quarta-feira, 15 de abril de 2009

LYGIA FAGUNDES TELLES , A TORTURA E A DITADURA


Por que você se considera uma escritora engajada?


Lygia Fagundes Telles. Vivendo a realidade de uma escritora de Terceiro Mundo, considero a minha obra de natureza engajada, ou seja, comprometida com a condição humana dentro da circunstância de um país, participante e testemunha de uma sociedade. Quando vi essa reportagem na televisão sobre os documentos da ditadura fiquei muito comovida. Foram anos terríveis realmente, perdi amigos. Eu já escrevia o meu livro As meninas, comecei em 1970 e ele foi lançado em 1973. O DOI-CODI, onde eram torturados os presos, ficava perto da minha casa em São Paulo. Eu me lembrei do conteúdo do livro e fiquei emocionada, contente por ter sido uma testemunha daquele tempo no que eu escrevi. O papel do escritor me pareceu tão importante ... A fama e a posteridade não são importantes. O que importa é testemunhar a realidade. Enquanto eu escrevia o livro, recebi um documento de um torturado, muito duro e verdadeiro. Eu estava casada com o Paulo Emílio e ele me disse: "Taca no seu livro." Fiquei radiante com a idéia e fiz isso. No romance, uma das três universitárias, a Lia, mostra para a madre superiora do pensionato o relato verdadeiro de um torturado, que reproduzi na íntegra. Essas coincidências são uma beleza e um mistério. Porque foi uma coincidência muito grande receber esse texto justo na hora em que estava fazendo o meu livro e precisava de um relato como esse. Um dia o Paulo Emílio chegou em casa triste e disse que meu romance estava nas mãos de um censor. O meu cabelo se levantou um pouco porque me lembrei dessa descrição da tortura. Outro dia ele chegou em casa com uma garrafa de vinho e disse que aconteceu uma coisa maravilhosa: "O censor que estava lendo o seu livro parou na página 45 porque achou muito chato." Bebemos o vinho e foi o porre mais gostoso da ditadura. Esse livro me deu a alegria de ser uma escritora de Terceiro Mundo, testemunha de um tempo importante.

LEIA NA ÍNTEGRA EM :

O engajamento de Lygia Fagundes Telles
Portal Literal 1.0 · Rio de Janeiro (RJ) · 5/8/2008 13:23 · 17 votos
Publicado originalmente por Elizabeth Sucupira em 01/02/2005.

Em 2004, aos 81 anos, Lygia Fagundes lançou duas coletâneas de contos. Em 2005, já tem outra saindo do forno, Meus contos esquecidos, reunidos a partir da cobrança dos leitores, que não se conformavam com lapsos da autora.
http://www.portalliteral.com.br/imprime_artigo/o-engajamento-de-lygia-fagundes-telles.

Um comentário:

  1. Muito importante essa lembrança da Lígia Fangundes Teles. Não fui testemunha dessa época, mas quando pude ler em 1985 o livro "Brasil:Nunca Mais", da ed. Vozes, fiquei chocado em saber o que tinha acontecido com o meu país durante 21 anos. Na época eu tinha 19 anos agora e reli o livro, e pude me emocionar novamente com os relatos dos mais crueis contra pessoas. Foram crimes de lesa humanidade e também reli porque considerei infame o editorial do jornal Folha de São Paulo sobre a ditadura brasileira, chamada pelo jornal de "ditabranda". Aderi ao boicote a Folha de São Paulo, não assino o jornal e ainda o denuncio numa campanha contra. José Eugênio - Brasília-DF

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