...

- Quem haveria de dizer?!...

- Mas bá!...

     Por mais incrível que fosse a estória, todos concordavam, ao final, que era a mais pura verdade. Aquele que tinha terminado de contar um causo, olhava em volta, como numa espécie de desafio, ajeitava o bigode e completava: “Pois foi isso!” Ou, simplesmente: “Foi assim”.

     Ninguém sequer sonhava em desdizer. Seguia-se um silêncio profundo. Depois, alguém se mexia no seu lugar, pigarreava, cuspia de lado e, por sua vez, começava: “Pois eu, certa vez, lá pros lados do Banhado Velho...”

     E assim continuava, até completar a roda. Depois, quando terminava, o mais velho se levantava, calmamente, ajeitando as bombachas, e costumava dizer:

     “Buenas, já são horas, daqui a pouco o galo vai cantar..."

     E todos se levantavam e se despediam com fortes apertos nos braços e tapas nas costas - como se tivessem acabado de participar de rituais misteriosos e trocado mensagens sigilosas que a noite, o fogo e o campo tinham propiciado - e se afastavam, lentamente.

     Certa vez, a conversa enveredou pras caçadas e pescarias, e foi um tal de contar causos de feitos espetaculares que, quando o seu Chico contou como pegou um jundiá enorme que tava dormindo em um recanto próprio do lagoão e, mesmo depois de levar o esporão na mão (e mostrava a cicatriz pra todos) carregou ele pra margem, segurando pelas guelras, e foi quando ouviu o bicho dizer que não era direito acordar ele assim da sua sesta, e o seu Chico, mais respeitoso que assustado, devolveu ele pra água – que um dos guris que estava ao meu lado, com pouco mais de vinte anos, desatou a rir, para minha vergonha e o constrangimento de todos.

     Enquanto uns olhavam pra baixo e outros pra cima, o seu Chico gritou “Arre!”, pegou o guri pelo lenço do pescoço e gritou na cara dele: “Mas tu tá duvidando de mim, seu mijado?!” E se o qüera não tivesse atinado em dizer que estava rindo era do susto do jundiá ao ser acordado daquele jeito, a coisa teria ficado muito feia.

     Meio aperreado, o seu Chico sentou de novo e foi quando o meu tio Pedro, que era liso de esperto, disse alto:

     “Pois eu já falei até com capivara. E tá pra nascer o macho que duvide disso!”

     Todos atentaram. Causo contado pelo meu tio era causo para ser lembrado para sempre.

     O meu tio pigarreou, limpando a garganta, pediu mais um mate, sorveu uns dois goles e falou:

     “Pois, certa feita eu estava numa roda que nem esta aqui; roda de causos, de mate e de canha”. Bebeu mais um gole do mate e continuou:

     “Mas tinha chegado gente da cidade, gente boa, gente amiga, mas muito de contar prosa. E falavam de caçadas e de pescarias, e disso e daquilo, como se soubessem tudo do campo, e das armas que usavam e dos calibres que preferiam – esse tipo de coisa...”

     Todos espicharam as orelhas. Ninguém gostava muito de gente da cidade, porque era metida a inventar estórias, e o causo do meu tio prometia. Até o guri que tinha rido estava mudo ao meu lado, cabisbaixo, mas atento. Meu tio olhou um por um e recomeçou, devagar:

     “Foi quando eu aparteei. Disse pra eles que isso de matar os pobres dos bichinhos de Deus com arma era até covardia. Queria ver pegar à mão. Eles meio que tentaram rir, mas eu olhei sério e acrescentei: - amanhã cedo vou pegar uma capivara na unha.

     “De manhãzita, encilhei o meu cavalo e segui a trote para o rio, umas duas léguas daqui. Era lá que as capivaras iam se dessedentar, quando acordavam. Quando voltei, perto do meio-dia, estava todo molhado e embarrado e trazia as botas numa das mãos. Todos já estavam inquietos, me esperando pro almoço.

     “Um deles me perguntou:
     “Matou a capivara, seu Pedro?
     “Eu respondi: - Eu não disse que ia matar, disse que ia pegar à unha, e peguei.
     “E ele: - E onde está o bicho?
     “Olhei firme nos olhos dele e falei:

     “Quando cheguei lá, de manhã cedo, o bando de capivaras já estava bebendo água. Deixei o cavalo pastando, ali perto, tirei as botas e entrei no rio, devagarito pra não espantar. Mas capivara é bicho manso, não se assusta assim no más. Olhei pra uma, olhei pra outra e escolhi a mais encorpada. Quando cheguei perto e peguei firme, mas sem machucar, ela me olhou nos olhos e disse:

     “O que é isso, Pedro? Deu pra nos caçar, agora?
     “Meio envergonhado, respondi:
     “Foi uma aposta...
     “Ela me olhou de novo e se afastou, devagar, tranquilita. Eu fiquei um pouco por ali, olhando pras capivaras e pras capivarinhas, tão mansas... Depois de um tempo molhando os pés e pensando na vida, voltei. E foi isso!...

