Pierre Lévy: a inteligência coletiva e os espaços do saber (ver abaixo)
A Inteligência Coletiva:
cartografando as redes sociais no ciberespaço
ABSTRACT
Temas como
"inteligência emergente" (Steven Johnson), "coletivos inteligentes"
(Howard Rheingold), "cérebro global" (Francis Heylighen), "sociedade da
mente" (Marvin Minsk), "inteligência conectiva" (Derrick de Kerckhove),
"redes inteligentes" (Albert Barabasi), "inteligência coletiva" (Pierre
Lévy) são cada vez mais recorrentes entre teóricos reconhecidos. Todos
eles apontam para uma mesma situação: estamos em rede, interconectados
com um número cada vez maior de pontos e com uma freqüência que só faz
crescer. A partir disso, torna-se claro que podemos hoje compreender
muito melhor a atividade de uma coletividade, a forma como
comportamentos e idéias se propagam.
Temas como "inteligência emergente" (Steven
Johnson), "coletivos inteligentes" (Howard Rheingold), "cérebro global"
(Francis Heylighen), "sociedade da mente" (Marvin Minsk), "inteligência
conectiva" (Derrick de Kerckhove), "redes inteligentes" (Albert
Barabasi), "inteligência coletiva" (Pierre Lévy) são cada vez mais
recorrentes entre teóricos reconhecidos. Todos eles apontam para uma
mesma situação: estamos em rede, interconectados com um número cada vez
maior de pontos e com uma freqüência que só faz crescer. A partir disso,
torna-se claro que podemos hoje compreender muito melhor a atividade de
uma coletividade, a forma como comportamentos e idéias se propagam, o
modo como notícias afluem de um ponto a outro do planeta etc.
Essa interconexão generalizada entre as pessoas tem
chamado a atenção de muitos teóricos sobre seus efeitos no quadro de
decisões individuais e igualmente na forma como os coletivos se
comportam quando se constituem como redes de alta densidade (Rheingold,
2002; Lévy, 2001; Johnson, 2001). Decisões individuais e coletivas
parecem estar chamando a atenção não apenas dos interessados de sempre –
os que trabalham com marketing – mas também dos estudiosos de redes
sociais, dos sociólogos, antropólogos do virtual, dos ciberteóricos, dos
especialistas em gestão do conhecimento e da informação, enfim, de
todos aqueles que pressentem que há algo de novo a ser investigado, que a
interação coletiva pode ser compreendida dentro de uma certa lógica,
dentro de certos padrões.
É importante salientar que todo tipo de grupo, comunidade, sociedade é fruto de uma árdua e constante negociação
entre preferências individuais (Arrow, 1970). Exatamente por isso, o
fato de estarmos cada vez mais interconectados uns aos outros implica
que tenhamos, de algum modo, que nos confrontar com nossas próprias
preferências e sua relação com aquelas de outras pessoas. E não podemos
esquecer que tal negociação não é nem evidente nem tampouco fácil. Além
disso, essa discussão não deixa de envolver outros aspectos que hoje
mobilizam os teóricos do ciberespaço como, por exemplo, o problema da
captação da atenção dos usuários em rede (Davenport & Beck, 2001;
Costa, 2002), a técnica de sugestões dos agentes inteligentes (Maes,
1997; Bradshaw, 1997) ou das comunidades virtuais (Rheingold, 1996), o
problema da decisão ou da escolha (Stefik, 1999), e os riscos que isso
muitas vezes implica. Todos esses aspectos parecem ter como pano de
fundo a negociação das preferências individuais e sua posição no
coletivo. Lembrando que, via de regra, as preferências ditas
"individuais" são na verdade fruto de uma autêntica construção coletiva,
num jogo constante de sugestões e induções que constitui a própria
dinâmica da sociedade.
É nessa perspectiva que nos perguntamos a
respeito da inteligência coletiva e de seu papel nas reflexões sobre
comunidades e grupos, tanto virtuais quanto locais. Cabe salientar que o
sentido que atribuímos aqui à inteligência coletiva é o de potencial de uma população, sua disponibilidade
para a ação coletiva. A cartografia dessa inteligência ou disposição
seria a fotografia simultanea do potencial de interação de um grupo ou
comunidade e de seu respectivo ecossistema de idéias. E se a
inteligência individual requer certas condições para fluir em
cada um de nós (como, por exemplo, a saúde física, criação familiar e
situação afetiva), também a inteligência coletiva deve requerer outras
condições para afluir entre os indivíduos. Como sugere Pierre
Lévy (Lévy, 2004), essas condições poderiam ser dadas pela situação do
capital social, cultural e tecnológico de uma coletividade. Nesse
sentido, o potencial de interação entre os indivíduos (capital social)
constituiria um dos índices de referência para se compreender a forma de
propagação das idéias (capital cultural) através de uma infraestrutura
de comunicação (capital tecnológico) no interior de uma comunidade, e
seu conseqüente desdobramento ou não em ações coletivas inteligentes.
