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Chico Mendes
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Francisco Alves Mendes Filho | |
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Chico Mendes | |
Nome completo | Francisco Alves Mendes Filho |
Nascimento | 15 de dezembro de 1944 Xapuri, Acre Brasil |
Morte | 22 de dezembro de 1988 (44 anos) Xapuri, Acre Brasil |
Cônjuge | Ilzamar Mendes |
Ocupação | Seringueiro, sindicalista, político e ativista ambiental |
Filiação | MDB (até 1980) PT (1980-1988) |
Página oficial | |
Página do comitê Chico Mendes |
Índice
Biografia
Chico Mendes nasceu em Xapuri, no Acre, em 15 de dezembro de 1944, filho do migrante cearense Francisco Alves Mendes e de Maria Rita Mendes. Começou no ofício de seringueiro ainda criança, acompanhando o pai em excursões pela mata. Só aprendeu a ler aos 19 ou 20 anos, já que na maioria dos seringais não havia escolas, tão pouco os proprietários de terras tinham intenção de criá-las em suas propriedades.[2] Segundo relato próprio, foi o militante comunista Euclides Távora, — que participara no levante comunista de 1935 em Fortaleza e na Revolução de 1952 na Bolívia —, que o ensinou a ler. Após retornar ao Brasil, Távora fixou residência em Xapuri, onde se tornou o alfabetizador de Mendes.[3]Ativismo
Chico Mendes iniciou a vida sindical em 1975, como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento. A tática utilizada pelos manifestantes era o "empate" — manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organizou também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos, os chamados posseiros.[1] Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, sendo eleito vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) local. Recebe, então, as primeiras ameaças de morte por parte dos fazendeiros, o que lhe rende problemas com seu próprio partido, descompromissado com as causas pelas quais Chico Mendes lutava.[4] Em 1979, usa seu mandato para promover um foro de discussões entre lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal de Xapuri. Acusado de subversão, é preso e torturado mas, sem apoio algum das lideranças políticas locais, não consegue registrar na Polícia a ocorrência da tortura da qual fora vítima.Em outubro de 1985, Chico Mendes liderou o 1º Encontro Nacional de Seringueiros, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança, a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande repercussão nacional e internacional. Do encontro saiu a proposta de criar uma "União dos Povos da Floresta", que buscava unir os interesses de indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservariam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um mecanismo de promover a reforma agrária desejada pelos seringueiros. Chico Mendes forjou, então, uma aliança com os índios amazônicos, o que levou o governo a criar reservas florestais para a colheita não-predatória de matérias-primas como o látex e a castanha do pará.[1]
Em 1986, concorreu novamente ao cargo de deputado estadual pelo PT, mas não conseguiu se eleger. Seus companheiros de chapa eram Marina Silva (deputada federal), José Marques de Sousa, o Matias (senador) e Hélio Pimenta (governador), que também não foram eleitos.[7] No ano seguinte, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da Organização das Nações Unidas (ONU) em Xapuri. Denunciou-lhes que projetos financiados por bancos estrangeiros estavam levando à devastação da floresta e à expulsão dos seringueiros. Dois meses depois, levou estas denúncias ao Senado dos Estados Unidos e à reunião de um dos bancos financiadores do projeto, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os financiamentos a tais projetos acabaram sendo suspensos e Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de "prejudicar o progresso", acusações que não convencem a opinião pública internacional. Alguns meses depois, recebeu vários prêmios internacionais, dentre eles o Global 500, oferecido pela ONU por sua luta em defesa do meio ambiente.[1]
Ao longo do ano de 1988, Chico Mendes participou da implantação das primeiras reservas extrativistas do Estado do Acre. Ameaçado e perseguido pelos membros da então recém-criada União Democrática Ruralista (UDR), percorreu o Brasil participando de seminários, palestras e congressos onde denunciava as intimidações que os serigueiros estavam sofrendo. Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, de Darly Alves da Silva, agravaram-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que, por várias vezes, veio a público denunciar seus intimidadores. Ele deixou claro às autoridades policiais e governamentais que estava correndo risco de morte e que precisava de proteção, mas seus alertas foram minimizados pela imprensa.[8] [9] [10] No 3º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), voltou a denunciar sua situação. Atribuiu a responsabilidade pelo aumento da violência no campo ao advento da UDR. A tese que apresentou em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta, foi aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao término do Congresso, Mendes foi eleito suplente na direção nacional da CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.
