https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Francesco_Salviati_005.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Kair%C3%B3s
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cronos
bons tempos em 2016, é o que espero pra mim e pra todos, bons tempos...aqueles que são os mais importantes (Khronos e kairós, o segundo parece ser bem mais importante)...sempre o tempo do coração, o outro é sabotador.
nadia gal stabile - 21 12 2016
http://www.ijep.com.br/index.php?sec=artigos&id=67&ref=khronos-e-kairos
O Contemporâneo e o moderno - Khronos e Kairós*
khronos e kairos são
dois seres mitológicos advindos da cultura greco-romana. khronos refere-se
ao tempo de Saturno que é cronológico, quantitativo, lógico e seqüencial, o
tempo que se mede, o tempo que nos resta para a morte, o "tempo dos
homens" - que pode ser dividido em anos, meses, semanas, dias, horas, etc.
Enquanto kairos representa o tempo de Urano, um momento
indeterminado onde algo especial acontece, é a experiência do momento oportuno,
teleologicamente é usado para descrever a forma qualitativa do
tempo, o "tempo de Deus" - que não pode ser medido e, por isso mesmo,
supera o medo da morte, representado pela expressão latina: Carpe Diem.
Khronos também
é associado à figura das três Parcas ou Moiras, as
"Fiandeiras do Destino", filhas de Nyx, deusa da noite: Clotho é
a tecelã, responsável por tecer o destino com seu fuso mágico, Lachesis é
a medidora, distribui e avalia o fio da vida e Atropos é a que corta
e dá fim à vida. Ele é cíclico e representa as estações e o tempo rítmico do
Sol, entre dormir e acordar, nascer e morrer.
Kairós,
por sua vez, nos dá a capacidade artística de compreender a qualidade do tempo.
O tempo certo de cada coisa que nos possibilita transformar o presente em um
agradável presente! É simultaneamente o tempo de ter tempo, perder tempo e
correr contra o tempo. O tempo do encantamento, do Once Upon a Time -
o era uma vez dos contos de fadas. É o tempo do agora, além da ilusão do tempo
do relógio, com peso, cheiro, cor, sabor e som únicos, que nos faz re-cor-dar -
lembrar para sempre. Ou seja, gravar na memória do coração aquela experiência
que pode representar toda a existência em apenas um atmo de
tempo. Em função da existência do tempo de Kairós nenhum experimento
é passível de ser repetido nas mesmas condições. Porque cada momento é único.
Com isso, toda a base da ciência mecanicista causal fica abalada, pois por mais
que se tente controlar as variáveis, a mente dos experimentadores e do seu
entorno jamais poderá ser a mesma da época do experimento anterior!
Carl Gustav Jung (1875-1961), uma das mais vigorosas
expressões da ciência psicológica, que trabalha muito mais para e no tempo de Kairós do
que de Khronos, sempre esteve comprometido com a ampliação da
consciência do homem contemporâneo, que é menos abrangente que o homem moderno,
por não saber reconhecer e integrar seus aspectos primitivos e ancestrais
presentes na sombra individual e coletiva. Desta forma, passamos a perceber que
o homem contemporâneo, sem o engajamento com a modernidade, torna-se um ser
individualista, consumista que vai se alienando de si mesmo, tornando-se
anestesiado, apesar de normoticamente adaptado a essa sociedade doente e cada
vez mais dependente de substâncias psicoativas, lícitas ou ilícitas, e de uma
infinidade de produtos supérfluos e descartáveis, num crescente desencantamento
do mundo e dessacralização da vida!
O homem
contemporâneo, preso exclusivamente no tempo de Khronos, fica
oscilando entre as mágoas ou culpas do passado e ansiedade ou medo do futuro e
acaba, cada vez mais, angustiado com a celeridade do tempo. Devido sua
incapacidade de tirar proveito saudável e pedagógico do passado ou de fazer
planejamento com significado e sentido para sua evolução existencial. Perde-se
de si mesmo e acaba, de forma defensiva, e muitas vezes numa atitude reativa à
depressão, buscando apenas o consumo e o acúmulo material. Isso faz com que ele
confunda amor com desejo, transformando toda sua vida numa rotina de conquistas
materiais e efêmeras.
Neste sentido, ser moderno é estar alinhado com o presente, consciente
da trajetória temporal do passado rumo ao futuro, numa atitude de amor, que
deveria ser o pleno exercício da liberdade e da consciência de si mesmo, apesar
das contínuas e presentes interferências do Estado e das religiões, que nos
afastam, simultaneamente e reciprocamente destas duas conquistas!
*Waldemar Magaldi Filho,
Psicólogo, analista junguiano, mestre e doutor em ciências da religião,
professor e coordenador dos cursos de pós-graduação, lato-sensu, que
titulam e formam especialistas em Psicologia Junguiana, Psicossomática,
DAC e Arteterapia do IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa – www.ijep.com.br
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