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Por Otávio Martins
Amaral
Agora, eu vou contar mais sobre o elenco de músicos e outros, lá do Carinhoso:
O Zé Gomes, maestro, principalmente violão. Tocava um monte de instrumentos.
Tinha um cravo em sua casa. Mas, o violão era o seu forte. Arranjador. Costumava fazer os arranjos para as gravações da Diana Pequeno e outras cantoras. Resolveu parar de fazer arranjos e dedicar-se, somente, à direção musical do Carinhoso. Morava ali perto, na Avenida 9 de Julho, não lembro o número do prédio, nem do apartamento. Seus solos de violão para algumas músicas da Bossa Nova eram únicos. Levavam a sua marca. Parece que era de Santo Antonio da Patrulha, no Rio Grande do Sul. Um verdadeiro artista. Era casado com a Alda, gaúcha, acho que, também, da mesma cidade. Brava como ela só. O Zé, sempre o mesmo, principalmente quando se tratava de uma mulata. Anos depois, acho que era 2003 ou 2004, fui assistir um show com ele e o Diamandu Costa (bom de violão – sete cordas – também gaúcho) no SESC-Vila Mariana. O Zé, neste show, tocava Rabeca. Acabou indo morar na Serra da Cantareira. A Elis Regina parece que morava nessa Serra. Nunca fui lá. Disse que morava numa espécie de sítio. Dum lado, o Sérgio Reis e, do outro, o Amir Satter. Soube, através da Internet, que havia morrido em 2009. Parece que o filho dele e da Alda, o André Gomes toca contrabaixo. Não tenho certeza. Quando a Alda viajou para o Rio Grande do Sul, ficou sozinho no apartamento. Certa noite me convidou para ir até lá. Acabei dormindo no seu apartamento. Convidou, também, a Antonieta, mulata, jovem e bonita. Fiquei sozinho, num colchão no chão de outro quarto. Por volta da hora do almoço, chegou a Alda. Ainda bem que ele havia colocado o pega-ladrão. Quando ela começou a apitar na campainha e forçar o pega-ladrão, foi um deus nos acuda. Colocou a Antonieta no meu quarto, pelada. Disse pra Alda que ela estava comigo. A Alda não engoliu muito bem a estória do Zé. Depois, bem mais tarde, veio ao “nosso” quarto e, cinicamente, perguntou-me: “Comeu?”. Respondi que não, porém, que havia rezado bastante. Grande músico, imensa pessoa. Sinto muito por não ter ido vê-lo lá na Cantareira. Éramos grandes amigos. Agora, eu vou contar mais sobre o elenco de músicos e outros, lá do Carinhoso:
O Zé Gomes, maestro, principalmente violão. Tocava um monte de instrumentos.
O Toninho Ramos, toca violão de sete cordas. Bom nos clássicos
(principalmente Bach) e ótimo no popular. Uma pegada admirável. Estudei uns meses com ele. Pelo menos aprendi a ler e escrever, um pouco, na pauta. Foi acompanhando o Martinho da Vila, num show, pela Europa, não voltou, ficou morando em Paris, na Rua Dauphine, 43, parece, em 1974. E, por lá, ainda vive. Nessa época, eu trabalhava com o Ruggero Fanelli, no Chopping 3, Paulista com Augusta, onde aprendi a fazer Osso Buco, Strogonoff e terminei o aprendizado das panquecas, o qual havia começado com a Alda, mulher do Amaral, em 1963, lá no Campos Elíseos, na Alameda Nothmann. A Flora Vidal, uma amiga, também trabalhava no Ruggero, cantando, acompanhada pelo Toninho Ramos. Eu era da cozinha, fazia o caixa ao meio-dia e ficava por ali, à noite, escutando música e ajudando o Ruggero no preparo do almoço do dia seguinte. O restaurante do Ruggero, à noite, virava Bar do Ruggero. Íamos até ás três da madruga. Depois, uma sopa de cebola no Ceasa e íamos até nossa casa tomar um bom café, no Bexiga. Era ótimo.