Por outro lado,
devemos lembrar que as inteligências individuais parecem não se
prolongar naturalmente numa inteligência coletiva. O fato de indivíduos
estarem em grupo não significa que haverá entre eles uma tal sinergia de
idéias que resulte numa ação conjunta. Essa é a razão de nosso
interesse específico no campo da ação coletiva, pois ela é a expressão
genuína de uma inteligência afluente, que também chamamos de ação
coletiva inteligente. Howard Rheingold, por exemplo, narra em seu último
livro, Smart Mobs, como o recente movimento social nas
Filipinas, que depôs o então presidente Estrada, resultou da
inteligência afluente da população. No dia do julgamento do processo de impeachment
do presidente, mensagens enviadas através de celulares conseguiram
mobilizar em questão de minutos mais de um milhão de cidadãos diante do
Congresso. É válido dizer que esse movimento de confluência de pessoas
numa direção física foi também acompanhado por um fluxo de inteligência
afluente, que se traduziu na percepção pública da força de uma idéia,
capaz de mobilizar a tantos de forma consciente (1).
A inteligência afluente é aquela que permite ao coletivo lidar com o
imprevisto, que lhe dá flexibilidade na ação. Mas qual o potencial de
inteligência de um determinado grupo, comunidade, nação? Seria possível
mensurar essa disposição para a ação inteligente em conjunto?
Esses são apenas alguns dos aspectos que apontam para uma espécie de assimetria
entre a dimensão do indivíduo (com suas preferências, interesses,
inteligência) e aquela do coletivo, onde os indivíduos são convocados a
agir, decidir, adotar comportamentos não apenas em função de si mesmos,
mas também conjuntamente. Conhecer uma delas não necessariamente nos
garante compreender a outra. Vencer essa distância é o que deve
mobilizar parte de nossos esforços para entender e atuar em projetos que
envolvam redes sociais e que dependem, portanto, do engajamento efetivo
das pessoas.
Compreendendo as mentes coletivas virtuais
Já em 1993, Howard Rheingold, em seu livro Comunidade Virtual,
percebeu que as comunidades virtuais são lugares onde as pessoas se
encontram mas são, igualmente, um meio para se atingir diversos fins.
"As mentes coletivas populares e seu impacto no mundo material podem
tornar-se uma das questões tecnológicas mais surpreendentes da próxima
década", antecipava. Na verdade, a idéia de uma mente ou uma
inteligência coletiva mediada por computadores não chega a ser uma
novidade. Em 1976, o pesquisador americano Murray Turoff, idealizador do
sistema de intercâmbio de informação eletrônica (EIES), considerado o
ponto de partida das atuais comunidades online, prenunciava que
"a conferência por computador pode fornecer aos grupos humanos uma forma
de exercitarem a capacidade de ‘inteligência coletiva’ (...) um grupo
bem sucedido exibirá um grau de inteligência maior em relação a qualquer
um de seus membros" (Rheingold, 1996, cap. 4).
Turoff visualizou as comunidades virtuais e o
potencial de inteligência coletiva que elas envolviam, mas Rheingold
percebeu nelas uma relação mais profunda, motivado em especial pela
questão do excesso de informação. Com efeito, um dos problemas da rede,
em sua visão, era o da "oferta demasiada de informação e poucos filtros
efetivos passíveis de reterem os dados essenciais, úteis e do interesse
de cada um". Rheingold estava atento ao fato de que os programadores se
esforçavam para desenvolver agentes inteligentes que realizassem a busca
e filtragem de informação, poupando o usuário "da terrível sensação
causada pelo fato do conhecimento específico procurado estar enterrado
em 50 mil páginas de informação recuperadas". "Mas já existem", dizia,
"contratos sociais entre grupos humanos – imensamente mais sofisticados,
embora informais – que nos permitem agir como agentes inteligentes uns
para os outros" (Rheingold, 1996, cap.4).
