quarta-feira, 4 de novembro de 2015

JOÃO DO VALE, AQUELE DO CARCARÁ.


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JOÃO DO VALE, AQUELE DO CARCARÁ.

 Jackson Machado de Assis e do Pandeiro

   Nem sei como conheci o João, só sei que, sempre que vinha trabalhar em São Paulo, ficava lá na nossa casa, da Flora, do Benito e minha, no Bexiga, centro de São Paulo.
   A gente morava no Jardim Francisco Marcos, uma travessinha da Rua da Abolição. Sobradinhos e um paredão. No paredão, um portão. Saída dos trabalhadores do TBC, Teatro Brasileiro de Comédia, o qual ficava na Rua Major Diogo (a rua de cima). Inclusive os artistas. Por vezes passavam por nós. Mas, eu nem sabia quem eram. Gente da pesada! Soube depois.
   O João costumava aparecer lá em casa com uma amiga, não lembro o nome, que era cleptomaníaca. Avisava que vinha (o João), a Flora deixava algumas “jóias” bem à mostra. Como eram baratas, a amiga do João as levava de vez. Assim, a Flora não tinha quase prejuízo e, todos nós, numa boa, curtindo a visita do João do Vale, autor de Carcará, gravada pela Maria Bethânia.  Estou lembrando, o João era amigo da Flora Vidal, que era cantora, já havia morado no Rio de Janeiro, onde, agora, morava o João, nascida em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo. Terra, também, do Roberto Carlos, aquele da Jovem Guarda.
   Logo ali, o Teatro Oficina, na Jaceguai, parece, com o Zé Celso na sua direção.
   Certa vez, quando o Zé Kéti também estava em São Paulo, lá pro bairro do Limão, com os seus percussionistas, fomos, os três ao bar Clube do Choro (do Elton, Reinaldo, Ronaldo e Roni, todos irmãos, todos judeus,). Sentamos numa mesa do lado de fora, antes da mureta que a separava da calçada. Lá em Pinheiros. Eu estava morando – o Valgênio Rangel, também - no apartamento do Gudin, na Cônego Eugênio Leite, abaixo da travessa do bar. Eu não sabia, mas, estava ali, comigo, mais da metade do elenco do show OPINIãO, dirigido pelo brilhante Augusto Boal, no Rio de Janeiro, no Teatro Opinião, parece que em 1968. Tão importante o show, que o teatro (Teatro de Arena) ficou conhecido como Teatro Opinião. Seu diretor, me disseram, era o Vianinha. Os atores eram o João do Vale, o Zé Kéti e a Nara Leão. Depois, é que veio a Betânia, irmã do Caetano. E eu, ali, com quase todo o elenco do show Opinião. Não é pra qualquer um, não. Também, a gente não é obrigado a saber tudo, né?
   O João era uma figura rara. Sujeito bom, sincero e talentoso. E, bom de copo. Lembro que no show (parece que era no Teatro João Caetano, num bairro desses de Sampa) o João contava (de camisa branca e pés descalços) que, quando chegou ao Rio de Janeiro, foi trabalhar de ajudante de pedreiro, numa obra lá. O radinho de pilha, o seu chefe, pedreiro, deixava em cima dos tijolos. No radinho, começou a tocar Pisa na Fulô, recém gravada pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o Gonzagão. Ele disse pro seu chefe: “Essa música é minha” o que lhe custou a resposta: “Vai puxar massa, neguinho, vai. E vê se para de sonhar”. João largou o carrinho junto à massa e sumiu. Disse ele que foi na Rádio Nacional pra saber da tal gravação. Não sei se isso é verdade. O que o João contou lá no show é o que eu estou, agora, a contar. O João e eu, sempre inventávamos coisas...
   No sábado, não fui ao show com o João. Antes de sair ele prometeu que faria no dia seguinte, domingo, uma galinha ao molho pardo. Não levei muito a sério. O show, mais as biritas, o João não iria chegar a tempo, para fazer o almoço. A tal de galinha ao molho pardo. Ás dez horas da manhã, domingo, fui até o portão, só por ir. Vinha o João, com o seu par de sapatos debaixo de um braço, no outro, uma galinha branca, viva. Mais atrás, a cleptomaníaca da sua amiga. Reservara um garrafa, cheia, de 51, a preferida do João. O Benito não bebia, acho que nunca bebeu. Comentou que eu nem havia provado a Galinha ao Molho Pardo do João, tentando acompanhá-lo na 51. Ele é que não viu, entre um martelo e outro da 51 um pedaço de galinha. Estava ótima a Galinha ao Molho Pardo feita pelo João. Um domingo inesquecível, aquele.

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