quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

"PROFESSORES CONTRA A PAREDE" e a crítica de Ana Cristina Cesar em Escritos no Rio

 

*reencontrado a partir de postagem de 2009:

http://sarauxyz.blogspot.com.br/2009/10/entrei-no-google-procurando-algo-sobre.html

 *origem em:

http://www.jornalplasticobolha.com.br/pb17/aosalunoscomcarinho.htm

PDF - A crítica de Ana Cristina Cesar em Escritos no Rio - (SP-2007)

www.teses.usp.br/.../DISSERTACAO_CRISTIANA_TIRADENTES_BOAVENTURA...
 (...)O que nos interessa em meio a essa discussão é o texto de Ana Cristina Cesar,
“Professores contra a parede”, publicado em novembro do mesmo ano pelo jornal 

Opinião e inserido no livro Escritos no Rio. 
 O texto pondera sobre a necessidade de se discutir uma possível atitude autoritária dos 
professores da universidade, quando elegem algumas teorias
em detrimento de outras. Apesar de não nomear teorias específicas, fica sugerida sua crítica
ao estruturalismo e ao que ela chama de “forma de impor” as teorias de prestígio. Neste texto,
que reproduziremos parte no fragmento 1 mais adiante, ela dá espaço a alunos e ex-alunos de
Letras, quando transcreve um debate em que discutem a relação entre professor e aluno e a
formação acadêmica e, em defesa de uma “politização da teoria”, parte para a argumentação
de que não há produção ou produtor desvinculado de uma ideologia, pois a escolha de uma
teoria já remeteria à posição ideológica do professor.
Essa última posição remete à abordagem dessa questão feita por Antonio Candido,
presente no texto Notas de crítica literária – Ouverture. Nesse texto feito para a abertura de
sua coluna crítica, ele escreve: “(...) o que vem mostrar que a crítica parte e se alimenta de
condições personalíssimas, às quais será escusado fugir. Não há, portanto, coisa alguma que
se possa chamar de ‘crítica científica’ (...). Querer, portanto, descobrir fórmulas aplicáveis
‘objetivamente’ que dispensem os fatores estritamente individuais da personalidade do crítico
– querer criar uma técnica de crítica – é uma monstruosidade que só não é perigosa porque
não é possível” (CANDIDO, 2002, p.24). Apesar de ter sido escrito duas décadas antes do
texto de Ana Cristina, parece que a lucidez crítica do texto não vinha sendo posta em prática
em muitos dos trabalhos desenvolvidos, como havíamos notado anteriormente, já que cada
vez mais se fortificava a tendência ao cientificismo no campo das ciências humanas. No
entanto, o texto de Ana Cristina Cesar percorre a questão por um caminho que permite 

evidenciar o descompasso de suas idéias com o discurso presente em muitas das faculdades de
Letras e talvez sirva para atestar a idéia de Candido de que é elementar para o crítico a
capacidade pessoal de penetração (CANDIDO, 2002, p.24).
 
Em 1979, na primeira edição da série de cinco volumes Anos 70, o texto assinado por
Hollanda e Gonçalves (2005, p.107) resume bem a problematização das questões apresentadas
e o que isso significou no contexto acadêmico:
Os já lendários listões, a proibição da adoção de certos autores, tidos como
indesejáveis, a constante ameaça da legislação repressiva e a própria infiltração
policial, tornam extremamente penosas as condições para o trabalho intelectual,
especialmente nas áreas das ciências sociais e do homem.
(...) Abre-se um campo fértil para as abordagens tecnicistas, com boa cotação para o
behaviorismo, a economia neo-clássica, o funcionalismo norte-americano etc.
(...) Na crítica literária, especialmente na carioca, assiste-se a emergência do
estruturalismo. Lukács e Goldman dão lugar a Lévi-Strauss, ao formalismo russo e
às novas correntes do estruturalismo francês.