O Toninho Ramos tinha uma, acho que era namorada, a Rosa que trabalhava como meio cantora, num inferninho na Boca do Luxo, na boate do Maurício, amigo do Amaral. O Toninho morava com a Maria (descendente de alemães), lá no Itaim. A Maria vinha buscá-lo no Carinhoso, no meio da madrugada. Numa dessas, a Rosa apareceu por lá. Não presenciei o começo, mas vi a Rosa sapateando no capô do Opala da Maria. O Toninho acalmou a Rosa e se foi com a Maria para casa.
Em 1980, ele veio a São Paulo. Trazia uma fita, gravada com o Paulinho Ramos (vive no Canadá) seu irmão que, também andou cantando e tocando lá no Carinhoso. Gravada lá na França, muito boa; só com música brasileira. Levei, entusiasmado, lá pro Toninho do selo Eldorado, que ficava na Rádio Eldorado e pertencia ao Estadão, ali na Major Quedinho. Na terceira investida, desci – o Toninho estava me esperando no bar ali embaixo, Mutama, se não me falha a memória – e falei pro Toninho Ramos que o Toninho do Eldorado, na próxima vez que eu viesse me daria uma resposta. O Toninho Ramos disse que não precisava, na manhã seguinte iria “voltar” para Paris. Acho que havia percebido que a coisa por aqui continuava na mesma. Nunca mais o encontrei. Acho que nem o encontrarei. Melhor, assim. Torço para ele continuar em Paris.
Celso Miguel. Ô sujeito doce! Assim, também, é a sua voz. Adorava
conversar com o Celso. Casado com uma mulata muito bonita. Às vezes ela aparecia lá no Carinhoso. Quando ele estava gravando, acho umas músicas para um LP, fiz umas fotos para a capa e encarte, nunca vi essas fotos. Nos fundos do sobradinho onde eu morava, pintei uma janela, de várias cores, por várias vezes, para fundo, fazendo essas tais fotos. Não cobrei e nem poderia cobrar do meu grande amigo Celso Miguel. Parece, me disse o Zé Otacílio, que ele estava aparecendo num comercial, como aposentado, acho que do INSS. Mandei uma mensagem pela passagem do seu aniversário, no ano passado. Bem mais novo do que eu. Grande amigo.
O Jacy tocava muito bem o seu contrabaixo acústico, até dormindo. Quieto, porém, o seu contrabaixo além de marcação perfeita, a base era com ele mesmo. Gostava, é verdade de tomar umas durante a noite, mas, era sempre o mesmo; educado, nunca vi ele levantar a voz para ninguém. Eu gostava muito do Jacy, até por que, também, era o nome do meu pai. O Jacy era bem pretinho, nunca vi alguém ter alguma atitude de discriminação com ele. Tampouco o vi discutindo com alguém. Cuidava da sua (dele) vida e de seu instrumento.
Somente um incidente, se assim se pode chamar. Ele ficava bem na pontinha do palco (baixo, uns trinta centímetros). Acompanhava, normalmente, o Jorge Costa, o Swing ou o Toninho Ramos. Numa dessas, veio para o chão, com contrabaixo e tudo. Somente quem percebeu, mesmo, foi a galera do gargarejo. Alguém, que não lembro, pegou o seu contrabaixo, colocou no lugar (segurando) onde ele estava tocando e ele voltou ao seu lugar e continuou, como se nada houvesse acontecido. Muito discreto, mesmo.
O Marinho era um músico fixo. Batera dos bons. Vinha todas as noites, exceto nas folgas, aos domingos. Versátil, tocava com qualquer um. Nunca vi ele chegar no bar do Carinhoso e tomar alguma bebida de álcool. Também nunca o vi de cara limpa. Sei lá como é que ele fazia. Sempre alegre e faceiro. Chamava-me de Tavinho, fotografei o seu casamento. Ele sentiu-se muito honrado. Eu fui, também, padrinho do seu casamento. Não lembro onde era, sei que era longe pacas. Foi quando percebi quanto sacrifício para ir tocar no Carinhoso. Sair no meio da madrugada e ter que voltar para a sua casa. Ganhava uma merreca, como os outros. Nunca reclamou. Fiquei gostando mais dele, depois do seu casamento. As fotos dei-as de presente a ele, com um álbum que fiz com papel cartaz. Acho que ficaram boas. O álbum, também.