     “Ninguém falou mais nada. À tardinha - depois de conversarmos sobre tudo, menos caçadas e pescarias - foram embora. Foi assim.”

     Tio Pedro parou de falar e todos ficaram quietos durante um bom tempo. Depois, aos poucos, nos levantamos e começamos a nos despedir, sem pressa. O galo já cantava. O seu Chico abraçou o tio Pedro com força e vi no seu rosto, no canto do olho, o que parecia ser uma lágrima. Ao meu olhar, ele disse: “É um cisco...” E passou a mão no rosto.

     Foi assim.

METRÓPOLIS-Vídeo Poema de Marcelo Roque

VIVA O HUMOR, ABAIXO A CARRANCA!

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Desde os tempos de Aparício Torelly (o mui digno Barão de Itararé), a sátira política é um respiradouro para cidadãos sem meios mais efetivos para confrontarem os poderosos.

"Manda quem pode e obedece quem tem juízo", diziam os antigos. Mas, submeter-se ao mandonismo ofende e amargura homens livres. O desabafo na forma de humor é o paliativo que desopila seu fígado e lhes permite conservar o amor próprio.

Vai daí que, depois de um longo e tenebroso inverno, posso finalmente elogiar uma decisão de ministro do Supremo Tribunal Federal: a de Carlos Ayres Britto, concedendo liminar contra o dispositivo casmurro da Justiça Eleitoral, tentando impedir que as emissoras de rádio e TV ridicularizem os sumamente ridículos candidatos ao próximo pleito.

O único erro dos humoristas é a redundância: os integrantes dessa inacreditável legião de feios, sujos e malvados tudo fazem para desmoralizar a si próprios, na caça sôfrega aos votos.

As imagens do programa eleitoral gratuito superam as mais grotescas aberrações concebidas pela genialidade delirante de Federico Fellini.

E, como as ervas daninhas crescem com mais vigor e os maus exemplos sempre frutificam nestes tristes trópicos, sabe-se lá até onde uma escalada censória poderia chegar. Melhor esmagarmos o quanto antes o ovo da serpente.

Preservemos o que ainda resta de cordialidade no brasileiro!

E prestemos tributo a heróis esquecidos como Alvarenga e Ranchinho que, por volta de 1940, depois de exporem em suas apresentações a nudez do ditador Getúlio Vargas, fugiam antes da chegada da Polícia.

[Cheguei a assisti-los, já idosos, detonando o  homem da vassoura  com uma paródia da clássica "Menino de Braçanã", de Luiz Vieira. Em vez de "quem anda com Deus não tem medo de assombração", cantavam "quem já viu o Jânio Quadros não tem medo de assombração"...]


Glória eterna ao grande Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta, cuja série Febeapá (Festival de Besteiras Que Assola o País) disse tudo que havia a dizer-se sobre a ditadura militar, no tempo em que ela se caracterizava mais pelo besteirol -- a bestialidade só passou a dar a tônica depois da morte do Lalau.

À extraordinária equipe de humoristas de O Pasquim, com destaque para o benjamim que acabou se tornando o melhor da turma: Henfil.

E, claro, também ao menestrel Juca Chaves, autor de sátiras inspiradíssimas como Dona Maria Tereza (conselhos à esposa do então presidente), que bem merece encerrar esta digressão:

Dona Maria Tereza,
diga a seu Jango Goulart
que a vida está uma tristeza,
que a fome está de amargar.

E o povo necessitado
precisa um salário novo,
mais baixo pro deputado,
mais alto pro nosso povo.

Dona Maria Tereza,
assim o Brasil vai pra trás,
quem deve falar, fala pouco,
Lacerda já fala demais.

Enquanto feijão dá sumiço,
e o dólar se perde de vista,
o Globo diz que tudo isso
é culpa de comunista.

Dona Maria Tereza,
diga a seu Jango porque
o povo vê quase tudo,
só o Parlamento não vê.

Dona Maria Tereza,
diga a seu Jango Goulart,
lugar de feijão é na mesa,
Lacerda é noutro lugar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"UM DENSO E IMPENETRÁVEL VÉU DE FUMO AVERMELHADO"

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NOTÍCIA:

"Habitantes de diversas regiões da União Europeia têm sofrido com os transtornos causados por incêndios em áreas florestais. A Espanha já registrou oito mortos devido ao fogo, sendo que sete eram bombeiros. Desde janeiro, 37 mil hectares de área verde já foram destruídos no país, apenas 3 mil a menos que em todo o ano passado.

