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Jamais fomos modernos – Bruno Latour
Padrão
Resenha
Crise
O primeiro capítulo da obra de Latour chama-se “Crise” e
começa divagando sobre a “proliferação dos híbridos” ou seja, uma
característica do mundo moderno, que mistura em um mesmo artigo “reações
químicas e reações políticas. Um mesmo fio conecta a mais esotérica das
ciências e a mais baixa política”. Para Latour cada vez mais se
multiplicam os artigos híbridos que tratam da ciência, direito,
política, economia, religião, ficção. E se a leitura do jornal é dada
como a reza do homem moderno, quão estranho é o homem moderno que reza
lendo esses assuntos “confusos”. “Toda cultura e toda a natureza são
diariamente reviradas lá”. Porém, ninguém parece estar preocupado, o
vírus da aids divide lugar com questões referentes à Africa, por
exemplo. Analistas e jornalistas redefinem essa rede em compartimentos,
só ciência, só política (as editorias), mas esse fio será nivelado em
tantos segmentos até quanto forem as disciplinas “puras”, não se deve
misturar céu e terra, global e local, humano e inumano.
Latour descreve em seguida no tópico “reatando o nó górdio”
as dificuldades que são encontradas em “classificar”, como a
dificuldade em dar nome ao trabalho do próprio autor, de sociólogo,
historiador, cientista político. Enfim, a questão aqui sempre será a de
reatar o nó górdio, atravessando assim os conhecimentos da natureza e
cultura, os conhecimentos exatos e o exercício de poder. Esse capítulo
refere-se então as constantes divisões que se fazem das áreas de
conhecimentos e sua separação dos interesses. Esses trabalhos,
entretanto, costumam ser recortados a partir de três categorias usuais
dos críticos: a natureza, a política e ao discurso. Quando Latour
descreve a bactéria do antraz atenuada por Pasteur, os críticos, por
exemplo, podem achar que ele está falando de ciência e técnicas e
aqueles que se interessam por política, em particular, podem deixar essa
informação de lado.
Latour explica que as pesquisas, assim como a exemplificada
anteriormente, não dizem respeito à natureza e ao conhecimento, às
coisas em si, mas antes ao seu envolvimento com os nossos coletivos e
sujeitos. “Não estamos falando do pensamento instrumental, mas da
própria matéria de nossa sociedade”. Portanto, nossa vida intelectual
seria mal construída, por não perpassar essas três categorias, mas sim
separá-las como se fossem distintas em sua relação com os indivíduos e a
sociedade.
No tópico seguinte, a crise da crítica, Latour mostra que
os críticos construíram três repertórios distintos para falar do nosso
mundo: a naturalização (Jean-Pierre Changeux), a socialização (Pierre
Bourdieu) e a desconstrução (Jacques Derrida). Cada uma dessas formas de
crítica é potente em si mesma, mas não pode ser combinada com as
outras.
Para o autor, de duas uma, ou as redes que desdobramos
realmente não existem e os críticos fazem bem em classificá-las em
fatos, poder e discurso, ou essas redes são tais como descrevemos e
atravessam essas críticas, não sendo nem objetivas, nem sociais, nem
efeitos de discurso, sendo ao mesmo tempo reais, coletivas e
discursivas.
Dessa forma, ou devemos desaparecer, portadores das más
notícias, ou a crítica entra em crise por causa dessas redes contra as
quais ela se debate. Ou seja, um fato pode ser demasiadamente social e
narrado para ser realmente natural. Como afirma Latour: “será nossa
culpa se as redes são ao mesmo tempo reais como a natureza, narradas
como o discurso, coletivas como a sociedade?”
A nossa solução, explica o autor, foi a antropologia tratar
sem crises e sem crítica o tecido inteiriço da natureza e cultura
humana. Um etnógrafo irá produzir em um mesmo material elementos reais,
sociais e narrados. O problema, entretanto, é que nós somos modernos,
logo, nosso “tecido” não é mais “inteiriço”, e a continuidade da análise
se tornou impossível, é justamente nossa incapacidade de nos estudarmos
dessa forma que nos faz capazes de estudar com tamanha sutileza e
distanciamento os outros.
