em 20/04/2006 |
Dados técnicos Editora: Fundação Perseu Abramo ISBN: 8586469467 Páginas: 224 Ano: 2001 Edição: 1ª Lingua: Português Peso: 280 gramas Autor:MARQUES NETO, José Castilho Sinopse Coleção Pensamento Radical Textos de Antonio Candido, Lula, Lélia Abramo, Otília Arantes, Aracy Amaral, Isabel Loreiro e outros discutem o papel e a influência de Mário Pedrosa nas artes, na crítica de arte, na educação e na política e na história brasileiras. Uma importante reflexão sobre a obra de um dos mais importantes - e também uma justa homenagem. Apresentação O livro que apresentamos é resultado de algumas contribuições ao Seminário Mario Pedrosa e o Brasil – 100 Anos de Arte e Política, organizado pela Fundação Perseu Abramo e pelo Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (CEDEM-UNESP), por ocasião das comemorações dos 100 anos do nosso maior crítico de arte. Mario Pedrosa nasceu na virada do século, em 25 de abril de 1900, período caracterizado pelo escritor e revolucionário russo Victor Serge em suas memórias como “a fronteira de dois mundos: o que findava e o que despontava. Destruiu-se a noção estável da matéria; a guerra veio abolir a noção de estabilidade do mundo. A relatividade abria novas concepções desconcertantes – de tempo e de espaço”. Já tive a oportunidade de afirmar, em outras ocasiões, que a biografia de Pedrosa traz a marca de seu tempo. Principalmente a capacidade de enfrentar desafios, de transpor barreiras aparentemente intransponíveis, de apontar sempre novos caminhos. Visceralmente compromissado com o novo, enfrentou inúmeras adversidades para defender suas idéias, desde os primeiros anos de militância socialista, quando se colocou contra a corrente da poderosa Internacional Comunista dos anos 20 e 30, até seus últimos anos de vida, engajado na luta pelo Partido dos Trabalhadores, em um momento em que este último era apenas um sonho. A propósito, tive naquele período uma experiência inesquecível com Pedrosa, que me revelou muito de sua argúcia intelectual e de seu destemor. Jovem militante trotskista, engajado na luta contra a ditadura militar, eu fazia parte de uma organização que resistia ao surgimento do PT. Na primeira vez que encontrei Mario Pedrosa, por motivos profissionais, ele perguntou-me se eu já fazia parte do movimento pelo partido, dissertando com simplicidade, mas com muita convicção, sobre a necessidade de um partido que representasse verdadeiramente os operários, os trabalhadores do campo e os excluídos, luta histórica de sua vida. No velho estilo, desfilei meus argumentos contrários, todos permeados por um raciocínio esquemático que, no limite, temia o que poderia vir a ser este novo partido. Ele ouviu-me com paciência e retrucou, mais ou menos com essas palavras: “Interessante a posição de sua organização. Os trotskistas lutaram a vida toda por um partido operário e, quando ele surge, vocês não entram”. Percebi nesta resposta um homem que não se impunha barreiras intelectuais e tinha a coragem para experimentá-las, o que constatei ser uma convicção de vida, anos mais tarde, ao pesquisar suas cartas de juventude ao amigo Lívio Barreto Xavier. Em 1925 escreveu, criticando os raciocínios esquemáticos do PCB: “a limitação intelectual, eis onde não posso chegar”. Íntegro, estendeu suas convicções à arte, campo em que também foi pioneiro como crítico e pesquisador, engajando-se com visão inovadora, paixão e lucidez na defesa da arte e de seus criadores, atividade que lhe rendeu respeito intelectual e grande prestígio internacional. Tal como na militância política, foi também neste campo um internacionalista, polemizando, abrindo perspectivas, divulgando novos artistas e tendências. A tentativa de capturar todos esses Marios, que na verdade é apenas um, foi o objetivo deste seminário que a Editora da Fundação Perseu Abramo traz à público. Como ainda não existe nenhum estudo que abranja o conjunto da obra e da vida de Pedrosa, na qual arte e política são uma unidade, traçamos um roteiro para o livro constituído de depoimentos de pessoas que privaram de sua companhia, seguido por estudos sobre sua crítica de arte e sobre sua vida política, concluindo pela reflexão sobre a atualidade das idéias de Mario Pedrosa neste início de século. Na primeira parte os depoimentos procuram retratar fases diferentes de sua longa vida, destacando sua participação política. São extremamente elucidadores e de grande sensibilidade os testemunhos de Lélia Abramo, Antonio Candido, Luciano Martins e Luiz Inácio Lula da Silva, abrangendo um período de 50 anos, desde os anos 30 até anos 80. A segunda parte trata de refletir sobre a crítica de arte e um aspecto pouco estudado na obra de Pedrosa, a educação pela arte. Contribuem Otília Arantes, Aracy Amaral, Sônia Salzstein e Iná Camargo Costa, em instigantes reflexões que analisam a contribuição permanente de Mario Pedrosa, demonstrando a atualidade de suas posições enquanto crítico. A militância política e a história de Pedrosa junto aos partidos de esquerda no Brasil são analisados na terceira parte, que reflete sobre três momentos fundamentais para entender o percurso político de nosso homenageado – a origem de sua militância, sua ligação com a IV Internacional (trotskista) e suas convicções sobre o socialismo democrático. Escrevem José Castilho Marques Neto, Dainis Karepovs e Isabel Maria Loureiro. A quarta parte reuniu três intelectuais que, também militantes do Partido dos Trabalhadores, buscam a atualidade das idéias desenvolvidas por Pedrosa durante sua intensa vida política. Os textos são de Paul Singer, Marco Aurélio Garcia e João Machado. O livro se completa, como não poderia deixar de ser, com o próprio Mario Pedrosa. Um rico caderno iconográfico, organizado por Dainis Karepovs, precedido por textos de grande significado político para os últimos anos de militância de Pedrosa, todos eles engajados na construção do PT, publicados no Jornal da República. Mario Pedrosa nos deixou há 20 anos e este livro, nascido também no início de um novo século, procura resgatar, ainda que parcialmente, sua “presença forte”, para utilizarmos a expressão que o professor Antonio Candido registra no início de seu depoimento. Recordar e refletir sobre a vida de Pedrosa é, sem dúvida, uma lição para nossas próprias vidas e um convite para usufruirmos de sua audácia e coragem. Num mundo que novamente volta a findar e a despontar, pleno de desafios e de novas e inimagináveis possibilidades, Mario Pedrosa é, sem dúvida, uma grande companhia. São Paulo, abril de 2001 José Castilho Marques Neto http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1404 |
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Mário Pedrosa e o Brasil
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