Depois, contratamos outro baterista para revezar com o Marinho, o Tim Maia. Nunca Soube o nome dele, desde o começo, ali no Bar dos Artistas, São João com Ipiranga. Era mais parecido com o Tim Maia do que o próprio Tim Maia consigo próprio. O Tim Maia, era cantor, além de baterista. O nosso, não, nunca engordou. Era um autêntico Tim Maia. O cachê do Carinhoso não permitia exageros.
Lembrei dele, anos depois, quando fui trabalhar na Ilha de Santa Catarina, em Floripa. Conheci um garçom lá no Telhado de Barro, o qual apelidamos de Quércia. Depois, ficou mais parecido com o Orestes Quércia. Não fez plástica alguma. Manteve o mesmo nariz. Era mais parecido com o Quércia que eu conheci do que o próprio Quércia. Jamais o esquecerei. Numa temporada, cheguei atrasado e ele me conseguiu um trabalho lá no restaurante onde trabalhava, que dava casa e comida, também. O baiano ia embora pra Bahia e eu fiquei no lugar dele. Sua primeira frase, também, jamais esquecerei: “Esse bichinho dá mais trabalho morto do que vivo.”. Fiquei uns dias trabalhando e assando frango, naquelas máquinas rotativas. Mas, isso, é outra história.
Benito di Paula.
Trabalhava no Carinhoso e dobrava no Lapinha, na rua
de cima, viaduto 9 de Julho. Parece que era do Roberto Luna, grande intérprete de boleros e tangos. O Benito subia e descia os degraus do viaduto, com um pé nas costas. De mesa em mesa, por vezes, cantava músicas do Lupicínio Rodrigues. Saía do Carinhoso, no meio da madrugada e, ainda, ia caitituar o seu disco, produzido pelo Alfredo Borba, que tinha um programa de rádio. Uma vez me contou que suas letras eram fatos acontecidos com ele. Nessa época ele estava, parece, trabalhando uma música que não lembro o nome, mas, dizia assim: “Aproveitou o silêncio da madrugada/Como uma ladra, ela saiu e me deixou...(levou até o seu violão, me falou)”. Esporadicamente, íamos ao Papai da Aurora. Mais certo, mesmo, era irmos até o Jeca (São João com Ipiranga) tomar um bom Caldo Verde. Noutras madrugadas comíamos no bar do japonês (nesse, à noite, mais cedo) que ficava, também, na Álvaro de Carvalho, bem pertinho do Carinhoso. A especialidade do Japonês era Peito de Peru na chapa e moela de galinha com molho de cebola, ao pão francês. Até hoje, não consigo mais olhar para mortadela e nem moela de galinha. Quando íamos comer a feijoada do Papai da Aurora, logo após, tínhamos que dar um tempo. Uma hora, no mínimo. A barra pesava.O Jorge Costa, às vezes se apresentava lá no Carinhoso. Compositor,
músico e cantor. Tocava um tan-tan, não sei bem o nome. Sempre cantava o seu samba, muito conhecido naquela época. Triste Madruga, contava ele, que fez depois que o Chico Buarque havia lhe contado, ali na Galeria Metrópole, no subsolo, triste, como havia
perdido o seu (do Chico) violão. “Triste madrugada foi aquela/Em que eu perdi meu violão/Não fiz serenata pra ela/E nem cantei uma linda canção...”. Contava o fato com tanta firmeza que, até hoje, eu acredito na sua (dele) versão. Era amarrado num conhaque. Nessa época, só Dreher, nada de Napoleón.