Para os antropólogos tradicionais não pode haver e nem deve
haver uma antropologia do mundo moderno. É a tripartição crítica que
nos separa e nos autoriza restabelecer a continuidade entre os
pré-modernos e através dela foi possível fazer a etnografia. “Se o mundo
moderno tornou-se capaz de ser antropologizado, foi porque algo lhe
aconteceu”. Antropologizar o mundo moderno, entretanto, implicaria numa
mudança de nossa própria concepção do moderno: é isso que Latour busca
“comprovar” em seu trabalho.
O próximo tópico fala do ano de 1989, ano em que após a
queda do muro de Berlim, assistimos à derrota do socialismo, que ao
tentar acabar com a exploração do homem pelo homem, a multiplicou
indefinidamente. No mesmo ano, começam as conferências sobre o estado
global do planeta, que mostra para alguns o fim do capitalismo e o fim
de suas esperanças de conquista ilimitada e dominação total sobre a
natureza. Tentando desviar exploração homem-homem para natureza-pelo
homem, o capitalismo multiplicou indefinidamente as duas.
Teria sido melhor não tentar acabar com a exploração do
homem pelo homem? Para alguns é preciso não querer acabar com essa
dominação, para outros, é preciso não mais tentar dominar a natureza. “Sejamos definitivamente antimodernos, dizem todos”.
Nesse cenário, Latour apresenta três correntes de pensamentos, a dos modernos, que ainda acreditariam nas propostas da suposta modernidade, os anti-modernos, que tem uma postura reacionária diante da modernidade e os pós-modernos,
que seriam os céticos que recusando as duas posições anteriores,
ficando suspensos entre a dúvida e a crença. Dito isso, Latour questiona
esses pensamentos discutindo se algum dia já fomos modernos.
O último tópico retratado neste capítulo se chama “o que é um moderno?”.
A maior parte das definições sobre modernidade apontam para uma noção
de tempo, que demonstra um novo regime, uma aceleração, uma ruptura, uma
revolução no tempo. E por contraste a moderno, definimos um passado
arcaico e estável. A palavra encontra-se entre uma briga, onde há
ganhadores e perdedores, os antigos e os modernos. Moderno, portanto, é duas vezes assimétrico, marca uma ruptura na passagem regular do tempo e assinala um combate no qual há vencedores e vencidos.
A hipótese do ensaio de Latour é que a palavra moderno
designa duas práticas totalmente distintas e que para funcionarem devem
parecer diferentes, mas que atualmente deixou de ser. O primeiro
conjunto de práticas cria “por tradução”, misturas de gêneros de seres completamente novos, híbridos de natureza e cultura. O segundo cria por “purificação”,
duas zonas ontológicas diferentes, a dos humanos e a dos não humanos.
Sem o primeiro, as práticas de purificação seriam vazias ou supérfluas e
sem o segundo, o trabalho da tradução seria freado, limitado ou
interditado. O primeiro conjunto corresponde às redes e o segundo às
críticas.
Para o autor, enquanto considerarmos essas práticas
separadamente, seremos ainda modernos, ou seja, estaremos aderindo ao
projeto da purificação crítica, mesmo que este se desenvolva através da
proliferação híbrida.
Qual a relação entre o trabalho de tradução e purificação?
A hipótese é que a segunda possibilitou a primeira, quanto mais nos
proibimos de pensar nos híbridos, mais seu cruzamento se torna possível.
E caso tomemos consciência dessa mistura de “tradução” e “purificação”
deixaremos não somente de ser modernos, mas também de “ter sido”
modernos, porque conseguiremos enxergar toda a nossa bagagem e
conhecimento com um novo olhar; um olhar que não enxerga relações
conflituosas com outras culturas e classes, mas consegue explicar a
complementaridade e enxergar valor nas diferenças.
Essa movimentação entre “tradução” e “purificação” estão envolvidos no que Latour chama de “Constituição Moderna”.
Esta seria a limitação entre o que é humano e o que não é humano, entre
o que é social e o que é natural (a política e a ciência).
