Ex-diretor do maior manicômio do RJ, acusado de violar direitos humanos, é nomeado como novo coordenador nacional de Saúde Mental
Valencius é um psiquiatra que dirigiu um dos piores hospitais psiquiátricos da história da América Latina – o maior manicômio do Estado do Rio de Janeiro: Eiras de Paracambi, fechado, em 2012, por violação de direitos humanos, após várias intervenções federais e estaduais. Valencius é conhecido por ser defensor de hospitais psiquiátricos no estilo de “prisões”, como são hospitais de filmes de ficção científica ou terror.
O atual coordenador nacional de Saúde Mental do Brasil é Roberto Tykanori. Os cartazes levantados nos protestos diziam, dentre outras coisas: “Fica Tykanori”, “Internação não é a solução! Sou a favor da ressocialização na sociedade!”, “Manicômio nunca mais!”, “Todo manicômio cairá”, “Ao sofrimento humano não se responde com enclausuramento!”, “Fechem as portas dos hospícios e abram as do coração!”, “Não fechem o Caps!”, “Stop retrocesso”. Os cartazes também tinham depoimentos de pacientes, dentre eles o de Edmilson, que contou: “Quando eles me internam, eles me batem. Ficava em jaulas”.
Em 2000, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados constatou, no manicômio dirigido por Valencius, uma prática sistemática de eletroconvulsoterapia e pacientes sendo mantidos nus e sem alimentação ou recebendo alimentação de péssima qualidade. Além disso, Valencius manteve, no Eiras de Paracambi, muitas pessoas internadas durante um longo período de tempo. Basicamente, um cativeiro.
Em 1995, Valencius criticou o projeto de lei que acabava com os manicômios, dizendo que o projeto de lei era baseado numa questão ideológica e não técnica. Alguns órgãos nacionais de Psicologia repudiam a nomeação de Valencius como o novo coordenador nacional de Saúde Mental, por, dentre outros motivos, a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) ter defendido a progressiva substituição dos manicômios por uma série de serviços territorializados e articulados em rede.Em Campos-RJ, muitas pessoas receberam bem o protesto, que aconteceu no centro da cidade. Mas a maioria das pessoas que passaram pelo local se mostraram indiferentes, fechando os vidros dos carros para não precisar pegar, com os manifestantes, os panfletos que continham informações sobre o protesto e sobre o panorama triste da saúde mental no país.
Defendemos uma reforma psiquiátrica antimanicomial e repudiamos a nomeação de Valencius como o novo coordenador de Saúde Mental. O hospital dirigido por ele já teve dois mil internos, que vivenciaram muitas histórias de maus-tratos, de violação dos direitos humanos. Isso foi contra a lei da reforma psiquiátrica (lei número 10.216/2001). Essa nomeação, feita pelo ministro da Saúde, é um grande retrocesso, diante dos difíceis avanços que temos tido, nas últimas décadas, da implantação de uma rede de cuidados em liberdade, da atenção à família e outras conquistas - disse a militante Luana da Silveira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário