A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.
QUINTANA, M. Prosa & verso. Porto Alegre: Editora Globo, 1980.
http://pensador.uol.com.br/frase/MTY2/
Preguiça
Certa vez abalancei-me a um trabalho intitulado “Preguiça”.
Constava do título e de duas belas colunas em branco,
com a minha assinatura no fim. Infelizmente não foi aceito
pelo supercilioso coordenador da página literária.
Já viram desconfiança igual?
Censurar uma página em branco é o cúmulo da censura.
Mario Quintana ,
in Caderno H
Da preguiça como método de trabalho
Mario Quintana
A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de
caminhar, não teria inventado a roda. Não poderia viajar pelo mundo
inteiro.
Conta-se que em fins do século passado, num remoto país do Oriente, a viagem da capital à fronteira levava nada menos que trinta dias, e ainda por cima a lombo de camelo. E sucedeu que um engenheiro britânico ali residente, em nome do progresso, resolveu remediar a coisa.
– Enfim – concluiu ele, após uma audiência com o respectivo xá, ou coisa que o valha – , construindo-se a estrada de ferro de que o país tanto necessita, a viagem até a fronteira poderá ser feita em um só dia!
– Mas – objetou o velho monarca que o ouvira com uma paciência verdadeiramente oriental – o que é que a gente vai fazer dos vinte e nove dias que sobram?!
… E mais confortador das longas viagens de trem são esses burricos pensativos que vemos à beira da estrada e nos poupam assim o trabalho de pensar…
Certa vez abalancei-me a um trabalho intitulado “Preguiça”. Constava do título e de duas belas colunas em branco, com a minha assinatura no fim. Infelizmente não foi aceito pelo supercilioso coordenador da página literária.
Já viram desconfiança igual?
Censurar uma página em branco é o cúmulo da censura.
Em suma: o que prejudica a minha preguiça prejudica o meu trabalho.
Compensação:
Suave preguiça que,
do mal querer
E de tolices mil,
ao abrigo nos pões…
Por tua causa,
quantas más ações
Deixei de cometer!
[Mario Quintana - Editora Nova Aguilar, página 631]
http://www.ricardogondim.com.br/perolas/mario-quintana-elogio-a-preguica/
Conta-se que em fins do século passado, num remoto país do Oriente, a viagem da capital à fronteira levava nada menos que trinta dias, e ainda por cima a lombo de camelo. E sucedeu que um engenheiro britânico ali residente, em nome do progresso, resolveu remediar a coisa.
– Enfim – concluiu ele, após uma audiência com o respectivo xá, ou coisa que o valha – , construindo-se a estrada de ferro de que o país tanto necessita, a viagem até a fronteira poderá ser feita em um só dia!
– Mas – objetou o velho monarca que o ouvira com uma paciência verdadeiramente oriental – o que é que a gente vai fazer dos vinte e nove dias que sobram?!
… E mais confortador das longas viagens de trem são esses burricos pensativos que vemos à beira da estrada e nos poupam assim o trabalho de pensar…
Certa vez abalancei-me a um trabalho intitulado “Preguiça”. Constava do título e de duas belas colunas em branco, com a minha assinatura no fim. Infelizmente não foi aceito pelo supercilioso coordenador da página literária.
Já viram desconfiança igual?
Censurar uma página em branco é o cúmulo da censura.
Em suma: o que prejudica a minha preguiça prejudica o meu trabalho.
Compensação:
Suave preguiça que,
do mal querer
E de tolices mil,
ao abrigo nos pões…
Por tua causa,
quantas más ações
Deixei de cometer!
[Mario Quintana - Editora Nova Aguilar, página 631]
http://www.ricardogondim.com.br/perolas/mario-quintana-elogio-a-preguica/
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