Constituição
No segundo capítulo da obra de Latour, denominado
“constituição”, são retratados os valores sociais que permeiam a
sociedade moderna e leva o autor a conclusão da inexistência da
modernidade, ou seja, de que jamais fomos modernos. Essa conclusão é
dada a partir da investigação de três vertentes:
- a definição de modernidade
- o humanismo (que separou humanos e não humanos)
- a constituição (que separou o mundo natural e o mundo social)
O primeiro tópico discutido por Latour é a “Constituição
Moderna”, que indaga sobre a ideia de que a modernidade é muitas vezes
definida através do humanismo. Mas a modernidade é na verdade uma
criação conjunta entre os três (nascimento da não humanidade, humanidade
e de um Deus suprimido, fora do jogo). O importante neste trabalho do
autor é saber o que está acima e abaixo, entre os humanos e não humanos.
É sobre essa dupla separação que o autor adentra para salientar seu
argumento de que jamais fomos modernos.
Constituição é o nome que damos ao texto comum que define o
acordo e a separação dos poderes naturais e políticos. E quem deve
escrever a Constituição? Para as constituições políticas, cabe aos
juristas, que só fizeram um quarto do trabalho, uma vez que se
esqueceram dos híbridos e da ciência. Em relação a natureza das coisas,
cabe ao cientista, que também só faz 1\4 do trabalho, pois finge
esquecer o poder político e negar aos híbridos qualquer eficácia, ao
mesmo tempo em que os multiplicam. Quanto ao trabalho da tradução, é
tarefa para quem estuda redes, que só cumpriram metade do trabalho, já
que nao explicaram o trabalho de purificação que se realiza acima deles.
Quanto aos coletivos estrangeiros, é tarefa da antropologia
falar ao mesmo tempo sobre todos os quadrantes. Ou seja, a tarefa da
antropologia no mundo moderno é descrever como se organizam todos os
ramos do nosso governo. Latour explica que assim como a constituição
define os direitos dos cidadãos e do Estado, a Constituição (com letra
maiúscula), define os humanos dos não humanos, suas propriedades,
relações, competências e agrupamentos. Para descrever essa constituição
Latour se baseou em uma discussão entre Richard Boyle e Thomas Hobbes,
que discutem a respeito da repartição dos poderes científicos e
políticos.
Latour utiliza a obra de Steven Shapin e Simon Schaffer
para marcar o princípio de uma antropologia que leva a sério a ciência.
Eles examinam como Boyle e Hobbes brigaram para inventar uma ciência, um
contexto e uma demarcação entre os dois. Os autores Shapin e Schaffer
desenterram os trabalhos científicos de Hobbes (que os cientistas
políticos ignoravam) e as teorias políticas de Boyle (que os
historiadores da ciência ignoravam).
Boyle possui uma ciência e uma teoria política e Hobbes
possui uma teoria política e uma ciência. Eles concordam sobre quase
tudo, ambos querem um rei, um parlamento, uma igreja dócil e são adeptos
da filosofia mecanicista, mas divergem em o que deve ser esperado da
experimentação, do raciocínio científico e a argumentação política. As
diferenças entre Boyle e Hobbes os tornam drosófilas da nova
antropologia.
Bomba de Ar de Robert Boyle
Num período em que inúmeras guerras estavam sendo
deflagradas, Boyle escolhe o método da argumentação pela escolástica.
Ele abandona o raciocínio apotídico pela doxa. Funda-e sobre uma
metáfora parajurídica: testemunhas confiáveis, bem aventuradas e
sinceras reunidas em torno da cena de ação para atestar a existência de
um fato “the matter of facts”, mesmo se essas pessoas não conheçam a sua
verdadeira natureza. Ele inventou o estilo empírico que usamos até
hoje.
Boyle busca a observação de um fenômeno produzido
artificialmente em local fechado e protegido, o laboratório, como pregam
os construtivistas. Mas seriam os fatos falsos por terem sido
construídos? Não, nós conhecemos a natureza dos fatos porque o
elaboramos em circunstâncias perfeitamente controladas. A fraqueza (o
construtivismo) torna-se uma força (o controle da ação),enquanto
limitados a natureza dos fatos instrumentalizada e que deixamos de lado a
interpretação das causas.
Do outro lado, Hobbes desacreditava de todo dispositivo
criado por Boyle. Seu objetivo era dar fim a guerra civil a
interpretação livre da bíblia, mas para ele é através da unificação do
corpo político que seu objetivo é conquistado. Ou seja, a partir do
soberano, criado pelo contrato social, sendo ele o representante da
multidão, o Deus mortal. “É a unidade daquele que representa, não a
unidade do representado, que torna única a pessoa”. Hobbes tem obsessão
pela unidade da Pessoa, que é o ator do qual nós, cidadãos somos autor,
ele quer negar todos os apelos a entidades ditas superiores à ordem
civil. Deseja encontrar unidade coletiva, mas fechando o acesso a
transcendência divina.