     Somente no estado de Almeria, no sul da Espanha, cerca de 1.500 residentes e turistas tiveram de ser levados a áreas de maior segurança. A razão da medida é um incêndio que já consumiu cerca de 5 mil hectares da Serra da Cabreira.

    Também no estado de Aragão, no norte do país, cerca de 10 mil hectares de florestas já foram queimados e seis cidades tiveram de ser evacuadas. O transporte ferroviário entre Madri e Saragoça, capital de Aragão, também foi interrompido por quase 20 horas, obrigando cerca de 7 mil passageiros a seguir viagem em ônibus.

    Vento forte e temperaturas de até 40°C dificultam o trabalho dos mais de mil bombeiros e soldados que tentam combater os incêndios em pelo menos 20 focos em todo o território espanhol.

    Outros países europeus com clima mais ameno também têm sofrido com incêndios nos últimos dias. Na ilha italiana da Sardenha, ao menos seis focos destruíram aproximadamente 10 mil hectares de florestas. Na Grécia, as chamas se alastram principalmente na península do Peloponeso e na ilha de Evia, destruindo fazendas e florestas.

     Na França, cinco bombeiros foram feridos combatendo três incêndios que já destruíram 4 mil hectares em matas da ilha de Córsica. Dez casas e aproximadamente 50 carros também foram consumidos pelas chamas. Um incêndio supostamente provocado pelo Exército francês durante um exercício militar nas proximidades de Marselha queimou 1.300 hectares de área verde e destruiu algumas casas antes de ser controlado na noite de quinta-feira."





CARTA DO JORNALISTA ARTHUR MONTEIRO PARA A ESCRITORA URDA ALICE KLUEGER




"Urda. Coisa terrível.

Voce sobrevoa essa região do Sudeste/Centro Oeste como fiz semana passada e não parece cháo: apenas um denso e impenetrável véu de fumo avermelhado fruto das queimadas, que se multiplicam por quilômetros.

Estive este mes andando pelas regiões da Sardenha, Catalunya, Andaluzia e arredores de Lisboa em direção à Galícia e não se ve uma arvore acima de tres metros que não seja eucalipto ou pinnus, Os incendios nestas nefastas florestas plantadas que ocupam milhares de hectares assombram Portugal. e estão virando moda no Brasil também, para desgraça de nossos recursos hídricos.

Rios completamente secos se multiplicam por todas aquelas regiões européias. Na Sardenha fiquei hospedado na casa de um amigo, cujos fundos dava para um camping cercado de pinus. Passarinho zero Um verdadeiro escândalo. E a prefeitura de lá chega ao cúmulo de juntar aquela palha pontudinha que cai pinheiro e cobrir os passeios com ela, com automóveis, às dezenas, estacionados sobre estes colchões prontos para virar fogueiras. Estão literalmente brincando com o fogo.

Todo este abuso na Sardenha está sendo denunciado pelo Movimento em favor da Republica Sarda Independente.

Grande abraço
Arthur."



De: urda@flynet.com



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Enquanto a Europa queima em seu mais terrível verão, provocado pela desenfreda sede de lucro das grandes empresas e pelo descaso dos governos, que não tomam qualquer medida contra os desastres climáticos provocados por eles mesmos, na América do Sul oscilamos entre o mais terrível inverno e períodos de inversão climática que trazem um estranho calor para esta época do ano. 

     Mas o inverno está chegando ao fim, aqui, e já teve a sua cota de mortos - sempre as pessoas mais pobres, sempre os desabrigados, sempre os explorados. Os ricos, os exploradores, tem suas casas climatizadas, bem alimentados com a mais-valia do trabalho dos que exploram, o cérebro maquiavélico e a alma já vendida ao demônio que pagar mais.

     Oficialmente, parece que nada está acontecendo. As pessoas continuam sendo enganadas e querendo acreditar em quem as engana: assistem novelas, jogos de futebol, "reality shows", vivendo em seu mundo virtual, devidamente programado para que continuem alienadas e conformadas, para que nada façam a respeito, a não ser as repetidas exclamações no twiter e os enfadonhos scraps no orkut; fingindo felicidade e alegria para que os "amigos" também finjam felicidade e alegria e possam dormir, a cada noite, um sono menos difuso em seus sonhos, como se realmente esta realidade que vivemos ficasse resumida a um dia a dia de repetidas mediocridades.

