Dança da Chuva
Todo homem nasce índio,
com os pés descalços,
sedentos por terra vermelha
Mas, quase todo índio,
morre ainda menino,
quando sequer sabe que é índio
Morre junto com cada árvore tombada,
cada rio que perde seu curso,
cada fuligem lançada aos céus
Morre, quando lhe calçam
os sapatos apertados
dum apressado progresso,
quando o ensinam a rezar
para deus e o diabo;
morre, quando lhe acertam o centro do peito
com a temível flecha da vaidade
E pensar que um dia
eu também já fui índio, assim,
como também o foi,
o mais branco dos burgueses
E pensar que um dia,
esta terra toda já me pertenceu
e eu nem sabia,
e pensar que eu já fui desta terra ... um dia
Hoje, perdido de minha tribo,
refugiado em minha fria oca de concreto,
da janela, apenas espero,
espero e vejo a chuva cair, inerte,
e com um olhar
de quem não sabe mais dançar
Marcelo Roque
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