Isso, de certa
forma, ampliava o conceito de mente coletiva, pois não se tratava
apenas, como imaginava Turoff, de resolver problemas em conjunto, em
grupo, coletivamente, como o fazem as colônias de formigas. Ao
contrário, a idéia de mente coletiva que mais seduzia Rheingold era a de
um grupo estimulado a trabalhar em função de um indivíduo, dos
benefícios mais claros e palpáveis que ele pudesse vir a obter. Ele nos
lembra que as comunidades virtuais abrigam um grande número de
profissionais que lidam diretamente com o conhecimento, o que faz delas
um instrumento prático potencial. "Quando surge a necessidade de
informação específica, de uma opinião especializada ou da localização de
um recurso, as comunidades virtuais funcionam como uma autêntica
enciclopédia viva. Elas podem auxiliar os respectivos membros a lidarem
com a sobrecarga de informação" (Rheingold, 1996, cap. 4). Em suma, é no
horizonte do excesso de informação que encontramos as comunidades
virtuais, funcionando como verdadeiros filtros humanos inteligentes. A
estratégia de fornecimento e utilização de informação através do
ciberespaço seria, na visão de Rheingold, uma maneira extraordinária de
um grupo suficientemente grande e diversificado de indivíduos conseguir
multiplicar o grau individual de seus conhecimentos (2).
Mais recentemente, Pierre Lévy tem defendido a
participação em comunidades virtuais como um estímulo à formação de
inteligências coletivas, às quais os indivíduos podem recorrer para
trocar informações e conhecimentos (Lévy, 1998, 1999, 2001 e 2002).
Fundamentalmente, ele percebe o papel das comunidades como o de filtros
inteligentes que nos ajudam a lidar com o excesso de informação, mas
igualmente como um mecanismo que nos abre às visões alternativas de uma
cultura. "Uma rede de pessoas interessadas pelos mesmos temas é não só
mais eficiente do que qualquer mecanismo de busca", diz ele, "mas
sobretudo do que a intermediação cultural tradicional, que sempre filtra
demais, sem conhecer no detalhe as situações e necessidades de cada um"
(Lévy, 2002). Lévy está profundamente convencido, da mesma forma que
Rheingold, de que uma comunidade virtual, quando ela é convenientemente
organizada, representa uma importante riqueza em termos de conhecimento
distribuído, de capacidade de ação e de potência cooperativa.
Já Steven Johnson, jornalista e escritor, afirma em seu recente livro, Emergence,
que os seis últimos anos da Web foram de pseudo-interatividade, e que
finalmente o ciberespaço começa a nos oferecer aquilo que foi sua
promessa original: alimentar uma inteligência coletiva pela conexão de
todas as informações do mundo. "Podemos ver os primeiros anos da web",
diz ele, "como uma fase embrionária, evoluindo através de seus
antepassados culturais: revistas, jornais, shoppings, televisões etc.
Mas hoje já há algo inteiramente novo, uma espécie de segunda onda da
revolução interativa que a computação desencadeou: um modelo de
interatividade baseado na comunidade, na colaboração muitos-muitos"
(Johnson, 2001).
Johnson não desconhece o antigo e longo percurso de
comunidades como a WELL, considerada por Rheingold como um autêntico
filtro comunitário inteligente. Mas o que ele tem em mente aqui são as
consequências da intervenção cada vez mais ampla e complexa dos agentes
inteligentes nas relações entre os membros de comunidades virtuais. Ele
está interessado, acima de tudo, na performance dos filtros atuais, que
aumenta na medida em que há um incremento do número de usuários e de
informações. Isso quer dizer que os agentes e filtros colaborativos
tornam-se mais espertos e úteis na medida em que mais informações e
indivíduos fluem através deles.
Um bom exemplo disso são os softwares de tecnologia
P2P, concebidos para permitir às pessoas trocar músicas, imagens e
arquivos entre si através da rede. Nesse caso, quanto maior o número de
usuários e de documentos disponíveis no sistema, melhor é o desempenho
dos softwares e, em consequência, maiores são os benefícios para cada
membro da rede.
Mas que tipo de mente, afinal de contas, deveríamos atribuir às comunidades on-line?