Waltão, o criador da Tensa. A Timba consistia em tocar num banquinho baixo, entre a barriga da perna e o banquinho, uma espécie de tumbadora, deitada. Com uma mão batia no coro e, com a outra, uma vassourinha (dessas que os bateristas usam) batendo na madeira. Os melhores ritmistas, não sei se é impressão minha (Naná Vasconcelos é um bom exemplo) são negros. Se ele fosse pequeno, que nem eu, o chamariam de Waltinho. Vocês devem imaginar como era o Waltão. Boa (aliás, ótima) estatura. Se pegarmos o contrário, no Trio Mocotó, que acompanhava o Jorge Bem, tinha um cara que tocava Timba, o nome dele era Joãozinho Paraíba. Branco e pequeno. Diziam que o pai dele era o dono dos cobertores Paraíba, daí o nome Joãozinho Paraíba.
Mil e Uma Noites da Cuíca.
Não encontrei foto do Mil e Uma, coloquei a
do Oswaldinho da Cuíca, compositor Escola de Samba Vai-Vai, do Bexiga que, algumas vezes, apareceu por lá. Acho que só de visita, junto com o Geraldo Filme. Quando o Armstrong pisou na Lua, o Mil e Uma foi taxativo: “Isso é tudo mentira; filmado nos estúdios de Hollywood.”. Ponto final.
Barbosinha
– Outro que não encontrei a foto. O Barbosinha era
fixo. Tocava todas as noites. Era o sambista da casa. Sempre
sorrindo. Entrava no palco quantas vezes fosse necessário. Bebia
bem, mas, nunca estava bêbado. Gostava de maconha. Uma noite, acho
que comprou um pouco a mais e foi puxar um xadrez por mais de um ano.
Preso, injustamente, por tráfico. Contratamos o seu filho, como
ritmista para segurar as pontas em sua casa. Acompanhava-se, tocando
o violão. Ótima pessoa. Bom papo.
O Swing
(não encontrei a foto) cantava acompanhado, sempre, pelo seu
Reco-reco. Muito bem estruturado, de metal, duas molas e batia com um
pequeno bastão de ferro. Dava pra todo mundo ouvir. Sempre sorrindo.
Mesmo quando estava bravo. Por vezes, dava uma força para o Jorge
Costa.
A turma do
Jogral. Nos fins de semana, a gente apresentava
quase que
todo o time de músicos lá do Jogral, do Luis Carlos
Paraná. Chamávamos de dobra. Apresentavam-se no
Jogral e, depois, no Carinhoso. Tinha o Manezinho da
Flauta (sobrinho do Pixinguinha); O Ditinho (Benedito
Costa) do Cavaco; O Pedrinho Miguel (cantor), era amarrado
num licor Cointreau, o Evandro do bandolim.
Tinha,
também, o Atayde da flauta. Quando estava por perto, Atayde,
ao longe, Frango d’água. Costumava dar umas broncas no Carioca
(sete cordas) que o acompanhava, sempre. O Regional, ele costumava
armar momentos antes de entrar no palco do Carinhoso. Primava
pelo andamento e arranjo, originais.
Filó,
compositor, cantor e músico. Tinha o irmão
dele que, de vez em
quando tocava lá, o Celso Machado, bom de violão,
principalmente clássico. O Filó arrumou para dobrar numa
outra boate,lá na Consolação, sumia, dificilmente voltava. Convidei o Celso Machado para fazer o violão na música Salve, no LP do Riberti. O Filó fez um arranjo e até tocou teclado, lá no estúdio Spala, do Dionísio Moreno, parece, no mesmo LP, no qual eu era o assistente de produção do Riberti.
Régis
do violão. Dentista. Era muito amigo do José Otacílio,
filho do Octacílio Amaral, o Amaral do violão. Tocava
muito bem. Violão suave, belos acordes. Mineiro. Muito falante.
