sexta-feira, 18 de março de 2016

OPERAÇÃO ALETHEIA: O FASCISMO NÃO É O PIOR




Aletheia: o Fascismo Não É o Pior.
Carlos A. Lungarzo
Segundo os eruditos em linguística clássica da mídia brasileira, a palavra aletheia significa verdade em grego. Parece uma ironia, porque dificilmente é possível lembrar uma operação tão tortuosa como esta fase da Lava Jato, o que não significa que as outras, cada uma em sua medida, fossem “tranquilas”.
Mas, mesmo que não pareça à primeira vista, o nome da operação é apropriado. Antes de pensar que estou virando coxinha, vejam as minhas razões.
Essa palavra grega quer dizer desvelamento. Com efeito, aletheia deriva de alethos, que significa a = sem e lethe = esquecimento. Daí deriva a palavra latina “latente”, aquilo que não é explícito. Ou seja, aletheia é aquilo que fica sem esquecimento, fora do estado de latência, evidente, etc.
Quer dizer que a PF leu Parmênides de Eleia? Talvez. A PF inventa uns nomes muito bonitos, derivados do grego, do sânscrito e outros; e alguns de seus quadros são cultos. (Isso não é surpreendente: Heydrich e Kalterbrunner também eram muito versados em línguas e artes.)
Aliás, estamos na época dos repressores cultos.
Os ignorantes esquerdistas não sabíamos (e aprendemos com os promotores) que Marx (que tinha 12 anos quando Hegel morreu de cólera em 1831, e vivia a 722 quilómetros de distância), se comunicava com seu mestre pela Internet e assim escreveram juntos o famoso romance Os Bandeirantes Vermelhos.
Mas, por diversas razões, penso mais provável que a ideia de usar a palavra aletheia por parte dos tiras seja uma homenagem ao filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), que a tornou popular entre o público filosófico. Ele baseia a origem da palavra germânica Wahrheit (verdade) no termo grego aletheia. (Não cito os livros onde aparece, porque sua leitura pode fazer mal a saúde.)
Entender Heidegger literalmente é impossível se você não tiver a mesma inspiração mística ou uma patologia semelhante à dele. Dê uma olhada neste texto escrito por filósofos brasileiros, e diga se entende uma palavra:
Mas, se não dá para entender seu pensamento filosófico, podemos sim entender o pensamento político do qual sua filosofia é apenas uma máscara. De 1988 até 2005, os melhores especialistas no nazismo intelectual, como o chileno Farías e o francês Faye, entre outros, têm analisado os significados do mais prestigioso reitor, ideólogo e delator da Alemanha nazista.
Para Heidegger, verdade, Wahrheit, ou aletheia é a “descoberta” do Ser (seja o que for o que isso quer dizer), que, por sua vez, não é feita por qualquer coitado imbecil, como um cientista, um pesquisador, um historiador ou um popular.
Nenhum desses tem acesso à verdade. Segundo Heidegger, o Revelador do Ser (ou, em bom portunhol, o “dono de verdade”) é aquele que encarna os grandes valores de uma raça, o espírito do povo (Volksgeist), é o que representa a força do Sangue e do Solo (Blut und Erde).
Em alguns discursos, Heidegger identificou a procura da verdade com o Führerprinzip (o princípio do líder), mas em suas obras filosóficas sua paixão pelo nazismo é mais sutil.
Mas, antes de Hitler existir, já houve outros profetas da aletheia. E Heidegger sempre reconheceu que o outro grande “Aletheiador” foi Abraham a Sancta Clara (1644-1709), pseudônimo de um grotesco monge agostiniano austríaco, uma mente doentia como houve poucas, e o maior consolidadores do antigo e vigoroso racismo germânico.
Meu ponto aqui é que a aletheia da Lava Jato, mesmo se a PF tivesse tirado a palavra dos filósofos pré-socráticos e não de Heidegger, tem tudo a ver com a prática desses algozes e seus patrões Torquemada’s.
Portanto, fica demonstrado que o nome dessa operação é muito adequado. Agora, a segunda parte: por que a coisa é nazismo e não apenas fascismo.
Nos últimos dias, milhares de ativistas denunciam que as instituições jurídicas e mediáticas estão avançando na direção do fascismo. Eu acho isso correto, mas deve ter-se cuidado em não cair em maniqueísmos, e, sobretudo, em ser precisos nas acusações.
O Fascismo, não sentido original da palavra, não é o pior. O fascismo teve basicamente três herdeiros, na Europa, cuja violência e crueldade foi muito mais grave que a do fascismo que os inspirou: a Ustasha croata, o Nazismo alemão e a Aliança Falange-Opus Dei na Espanha.