Há algumas iniciativas que alimentam interpretações mais utópicas, e
que levam as pessoas a duvidarem da possibilidade de uma inteligência ou
mente coletiva. Trata-se daquelas que pressupõem graus elevados de
sacrifício dos membros em função de algum objetivo ou causa maior. Com
idéias formigando de todo lado, os indivíduos vão engendrando uma obra
com a sinergia de suas inteligências ou de suas ações. Um dos raros
casos conhecidos desse gênero na rede, e aliás com um sucesso
extraordinário, é o do sistema operacional Linux, a melhor prova de
resultados dessa autêntica espécie de mente coletiva. Mas a WELL também
provou que uma comunidade on-line pode socorrer um membro doente
num país distante, mobilizando recursos financeiros e humanos em
pouquíssimo tempo (Rheingold, 1996).
A segunda maneira de se interpretar uma inteligência
coletiva é entender uma comunidade virtual como um excelente filtro
inteligente que pode ser consultado por qualquer um a qualquer momento.
Aqui encontramos a idéia de compartilhamento de recursos, conhecimentos,
informações etc. E da mesma forma que no gênero anterior de mente
coletiva, aqui também conta o grau de reciprocidade na rede, a
capacidade de interação de cada um (capital social) e a fluidez
permitida pela infraestrutura de comunicação (capital tecnológico).
Haveria ainda um outro aspecto importante a ser ressaltado, que é o
capital cultural de uma coletividade. Entendemos por capital cultural o
ecossistema de idéias que alimenta os indivíduos e o coletivo, e que
permite que o capital social possa se incrementar e que os limiares de
inovação possam ser vencidos. Ele se traduz como a memória cultural de
uma população, incluindo museus, redes de bibliotecas, editoras,
arquivos, centros de documentação e toda instituição que colabore nesse
processo de registro. O ciberespaço, por sua vez, deve ser considerado
como um lugar de convergência dessa memória cultural. O papel
fundamental das hipermídias, no caso dos estudos sobre inteligência
coletiva, é permitir o estudo das representações semânticas da memória
de uma comunidade, reunindo tanto documentações em banco de dados quanto
informações no ciberespaço. O mapeamento da rede semântica de uma
população é um dos requisitos para que possamos compreender seu
potencial de ação coletiva inteligente. A troca e circulação de idéias
alimentam o capital cultural e também o capital social.
É fácil perceber por que as redes digitais são
hoje um fator chave para a compreensão da inteligência coletiva e de sua
evolução. Testemunhos como os de Howard Rheingold, por exemplo, vêm
comprovando que a sinergia entre as pessoas via web, dependendo do
projeto em que estejam envolvidas, pode ser multiplicada com enorme
sucesso. As diversas formas de comunidades virtuais, a estratégia P2P,
as comunidades móveis, a explosão dos blogs e wikis, a recente febre do
orkut são prova de que o ciberespaço constitui um fator crucial no
incremento do capital social e cultural disponíveis (Rheingold 2002,
Costa 2002).
Junte-se a isso a
possibilidade real de se mensurar e cartografar a atividade coletiva por
meios digitais, quer seja de forma direta com pesquisas on-line, de forma indireta via agentes inteligentes ou ainda de forma concedida via tracking. Atualmente, são várias as análises de redes sociais que se valem da Internet para realizar mapeamentos e pesquisas (3).
Esse aspecto foi também decisivo para a elaboração do
projeto da inteligência coletiva proposto por Pierre Lévy e que está
inserido na vertente da cartografia baseada em softwares de rede. Como
salientamos anteriormente, Lévy conceitua a inteligência coletiva como
um jogo entre o capital social, cultural e técnico de uma comunidade
(Lévy, 2004). De forma diferente, Michel Authier vem propondo também uma
cartografia dos coletivos inteligentes, mas baseada na própria dinâmica
dos indivíduos, em sua micropolítica, e acompanhada de análises
importantes sobre a ação coletiva e a formação de comunidades (Authier,
1998).
Não se pode deixar de mencionar, igualmente, o enorme
esforço de construção de uma teoria das redes empreendido por vários
teóricos da atualidade, e que tem como um dos inspiradores mais
conhecidos a figura do psicólogo americano Stanley Milgram. Lembremos
que, nos anos 60, Milgram propôs uma descrição sobre a rede de conexões
interpessoais que ligam os indivíduos numa comunidade (Milgram, 1967).
