*MATÉRIA DE 2012
http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2012/03/para-marilena-chaui-ditadura-militar-fez-com-que-universidades-nao-oferecam-formacao-humanista
Para Chauí, ditadura iniciou devastação física e pedagógica da escola pública
por Paulo Donizetti de Souza, Rede Brasil Atual
publicado
29/03/2012 19:11,
última modificação
13/06/2012 10:49
"Você saía de casa para dar aula e
não sabia se ia voltar, se ia ser preso, se ia ser morto. Não sabia."
(Foto: Gerardo Lazzari/ Sindicato dos Bancários)
São Paulo – Violência repressiva, privatização e a reforma
universitária que fez uma educação voltada à fabricação de mão-de-obra,
são, na opinião da filósofa Marilena Chauí, professora aposentada da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, as cicatrizes
da ditadura no ensino universitário do país. Chauí relembrou as duras
passagens do período e afirma não mais acreditar na escola como espaço
de formação de pensamento crítico dos cidadãos, mas sim em outras
formas de agrupamento, como nos movimentos sociais, movimentos
populares, ONGs e em grupos que se formam com a rede de internet e nos
partidos políticos.
Chauí, que "fechou as portas para a mídia" e diz não conceder entrevistas desde 2003, falou à Rede Brasil Atual após
palestra feita no lançamento da escola 28 de de Agosto, iniciativa do
Sindicato dos Bancários de São Paulo que elogiou por projetar cursos de
administração que resgatem conteúdos críticos e humanistas dos quais o
meio universitário contemporâneo hoje se ressente.
Quais foram os efeitos do regime autoritário e seus interesses ideológicos e econômicos sobre o processo educacional do Brasil?
Vou dividir minha resposta sobre o peso da ditadura na educação em
três aspectos. Primeiro: a violência repressiva que se abateu sobre os
educadores nos três níveis, fundamental, médio e superior. As
perseguições, cassações, as expulsões, as prisões, as torturas, mortes,
desaparecimentos e exílios. Enfim, a devastação feita no campo dos
educadores. Todos os que tinham ideias de esquerda ou progressistas
foram sacrificados de uma maneira extremamente violenta.
Em segundo lugar, a privatização do ensino, que culmina agora no
ensino superior, começou no ensino fundamental e médio. As verbas não
vinham mais para a escola pública, ela foi definhando e no seu lugar
surgiram ou se desenvolveram as escolas privadas. Eu pertenço a uma
geração que olhava com superioridade e desprezo para a escola
particular, porque ela era para quem ia pagar e não aguentava o tranco
da verdadeira escola. Durante a ditadura, houve um processo de
privatização, que inverte isso e faz com que se considere que a escola
particular é que tem um ensino melhor. A escola pública foi devastada,
física e pedagogicamente, desconsiderada e desvalorizada.
E o terceiro aspecto?
A reforma universitária. A ditadura introduziu um programa conhecido como MEC-Usaid,
pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, para a América Latina
toda. Ele foi bloqueado durante o início dos anos 1960 por todos os
movimentos de esquerda no continente, e depois a ditadura o implantou.
Essa implantação consistiu em destruir a figura do curso com
multiplicidade de disciplinas, que o estudante decidia fazer no ritmo
dele, do modo que ele pudesse, segundo o critério estabelecido pela sua
faculdade. Os cursos se tornaram sequenciais. Foi estabelecido o prazo
mínimo para completar o curso. Houve a departamentalização, mas com a
criação da figura do conselho de departamento, o que significava que um
pequeno grupo de professores tinha o controle sobre a totalidade do
departamento e sobre as decisões. Então você tem centralização. Foi dado
ao curso superior uma característica de curso secundário, que hoje
chamamos de ensino médio, que é a sequência das disciplinas e essa ideia
violenta dos créditos. Além disso, eles inventaram a divisão entre
matérias obrigatórias e matérias optativas. E, como não havia verba para
contratação de novos professores, os professores tiveram de se
multiplicar e dar vários cursos.
"Fazer uma universidade comprometida com o que se passa na realidade
social e política se tornou uma tarefa muito árdua e difícil"
Houve um comprometimento da inteligência?
Exatamente.
E os professores, como eram forçados a dar essas disciplinas, e os
alunos, a cursá-las, para terem o número de créditos, elas eram chamadas
de “optatórias e obrigativas”, porque não havia diferença entre elas.
Depois houve a falta de verbas para laboratórios e bibliotecas, a
devastação do patrimônio público, por uma política que visava
exclusivamente a formação rápida de mão de obra dócil para o mercado.
Aí, criaram a chamada licenciatura curta, ou seja, você fazia um curso
de graduação de dois anos e meio e tinha uma licenciatura para lecionar.
Além disso, criaram a disciplina de educação moral e cívica, para todos
os graus do ensino. Na universidade, havia professores que eram
escalados para dar essa matéria, em todos os cursos, nas ciências duras,
biológicas e humanas. A universidade que nós conhecemos hoje ainda é a
universidade que a ditadura produziu.
Essa transformação conceitual e curricular das universidade
acabou sendo, nos anos 1960, em vários países, um dos combustíveis dos
acontecimentos de 1968 em todo mundo.
Foi, no mundo inteiro. Esse é o momento também em que há uma
ampliação muito grande da rede privada de universidades, porque o apoio
ideológico para a ditadura era dado pela classe média. Ela, do ponto de
vista econômico, não produz capital, e do ponto de vista política, não
tem poder. Seu poder é ideológico. Então, a sustentação que ela deu fez
com que o governo considerasse que precisava recompensá-la e mantê-la
como apoiadora, e a recompensa foi garantir o diploma universitário para
a classe média. Há esse barateamento do curso superior, para garantir o
aumento do número de alunos da classe média para a obtenção do diploma.