     Daqui a pouco menos de dois meses começará o calor aqui. Todos se queixarão da terrível seca, das queimadas, do governo e das multinacionais que depredam o meio ambiente, plantando eucaliptos para vender para as fábricas de celulose; das multinacionais que vendem sementes transgênicas para os agricultores que querem grandes lavouras e lucro rápido; do governo que incentiva o desmatamento, que protege as multinacionais, que estimula a cobiça dos agricultores. 

     Um governo que terá sido votado e aclamado por multidões embriagadas pelo momento das eleições e que terão entregado o seu poder, o poder do povo, para um grupo de políticos profissionais que, por sua vez, entregarão esse mesmo poder para os oligopólios que os governam.

     E quando alguns grupos se revoltarem, no campo e nas cidades, a bem adestrada polícia será atiçada contra eles e usará todas as armas para ferir e matar aqueles que não se conformam, que sabem que são roubados e espoliados todos os dias, mas que preferirão a luta e a resistência para tentar salvar o pouco que resta do coração brasileiro, da alma latina.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

ARREFOLE A saia da Carolina

Pousa Pousa - A Roda



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CIDADE DEFUNTA




(da série "trágicos panfletos sim")



"Aqui jaz": ipês amarelos e roxos, paineiras, araçás e manacás!...
A mangueira e o pé de nêsperas de meu antigo quintal
foram sepultados quase vivos!
muitas árvores clamam de seus túmulos!...
o concreto desta cidade fúnebre
tapou os poros de nossa terra!
A terra onde a garoa secou!
Cabos de aço deram-lhe
fatais desérticos
golpes de misericórdia!Hoje,onde havia cheiro de terra molhada,
Há o caldo da morte fétido e estridente,
a gritar-nos:

“Assassinos habitantes de São Paulo”!




Nadia Stabile – SP, 24/08/10


*natureza esquartejada e sepultada é o que há nas megalópoles!
Vivemos em cima de um cemitério,somos defuntos como a cidade!

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Symphony of Science - Sinfonia da Ciência - Poesia da Realidade

domingo, 22 de agosto de 2010

Dança da Chuva - Marcelo Roque

Dança da Chuva

Todo homem nasce índio,
com os pés descalços,
sedentos por terra vermelha
Mas, quase todo índio,
morre ainda menino,
quando sequer sabe que é índio
Morre junto com cada árvore tombada,
cada rio que perde seu curso,
cada fuligem lançada aos céus
Morre, quando lhe calçam
os sapatos apertados
dum apressado progresso,
quando o ensinam a rezar
para deus e o diabo;
morre, quando lhe acertam o centro do peito
com a temível flecha da vaidade

E pensar que um dia
eu também já fui índio, assim,
como também o foi,
o mais branco dos burgueses
E pensar que um dia,
esta terra toda já me pertenceu
e eu nem sabia,
e pensar que eu já fui desta terra ... um dia

Hoje, perdido de minha tribo,
refugiado em minha fria oca de concreto,
da janela, apenas espero,
espero e vejo a chuva cair, inerte,
e com um olhar
de quem não sabe mais dançar

Marcelo Roque

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GETÚLIO VARGAS

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“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.”

Para esta atual geração brasileira será difícil entender alguém que se suicide por ela, ou alguém que lute por ela. Principalmente um presidente da República. É uma geração que perdeu a sua identidade e até a sua música sertaneja virou country. Seus bailes são baladas onde se dança funk e as músicas que compõe, entre dois “você” aparece um “baby”. Uma geração conformista: “Eles venceram e o sinal está fechado pra nós/ que somos jovens...”. É a geração celular-ipod-twiter, que vive no mundo virtual, só pensa em como ganhar dinheiro da maneira mais fácil e somente se preocupa com o seu pequeno mundinho existencial. Uma geração não pensante, repetidora de idéias prontas vindas da mídia, ansiosa por sexo e drogas e qualquer coisa que altere os seus parcos cinco sentidos. Uma geração que não sabe ser nação, mas aceita ser massa e que entende país como território a ser barganhado.

      É claro que eu me refiro apenas aos 95% de jovens e não jovens que tem a mente colonizada. Deve haver 5% que ainda raciocinam por si mesmos e desconfiam que a vida não deve ser só o que aparece na televisão ou nas notícias da rede. Para eles este texto.

      Neste período de campanha para as eleições presidenciais em que vemos dois ou três candidatos mais destacados pela imprensa – justamente os candidatos que defendem o sistema político vigente, caracterizado pela entrega das nossas riquezas ao capital internacional, pela desigualdade social, miséria e corrupção – é justo que lembremos Getúlio Vargas, um presidente que foi, antes de tudo, nacionalista e defensor do povo – exatamente a antítese dos lulas, dilmas, serras e outros do mesmo gênero.