Sua hipótese impulsionou as formulações matemáticas de Duncan Watts e
Steven Strogatz sobre a teoria do "mundo pequeno" e a dinâmica coletiva
em rede (teoria dos seis graus de distância ou seis passos) (Watts &
Strogatz, 1998). Também o físico Albert-László Barabási tem se
destacado por suas pesquisas sobre o papel que os nós "especialistas"
(hubs) desempenham nas redes em geral e no ciberespaço em particular. Da
mesma forma que Rheingold, Barabási tem se referido com frequência a
uma sociologia de afluência na web, promovida pela forma como os links
entre páginas se estabelecem (Barabási, 2003). Essa relação entre a
sociologia e a teoria das redes tem motivado inúmeras pesquisas, como
nos mostra Mark Buchanan, que em seu livro Nexus estabelece uma
série de associações entre os trabalhos de Granovetter e Fukayama, por
exemplo, e as teses matemáticas de Watts e Strogatz (Buchanan, 2002).
Dentro do novo contexto de expansão das redes
digitais, nota-se que os desafios colocados pela assimetria na relação
indivíduo/grupo, à qual nos referíamos mais acima, apesar de
persistirem, podem ser tratados segundo novas abordagens e metodologias.
Isso inclui, por exemplo, a possibilidade de cartografias dinâmicas do
capital social e cultural de uma comunidade, o levantamento dos limiares
de decisão dos membros de um coletivo, o estímulo à formação de redes
de contatos etc. Com a nova cultura do ciberespaço a assimetria
indivíduo/grupo ganhou em complexidade, o que requer novas investigações
dentro de uma perspectiva científica.
De qualquer modo, o caminho adotado aqui destaca o
fato de que indivíduos devem negociar suas preferências pessoais no
momento em que estão em grupo, em sociedade. A grande aposta que
fazemos, dentro do cenário atual da ciber sociedade, é que será possível
desenvolver modelos que possam nos explicar de que forma se dá essa
negociação e de que maneira seria possível interferir em seu jogo.
- Albert-László Barabási, LINKED: The New Science of Networks, Plume Books, 2003
- Amy Jo Kim, Community Building on the Web. Berkeley: Peachpit Press, 2000.
- Cliff Figallo, Hosting Web Communities: building relationships, increasing customer loyalty, and maintaining a competitive edge. Nova Iorque: Wiley Computer Publishing, 1998
- Derrick de Kerckhove, Connected intelligence. Toronto: Somerville House, 1997.
- Duncan Watts and Steven Strogatz, "Collective Dynamics of ‘Small-World’ Networks", Nature 393 (1998).
- Howard Rheingold, "Mobile Virtual Communities". Em: www.rheingold.com, 09/07/2001.
- Howard Rheingold, Smart mobs: the next social revolution, Perseus, 2002.
- Howard Rheingold, A Comunidade Virtual. Lisboa: Gradiva, 1996.
- Jeffrey M. Bradshaw (org.), Software Agents. Massachusetts: MIT Press, 1997.
- Keneth Arrow, Social Choice and Individual Value, Yale U. Press, 1970.
- Levine, Locke, Searls e Weinberger, Cluetrain- Manifesto. Para uma economia digital. São Paulo: Campus, 1999.
- Mark Buchanan, Nexus: small worlds and the groundbreaking theory of networks, Norton, 2002.
- Mark Stefik, "Focusing the Light: Making Sense in the Information Explosion". Em: The Internet Edge. Massachusetts: MIT Press, 1999.
- Michel Authier, Pays de Connaissances. Paris: Rocher, 1998.
- Pattie Maes, "Agents That Reduce Work and Information Overload". Em: Jeffrey M. Bradshaw (org.), Software Agents. Massachusetts: MIT Press, 1997.
- Pierre Lévy, Cyberdémocratie. Paris: Odile Jacob, 2002.
- Pierre Lévy, A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 1998.
- Pierre Lévy, Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
- Pierre Lévy, A Conexão Planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. São Paulo: Editora 34, 2001.
- Pierre Lévy, www.collectiveintelligence.info/documents, 2004.
- Rogério da Costa, A Cultura Digital, Publifolha, 2002.
- Stanley Milgram, "The Small-World Problem", Psychology Today 1 (1967)
- Steven Johnson, Emergence: the connected lives of ants, brains, cities, and software. Nova Iorque: Scribner, 2001.
- Steven Johnson, Cultura da Interface. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
- Thomas Davenport e John Beck, A economia da atenção. São Paulo: Campus, 2001.
[1]
- Movimentos desse gênero são bem diferentes da ação coletiva de um
exército, por exemplo, que tem suas ações espaciais determinadas pela
forma altamente hierarquizada de sua organização. Esse tipo de formação
dificulta a circulação de idéias e a conseqüente inteligência coletiva
que daí possa afluir.Pode-se dizer que um exército possui ação
organizada, mas não ação coletiva (exceção aos grupos de combate e
também aos movimentos de guerrilha).