 
Mais especificamente sobre o Rio de Janeiro, Flora Sussekind (2004, p.51) em
Literatura e Vida Literária, publicado no ano de 1985, mostra um quadro similar ao do texto
de 1979, com ênfase na vinculação do estruturalismo lingüístico às praticas nas universidades
cariocas:
Confunde-se Lévi-Strauss com Génette e Bremond, o Estruturalismo antropológico
com o lingüístico, qualquer estudo teórico com formalismo. Confusão que, além das
críticas, impulsiona uma verdadeira “moda estruturalista” nos meios acadêmicos
mais medíocres sobretudo do Rio de Janeiro. E, nos anos 70, surge uma profusão de
trabalhos de qualidade discutível e autodefinidos como “análise estrutural de...”,
cheios de gráficos, quadros de “actantes”, linguagem pseudocientífica, repetições do
que se lera no último número da revista Poétique; e, na verdade, preocupação teórica
quase nula e descaso pelos seus eventuais objetivos de análise.
(...) No Rio de Janeiro (...) o principal objeto de estudo era a própria linguagem
literária, observada segundo métodos de análise imanente, tomados de empréstimo
sobretudo aos estudos lingüísticos.
Esses dois textos nos servem aqui para ajudar a reconstruir o espaço no qual Ana
Cristina Cesar estava estudando e trabalhando, de forma a contextualizar o momento que se
contempla. Por certo, podemos dizer que sua leitura então convivia de um lado com 

umconjunto de conhecimentos transmitidos formalmente pela universidade, pois na época ela
cursava Letras na PUC-RJ, e de outro com um debate extraclasse, travado por vezes pelos próprios alunos e professores em encontros fora da universidade, e que permitia aos estudantes se aproximarem de reflexões teóricas não disponíveis na academia. Nesse momento, ficaram conhecidas as formações de grupos para leitura e discussão de textos das diversas áreas de humanas. De concreto, diversos de seus textos críticos, como, por exemplo, o que foi divulgado durante a polêmica que citamos, atestam sua reflexão sobre o funcionamento da estrutura educacional brasileira: Trata-se portanto de deslocar o eixo do debate e passar a examinar os mecanismos de poder e de repressão que têm sido exercidos dentro da instituição e contra os quais se ouvem críticas muitas vezes desordenadas. Estas críticas não podem ser desprezadas por seu caráter, pouco estruturado ou emocional, mas consideradas como sintomas de distorções que se manifestam na universidade. É preciso acabar com a idéia de que os debates e as produções de conhecimento se desenvolvem no céu puro da verdade ou da ciência. Toda produção e toda transmissão de conhecimento estão vinculadas a uma posição ideológica e à posição de produtor dentro da instituição. Não se trata de rejeitar a possibilidade de produção teórica, ou um determinado tipo de produção teórica, mas de politizar as “teorias”, indicando os seus usos repressivos e recusando uma discussão puramente epistemológica.
 

Repressão velada

Essa politização implica, como é o caso em muitas das nossas faculdades, apontar o uso exclusivo de uma determinada abordagem que se diz mais científica e verdadeira em detrimento de outras que são marginalizadas (não por serem menos fecundas mas por não se inserirem dentro de um esquema de prestígio favorecido pela instituição). Implica também, como parece ser o caso, rejeitar a pretensão de banir da crítica literária o elemento apreciativo e ideológico (cuja presença não é incompatível com o rigor do trabalho crítico; tampouco rigor é sinônimo de formalização ou de “ciframento” da linguagem), negando agora em outro nível o mito da neutralidade ideológica do intelectual e das suas produções.
A questão se complica porque a utilização de teorias e teóricos de forma repressiva se manifesta veladamente. A repressão não funciona aqui “como um superego freudiano”, mas penetra mais profunda e sutilmente do que isso no corpo e no comportamento das pessoas, impedindo-as de encararem a questão criticamente.
(Fragmento 1: Trecho do texto Os professores contra a parede, 1975)10
(...)

 


http://www.jornalplasticobolha.com.br/downloads/pb17.pdf




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