segunda-feira, 7 de março de 2016

O MAR E AS CATÁSTROFES AMBIENTAIS

*Triste constatar que  os oceanos, assim como as florestas estão sempre sendo atingidos... vimos o que a tragédia de Mariana significou ao mar. A lama tóxica das barragens da SAMARCO (BHP e Vale) acabaram com o Rio Doce, e chegaram ao mar do Espírito Santo, indo até a Bahia e sabe-se lá mais até onde! Os efeitos do acidente de Fukushima, talvez sejam muitas vezes piores do que os de Mariana.

Nadia Gal Stabile - 07 03 2016


https://pucminasconjuntura.wordpress.com/2014/05/13/o-efeito-de-fukushima-problema-ambiental-e-politico/

O efeito de Fukushima: problema ambiental e político


Artur Sírio
Vinícius Diniz
Resumo
O desastre ocorrido na região de Fukushima em 2011 vem alterando as concepções e opiniões de uma parcela da população japonesa e também de diversos Estados, em especial os que lidam com a energia nuclear. Além disso, as consequências dos vazamentos têm colocado autoridades e cientistas estadunidenses em alerta, já que a contaminação nuclear está prevista para chegar na costa oeste neste ano.
Contexto Histórico
Em março de 2011 o mundo se deparou com mais um acidente envolvendo usinas nucleares. Desta vez o incidente ocorreu no Japão, na cidade de Fukushima, fazendo grande número de vítimas, além de desencadear uma série de questões relativas à produção e uso da energia nuclear – a partir dos riscos da exposição do material radioativo no meio ambiente.
Fukushima é uma província que está localizada no nordeste do Japão, a quase 250 quilômetros ao norte da capital Tóquio, onde se encontra a Central Nuclear de Fukushima I. A Central foi construída pela The Tokyo Electric Power Company(TEPCO), que administra seis reatores responsáveis pela produção da energia desde 1971. Os eventos que aconteceram em Fukushima envolvendo a Central Nuclear se sucederam exatamente no dia 11 de março de 2011, quando um terremoto de magnitude 8,9 na escala Richter acompanhado de um tsunami atingiram a Central Nuclear causando o desligamento automático dos reatores, levando a diversas explosões de hidrogênio e vazamentos radioativos. Isso provocou a evacuação de comunidades, que foram orientadas a manter uma distância em torno de 25 km da área atingida, afetando mais de 100 mil pessoas logo nos primeiros dias do desastre. A força do tsunami foi tamanha que danificou a parte elétrica dos geradores, o que resultou na perda de energia dos reatores I ao IV, responsáveis pelo resfriamento dos reatores. Tais reatores ficaram superaquecidos ocasionando as explosões que expuseram radioatividade e intensificaram o vazamento. Entretanto, o desastre poderia ter sido pior caso não houvesse ajuda internacional, especialmente dos Estados Unidos, que prestaram importantes serviços em relação aos problemas com os quais as autoridades japonesas tinham que lidar, prestando ajuda médica, enviando água potável e transportando bombas para armazenar a água contaminada (HOLT, CAMPBELL e NIKITIN, 2012).
Impactos
A TEPCO é a companhia que administra a distribuição de energia em Tóquio e controla os principais reatores japoneses, inclusive o de Fukushima. A companhia em conjunto com o governo japonês está enfrentando vários desafios desde o ocorrido em 2011 até agora, onde um deles se refere aos vazamentos dos tanques de armazenamento. O fato em questão é que no momento presente são produzidas toneladas de água contaminada diariamente, que estão sendo armazenadas em tanques implantados no local (JAPÃO ELEVA GRAVIDADE…, 2013).
Uma segunda questão levantada, que não está totalmente desconectada dos vazamentos, é a contaminação do Oceano Pacífico. É sabido que a maior parte da contaminação atingiu o oceano e vem evoluindo desde 2011 até atingir a América do Norte, onde já se registraram baixos níveis de radiação (ACIDENTE DE FUKUSHIMA…, 2012). Um exemplo são águas canadenses que apresentaram alguns vestígios de poluição, levando assim a diversos estudos de prospecção que averiguaram que em meados de 2015 a radiação irá se intensificar. Nos Estados Unidos, organizações especializadas estão recolhendo diariamente amostras de água na Califórnia, Havaí e Alaska, visto que os primeiros sinais de radiação que foram liberados em Fukushima devem atingir as águas estadunidenses ainda neste ano (AMOS, 2014).