Morte e legado
Após o assassinato do líder extrativista mais de trinta entidades — sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas — se reuniram para formar o Comitê Chico Mendes. Elas exigiam, através de articulação nacional e internacional e de pressão aos órgãos estatais, que os autores do crime fossem punidos. Em dezembro de 1990, a justiça condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e seu filho, Darcy Alves Ferreira a 19 anos de prisão pela morte de Chico Mendes.[12] A principal testemunha do caso foi um empregado de 13 anos da fazenda de Darly, Genésio Ferreira da Silva.[13] Em fevereiro de 1992, eles conseguiram um novo julgamento através da acusação de que o caso da promotoria tinha sido enviesado. No entanto, a condenação foi mantida e eles permaneceram na cadeia. Darly e Darcy fugiram da cadeia em fevereiro de 1993.[12] Darly foi capturado em junho de 1996 e Darcy em novembro de 1996.[12] Darly escondeu-se num assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no interior do Pará e chegou a obter financiamento público do Banco da Amazônia sob falsa identidade.[12] O crime de falsidade ideológica rendeu-lhe uma segunda condenação de dois anos e 8 meses de prisão.[12] Darly e Darcy cumpriram, ao todo, menos de dez anos da pena de dezenove. Hoje, ano de 2015, Darcy encontra-se na remota cidade de Medicilândia no Estado do Pará.
A morte de Chico Mendes trouxe apoio mundial à causa dos seringueiros. Devido, em parte, à cobertura do assassinato pela mídia internacional, a Reserva Extrativista Chico Mendes foi criada na área onde ele morava. Outras 20 reservas, semelhantes às propostas por Mendes, cobre hoje mais de 32.000 km².
Família
À época de sua morte, Chico era casado com Ilzamar Mendes, com quem tinha dois filhos, Sandino e Elenira, de dois e quatro anos de idade, respectivamente. Além disso, possuía uma outra filha do primeiro casamento, Ângela, à época com 19 anos. Ilzamar e Elenira criaram a ONG Instituto Chico Mendes com o intuito de desenvolver projetos sócio-ambientais no Acre.Homenagens
Em 1989 o Grupo Tortura Nunca Mais, uma ONG brasileira de defesa dos direitos humanos, criou o prêmio Medalha Chico Mendes de Resistência, uma homenagem não só ao próprio Chico Mendes, mas também a todas as pessoas ou grupos que lutam pela consolidação dos direitos humanos no país. O prêmio é entregue todos os anos e já foi recebido por personalidades como Oscar Niemeyer (1989), Dom Paulo Evaristo Arns (1989), Luiza Erundina (1991), Barbosa Lima Sobrinho (1992), Herbert de Sousa (1994), Paulo Freire (1994), Alceu Amoroso Lima (1995), Luís Fernando Veríssimo (1996), Jaime Wright (1997), Hélio Bicudo (2006) e Brad Will (2008) e organizações como Human Rights Watch (1996), Anistia Internacional (2004), Ordem dos Advogados do Brasil (2004), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (2005) e o Centro de Mídia Independente (2008).[14]Também em 1989 o ex-beatle Paul McCartney lançou a faixa "How Many People", em homenagem ao seringueiro, no álbum Flowers in the Dirt. O compositor Clare Fischer, que havia fornecido os arranjos orquestrais para o álbum de McCartney, dedicou a faixa "Xapuri", de seu álbum Lembranças (Remembrances), lançado no mesmo ano, à memória de Chico Mendes. Em 1994, a HBO transmitiu o premiado telefilme The Burning Season, que narrava as lutas do seringueiro e trazia Raúl Juliá no papel de Chico Mendes. No ano seguinte, o grupo mexicano de rock Maná homenageou Mendes na faixa "Cuando los Ángeles Lloran", presente no álbum homônimo. E em 1996 foi a vez da banda de heavy metal brasileira Sepultura homenagear o seringueiro com a faixa "Ambush", presente no álbum Roots.
Em 2007, a então ministra do meio-ambiente Marina Silva criou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma autarquia responsável pela gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Em 10 de dezembro de 2008, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aprovou, em Rio Branco, a condição de perseguido político de Chico Mendes. O pedido de anistia havia sido protocolado pela viúva Ilzamar Mendes em 2005.[15] Isso garante à sua família receber uma indenização por parte do Estado. Em 2009, o Ministério Público do Acre acusou a viúva de Chico Mendes, Ilzamar, e a filha do casal, Elenira, de improbidade administrativa. Segundo a denúncia, as verbas recebidas pela ONG Instituto Chico Mendes para o desenvolvimento de projetos sociais e ambientais estavam sendo desviadas. Ilzamar foi acusada pela própria irmã de ser funcionária fantasma da ONG.[16]
Ainda hoje, Chico Mendes é reconhecido como um dos maiores brasileiros de todos os tempos. Seu nome aguarda inscrição no Panteão da Pátria e da Liberdade em Brasília desde 2004[17] e, em julho de 2012, foi eleito o 28° maior brasileiro de todos os tempos em votação realizada pelo SBT.[18] Além disso, Chico Mendes faz parte do calendário de santos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil como testemunha profética, sendo sua festa litúrgica comemorada no dia 22 de dezembro.[19]
Em 2013, uma nova espécie de pássaro — Zimmerius chicomendesi — foi nomeada em homenagem a Chico Mendes.
Bibliografia complementar
- Ventura, Zuenir. Chico Mendes: Crime e Castigo: Quinze anos depois, o autor volta ao Acre para concluir a mais premiada reportagem sobre o herói dos povos da floresta. [S.l.]: Companhia das Letras, 2003. 248 p. ISBN 9788535904482
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