Leviatã Thomas Hobbes
Para Hobbes, o poder é conhecimento, o que significa que só
deve haver um único conhecimento e um único poder, caso se queira dar
fim a guerra civil. Os perigos da paz civil são as crenças nos corpos
imateriais, os “espíritos”, “fantasmas”, ou seja, é importante evitar
invocar essa entidade superior (Deus ou natureza) que não seria
plenamente controlada pelo soberano.
Isso não levaria a um estado totalitário? Não, pois Hobbes
aplica essa ideia à República, na qual o soberano será só um ator
designado pelo contrato social. Não há direito divino e instância
superior que possa ser invocado pelo soberano para que ele possa agir
como quiser. Para Hobbes, o único método de mostrar os resultados
científicos é a demonstração matemática, único método capaz de fazer
todos concordarem. Ou seja, Hobbes reduziu e reunificou o corpo
político. E surge Boyle (Royal Society) proclamando o direito de possuir
uma opinião independente num espaço fechado, o laboratório, onde o
Estado não exerce controle. “Se for permitido que as experiências
produzam suas matters of fact os espíritos imateriais irão novamente
levar todos à revolta”, diz Hobbes.
No tópico “A mediação do laboratório”, Bruno Latour fala
sobre a importância dos estudos de Shapin e Schaffer, que conseguem
explicar como e porque discussões que dizem respeito ao corpo político, a
Deus e seus milagres, à matéria e seu poder, devem passar pela bomba de
ar. Apesar de Hobbes e os historiadores das ideiais e filósofos da
ciência tentarem evitar o mundo do laboratório, Shapin e Schaffer
obrigam em suas análises a girarem em torno do objeto, em torno de um
vazamento, da junta de determinada bomba de ar. A prática da fabricação
dos objetos retoma o lugar preponderante que havia perdido na crítica.
Eles irão fazer, quase de forma etnográfica, o que os filósofos da
ciência não fazem mais: mostrar os fundamentos realistas das ciências,
fixando a realidade indiscutível da ciência (down there, no chão).
Latour explica que vivemos em uma sociedade que tem por
laço social os objetos fabricados em laboratório, substituímos as ideias
pelas práticas, os raciocínios apodíticos pela doxa controlada, e o
consenso universal pelo grupo de colegar. Como estruturar uma sociedade,
se pergunta Hobbes, sobre o fundamento dos matters os fact? Irritado
sobretudo à escala dos fenômenos. Segundo Boyle, as grandes questões
referentes a matéria e aos poderes divinos podem ser submetidas a uma
solução experimental e esta solução será parcial e modesta. Ora, Hobbes
rejeita a possibilidade do vácuo por motivos ontológicos e políticos,
cujos princípios são filosóficos, e continuam a alegar a existência de
um éter invisível que deve estar presente, mesmo quando o operário de
Boyle está cansado demais para acionar a bomba.
Ou seja, Hobbes exige uma resposta macroscópica a seus
“macro”-argumentos, demonstrando que sua ontologia não é necessária, que
o vácuo é politicamente aceitável. Boyle responde tornando sua
experiência mais sofisticada, mostrando o efeito que o vento de éter
postulado por Hobbes tem sobre um detector (uma pena de galinha). A pena
não se move e Boyle conclui que Hobbes estava errado, não existe vento
de éter. Entretanto, Hobbes não pode estar errado, pois se recusa a
admitir que o fenômenos do qual ele fala possa produzir-se em qualquer
outra escala que não o da República inteira.
No tópico “os testemunhos dos não humanos”,
Boyle vai apresentar um ponto de aplicação novo. Até então, os
testemunhos haviam sido sempre humanos ou divinos, nunca não humanos.
