A epistemologia genética de Jean Piaget- 29/9/2010 |
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Por Luciana Maria Caetano/ComCiência/Labjor/DICYTLuciana Maria Caetano é doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP, autora de O conceito de obediência na relação pais e filhos e professora do curso de pedagogia da Universidade São Francisco.
Epistemologia Genética
Inicialmente,
é importante explicar o nome da teoria de Jean Piaget. As questões
epistemológicas interessaram a Piaget desde sua juventude. A
epistemologia é utilizada comumente para designar o que chamamos a
teoria do conhecimento. O objetivo da pesquisa de Piaget foi definir, a
partir da perspectiva da biologia, como o sujeito passaria de um
conhecimento menor anterior para um nível de maior conhecimento. O
problema que buscou solucionar durante toda a sua vida de pesquisador e
que fez dele um teórico e autor conhecido e respeitado mundialmente, foi
o da construção do conhecimento pelo sujeito, o que o fez, partindo da
biologia, estudar filosofia, epistemologia, lógica, matemática, física,
psicologia, entre outras ciências.
A formação inicial de Piaget na biologia influenciou todo o desenvolvimento da sua teoria, primeiramente, na perspectiva dos instrumentos científicos utilizados por ele como comprovadores empíricos, sempre baseados em métodos científicos rigorosos, isto é, possíveis de serem replicados. A outra influência da biologia na teoria piagetiana diz respeito à concepção de inteligência enquanto algo ligado à ação e à adaptação ao meio. A principal obra do autor que expõe esse assunto é o livro intitulado Biologia e conhecimento.
Tal
modelo teórico explica o desenvolvimento da inteligência, tendo como
conteúdo básico a ação do sujeito que interage com os objetos,
construindo, a partir dessas ações, formas e/ou estruturas de
inteligência que lhe permitem, cada vez mais, adaptar-se ao mundo em que
vive. Os trabalhos do autor, na psicologia, conduziram-no à ideia da
utilização do modelo lógico-matemático como meio de análise e
instrumento de descrição do funcionamento e do desenvolvimento da
inteligência.
Essa é uma das questões principais que fazem da sua teoria uma das referências para a compreensão do homem moderno. Não houve nenhum cientista depois de Piaget que elaborasse como ele um modelo formalizado, utilizando a linguagem lógico-matemática (o agrupamento e o grupo INRC) para explicar o desenvolvimento e a organização das estruturas cognitivas do ser humano. Trata-se de um modelo universal, refutável, hipotético-dedutivo, para explicar o funcionamento das estruturas mentais orgânicas (não passíveis de serem observadas), responsáveis pela inteligência e pela construção do conhecimento pelo ser humano.
Assim, compreende-se o motivo de Piaget ter pesquisado o desenvolvimento humano a partir do estudo e observação de bebês, crianças e adolescentes; por conceber esse estudo como o mais apropriado para as suas investigações a respeito da gênese do conhecimento e para demonstrar empiricamente e explicar o seu modelo teórico de construção da inteligência. Essa é, portanto, a explicação do título da sua teoria: Epistemologia Genética.
Para o autor, o conhecimento não pode ser simplesmente imposto pelo meio ao sujeito, como um reflexo das propriedades do ambiente (empirismo), tampouco estaria inteiramente pré-formado no sujeito, apenas aguardando a maturação (apriorismo). A outra novidade da sua teoria é a abordagem empirista que explica que a construção do conhecimento pelo ser humano é fruto das interações do sujeito com o seu meio. Nas palavras da professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Zélia Ramozzi Chiarotino, responsável por introduzir, do ponto de vista da Teoria do Conhecimento e da Epistemologia, as ideias de Jean Piaget no Brasil: “Resumindo: de um lado, temos o organismo com suas possibilidades; de outro, o meio que o solicita”.
Segundo a Teoria Epistemológica Genética, conforme surgem solicitações do meio, as estruturas da inteligência vão se construindo e, a partir de novas solicitações, o sujeito tem a possibilidade de reorganizá-las, vivenciando constantes mecanismos de assimilação de novos objetos a esquemas já existentes e mecanismos de ampliação do conhecimento denominados acomodação. O resultado das sucessivas assimilações e acomodações é chamado por Piaget de equilibração (conceito central da sua teoria construtivista do conhecimento). Assim, quando as estruturas que o sujeito já construiu não lhe permitem assimilar um novo objeto de conhecimento, isto é, determinado objeto é resistente, provoca uma perturbação no sujeito, o desequilíbrio é desencadeado.
Para o autor, o recém-nascido traz consigo condições de vir a se tornar inteligente e, conforme age sobre o mundo, constrói estruturas que lhe permite cada vez mais se adaptar às novas situações, de maneira a construir estágios sucessivos de desenvolvimento. Uma das principais tarefas da Teoria da Epistemologia Genética foi exatamente estabelecer o caminho da inteligência, desde o nascimento até a possibilidade do raciocínio abstrato do adulto.
Os estágios do desenvolvimento da inteligência apresentados pela teoria psicogenética são assim denominados: o sensório-motor (da inteligência prática), o operatório concreto (que se constitui inicialmente de uma inteligência intuitiva e depois operatória, baseada na reciprocidade do pensamento) e o estágio formal (quando se pode agir e pensar sob hipóteses e abstrações). Esses estágios talvez sejam o aspecto mais conhecido da sua teoria. Infelizmente, também são fonte de algumas críticas mal fundamentadas ao seu trabalho, como, por exemplo, o fato de que Piaget teria investigado apenas os seus filhos, no caso do estágio sensório-motor, ou que “as crianças de Piaget” eram “meio atrasadas”, uma vez que algumas pesquisas encontram respostas relativas a determinado estágio em crianças com menos idade do que aquelas apontadas por sua teoria.
As provas piagetianas de diagnóstico do nível operatório – instrumentos de pesquisa elaborados pelo autor como método para investigar o nível de desenvolvimento cognitivo da criança – foram replicadas em muitos países e em diferentes estudos, e os resultados dessas investigações são exatamente similares àqueles apontados por Piaget, especialmente no que diz respeito ao caráter sucessivo (e não cronológico) e integrativo dos estágios, porque cada um deles é necessário para a formação do seguinte.
Infelizmente, os estudos de Piaget são tão complexos e influenciaram tanto os conhecimentos na área da psicologia, especialmente a psicologia de desenvolvimento humano e a psicologia da criança, que qualquer tentativa de resumir ou explanar a sua teoria acaba muito aquém da genialidade da proposta do autor. Talvez seja interessante e de grande importância, então, citar o título de três obras do autor: Seis estudos de psicologia (1964), Psicologia da criança (1970) e Epistemologia genética (1970). Tais livros foram uma resposta de Piaget a solicitações que lhe foram feitas para que escrevesse um resumo de sua teoria, a fim de que ela pudesse se tornar mais acessível a um número maior de pessoas. Essa é mais uma prova da notoriedade de sua teoria e do reconhecimento de suas ideias pela comunidade científica e uma grande dica para o leitor que quiser aprender um pouco mais sobre a Teoria Epistemológica Genética.(...)
*para ler na íntegra, acessar: http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&id=1797:a-epistemologia-genetica-de-jean-piaget&Itemid=97
https://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia
*clique na imagem para vê-la ampliada:
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