Gostava de ir ao Papai da Aurora com a gente, comer a
feijoada, às terças-feiras, de madrugada. Eu ficava no caixa e
responsável pelos dois refletores que iluminavam os músicos. Quando
o próximo demorava muito. O Régis mostrava, lá do palco, o
dorso da mão esquerda, com os dedos dobrados. Era sinal que já
estava tocando há tanto tempo e que os dedos estavam, já,
desgastados. Era, apenas, uma brincadeira. Tinha outras brincadeiras,
chamava aquela parte da mulher, que vem logo abaixo da barriga e
perde-se pernas adentro, de Testa do Tatu-Meren. Não
sei de onde ele tirou esse nome.
As
cantoras Claudia Regina (tinha a mania de imitar a Elis),
até para falar. Tinha outra, não lembro o nome e a Márcia,
que fazia dupla com o seu marido, o João. Anos depois,
encontrei o João na noite de Porto Alegre, no Bar 8 e
meio, do qual eu fiz a decoração, acompanhando o flautista Plauto
Cruz. João Pernambuco, bom de viola.
Outros
passaram pelo Carinhoso, mas, esses que relacionei, são os
que mais marcaram o estilo da casa. E, também, por mais tempo
ficaram na boate. Teve o Macumbinha, muito bom
de violão. Inventor do Jequibau. O Mauricy Moura,
cantando acompanhado pelo seu violão e outros. Sumia, quando
aparecia por lá o cantor Antonio Marcos.
OCTACÍLIO
AMARAL era o dono do Carinhoso e tocava muito
bem o
seu violão. Já havia tocado na Rádio Nacional, junto
com o Bola Sete, Laurindo de Almeida, Dilermando
Reis, Luis Bonfá e mais um time pra ninguém botar
defeito. Apesar de ser o dono da boate, aparecia por lá, só de vez
em quando. Quando saíamos, gostava de ir a pé para casa. Morávamos
na Alameda Nothmann, ao lado do Palácio dos Campos Elíseos.
Daquele que roubava, mas fazia. Sabia tudo de marchinhas e
outras músicas brasileiras. Fazia, no Carinhoso, dupla com o
Casanova, que tinha uma coluna sobre música, no jornal O
Estado de São Paulo. Espécie de desafio. O Casanova também
sabia muitas músicas brasileiras. Memória privilegiada, o Amaral,
levava a melhor.
Silki.
Numa época, talvez durante uns três meses, quando saíamos do
Carinhoso,
passávamos ali na São João, quase ao lado do
Jeca. Ele queria visitar um amigo seu, o Silki, faquir,
também gaúcho. Mas, sempre encontramos o Silki bem, ficou
103 dias ali, dizia que “sem comer”. Adelino João da Silva,
o seu nome verdadeiro.
Lupicínio
Rodrigues. Costumava aparecer somente uma vez por ano. Era
amigo do Amaral. Compositor, o qual inventou o termo
dor-de-cotovelo e, além das letras machistas/gaúchas – “O
remorso talvez seja a causa do
seu
desespero/Você deve estar bem consciente do que praticou/Me fazer
passar tanta vergonha com os companheiros... ou “Mas desta vez eu
vou brigar com ela/Mesmo que por isso eu tenha que morrer/Ela sabia,
que eu não queria/Que ela saísse, sem me dizer...”. Compôs,
também, o hino do Grêmio de Futebol Porto Alegrense, “Até a
pé nós iremos... Na intimidade, o Lupa.
Enquanto a
música comia solta lá no salão, o León, o Professor
(professor de matemática e comerciante de móveis na Rua
Augusta), o Zé e eu, jogávamos Xadrez, no camarim. Cada
qual pior que o outro. Organizávamos campeonatos. A classificação
era da seguinte forma: 4º, 3º, 2º e Campeão. Contagem de pontos,
parelha.
Mais
alguns que por lá apareciam, o José Maria do Prado,
jornalista, sempre com a sua namorada, uma japonesa. O Zé Maria
havia criado o Globo Repórter, junto com o Pacheco Jordão.
A Globo colocou os dois no estaleiro e mudou o tal de Globo
Repórter. Daí, essa merda que a gente vê, hoje, na Rede de
Intrigas. O Roberto Roslindo, dentista. Tinha o seu
consultório ali na praça atrás da Biblioteca Mário de Andrade,
a qual ficava em frente à Galeria Metrópole. Outros, que nem
lembro.