      Pode parecer estranho, mas houve um período na história do Brasil, aliás, um período muito mal contado pela oficial História do Brasil, durante o qual o povo acreditou que poderia ajudar a criar um país com identidade própria. Isso aconteceu dos anos ’30 aos anos ’50, com algum rescaldo até ’64, ano em que o Brasil foi dominado por forças trogloditas.

      Mas, em 1930, contra todas as expectativas, surgiu um movimento revolucionário a partir do Rio Grande do Sul e com o apoio da Paraíba e Minas Gerais, que depôs o então presidente Washington Luís e instalou no governo Getúlio Vargas. Longe de ser mais um movimento golpista – dentre todos os movimentos golpistas que permearam a nossa história, desde o Império, passando pela instauração da República e até aquele presidente deposto – a revolução de 1930 teve como objetivo o fim das velhas oligarquias e a tentativa de um Brasil novo.

“Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social.”

      Aqueles que dominavam o Brasil até Getúlio Vargas, e que voltaram a dominar após 1964, não suportaram as reformas do Governo Provisório. Tanto foi assim, que em 1932 o poder econômico de São Paulo forjou uma segunda revolução, esta bem mais sangrenta, na tentativa vã de recuperar os seus anteriores privilégios. Era uma época em que parte do exército brasileiro ainda era nacionalista. E tendo a bandeira do nacionalismo como objetivo principal, o governo Vargas, que perdurou por 15 anos, como ditadura apoiada pela maioria do povo, até 1945, transformou a vida dos brasileiros que, até então, eram totalmente destituídos de direitos trabalhistas e sociais. Algumas das suas realizações:

      - Criação da OAB, do Correio Aéreo Nacional, do Departamento Nacional do Café, do Departamento de Correios e Telégrafos, da carteira de trabalho, do Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool, do Código Florestal (vigente até 1965), do IBGE, do Código Brasileiro de Telecomunicações, da Lei de Proteção dos Animais (ainda em vigor).

      Foi criado o salário mínimo, a Consolidação das Leis do Trabalho, a Previdência Social, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, a Justiça do Trabalho, a estabilidade no emprego, o descanso semanal remunerado. Foi regulamentado o trabalho dos menores de idade, da mulher e o trabalho noturno. Fixada a jornada de trabalho em oito horas diárias de serviço e ampliado o direito à aposentadoria a todos os trabalhadores urbanos. Foram abolidos os impostos nas fronteiras interestaduais, já em 1931, e foi modernizado e ampliado o imposto de renda. Criado o Código de Minas e a Lei de Falências.

      Da mesma forma que a Argentina, com Peron, aos poucos o Brasil de Vargas ia-se firmando como país independente em busca de seu próprio rumo. Isto era claramente contra a política dos Estados Unidos. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial o Brasil foi obrigado a declarar guerra à Alemanha, depois que navios brasileiros foram afundados por navios estrangeiros que ostentavam a bandeira nazista. Até então, o Brasil tinha se conservado neutro na guerra e muitos estranharam o fato, por não haver nenhuma razão para a Alemanha hostilizar o Brasil, mas os Estados Unidos desejavam muito que o nosso país entrasse na guerra européia.

      25.000 pracinhas foram mobilizados e o exército brasileiro foi enviado para a Itália, onde ocupou o lugar do exército dos Estados Unidos, que pode, então, se mobilizar para invadir a Alemanha. Naquele período começaram os contatos entre militares brasileiros e dos Estados Unidos. A palavra “democracia” era usada para todos os motivos; difamava-se o governo Vargas, alianças eram feitas.

“Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.”

      Com o fim da II Guerra, em 1945, os militares brasileiros derrubaram o governo de Getúlio. Seguiram-se eleições e foi eleito o general Dutra que reforçou a aliança com os Estados Unidos, dilapidou as reservas cambiais com a sua política de importação dos Estados Unidos, o que fez com que houvesse o desaceleramento da indústria nacional e crescimento da dívida externa.

      Eleito senador por dois estados – Rio Grande do Sul e São Paulo -, em 1946, foi o único parlamentar a não assinar a Constituição de 1946, atuando como opositor do Governo Dutra, a quem considerava um traidor, e da nova ordem que se instalava. Depois de dois anos no Senado, retirou-se para a sua cidade natal de São Borja.

“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.”

      Aos 68 anos, concordou em concorrer nas eleições de 1950 para a presidência da República. Com um discurso de conciliação, percorreu 77 cidades na sua campanha eleitoral, lembrando as suas realizações durante o Estado Novo. Era alvo do ódio dos entreguistas manipulados por Washington e pagos por Wall Street. Um deles, Carlos Lacerda, dono do jornal Tribuna da Imprensa, chegou a declarar: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. Lacerda foi um precursor do jornalismo golpista, tão comum em nossos dias.

