De outro o sargento Lago, que é da Rota, faz carreira musical e chegou a cantar a "Caminhando" numa casa noturna de São Paulo, em apresentação prestigiada pelo próprio Vandré.
Ele cultiva a memória do tenente Alberto Mendes Jr., mas teve a digna postura de buscar conhecer os valores e versões do outro lado, marcando entrevistas comigo e com o Darcy Rodrigues, também veterano da VPR.
E, em terceiro lugar, evidentemente, eu mesmo: ex-guerrilheiro envolvido em episódios polêmicos do passado e hoje um defensor da memória da luta armada e dos companheiros que dela participaram.
Não concordo com você sobre a extinção da ROTA nem tampouco com todas "verdades" contidas no livro do Caco Barcelos. Estive lá e sei qual é a realidade.
Muitos daqueles mortos, sem passagem pela polícia, eram infinitamente mais nocivos a sociedade que muitos presidiários e morreram no confronto com a polícia.
Nos casos de execução policial a justiça tratou de punir os milicianos.
Quando a postura de alguns políticos, é lamentavel ver as incoerências. (16/2/10 4:42 PM)
Lago,
você tem meu respeito, como o homem civilizado que demonstrou ser.
Mas, é simplesmente inadmissível que uma unidade policial se vanglorie de haver contribuído com um golpe de estado e ainda tente justificá-lo, alegando que estaria apoiando "as Forças Armadas e a sociedade".
O pior é que foi assumido com o "Brasil de Fato" um compromisso de expurgar-se a retórica dos anos de chumbo. Há exatos 13 meses.
Não só nada foi retirado, como acrescentou-se um trecho para validar o golpe. Então, parece-me que a questão não foi de prioridade, mas sim de equívoco na escolha da prioridade.
A extinção da Rota foi pedida num editorial da grande imprensa, que eu citei na carta aberta ao Serra.
Considero que teria sido uma medida profilática no instante da redemocratização, 1985, para sinalizar à sociedade que certas práticas não seriam mais admitidas.
Não sou ingênuo e sei que passou o momento para tanto. Citei-a na carta aberta apenas para colocar diante do Serra a imensidão do abismo existente entre os ideais de outrora e o pragmatismo amoral de hoje.
Mas, da exigência de que a Rota adote uma retórica democrática na sua página virtual, em substituição à totalitária que lá está, eu não abro mão.
A Rota não pode continuar se vangloriando de haver contribuído para a derrubada de Goulart.
Nem enaltecer o próprio papel na repressão aos resistentes, omitindo que o Brasil estava sob uma ditadura que impunha o terrorismo de estado e generalizara a prática de atrocidades.
Se a Rota não tem grandeza para fazer uma autocrítica do seu papel histórico, que, pelo menos, apague as referências a episódios polêmicos. Eu me contentaria com isso.
Mas, como está, é inaceitável.
Um forte abraço! (17/2/10 10:14 AM)
Prezado Sargento Lago,
Concordo com o Lungaretti, você demonstra ser um homem civilizado e democrático (coisa raríssima no meio policial brasileiro). Será que na ROTA existem outros homems educados e civilizados como você?
Vamos lá.
A Rota nunca conseguio rebater cientificamente os números apresentados pelo Cacos Barcelos.
Alguns assassinatos denunciados no livro Rota 66 foram cometidos quando os presos já estavam dominados e deveriam ser apresentados à justiça. Como ficou provado isso? Os atestados de óbito dos mortos estão guardados e ainda podem ser consultados. Os representantes da ROTA podem ir lá verificar e constatar que estes desmentem muitos dos casos de "mortos em confrontos com a polícia".
No Brasil não existe pena de morte, logo, policial que executa um prisioneito, é também um criminoso, concorda?
A Pesquisa do Cacos foi bem fundamentada. As investigações jornalísticas foram feitas nos IML´s (Institutos Médicos Legais aí de SP), logo, a autoridade dos Legistas é a palavra final na averiguação da causa mortis de uma pessoa. Não é um policial que tem que dizser qual foi a causa da morte de uma pessia.
Muitos dos mortos investigados receberam tiros na nuca, quando os relatórios policiais relatavam mortes por atropelamento.
