Como seria sua síntese sobre o livro de Bachelard, "A água e os sonhos"?
* 3 anos atrás
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Gaston Bachelard (1989), em seu livro "A Água e os Sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria", discorre sobre a imaginação que surge da própria materialidade do mundo. Segundo o autor, há duas formas de imaginação: a formal, que é uma causa sentimental, do coração, e uma outra, material, surgida da matéria, a qual tem um peso, um coração.
Essas duas forças convivem no poema e, por que não dizer, na linguagem. Uma sem a outra não perdura. A imaginação íntima humana não prospera sem seu correlativo objetivo, bem como as materialidades naturais não podem, sem o sentimento do observador, gerar imagens. O escultor pode imaginar o que quiser, mas deverá submeter-se ao material de que se utiliza. Do barro ao mármore, a mesma forma imaginada obedece a materialidades diferentes e, por fim, diferentemente se expressa. Também é assim no poema, até mesmo a língua de expressão determina o que vai ser dito. Barthes já o diz em aula que a linguagem humana é sem exterior: é um lugar fechado. Não apenas é um sistema fechado, que, segundo suas característica, impede que certas coisas sejam ditas, mais ainda, obriga a dizer.
Há, porém, uma negligência em relação à imaginação da matéria, à capacidade da matéria de criar imagens. O estudo das metáforas negligencia esta abordagem, esquece, na análise de uma imagística, a influência do natural. Até que ponto é a melancolia que procura o outono ou é este que a produz?
O ensaio de Bachelard dedica-se à imagem da água em seus diversos estados, como parte de um estudo maior que ele denomina Lei dos quatro elementos poéticos. A água é matéria de difícil apreensão. Deixa-se ver, deixa ver através e deixa ver-se nela o observador. Ao mesmo tempo foco, lente e espelho. A expressão visual de qualquer objeto se faz na presença da luz. A água, entretanto, não apenas reflete a luz, ela também refrata, fragmenta a luz. A materialização visual da água é também a materialização da luz, matéria da visão, da imagem. Este caráter fugidio possibilita escorrermos de um conceito a outro facilmente. O ser pode tornar-se não-ser. O um e o outro podem mudar de lugar. Na lâmina da água encontram-se dois mundos, duas margens, apartadas e unidas, simétricas e opostas. E se uma aragem passa, multiplicam-se as imagens, as margens.
Bachelard, ao empreender um estudo das imagens, da imaginação, lança uma luz justamente sobre esse potencial determinante na natureza, da materialidade do mundo, na construção de imagens. Como a argila que determina que o corpo esculpido terá mais ou menos leveza, conforme sua maleabilidade, também a metáfora submete-se às imagens da materialidade. Uma pedra traz em si um repertório de imagens que lhe podem ser atribuídas. Evocar uma pedra num poema é circunscrever-se num universo imagístico definido. Pular da pedra à árvore é submeter-se a outro sistema. Da árvore ao bosque é expandir horizontes. Escolher a água como matéria é já um novo e diverso mundo...
Abraços, Moran
FONTE : http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070519081926AARJsGM
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