      Eleito, Getúlio procurou fazer um governo claramente nacionalista, batendo de frente contra os interesses dos Estados Unidos – que queriam um Brasil colonizado e submisso aos seus interesses, conforme presenciamos hoje. Entre as suas muitas realizações de cunho nacionalista, as mais marcantes foram:

      O decreto nº 30.363, de 1952, que dispôs sobre o retorno de capital estrangeiro, limitando-o a 8% do total dos lucros de empresas estrangeiras para o país de origem, revogado em 1991.

      A lei n° 2004, de 1953, sobre o monopólio estatal da exploração e produção de petróleo, revogada em 1997.

      Marcantes, porque essas leis tocaram nos privilégios das oligarquias. Naquela época, os agentes dos Estados Unidos fizeram correr o boato de que o Brasil não tinha petróleo e quando finalmente se verificou o contrário, tentaram passar uma lei de privatização no Congresso, que entregaria para eles todo o controle da extração do petróleo, enquanto o Brasil receberia apenas os “royalties”, ou seja, uma espécie de aluguel pela extração por empresas multinacionais - o que acontece hoje.

“Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.”

      Mas na época de Getúlio não era tão simples assim. Foi criada a PETROBRÁS (que, então, era totalmente brasileira) que deu ao Estado o controle sobre o petróleo. E a lei que criou o monopólio estatal do petróleo no Brasil foi revogada em 1997, durante o governo podre de Fernando Henrique Cardoso, que vendeu o Brasil ao capital estrangeiro.

      A outra lei que tocou no bolso dos mercadores foi a de remessa de lucros para o exterior. Na época, era um carnaval. Uma empresa instalava-se aqui, utilizava a nossa mão de obra barata, produzia riquezas para si e exportava todo os seus lucros para a matriz, no exterior – conforme é hoje.

      Mas com Getúlio não era tão simples assim. Fez promulgar um decreto que previa o envio de apenas 8% dos lucros das multinacionais no Brasil. Decreto que foi revogado em 1991, durante o governo de Collor de Mello, colocado e retirado do poder pela Rede Globo.

      E a Rede Globo da época de Getúlio eram o Jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda – que também era dono da Rádio Globo -, o jornal O Estado de São Paulo, que atacava a política nacionalista (como até hoje o faz, quando algum político menos corrupto tenta ser nacionalista) e os Diários Associados, de Assis Chateubriand, que também era dono da rede Tupi de televisão. Muito dinheiro rolava para subvencionar esses veículos de (des)informação.

      Mas a lei que detonou o golpe contra Getúlio foi aquela que reajustou o salário mínimo em 100%, em fevereiro de 1954.

“Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.”

      A partir daquele momento as forças mais reacionárias mostraram as suas unhas. E os seus canhões. Os militares, liderados por Golbery do Couto e Silva, escreveram o “Manifesto dos Coronéis”, retirando o apoio a Getúlio na área militar. E foi armado o que foi chamado de “Atentado da Rua Tonelero”. Naquele suposto atentado, um major (Rubens Vaz) foi assassinado e Carlos Lacerda teria sido ferido no pé.

      Lacerda afirmou que o autor teria sido Gregório Fortunato, um agregado de Getúlio. Mas há diversas versões para o fato. O "Jornal do Brasil" entrevistou o pistoleiro Alcino João do Nascimento, aos 82 anos em 2004, o qual garantiu que o primeiro tiro que atingiu o major Rubens Vaz partiu do revólver de Carlos Lacerda. Existe também um depoimento de um morador da rua Tonelero, dado à TV Record, em 24 de agosto de 2004, que garante que Carlos Lacerda não foi ferido a bala. Os documentos, laudos e exames médicos de Carlos Lacerda, no Hospital Miguel Couto, onde ele foi levado para ser medicado, simplesmente desapareceram.

“Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.”

      A partir daquele fato o governo foi envolvido no que Getúlio chamou de “mar de lama”. O Exército deu a ele a possibilidade de renunciar. Simples assim. Os aliados sumiram. O Ministro da Justiça, Tancredo Neves, sugeriu o licenciamento e Getúlio respondeu que somente sairia do governo morto.

