A Vantagem do Esquecimento
O esquecimento não é só uma vis inertioe, como crêem os espíritos
superfinos; antes é um poder activo, uma faculdade moderadora, à qual
devemos o facto de que tudo quanto nos acontece na vida, tudo quanto
absorvemos, se apresenta à nossa consciência durante o estado da
«digestão» (que poderia chamar-se absorção física), do mesmo modo que o
multíplice processo da assimiliação corporal tão pouco fatiga a
consciencia. Fechar de quando em quando as portas e janelas da
consciência, permanecer insensível às ruidosas lutas do mundo
subterrâneo dos nossos orgãos; fazer silêncio e tábua rasa da nossa
consciência, a fim de que aí haja lugar para as funções mais nobres para
governar, para rever, para pressentir (porque o nosso organismo é uma
verdadeira oligarquia): eis aqui, repito, o ofício desta faculdade
activa, desta vigilante guarda encarregada de manter a ordem física, a
tranquilidade, a etiqueta. Donde se coligue que nenhuma felicidade,
nenhuma serenidade, nenhuma esperança, nenhum gozo presente poderiam
existir sem a faculdade do esquecimento.
Friedrich Nietzsche, in "A Genealogia da Moral"
Friedrich Nietzsche, in "A Genealogia da Moral"
A Comédia do Ambicioso
Um homem que aspira a coisas grandes considera todo aquele que encontra no seu caminho, ou como meio, ou como retardamento e impedimento, - ou como um leito de repouso passageiro. A sua "bondade" para com os outros, que o caracteriza e que é superior, só é possível quando ele atinge o seu máximo e domina. A impaciência e a sua consciência de, até aqui, estar sempre condenado à comédia – pois mesmo a guerra é uma comédia e encobre, como qualquer meio encobre o fim -, estraga-lhe todo o convívio: esta espécie de homem conhece a solidão e o que ela tem de mais venenoso.Friedrich Nietzsche, in "Para Além de Bem e Mal"
http://www.citador.pt/textos/a-comedia-do-ambicioso-friedrich-wilhelm-nietzsche
É Preciso Aprender a Amar
Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir
um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a
distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em
seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar,
mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão
fisionómica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim
o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que
pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua
sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e,
entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis
encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele,
sempre ele.
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.
Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.
Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"
Pois quem não tiver para si dois terços de seu dia é um escravo, seja ele quem for.
Nietzsche
http://pensador.uol.com.br/frase/MTEzODA0OQ/
O Amor ao Próximo
Vós outros andais muito solícitos em redor do próximo, e a vossa solicitude exprime-se em belas palavras. Mas eu vos digo: o vosso amor ao próximo é apenas o vosso mau amor por vós próprios.
É para fugirdes de vós que andais em volta do próximo, e quereríeis converter isso numa virtude; mas pus a claro o vosso «desinteresse».
(...) Não suportais a vossa própria companhia, e não vos amais o suficiente; procurais então seduzir o próximo com o vosso amor e doirar-vos com o seu erro.
Eu quisera que todos os próximos e aqueles que se seguem se vos tornassem intoleráveis: assim teríeis de extrair de vós mesmos o amigo de coração transbordante.
Convocais uma testemunha quando quereis dizer bem de vós; e logo que a haveis induzido a pensar bem da vossa pessoa, vós mesmos pensais bem da vossa pessoa.
É mentiroso não só o que fala contra a sua consciência, mas também o que fala contra a sua inconsciência. Ora é assim que falais de vós no trânsito diário, e que enganais o próximo e a vós mesmos.
Assim fala o louco: 'O convívio dos homens estraga o carácter, sobretudo quando não tem carácter'.
Um procura o próximo porque se procura, o outro porque anseia perder-se. O vosso mau amor por vós próprios converte a vossa solidão num cativeiro.
Friedrich Nietzsche, in 'Assim Falava Zaratustra'
http://www.citador.pt/textos/o-amor-ao-proximo-friedrich-wilhelm-nietzsche
Os Quatro Erros
A educação do homem foi feita pelos seus erros: em primeiro lugar, ele nunca se viu senão imperfeitamente; em seguida, atribuiu-se qualidades imaginárias; em terceiro, sentiu-se em relações falsas diante da natureza e do reino animal; em quarto, nunca deixou de inventar tábuas do bem sempre novas e tomou cada uma delas durante um certo tempo como eterna e absoluta, de tal maneira que o primeiro lugar foi ocupado sucessivamente por este ou aquele instinto ou este ou aquele estado que enobrece esta apreciação. Ignorar o efeito destes quatro erros é suprimir a humanidade, o humanitarismo e a «dignidade humana».
Friedrich Nietzsche, in 'A Gaia Ciência'
http://www.citador.pt/textos/os-quatro-erros-friedrich-wilhelm-nietzsche
http://www.psb40.org.br/bib/b18.pdf
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