O fascismo caracterizou-se por um enorme autoritarismo, chauvinismo, preconceito e violência, mas essas características variaram em cada um dos países onde foi triunfante. Por exemplo, um oficial major da Wehrmacht, durante a Guerra, mandou uma mensagem a Himmler desde Zagreb, dizendo que as atrocidades cometidas pelos croatas prejudicavam o sentido de honra do nazismo. Pode parecer incrível, mas é assim mesmo.
Eu acredito que a atual teia policial-mediático-judicial está menos para fascismo clássico e mais para Gestapo, Goebbels e Freisler. Dito seja com o maior respeito para os originais, pois as imitações são sempre de menor qualidade.
Para apreciar as diferenças entre fascismo e nazismo, vejamos o caso de um famoso filósofo italiano, cuja influência é enorme ainda hoje. Antonio Gramsci, um dos grandes inimigos do fascismo e uma das mais relevantes mentes do marxismo, esteve preso na Itália entre 1926 e 1934.
Ele era (e ainda é hoje) uma figura extremamente “perigosa” para os fascistas por sua defesa da ação cultural como método contra a dominação da direita, que, dito seja de passagem, é a única forma viável de lutar contra o capitalismo.
Proponho esta charada:
Quanto tempo passaria preso Gramsci se estivesse no Brasil atual, com os atuais juízes e promotores?
Certamente, não podemos saber com certeza, mas, se você lembrar a “regra de três” da escola, pode calcular facilmente com base no seguinte exemplo:
O exilado político chileno Maurício Hernández Norambuena está preso no Brasil desde 2002 em prisões de máxima segurança, sendo removido continuamente a lugares cada vez mais remotos. Ele está doente, mas não é atendido por médico nenhum. Ele foi acusado de cometer delitos comuns no Brasil (nunca os delitos são tratados como políticos), mas execução da sentença acabou faz quatro anos.
Além disso, a justiça Brasileira (que sempre morre de prazer para extraditar esquerdistas) se recusa a extraditá-lo, justamente porque isso o beneficiaria. No Chile, teria um trato menos sádico e mórbido que aqui. Os meritíssimos não querem que ele seja punido. Querem puni-lo com sua própria “picana[i]”.
Inversamente, Gramsci, que ficou doente na prisão foi atendido em hospitais de Formio e Roma, e conseguiu sua soltura por causas humanitárias (não é brincadeira; os fascistas se apiedaram de sua doença. Fariam isso nossos juízes???)
Norambuena cumpriu faz tempo sua pena, mas é mantido preso para agradar a plutocracia brasileira, que foi alvo de seus “delitos comuns”. Na Alemanha Nazista, possivelmente estaria nas mesmas condições que no Brasil, mas na Itália, sem dúvida, já estaria livre.
Por isso creio que devemos mudar “fascismo” por “nazismo”, nessa denúncia sobre o avanço do golpe jurídico-policial-mediático. Pelo menos, até que se acunhe uma expressão mais adequada.
Vou dar algumas razões:
O nazismo é uma forma de fascismo muito complexa, não apenas alimentada pelo autoritarismo, mas, também pelo ódio, o misticismo, a sede de vingança, a paixão pela tortura, e, em termos gerais, por uma enorme sociopatia, que a Escola de Frankfurt relacionou, muito acertadamente, com graves transtornos sexuais.
O mais conhecido desses transtornos é a dificuldade que enfrentavam membros da Gestapo e do Gerichtshof de obter orgasmo se não mediasse o sofrimento de pessoas a eles submetidas.
No caso da polícia era mais fácil, porque eles torturavam as vítimas diretamente e o fedor do sangue, os prantos e os gritos de dor incrementavam seu tesão. O magistrado tinha que manter a dignidade da toga, e geralmente assistia às torturas praticadas pela Gestapo ou a SS, mas não tocava nos prisioneiros. No máximo, ele dava passo à corrente com um switch. No entanto, não há registros de como era um orgasmo do juiz.
Isto pode parecer exagerado, mas convido ao leitor interessado a comparar detalhes sobre os fascistas tradicionais e os nazistas. Hoje em dia há várias dúzias de livros em inglês e francês onde estes aspectos de compulsam centímetro e centímetro.
Mas, vejamos só um exemplo autóctone:
“Coxinhas” do show do dia 13 na Paulista não admitiram entre seus apoiadores figuras como o governador de São Paulo e outras que seriam consideradas à direita dos camisas negras num comício do Fascio em, por exemplo, 1935.
Entretanto, esses hooligans aclamam um psicopata escandaloso que faz propaganda do estupro em plena “Casa do Povo”, e adoram um jovem edípico e sombrio, que nutre seu ócio soturno com pegadinhas e grampinhos.
Vejamos outras analogias entre os Lavajáticos e os nazistas.