      Getúlio Vargas cometeu suicídio com um tiro no coração em seus aposentos no Palácio do Catete, na madrugada de 24 de agosto de 1954. Junto a ele foi encontrada uma carta, que depois seria chamada de carta-testamento que, em seu final, diz assim:

“E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

(Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)”


_________
Os trechos em negrito e em itálico são da carta-testamento de Getúlio Vargas.

NUCLEO JOSÉ REIS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍCA

www.abradic.com/njr

Gabriel Celaya - Paco Ibañez - La Poesia es un arma cargada de Futuro



LA POESIA ES UN ARMA CARGADA DE FUTURO
Gabriel Celaya
(poema imortalizado pela voz de
Paco Ibañez, livremente traduzido
para português por Pedro Laranjeira)

A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO

Quando já nada nos resta mas ainda assim sabemos
que estamos vivos de esperança mesmo quando derrotados
desdobramo-nos em forças de um cego instinto que temos
vamos à besta de frente e lutamos cegamente a recusar ser domados

Quando o fantasma da morte nos mergulha no olhar
nascem asas de coragem pra confessar as verdades
caem por terra segredos que já não são de ocultar
e partilhamos sensíveis, mesmo quando são terríveis amorosas crueldades

A poesia para o pobre é poesia necessária como o pão de cada dia
como o ar que respiramos treze vezes por minuto
com pulmões desidratados e na voz a asfixia
de gritar por liberdade e mesmo antes da idade ser negro do nosso luto

Porque vivemos aos tombos e tropeçamos nos ossos
dos oprimidos do mundo
os poemas que gritamos não podem ficar só nossos
ou vamos bater no fundo… ou vamos bater no fundo!

Amaldiçoo a poesia concebida como um luxo cultural de parasitas
que lavam as mãos de tudo, corrompidos de vileza
Amaldiçoo a poesia dos falsos iluminados a parir coisas malditas
enquanto nos vão sugando e pouco a pouco engordando, a apodrecer de riqueza

É para os fracos que canto e em cada verso que invento
faço arma da poesia e grito ao meu próprio jeito
o sopro de um novo alento
e este sopro alimenta a poesia-ferramenta que agora te aponto ao peito

Não são versos bem medidos nem o poema obra-prima
são palavras de revolta por tudo nos ser tão duro
Pega nelas, segue em frente, faz a tua própria rima
mas meu irmão, fá-la já, com a arma aqui está, carregada de futuro

Porque vivemos aos tombos e tropeçamos nos ossos
dos oprimidos do mundo
os poemas que gritamos não podem ficar só nossos
ou vamos bater no fundo… ou vamos bater no fundo!

FONTE:
http://laranjeira.com/poesia/apoesiaeumaarma.shtml

sábado, 21 de agosto de 2010

Faleceu nesta sexta-feira, 20/08/2010, o ator e anarquista Francisco Cuberos Neto - centro de cultura social

Nota de falecimento

Faleceu nesta sexta-feira, 20/08/2010, o ator e anarquista Francisco Cuberos Neto. Sapateiro na juventude, em 1940 Cuberos torna-se militante do Centro de Cultura Social onde conhece o anarquista e ensaísta Pedro Catallo que o apresenta ao teatro operário; torna-se rapidamente um dos principais articuladores do núcleo de teatro do CCS, o “Laboratório de Ensaio”.

No CCS, Cuberos viveu intensamente; ali conheceu Maria Martinez Jimenez, companheira de toda vida, e ali celebraram sua união. Mesmo afastado, o CCS jamais perdeu o alegre traço da sua militância.

Cuberos morreu aos 86 anos. Quem o conheceu carrega a delicada imagem que dele fizera seu irmão Jaime: “Passageiro de um barco sem ponto de saída nem ponto de chegada, homo viator em busca permanente da superação”.

Saudades dos companheiros do Centro de Cultura Social.

Agosto, 2010.

Última atualização (Sáb, 21 de Agosto de 2010

centro de cultura social

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Professores também são vítimas de ciberviolência

18/08/2010 - 16h17

ANGELA SENRA Colaboração para o UOL

Sofrer perseguição e constrangimento pelo pessoal da escola, o bullying, não é um acontecimento reservado apenas aos alunos. Professores também padecem com o desrespeito dos estudantes. Mas, em vez de aviõezinhos de papel, os alunos de hoje se vingam dos professores na internet, criando comunidades e sites com difamações e xingamentos. Seria uma espécie "ciberbullying às avessas", apesar de o termo não se aplicar neste caso (leia abaixo).

A ciberviolência contra professores - melhor definição aplicada aqui - parece ser mais comum em escolas públicas, mas existe também nos estabelecimentos privados. Para a psicopedagoga Quézia Bombonatto, presidente da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), uma explicação para que o mau comportamento ocorra com menos frequência nas particulares é o sonho dos pais que os filhos estudem em determinados colégios. “Os mais conceituados são procurados às vezes quando a criança nasce, dão status, por isso as escolas privadas conseguem controlar melhor este tipo de comportamento”, acredita.