Para finalizar, este tema é muito caro para mim, pois demonstra o que todo mundo sabe no Brasil: as instituições policiais brasileiras ainda praticaram e ainda praticam um racismo velado na hora de efetuar as prisões injustas e assassinatos extrajudiciais.
A ROTA, foi e continua sendo o maior exemplo de autoritarismo e racismo policial aqui no Brasil.
Quanto aos textos que continuam em sua página (da ROTA) na internet louvando o golpe de 1964, é uma verdadeira vergonha, uma prova de que a ROTA não se respeita e não respeita a democracia.
A ROTA é uma instituição mantida com dinheiro do contribuinte Paulista, potanto, deve se manter dentro da Lei e do respetio às instituições democráticas. No momento a forma de governo aqui no Brasil é a democracia representativa, com eleições em todos os níveis. A DITADURA MILITAR JÁ ACABOU! ACORDA ROTA! (18/2/10 10:24 AM)
Lungaretti,
Não fui claro. Quando digo "prioridade", nas entrelinhas digo "falta de foco".
Sou defensor apaixonado da nossa corporação, porém não fecho os olhos para os absurdos por ela cometidos. Justamente por eles serem menores do que dizem.
Você já leu no meu blog o que penso sobre a repressão militar e acho um contra-senso cultuar essa história.
Ter Alberto Mendes Junior como herói não significa que temos que aceitar e justificar as torturas e arbitrariedades cometidas.
Veja bem, tanto estamos vivendo em outra época que - como policial militar que sou - posso externar abertamente a minha posição.
Mas, não se engane, ainda nos dias atuais isso nã fica impune. A diferença é que não existe a tortura física e a punição não é institucionalizada. Vem de forma velada e aleatória.
Fiz uma música e gravei no CD Profissão Coragem, chama-se "Revolução" (pode ser ouvida lá no meu blog), que diz: CALAR É IGUAL A CONCORDAR.
Então, falemos.
Grande abraço. (18/2/10 11:18 AM)
O papo foi muito esclarecedor, Lago.
Você deve ter percebido que a minha postura é a mais flexível que posso adotar, nas circunstâncias.
Não deixo de expressar meus sentimentos a respeito desses episódios passados, pois seria trair a mim mesmo e aos companheiros que sofreram/morreram.
Mas, em termos práticos, minha única exigência é de que a Rota adote uma postura mais equidistante na sua página virtual, superando a retórica dos anos de chumbo.
Numa democracia, é inadmissível que alguém se ufane de haver outrora colaborado para o êxito de um golpe de estado.
E quem resistiu a uma tirania não deve ser apresentado como criminoso comum, enquanto se omitem os crimes praticados pelos tiranos e seus esbirros, incomensuravelmente mais graves (pois estes últimos agiam em nome do Estado brasileiro).
Quanto à escolha do tenente Mendes Jr. como herói-símbolo, evidentemente não me agrada, mas eu a respeito, se reflete os sentimentos da corporação.
Democracia é isto. Todos temos de engolir um ou outro sapo, em nome da pacificação dos espíritos.
Uma boa copidescada em apenas duas retrancas da página da Rota seria suficiente para eliminar aquilo que, para quem lutou contra a ditadura, impacta como uma provocação.
Um forte abraço! (18/2/10 12:53 PM)
Prezado Ismar,
Se a Polícia Militar for rebater tudo que dizem dela não haverá tempo disponível para exercer a sua atividade fim.
Quanto as mortes da ROTA, se não for dentro da lei, compete a nossa justiça a providência.
O que devemos deixar claro é que a ROTA presta excelente serviço a população paulista. Querer extingui-la tão simplesmente porque é um órgão repressor é fortalecer nossos adversários.
Acho positivo o debate para termos uma polícia legalista, mas não podemos - por traumas do passado - generalizar a situação.
Não compreendo a sua afirmação sobre racismo na ROTA. Ele está para o Batalhão Tobias de Aguiar como está para o Brasil.
Não vou enxugar gelo. Quando procuro defender a instituição não o faço por acreditar que as denúncias sejam improcedentes, mas por ter certeza que não tem a dimensão que dão.
Agora, quanto aos textos que Lungaretti reclama (com razão), acho que esse é um ótimo momento para ser tirado, já que estão querendo mudar o nome da PM para Força Pública e dissociar a imagem da corporação do regime militar. (18/2/10 3:46 PM)
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