[2]
- Rheingold atesta, contra os incrédulos que desconfiam desse tipo de
troca de conhecimentos e informações, que "na comunidade virtual que
melhor conheço, o conhecimento bem apresentado é uma valiosa moeda de
troca (...) Quem fornece respostas rigorosas e bem escritas ganha
prestígio ante toda a audiência virtual. Os especialistas entram em
competição para a resolução dos problemas". Sobre como construir
comunidades virtuais, vide Amy Kim, 2000 e Cliff Figallo, 1998.
[3] - Pode-se consultar por exemplo os sites Social Network Analysis e Cyberatlas.
Rogério da Costa
rogcosta@pucsp.br
http://br.monografias.com/trabalhos/inteligencia-coletiva-redes-sociais-ciberespaco/inteligencia-coletiva-redes-sociais-ciberespaco.shtml
*link já postado em 2010 neste blog:
http://sarauxyz.blogspot.com.br/2010/06/inteligencia-coletiva-cartografando-as.html
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Pierre Lévy: a inteligência coletiva e os espaços do saber
Artigo por Roberto Carlos Farias de Oliveira - quinta-feira, 17 de abril de 2014
O futuro do pensamento na era da informática
PIERRE LEVY: IDEIAS E PRODUÇÕES
Em um breve contexto biográfico desse filósofo pode-se ressaltar que concentrou suas pesquisas especificamente na área da cibernética e da inteligência artificial. Como professor da Universidade de Quebec, em Montreal, no Canadá (1980), buscou analisar qual era a função dos computadores no processo de comunicação. Sempre envolvido nesse campo do conhecimento foi nomeado gestor do departamento de comunicação desse campus. Depois, na França, especializou-se em investigar as relações entre a Internet e a esfera social, onde foi professor de Ciências Educacionais na Universidade de Paris-Nanterre até 1992. Em seus estudos Lévy aborda especificamente o papel das tecnologias na esfera da comunicação e o modo como influem na evolução da cultura em geral.
Com suas publicações A Máquina Universo – criação, cognição e cultura informática (1987), As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática (1990) e com a divulgação, em 1994, de um mecanismo criado junto com Michel Authier, intitulado ‘árvore de conhecimento’ – um sistema composto por um software de cartografia que, através da troca de informações entre comunidades, produz uma enciclopédia virtual em constante transformação – começa a divulgar suas ideias e a ser mais conhecido. Atua em 1993 como professor no Departamento de Hipermídia da Universidade de Paris, em St-Denis e de 2002 em diante assume como titular da cadeira de pesquisa em inteligência coletiva, na Universidade de Ottawa, no Canadá. O filósofo é também integrante da Sociedade Real do Canadá (Academia Canadense de Ciências e Humanidades). Seus textos abordam temas como a exclusão do universo digital, a Internet, as novas tecnologias da comunicação e o futuro da humanidade em meio a esse processo de contínua digitalização em que está imersa.
A INTELIGÊNCIA COLETIVA: POR UMA ANTROPOLOGIA DO CIBERESPAÇO
O presente artigo refere-se a sua obra A Inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço (1994), em que produz reflexões sobre o impacto das tecnologias sobre a sociedade, além de enfatizar a capacidade de os novos meios de comunicação permitirem aos grupos humanos compartilhar suas ideias.
Lévy trabalha com dois conceitos importantes: inteligência coletiva e ciberespaço. No que tange à inteligência coletiva, defende que todos os indivíduos têm a sua própria inteligência acumulada em suas vivências pessoais e que deve ser respeitada por isso. Reitera que ela serve como um modo de interação social, por ser capaz de criar uma espécie de democracia em tempo real, dadas as suas constantes possibilidades de interação entre os pares. E com relação ao conceito de ciberespaço salienta que, muito mais que um meio de comunicação ou mídia, trata-se de um espaço de reunião de uma infinidade de mídias e interfaces, que podem ser encontradas tanto nas mídias como: jornal, revista, rádio, cinema, tv, bem como mais diferentes interfaces que permitem a interação ao mesmo tempo ou não, como os chats, os fóruns de discussão, os blogs, entre outros.
