Rapatiné preferiu dançar de botas.
Era a única maneira de mostrar
seus joelhos bem feitos
para Maria,
que namorava os longos dedos
de João dos Rios,
feitos para levantar âncoras
de navios afundados pelo peso de uvas.
Tropeçou: olhar beatificante - teus olhos são
línguas de fogo.
Teu olhar me dignifica. Teu olhar me reduz.
Teu olhar me eleva. Teu olhar me destroça.
Apelo dos pés de botas clama.
Apelo dos pés de botas clama.
Teus pés nus: tempo de mares, tempo de marés.
Gargantíferas gargalhadas gordas cacarejaram gosmentas
a um canto do salão.
Rapatiné olhou, não viu: sentiu
que seus ouvidos gemiam
a esse soluçante som.
Além do mais,
suas botas apertavam,
orgulhosas de seu dia de festa.
Brilho farisaico e fastidioso diria algures algum alcagüete.
Não foi aquele o primeiro dia de sua vida,
mas sorriu
quando viu por ali um alguém lindo de se querer,
mas as bestas botas apertavam seus pés.
Fez olhei-não-vi e fingiu procurar o chapéu.
Alguém disse: na janela, perto da janela...
Na janela olhavam.
Olhava.
A Lua olhava
gorda
satisfeita de seu despudor
insinuava...
Um tio ou tia ou alguém velho em tempo velho lembrava:
tempo de marés de explosão de coito de cutelada: Cio.
Olhares? Faca se maneja na horizontal
rasgando peitos
(meus pés nus, meu sangue livre)
Lua olhava. Por quê não?
Rapatiné cuspiu, passou o pé, cruzou os braços
e pensou: Pois.
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