Textos eram escritos por homens ou inspirados por Deus, jamais por não
humanos. Ou seja, nunca causas que colocassem em jogo o comportamento de
não-humanos em um laboratório transformado em tribunal da justiça. Para
Boyle, suas experiências em laboratório possuem mais autoridade que os
depoimentos não confirmados por testemunhas honrosas. Eis que aparece na
escrita de Boyle um novo ator reconhecido pela nova Constituição:
corpos inertes, incapazes de vontade e de preconceito, mais capazes de
mostrar, de assinar, de escrever e de rabiscar sobre os instrumentos de
laboratório testemunhos dignos de fé. A ideia de que os não humanos
chegam a ser mais confiáveis do que os mortais. A partir de então, será
em torno da bomba de ar em seu espaço fechado e a respeito do
comportamento dotado de sentido dos não humanos que as testemunhas
continuarão seus debates.
Mas se é verdade que a ciência não está fundada sobre
ideias e sim sobre uma prática, se ela não está do lado de fora, mas sim
de dentro do recipiente transparente da bomba de ar, como ela poderia
estender-se por toda a parte a ponto de tornar-se tão universal quanto
as leis de Boyle?
Revolução
Neste capítulo, Lator aborda a questão da modernidade, vítima de seu
próprio sucesso. Essa ideia retrata a noção de que os coletivos
aumentaram tanto os híbridos a ponto de se tornar impossível mantê-los
em seus lugares.Aqui, é retratado o surgimento dos híbridos, os quase-objetos. Essa situação pode ser entendida como se a Constituição tivesse desabado em seu próprio peso, afogada pelos modos de experimentação que esta permitia como se não houvesse um número suficiente de críticos para tratar os híbridos, ficando o sistema de purificação tão entulhado quando o nosso sistema judiciário.
Impossível de colocá-los na posição mediana, eles se tornam encurralados entre a mistura de coisa natural e símbolo social. Os quase objetos, segundo Latour, ocupam um espaço mediano, que a Constituição pretendia esvaziar e o seu crescimento saturou o quadro institucional dos modernos. O autor lança a questão: Como as grandes filosofias tentaram absorver ao mesmo tempo a Constituição Moderna e os Quase-Objetos? Através, sobretudo, de três estratégias: Separar objetos e sujeitos, utilizar a vertente semiótica (preocupa-se com o meio, com a linguagem, a narração) e por último, isolando o pensamento de Ser do de Entes.
Os quase objetos
A proliferação dos híbridos foi escolhida por 3 estratégias: separação do polo da natureza e da sociedade, a autonomização da linguagem ou dos sentidos e a desconstrução da metafísica ocidental. Para abrigar os quase-objetos e a Constituição, deve-se levar em conta o quadro temporal dos modernos. Os Modernos tem uma relação com o tempo que aboli o passado, tem a sensação de uma flecha irreversível no tempo. Eles têm a doença da história, de guardar e datar tudo. A ideia de Revolução radical é a única solução que os modernos puderam imaginar para explicar a aparição dos híbridos, proibido e permitido simultaneamente pela Constituição. A história dos modernos será pontuada graças ao surgimento dos não humanos (teorema de Pitágoras) e cada vez mais será calculado o tempo a partir desses começos. Antes e depois do computador. A assimetria entre passado e futuro, torna-se uma assimetria entre passado e futuro. O passado era confusão entre homens e coisas e o futuro será aquilo que não os confundirá mais. “Reais como a natureza, narrados como discurso, coletivo como a sociedade, existenciais como o ser, tais são os quase objetos que os modernos fizeram proliferar e é assim que nos convém segui-los, tomando-nos simplesmente aquilo que jamais deixamos de ser, não modernos.”
Relativismo
O foco desse tópico é mostrar o porque e como Latour tornou o estudo da Antropologia algo simétrico. A Antropologia evita estudar os objetos da natureza e limita suas pesquisas à cultura. Permanece assimétrica. Para que se torne comparativa e possa ir e vir entre modernos e não modernos é preciso torná-la assimétrica. É preciso torná-la capaz de estudar a ciência, ultrapassando os limites da sociologia do conhecimento e epistemologia. Para que ela se torne simétrica, é preciso que ela absorva o princípio da simetria generalizada, na qual o antropólogo deve estar no ponto médico de onde possa acompanhar a atribuição de propriedades humanas e não humanas. Entre o trabalho de purificação e tradução.
Bruno Latour é um filósofo e sociólogo das ciência francesas, um dos fundadores dos Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia (ESCT), ou social studies in Science. Sua principal contribuição teórica, ao lado de autores como Michel Callon e John Law, é o desenvolvimento da Teoria Ator-Rede.
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