A partir desses conceitos, o ciberespaço apresenta-se como o local onde a inteligência coletiva se forma por conta da interação entre as pessoas que, como sujeitos individuais que são, promovem o intercâmbio de ideias por meio de comunidades virtuais, cujo objetivo maior está em promover amplas conexões entre seus participantes. O que resulta disso é a transmissão e a construção de ideias que acaba por criar um outro conceito: o da cibercultura – um movimento social e cultural que estabelece uma relação nova com o conhecimento e o saber, ou seja, apresenta novas formas e possibilidades de se aprender e ensinar, retirando-as dos campos comuns da realidade. E é esse espaço, onde a interação acontece, que acaba por promover implicações e mudanças nos conceitos de arte, na organização de espaços e de territórios, nos limites entre o individual e o coletivo, enfim. Como resultado disso, temos questionamentos no mundo real no que tange à formação e à educação do indivíduo: Como dar-se-á a educação nesse espaço? O que se ensina? O que se aprende? Como se avalia? Quem orienta? Quem ensina e quem aprende? São questões a serem pensadas em relação a esse espaço virtual que não pode ser negado nem ignorado porque já faz parte da realidade.
Lévy, entendendo o ciberespaço com um fato concreto na contemporaneidade, prova que é possível aprender e ensinar a partir dele, ou seja, a interação entre os usuários desse espaço é capaz de fazer com que eles não só adquiram conhecimentos, como também compartilhem-nos. Trata-se de uma ação recíproca. E essa ação faz repensar os moldes atuais de educação que precisa reestruturar-se para dar conta de inserir o aluno e os meios virtuais/tecnológicos em sala de aula como aliados ao aprendizado.
O autor defende que a inteligência coletiva não se limita apenas à exposição do conteúdo e ao retorno disso, através de um forum ou chat, mas num sentido mais amplo ela se representa principalmente a capacidade de reconhecer o outro como um sujeito dotado de inteligência, como um ser que possui um conhecimento potencializado. A partir disso, os mais diferentes saberes buscam-se em complementaridades, e cada indivíduo envolvido nesse processo, não deve discriminar alguém devido a sua condição social, civil, sexual, uma vez que admite seus conhecimentos e saberes individuais como resultado de sua formação. Ao se reconhecerem dessa maneira, a prática da ideia de inteligência coletiva pode levar a uma melhor comunicação entre os indivíduos, bem como a uma maior compreensão do outro enquanto ser inteligente, porque cada um possui o que ele chama de savoir-faire (saber fazer): um conhecimento seu que, compartilhado, traria benefícios às diferentes áreas da vida humana. É uma forma de valorizar o outro e valorizar-se para juntos promoverem o crescimento do todo.
A princípio levantou-se um questionamneto a respeito do fato de existirem diferentes línguas e que isso poderia ser prejudicial a esse processo. Felizmente, com os avanços tecnológicos, empregando ferramentas capazes de traduzir diferentes idiomas, os usuários do ciberespaço acabaram por romper com essa dificuldade, tendo cada vez mais acesso aos diferentes mundos dentro do espaço virtual. Dessa forma, a aprendizagem não seria processada em um movimento uniforme e retilínio, mas acima de tudo num movimento espiral.
OS QUATRO ESPAÇOS DO SABER ANTROPOLÓGICO
No capítulo 7, Lévy analisa o conceito de inteligência coletiva a partir do que considera os quatro espaços antropológicos do saber, que são: a Terra, o Território, o Espaço das mercadorias e o Espaço do saber.
Com relação à Terra, pontua que ela, sendo o primeiro espaço ocupado pela humanidade, é também um mundo de significados que começa no período do Paleolítico com a aquisição da linguagem, com o desenvolvimento dos processos técnicos e das instituições sociais. Ela é o espaço da existência humana, uma espécie de cosmos onde os seres humanos estão em permanente contato com os demais seres. É o lugar das metamorfoses.
Já em relação ao Território, Lévy enfatiza como a dominação dos espaços pelo homem e sua fixação neles impulsiona o ato de domesticar e criar animais, a prática da agricultura, a constituição de cidades, tornando-o sedentário. Embora tudo isso aconteça em momentos distintos na terra, quando os homens interagem entre si, adquirem uma força capaz de ampliar esses espaços, cada um contribuindo com seus conhecimentos. Se por um lado isso impulsiona a civilização, por outro faz surgir conflitos e guerras em função desses territórios disputados pelos seus bens e suas riquezas.