Um terceiro ponto de análise está relacionado com a contaminação de determinados animais, especialmente os que são utilizados como alimentos. Existe em torno de 42 espécies de peixes, próximo à Fukushima, que foram proibidas de serem consumidas e comercializadas internacionalmente. Outro exemplo relacionado com a contaminação de peixes se refere ao atum pescado próximo à Califórnia, no qual se constatou a presença de elementos radioativos – Césio 134 e Césio 137.  É importante salientar que a lógica da cadeia alimentar deve ser analisada também: a radiação uma vez liberada no oceano é absorvida por plantas que alimentam pequenos peixes que, por sua vez, serão alimentos de peixes maiores e estes últimos são utilizados na dieta humana (ZEESE; FLOWERS, 2013). Além disso, de acordo com especialistas japoneses, alguns animais como o plâncton contribuem para a dispersão do Césio, aumentando o poder de alcance do acidente de Fukushima (RESEARCHS FIND HIGH…, 2013).
A política nuclear japonesa sofreu algumas alterações após o incidente em Fukushima. Um exemplo disso se relaciona ao desejo anterior do governo japonês de obter 60% de toda a sua energia proveniente de fontes nucleares até 2100. Entretanto, após Fukushima as autoridades japonesas desistiram deste plano devido aos inúmeros protestos. O incidente fez com que o governo japonês desligasse algumas usinas nucleares, embora estas não apresentassem nenhuma ligação com o problema relacionado ao que ocorreu em Fukushima. Tal fato fez com que se intensificassem as importações de combustíveis fósseis (5 WAYS THE WORLD…, 2013), colocando o Japão como o segundo maior importador mundial de combustíveis, estando apenas atrás da China (EIA, 2013).
Soluções?
Infelizmente os problemas que envolvem energia nuclear não são resolvidos em curto prazo. De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a TEPCO vai levar em torno 40 anos – na melhor das hipóteses – para retirar todos os reatores que entraram em fusão em conjunto com todos os bastões de combustíveis (BARATA, 2013). Acidentes que envolvem energia nuclear demoram mais tempo para se solucionar. No caso de Fukushima não é diferente, já que alguns dos elementos envolvidos nos vazamentos, como o césio 137 e estrôncio 90, demoram mais de 300 anos para desaparecer completamente (WINGFIELD-HAYES, 2013).
Apesar do trabalho da TEPCO e das autoridades japonesas, os vazamentos de água radioativa ainda são constantes desde o terremoto em 2011. Contudo, o governo do Japão pretende resolver essa situação o mais rápido possível, e investirá cerca de R$1,1 bilhões de reais visando à construção de um “muro congelado” nas proximidades dos reatores, com o objetivo de resfria-los e se possível prevenir que a água radioativa tenha contato com os lençóis freáticos (CONTRA VAZAMENTOS, JAPÃO…, 2013). Até o presente momento, o governo japonês junto com outras empresas de energia elétrica do país, destinou cerca de 30 bilhões de euros a um fundo que vai especialmente dar suporte à TEPCO para controlar a Central Nuclear, além de também servir para indenizar as mais de um milhão de pessoas que foram prejudicadas (JAPÃO CONSIDERA URGENTE…, 2013). A solução mais recente para suprir a demanda por energia que as autoridades japonesas encontraram para a região de Fukushima seria a instalação de 140 turbinas eólicas até 2016 (ENERGIA EÓLICA CHEGA…, 2013).
Vale ressaltar que no final de 2013houve diversas iniciativas do governo japonês em incluir uma gama de países – Rússia, Grã Bretanha e França – nas discussões sobre o caso. O principal objetivo era o de trocar informações e conhecimentos que auxiliassem na resolução do problema, principalmente no que se refere à contaminação do oceano (JAPAN SEEKS INTERNATIONAL…, 2013).