1.     O sistema de propaganda de ultradireita no Brasil é (mesmo descontando as mudanças da revolução tecnológica) mais totalitário do que foi na Itália dos 30, e só é ultrapassado com o estabelecido por Goebbels na Alemanha, ou com Franco na Espanha.
2.    A tortuosidade usada pela Lavo Jato parece em tudo ao sistema de coerção e distorção da Gestapo. Se não há tortura é porque os prisioneiros são ricos e/ou famosos, mas todos sabem que as torturas que aplica a polícia brasileira aos populares são agora maiores que no período 1974-1985.
3.    Outra coisa importante, típica do nazismo é o apurado sistema de espionagem, grampeamento, falsificação da informação, pentitismo mirabolante, “adivinhação” sobre o pensamento alheio, praticada pelo Torquemada caipira e seus bizarros promotores.
4.    Ainda temos, o crime de intenção, que foi aplicado algumas vezes na Itália (sobretudo após o fascismo oficial, na década de 70), mas que só foi usado de maneira consistente no nazismo e no stalinismo. Aqui é o mesmo: o dark boy da nova direita escudrinha as intenções.
Se Lula diz a seu filho “dirija devagar”, essa frase, que ele grampeou, significa “Cuidado, meu filho; observe se o juiz Roland Freisler não está seguindo você”. Se Lula tomou um chope, quando o alcaguete comunica aos promotores, eles dizem: “Tá claro. Parou nesse bar para vender um lote de Merca”.
5.    Além disso, a Gestapo é um modelo perfeito do atual estado policial brasileiro: promoção da delação, da perfídia, da bajulação, do culto à personalidade das autoridades, da covardia, da submissão, da aceitação e promoção de informação falsa, da intimidação pública, da explosão de boatos... Em fim, uma corporação de chicote e vinil, mas sem a excitação que, segundo dizem os que praticam, produz o BDSM.
Alguns pensam que o PT e o governo estão pagando suas culpas por ter suportado durante 14 anos as provocações nazistas, com atitudes de negociação e até de humilhação; por ter se submetido ao mercado, e por ter abandonado seus militantes, que, se fossem agora tão robustos como eram em 1985, seriam suficientes para esmagar os nazistas.
Mas, esse tipo de pensamento vingativo é desumano, e, afortunadamente, a esquerda está engrossado os atos contra o terrorismo de estado. Aliás, apesar de todos seus defeitos, cuja correção deve ser exigida, os governos dos PT foram, sem dúvida, os melhores do Brasil, e estão entre os quatro melhores da história na América do Sul.
Creio que nós, da esquerda, devemos pensar que o sistema que há no Brasil hoje deve ser defendido a qualquer custo que seja compatível com os direitos humanos, esquecendo mágoas e ressentimentos. Isso não impede repudiar todas as viragens à direita que o governo passa tentar.
É verdade que o que nós temos não é propriamente democracia, mas uma agenda eleitoral mais ou menos precisa, onde alguns direitos se respeitam se você não for negro, pobre, de esquerda, ou combinado com a esquerda. Mas é bem melhor que o Paquistão ou a Arábia Saudi. Defender esta quase-semi-democracia pode nos dar a oportunidade única de atingir, algum dia, uma verdadeira democracia.
Mas, também devemos imaginar um futuro realista, para criar coragem nas próximas lutas. Esse futuro por deduzir-se do passado.
Pessoas com mais de 35 anos devem lembrar o que foi o principado tucano: milhões sem emprego e sem direitos, repressão violenta contra petroleiros e outros sindicatos, permanente arrasamento dos movimentos sociais, quebradeiras em série, e ainda o cínico sorriso dos algozes, sobre cujos lucros gigantescos jamais se falou. Inclusive, foi nessa época, com o famoso gasoduto que começou a grande corrupção da PB, e até o mensalão mineiro.
Entretanto, como já disseram alguns analistas brasileiros, mesmo a situação que se viveu sob FHC pode ser ainda muito pior.
Após 14 anos de sabotagem, tentativas de golpes, centenas de provocações a todos os níveis, a direita chega a um limiar onde pode desfrutar do cheiro de sangue. Isso fará sua vitória muito mais bárbara, pois será necessário vingar-se de 14 anos de frustração.
Lembremos que, durante a campanha de 2014, os ex candidatos acharam exageradamente alto o salário mínimo, e teimaram na independência (ou seja, privatização) do Banco Central. Sempre é possível estar pior.



[i] Picana (não picanha, hein!) é o nome que se dá, na gíria policial da região Sul, à tortura aplicada por meio de eletrodos carregados com alta voltagem.


INÍCIO 


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