O terceiro espaço antropológico é o das mercadorias, impulsionado pela invenção das moedas e do alfabeto. Em seguida, temos a produção de produtos manufaturados ao longo das invenções e das revoluções industriais, repleto do máquinas, de fumaças, de capitalismos e explorações do homem pelo próprio homem. É o homem que se move rapidamente em direção ao progresso em suas redes de invenções e descobertas através de lutas intensas. Com isso, o espaço das mercadorias toma o espaço dos territórios e o capitalismo com todas as suas produções influencia o pensar e o agir do homem, levando-o à busca incessante de conhecimento e de realizações, cruzando fronteiras em busca de outros territórios e de outras vidas. Esse espaço, segundo ele, sempre vai existir, assim como a Terra e os Territórios, e abre outro espaço capaz de dar conta de tudo isso: o espaço do saber.
Enfim, o quarto espaço antropológico é o do conhecimento que se expande a cada dia. E o que é o conhecimento? Lévy ressalta que não é apenas o conhecimento científico recente, raro e limitado, mas todas as espécies de conhecimentos apreendidos pelo homo sapiens. É aquele saber que o ser humano adquiriu em sua relação consigo mesmo, com o outro, com as coisas, com os sinais, com o cosmos, aquele comprometido com qualquer atividade que produza aprendizagem. Trata-se de um espaço virtual, porque não existe enquanto espaço físico determinado: ele se torna real quando se dão as relações com o outros indivíduos, num movimento contínuo de compor e recompor ideias, num processo de assimilação e de interação do pensamento. Para Lévy, esse espaço torna-se virtual por causa das mudanças que são feitas nos meios de difusão de ideias e pensamentos, no universos virtuais chamados ciberespaços.
Enfim, esses quatro espaços do saber, vão se refinando com o tempo, e por isso atualizam-se constantemente. Considerando a Terra como a estrutura básica geral, o Território como a parte perceptível para o indivíduo, o Espaço das Mercadorias como o lugar das materalidades dos objetos, Lévy nos aponta o Espaço do Saber, como o lugar virtual do conhecimentos, que dar-se-ão a partir da interação entre os usuários desse espaço nesses tempos atuais em que vivemos. Vale ressaltar que esses espaços não se excluem, mas continuam coexistindo de forma intercalada sincronicamente. Além disso, cada um deles, apesar de não se misturarem em suas especificidades, são muito bem definidos quanto ao tratamento de tudo que se passam por eles.
CONCLUSÃO
A partir dos conceitos de inteligência coletiva e de ciberespaço, Pierre Lévy antecipa em sua obra de 1994, muitas informações e ideias que se concretizaram com o tempo e com a evolução das ciências da computação e dos recursos tecnológicos através da informática. Ele antecipou realidades – como a dos cursos a distância pelos meios virtuais, dos seminários via satélite, dos chats e das redes sociais – que buscam promover a cada dia mais a interação entre os homens, e consequentemente a troca de informações de de conhecimentos.
A ideia de inteligência coletiva começa a ser difundida e está a cada dia mais ganhando raizes em nossa sociedade que se encontra totalmente interligada em redes. Todos querem navegar e viajar por “mares nunca de antes navegados”, como escreve Camões em Os Lusíadas. Agora, os limites estão sendo questionados e as distâncias encurtadas pela tecnologia. O homem compartilha, socializa, expressa, grita, promove, questiona tudo em rede e embora esteja afastado geograficamente, suas palavras sempre encontram respaldos em outros olhos que lendo sua mensagem, comungam de tais ideias e as compartilham. O homem não mais ficará só, ainda que longe dos seus, porque o ciberespaço é o seu lugar, a sua nova morada, a sua terra firme, ainda que virtual.
Lévy mostrou-sem bem otimista em relação a isso. E ele estava certo: as sociedades compartilham seus conhecimentos, o homem interage com o outro ampliando ainda mais o conceito de inteligência coletiva, principalmente, através da interação com o outro seja olho no olho ou pelos meios digitais.
BIBLIOGRAFIA
LÉVY, P. Inteligencia Colectiva: por uma antroplogia del ciberespacio. Bibioteca Virtual em Salud, BIREME – OPS – OMS. Washington, 2004.
CAMÕES, Luis Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em bibvirt@futuro.usp.br.
*Mestrando em Ciências da Educação, na UNINORTE, Paraguai.
http://www.portaleducacao.com.br/marketing/artigos/56040/pierre-levy-a-inteligencia-coletiva-e-os-espacos-do-saber
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