quinta-feira, 5 de novembro de 2015
MEU CORAÇÃO/ NÃO SEI POR QUE...
MEU CORAÇÃO/ NÃO SEI POR QUE...
Otávio Martins Amaral
Quando eu trabalhava com o Martinez e o Reis, lá no estúdio de fotografias, na Rua Augusta, logo passando a Antonio Carlos, o Octacílio Amaral, bom de viola, meu primo, através de seu filho o José Otacílio, resolveu abrir uma casa de samba em São Paulo, o bar recebeu o nome de Carinhoso, em homenagem ao Pixinguinha e João de Barro (o Braguinha). O local havia sido uma garagem de um prédio, cuja frente dava para o Viaduto Maria Paula, ao lado de um restaurante espanhol (tinha uma Paella muito boa) de frente para o Estadão. A garagem, que transformamos em bar, ficava na Álvaro de Carvalho, 190, quase debaixo do viaduto 9 de Julho. A decoração ficou por conta de imensas fotos feitas pelos dois, Martinez (judeu argentino) e o José Reis (um grande fotógrafo), amigo do Thomaz Farkas, da Fotóptica. Ficaram lindas as fotos que decoravam o Carinhoso: minhas mãos serviram como modelo, tocando violão; uma, enorme, afixada em uma coluna (redonda), com uma relação dos grandes violonistas de todo o mundo; também, a partitura de Carinhoso, música do Pixinguinha, um dos maiores compositores brasileiros.
O Amaral (Octacílio Amaral) aparecia lá só para tocar o seu violão, relembrando marchinhas, junto com o Casanova, que escrevia sobre música, numa coluna do O Estado de São Paulo. Falar em jornal, o Shopping Neews, um pouquinho acima do Carinhoso. Abaixo, uma garagem, com elevador e tudo, ao lado do boteco (sujinho) do japonês e mais abaixo, ainda, uma boate (inferninho) dum outro japonês. A portaria ficava a cargo do Tobias, de terno e quepe, como mandava o figurino. Mais acima, no comecinho da Avanhandava O Jogral, bar ou boate, do Luis Carlos Paraná. Lá, eu assisti Clementina de Jesus acompanhada pelo violão do Turíbio Santos e outros grandes nomes da MPB.
Isso foi em 1968/69. Durou até 1972. Muita gente boa da MPB passou pelo Carinhoso. A maioria se apresentava no Jogral e dobrava no Carinhoso, nos fins de semana. Primeiro time de músicos da noite. A direção artística, a cargo do Maestro e violonista gaúcho, Zé Gomes. O Zé tocava, entre outros instrumentos, violão. Além de clássicos, Bossa Nova (solista) e tudo mais. Era um ótimo músico. Até um painel de artes plásticas ele fez lá no Carinhoso, no fundão. Era um artista, em todos os sentidos. Sempre fumando, usando a sua piteira, que tinha um filtro, não sei pra que.
Tinha o Celso Miguel, o Barbosinha, o Jorge Costa (Triste madrugada foi aquela...), o Swing (tocava o seu Reco-reco e, ainda cantava), Mauricy Moura (aquele que fez sucesso com A Professorinha do Ataulfo Alves). E, um monte de músicos, da pesada. Macumbinha, Toninho Ramos, Régis. O Waltão (inventor da Timba), Pedrinho Miguel (só tomava licor, grande prejuízo para o Carinhoso), Marinho batera, Mil e Uma Noites da Cuíca (lembro quando os americanos pisaram na lua, ele foi taxativo: “Isso é tudo mentira, filmado nos estúdios de Hollyood”, com o seu terno branco e lenço de seda, azul. Impecável. O Jacy, baixo de pau. O Bira do atabaque e o Luis Carlos, pandeiro, depois foram tocar com o Benito de Paula, que também cantava lá no Carinhoso – dobrava no Lapinha, do Roberto Luna, logo que subia o Viaduto 9 de Julho. Magrinho, subia e descia as escadarias do viaduto, com um pé nas costas. Quando tinha uma graninha mais, íamos ao Papai da Aurora, terça para quarta, feijoada e, de quebra, O Cauby, que só dizia CON-CEI – ÇÃO..., do jeito que está na música, alegrava o fim de noite de todos nós. Ditinho do Cavaco, Evandro e seu Regional e, ainda, o Manezinho da Flauta, sobrinho de Pixinguinha. Tinha, também, o Filó e seu irmão, o Celso Machado, tocando violão clássico. Também as cantoras, Márcia, mulher do João; Cláudia Regina (tinha a mania de imitar a Elis); Não lembro mais. O maitre era o Vieirinha, grande figura da noite paulistana.
O Amaral havia gravado um LP na Rosemblit, “Sua Excelência, o Violão”, na cidade do Recife, em Pernambuco. Solista de violão, do primeiro time, somente um músico o acompanhou, o ..... Esse cara, amigo em comum de outro gaúcho que, de vez em quando, aparecia com ele lá pelo Carinhoso, era o Lupicínio Rodrigues. Também, um autor importante, esse, do teatro brasileiro, o Plínio Marcos, que se apresentou num show junto com os sambistas Zeca da Casa Verde, Silvio Modesto, Talismã, Toniquinho e o grande e inesquecível Geraldo Filme. Os melhores sambistas de São Paulo passaram pelo Carinhoso.
*mais crônicas de Otávio Martins Amaral em :
http://balaacobaco.blogspot.com.br/search/label/CR%C3%94NICA#.VjuVRpeyimI
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