Os
porteiros, fundamentais, desde a entrada. O Mané começou com
a gente.
Impecável, calça e paletó azul-marinho, camisa branca,
gravata, também azul-marinho e, o que não poderia faltar, o quepe;
também azul-marinho e, assim, permaneceu até o fim. Nunca foi até
o bar do Carinhoso para pedir alguma bebida alcoólica. Apesar
disso, estava sempre pronto. Acho que guardava a sua garrafa de cana
ali nalgum canteiro do Viaduto 9 de Julho. Não cambaleava, ainda
bem. A freguesia sempre o conheceu assim. Então...
Depois,
veio o Alemão. O Alemão gostava de, no
final da noite, enquanto eu fazia o caixa, pouco trabalho, cantar no
microfone. Eu, já deixava ligado para ele. Fechava a porta, pegava
o microfone e cantava. Não sabia de onde ele havia tirado aquele
samba. Um dia, escutando uma FM, escuto o tal samba, recentemente
gravado pelo João Gilberto, que dizia, assim: “Ai, ai, ai,
Isaura/Hoje eu não posso ficar/Se eu cair nos teus braços/Não
há despertador que me faça acordar... se você quiser, eu fico/Mas
vai me prejudicar/Eu vou trabalhar. O Alemão cresceu no meu
conceito. A partir daí, para deixá-lo mais à vontade, eu dizia,
canta aquele samba do João Gilberto. Mas, o João
Gilberto, na madrugada, àquela hora, não iria trabalhar;
estaria recém saindo do Beco das Garrafas, lá pras bandas do
Rio de Janeiro, provavelmente junto com o Antonio Carlos
Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim, e o poetinha,
Vinícius de Moraes.
O
Cachimbo, muito amigo do José Otacílio,
era o Relações Públicas do Carinhoso.
Lembro que
tinha uma namorada lá na baixada santista, a Sara. Mulato,
alto, cabelos grisalhos. Lembro, maneira de dizer, ele é quem
contava pra gente sobre essa sua namorada, dizia que era judia. Quase
moramos no apartamento, na mesma Rua Álvaro de Carvalho, do
Antonio, que acabou sendo sócio do Carinhoso, que já
era do José Otacílio, português. Raramente sorria, usava
óculos e parecia um intelectual. Sempre levava no bolso do paletó,
o seu livrinho de palavras cruzadas, que ele comprava na banca de
jornal, que ficava ali em cima, no viaduto, quase em frente à
Biblioteca Pública Mário de Andrade.
Quase
fomos em direção ao Jazz. O Vieirinha, nosso maitre, sujeito
muito simpático. Sempre recebia a clientela do Carinhoso com
o seu sorriso aberto. Tinha muitas amigas, no final, todas
freqüentavam o Carinhoso, por conta da amizade com o
Vieirinha. Com elas, o Carinhoso quase virou um
inferno, pequeno. Quando precisamos de um piano (tipo armário), lá
estava o Vieirinha que, através de uma de suas amigas, que
morava na Barra Funda, bem próximo ao Teatro São Pedro.
Transporte especial e, depois, um afinador. Tudo para o tecladista
Fogueira estrear com o seu grupo, a música de Jazz, no
Carinhoso. Não vingou. Voltamos para o samba. Durou de 1968
até 1972. Estivemos, até, na baixada santista, em Ubatuba,
num carnaval. Lembro até do cartaz, criado pelo Sagese, uma
tumbadora, em preto e branco. Conosco, estava o Théo (Theófilo
Urioste) e o Sapiran Brito, lá de Bagé, ex-chefe de
escoteiros e, também, ex-Secretário de Cultura e, vice-prefeito
do município, no governo do Varguinhas (PDT).
Assim era
o Carinhoso, uma casa de samba, no centro de São Paulo,
inaugurada em 1968.
Otávio Martins
Amaral
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