Isso não quer dizer que não aconteça. A professora de Florianópolis (SC) Luciana*, de 41 anos, lecionava em uma faculdade particular havia três anos quando se viu às voltas com a agressão de um grupo de alunos. “Eles não aceitavam as cobranças que eu fazia em sala de aula e partiram para o ataque na internet. Criaram uma comunidade no Orkut com o nome de ‘Eu Odeio a V… Cognitiva’, que fazia referência à disciplina que eu dava”, relata.

Ela levou o fato ao conselho de ética da universidade, que não se posicionou a respeito. “O coordenador do curso apenas conversou com os alunos e pediu que retirassem o grupo virtual do site. Mas até a comunidade sair do ar eles colocaram posts ofensivos, me xingaram de todos os palavrões que se pode imaginar.”

Ao contrário de muitos professores, que acabam doentes, Luciana permaneceu indo normalmente ao trabalho. “Tenho jogo de cintura, não me deixei abalar, mas foi muito complicado. Não é nada agradável ter um grupo de pessoas que não gosta do seu trabalho e que, em vez de discutir civilizadamente, publica insultos contra você diariamente na internet”, desabafa.

A solução que a faculdade encontrou foi não renovar o contrato com Luciana, que hoje leciona em faculdade federal e não sofreu mais este tipo de assédio.

Brincadeira ou assédio?

O assédio moral aos professores não é uma novidade do século XXI, mas Quézia acredita que antes era mais disfarçado. “Na década de 1970, quando dava aulas, os alunos ficavam quietos na presença do professor. Hoje as relações são muito diferentes, há uma desvalorização generalizada do papel do educador. Os próprios pais, muitas vezes, ao invés de questionarem os filhos, questionam os professores, mesmo quando se trata de notas baixas.”

Além disso, o próprio sistema, segundo ela, dá mais poder ao aluno. “A reprovação, que era um instrumento de controle, quase não existe mais, e o aluno sabe disso”, diz Quézia.

Professor versus aluno

O professor então estaria isento de responsabilidade? O sociólogo Gualberto Gouveia, que estuda o tema há seis anos, acredita que não. “Muitos estão afastados dos alunos, não se atualizam e perdem o controle com facilidade. Isso dá margem às brincadeiras, que, muitas vezes, não passam disso mesmo.”

Para a psicopedagoga Birgit Mobus, da Escola Suíço-Brasileira de São Paulo, o limite entre uma gracinha de mau gosto e agressão nem sempre é claro. “Se um aluno coloca sal na água do professor, é indisciplina? Qual o significado de ‘vá se ferrar’, por exemplo? Para alguns, é um palavrão; para outros, um desabafo do tipo ‘não enche’. Depende muito do humor do professor e de seu nível de tolerância. O bom profissional sabe avaliar a gravidade de um fato e conversa com o aluno e os pais para resolver”, acredita.

E quando o aluno resolve partir para a agressão física? “Crianças pequenas, que não sabem lidar com a raiva, podem bater no professor. Muitas vezes, estes alunos têm pais abusadores ou não têm limites dentro de casa e carregam o mesmo comportamento para a sala de aula”, diz Birgit.

Não é incomum também ouvir dos pais que, já que pagam a escola, os professores têm de fazer o que eles querem. “Os professores são cobrados, mas não são valorizados. E isso se reflete no comportamento dos alunos”, afirma Quézia.

O que fazer

No caso de agressão de aluno contra professor, o termo bullying não se aplica, pois é usado para denominar agressão entre pares, ou seja, aluno contra aluno ou professor contra professor. Mas assim como nos casos de bullying, a escola tem sua responsabilidade. “Ela deve ficar alerta ao problema, no sentido de preveni-lo”, explica o advogado trabalhista empresarial José Eduardo Pastore.

A difamação, que consiste em atribuir a alguém fato ofensivo à sua reputação, pede medidas:

- Registre um boletim de ocorrência (BO) contra o autor da difamação ou seu responsável legal.

- No caso de redes sociais, ingressar com uma ação cautelar para que o provedor forneça os dados sobre a identidade do computador do qual as mensagens foram postadas e ainda para que o provedor remova do ar o conteúdo ofensivo.

- Entre na Justiça com um pedido de indenização por danos morais.

- Entre na Justiça com uma ação de difamação, de caráter criminal. O crime de difamação se enquadra nos crimes contra a honra, Capítulo V, Título I da Parte Especial do Código Penal Brasileiro. A difamação, prevista no artigo 139 do Código Penal, é punida com detenção de três meses a um ano, além de multa.

* O nome foi trocado a pedido da entrevistada


http://estilo.uol.com.br/comportamento/ultnot/2010/08/18/professores-tambem-sao-vitimas-de-ciberviolencia.jhtm
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