Impactos Políticos no Mundo
O desastre nuclear ocorrido em Fukushima foi capaz de impactar, não apenas o meio ambiente, como já salientado, mas também a maneira de tratar o uso (pacífico) da energia nuclear em vários países do mundo. Dentre esse países também podemos incluir aqueles que praticamente não correm riscos de sofrer nenhum desastre ambiental, como o Brasil, por exemplo.
O Government Accountability Office (GAO) dos Estados Unidos disponibilizou um relatório acerca de alterações na conduta de alguns países após o caso de Fukushima, com relação ao uso de energia nuclear. O relatório sugere melhorias na segurança e utilização da energia nuclear através de visitas rotineiras de técnicos, apresentação de relatórios sobre o funcionamento de centrais nucleares, incentivo à cooperação entre agências especializadas e o governo, entre outros.
Um dos países que alterarou completamente os planos relativos à instalação de usinas foi a Alemanha. Após o acidente em Fukushima, a pressão da população alemã se intensificou fazendo com que o governo cedesse para o fechamento das usinas nucleares no país (GAO, 2014; AGUIAR, 2013). A chanceler alemã, Ângela Merkel prometeu que até 2022 vai encerrar as atividades em todas as 17 centrais nucleares (5 WAYS THE WORLD…, 2013).
O governo da Jordânia iria consultar a população civil com intuito de analisar as posições antes de dar início a um programa nuclear. Houve um aumento das exigências com relação à supervisão de usinas nucleares na China, Vietnã e Suécia.  Outros países também alteraram algumas regulamentações como, por exemplo, o Reino Unido, Coréia do Sul e França que, assim como a Suécia, implementaram e planejaram algumas melhorias na segurança antes do acidente. Com relação aos Emirados Árabes Unidos e a Indonésia, estes países já não estão certos se vão persistir nos planos de instalação de usinas nucleares (GAO, 2014). Vale ressaltar que a França pretende melhorar a segurança de suas usinas nucleares, visto que o país é dependente desta fonte energética, tanto para o consumo quanto para o comércio, e que abolir o uso seria o mesmo que parar o desenvolvimento francês (BBC, 2011). O governo suíço já fechou cinco usinas nucleares e pretende fechar gradualmente todas as outras até 2035 (SWISS WANTS SAY…, 2014).
Atualmente o Brasil possui duas usinas nucleares – Angra I e Angra II –  que não correm risco de tsunami ou terremoto, todavia foram implementadas três novas políticas que previam aumentar a segurança dessas usinas, visto que o simples fato de produzir energia nuclear pode ser algo perigoso. A primeira delas foi realizada em 2011, na qual o governo brasileiro em conjunto com a Eletrobrás (2014), constituiu alguns cenários para avaliar os impactos de “possíveis catástrofes ambientais”. Na segunda foram realizados testes relativos à capacidade de resfriamento dos reatores e a terceira estava direcionada em criar soluções para impedir vazamentos.
Em suma, podemos constatar que houve um aumento expressivo no número de encontros e fóruns entre Estados e organizações com intuito de debater sobre temas relacionados à segurança de usinas nucleares. Muitos desses debates acontecem dentro da própria União Europeia, haja vista que o bloco possui países que fazem uso da energia nuclear (GAO, 2014).
Considerações Finais
Como já abordado na análise acima, a energia nuclear tem que ser tratada de maneira muito delicada por todas as autoridades responsáveis que utilizam tal energia para manter cidades, estados, empresas e até países. No caso japonês, a questão da energia nuclear vai muito além da sua utilização, pois o Japão é limitado geograficamente e carece de recursos naturais para gerar energia para sua população. A energia nuclear no Japão tem influência no PIB, no pleno funcionamento de empresas, cidades e está envolvida nas vidas de milhares de cidadãos, o que leva a uma situação conflituosa, na qual o governo japonês, limitado em termos de opções, não pode simplesmente acabar com as usinas nucleares e parar o país. Mesmo que uma parcela da população proteste contra o uso pacífico da energia nuclear, fato que vem acontecendo desde o acidente, os interesses políticos e privados devem ser colocados em pauta para a análise do caso.
Concluindo, o caso Fukushima está longe de provocar o fim do uso da energia nuclear pelos países, todavia, de forma paradigmática, foi capaz de estabelecer um novo capítulo de entendimento na importância da prevenção e de melhorias no que se refere à  segurança nuclear.
Referências Bibliográficas
FUKUSHIMA NUCLEAR DISASTER. 2012. Federation of American Scientists Disponível em: <http://www.fas.org/sgp/crs/nuke/R41694.pdf >  Acesso em: 25 de Abril de 2014
ANÁLISE DA ENERGIA NUCLEAR DO JAPÃO. Energy Information Administration  2013. Disponível em: <http://www.eia.gov/countries/cab.cfm?fips=JA> Acesso em : 25 de Abril de 2014
FUKUSHIMA DESPEJA 1130 TONELADAS de agua toxica no mar por chegada de tufão. 2011. Portal G1. Disponível em:<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/09/fukushima-despeja-1130-toneladas-de-agua-toxica-no-mar-por-chegada-de-tufao.html> Acesso em : 25 de Abril de 2014
JAPÃO CONSTRUIRA MURO congelado ao redor de Fukushima. BBC 2011. Disponível em:<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/09/130903_fukushima_contencao_vazamento_gm.shtml> Acesso em: 25 de Abril de 2014
BARATA, Clara. Detectadas duas novas zonas de alta radioatividade em Fukushima. Portal Publico 2013. Disponível em:<http://www.publico.pt/mundo/noticia/detectadas-duas-novas-zonas-de-alta-radioactividade-em-fukushima-1603692#/0> Acesso em: 25 de Abril de 2014
JAPÃO ELEVEVA GRAVIDADE nuclear. BBC 2013. Disponível em:    <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130821_fukushima_entenda_vazamento_nuclear_mm.shtml> Acesso em: 25 de Abril de 2014.
O QUE NÓS APRENDEMOS de Fukushima. BBC 2012. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-24332346> Acesso em: 25 de Abril de 2014.
JAPÃO CONSIDERA urgente o problema da água contaminada de Fukushima. Portal G1  2014. Disponível em:<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/08/japao-considera-urgente-o-problema-da-agua-contaminada-de-fukushima.html> Acesso em : 25  de  Abril de 2014.
NUCLEAR SAFETY Countries’ Regulatory Bodies Have Made Changes in Response to the Fukushima Daiichi Accident. Government Accountability Office 2014. Disponível em: <http://www.gao.gov/assets/670/661464.pdf>  Acesso em: 25 de Abril de 2014.
ZEESE, Kevin and FLOWERS,Margaret  Fukushima – A Global Threat That Requires a Global Response. Truthout 2014. Disponível em <http://www.truthout.org/news/item/19547-fukushima-a-global-threat-that-requires-a-global-response>  Acesso em: 25 de Abril de 2014.
RESEARCHERS FIND HIGH cesium in some Pacific plankton. Japan Times 2014. Disponível em: <http://www.japantimes.co.jp/news/2013/05/22/national/researchers-find-high-cesium-in-some-pacific-plankton/#.U07PjvldXrs> Acesso em: 25 de Abril de 2014.
ENERGIA EÓLICA chega a Fukushima. Euronews 2014. Disponível em: <http://pt.euronews.com/2013/11/11/energia-eolica-chega-a-fukushima/> Acesso em: 25 de Abril de 2014.
JAPAN SEEKS INTERNATIONAL help on Fukushima leaks. CBSNEWS 2014. Disponível em:<http://www.cbsnews.com/news/japan-seeks-international-help-on-fukushima-leaks/> Acesso em 25 de Abril de 2014
5 WAYS THE WORLD changed after Fukushima . Aljazeera América 2014. Disponível em:<http://america.aljazeera.com/watch/shows/america-tonight/america-tonight-blog/2014/1/10/fukushima-nuclearfuture.htm>.  Acesso em 25 de Abril de 2014
SWISS WANT SAY on nuclear phase out. World Nuclear News 2014. Disponível em: <http://www.world-nuclear-news.org/NP-Swiss-want-say-on-nuclear-phase-out-2301144.html>. Acesso em 25 de Abril de 2014.




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