É a hora em que são introduzidas as empresas do vestibular, o
vestibular unificado, que é um escândalo, e no qual surge a
diferenciação entre a licenciatura e o bacharelato.
Foi uma coisa dramática, lutamos o que pudemos, fizemos a resistência
máxima que era possível fazer, sob a censura e sob o terror do Estado,
com o risco que se corria, porque nós éramos vigiados o tempo inteiro.
Os jovens hoje não têm ideia do que era o terror que se abatia sobre
nós. Você saía de casa para dar aula e não sabia se ia voltar, não sabia
se ia ser preso, se ia ser morto, não sabia o que ia acontecer, nem
você, nem os alunos, nem os outros colegas. Havia policiais dentro das
salas de aula.
Houve uma corrente muito forte na década de 60, composta por
professores como Aziz Ab'Saber, Florestan Fernandes, Antonio Candido,
Maria Vitória Benevides, a senhora, entre outros, que queria uma
universidade mais integrada às demandas da comunidade. A senhor tem
esperança de que isso volte a acontecer um dia?
Foi simbólica a mudança da faculdade para o “pastus”, não é campus
universitário, porque, naquela época, era longe de tudo: você ficava em
um isolamento completo. A ideia era colocar a universidade fora da
cidade e sem contato com ela. Fizeram isso em muitos lugares. Mas essa
sua pergunta é muito complicada, porque tem de levar em consideração o
que o neoliberalismo fez: a ideia de que a escola é uma formação rápida
para a competição no mercado de trabalho. Então fazer uma universidade
comprometida com o que se passa na realidade social e política se tornou
uma tarefa muito árdua e difícil.
"Esse é o momento também em que há uma ampliação muito grande da rede
privada de universidades, porque o apoio ideológico para a ditadura era
dado pela classe média"
Não há tempo para um conceito humanista de formação?
É uma luta isolada de alguns, de estudantes e professores, mas não a tendência da universidade.
Hoje, a esperança da formação do cidadão crítico está mais
para as possibilidades de ajustes curriculares no ensino fundamental e
médio? Ou até nesses níveis a educação forma estará comprometida com a
produção de cabeças e mãos para o mercado?
Na escola, isso, a formação do cidadão crítico, não vai acontecer.
Você pode ter essa expectativa em outras formas de agrupamento, nos
movimentos sociais, nos movimentos populares, nas ONGs, nos grupos que
se formam com a rede de internet e nos partidos políticos. Na escola, em
cima e em baixo, não. Você tem bolsões, mas não como uma tendência da
escola.
Leia especial sobre os 48 anos do golpe de 1964:
*COLOCO AQUI ATÉ OS COMENTÁRIOS DOS LEITORES DO SITE "REDE BRASIL ATUAL" (*nota minha - Nadia Gal Stabile SARAU PARA TODOS)
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Fico impressionada como algumas pessoas ainda acreditam que o período
da ditadura trouxe algo de positivo, além da fantasia de que um período
tão sombrio, possa ser superado rapidamente. Fico com a verdade
daqueles que vivenciaram e lutaram, trazendo na pele as marcas
indeléveis deixadas por esse momento histórico de nosso país. Recomendo o
livro: Diário de Fernando, do Frei Betto
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Rafaela este é o ônus do livre pensar. Conheço grupos de ex-militares
que estão organizados e captando cada vez mais pessoas com o discurso
que podem fazer melhor. Assim como existem os Nazistas e os defensores
do Coronelismo.
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Uma mentira bem contada pode se tornar uma verdade! Hoje, sem
ditadura alguma, vemos uma educação fraca, escolas depredadas, sem
segurança alguma e, além disso, uma juventude sem disciplina e sem
respeito aos mestres! Onde está a qualidade da educação na democracia
moderna do Brasil?
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Caro ASSM, o que temos hoje é a herança, ainda não superada, do
desmonte que a ditadura militar realizou com a escola pública em todos
os níveis, nas esferas federal, estaduais e municipais. A reconstrução
da escola pública, após 21 anos de desmantelamento, não ocorre num
estalar de dedos, como vc deve imaginar. A partir do governo Sarney,
passando por Collor, Itamar e dois mandatos de FHC, pouco se fez para a
recuperação do ensino público. Então, não queira debitar às três gestões
petistas o descalabro em que se encontra a educação no Brasil. Mas tem
havido um grande esforço no sentido da recuperação do ensino público,
cujo início se passa necessariamente por sua reestruturação material.
Nestas três gestões petistas, foram criadas 18 universidades federais e
centenas de escolas técnicas - e isso significa um grande investimento
nessa área. Nos governos anteriores ao do presidente Lula, não foram
criadas nenhuma federal.
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CONCORDO EM NUMERO GÊNERO E GRAU SOU BOLSISTA DE DE UMA FACULDADE
PARTICULAR GRAÇAS A AO PROUNE E AO LULA QUE OLHOU PARA OS ALUNOS MAIS
CARENTE.
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Infelizmente, as pessoas utilizam do discurso para alienar a
população. Faltou a Professora M. Chauí dizer que o PT(Partido no qual, a
professora é simpatizante), está no governo federal há mais de 10 anos,
e acho que seria tempo suficiente para mudar algumas características da
educação brasileira. Cabe ressaltar que as universidades públicas
brasileiras(muitas são referência) foram construidas e normatizadas
nesse período. Ainda bem que não foram no governo do PT, pois, ao invés
de ter guarda em sala de aula, a senhora estaria sendo escoltada por
traficantes e analfabetos. A democracia Brasileira promoveu uma das
maiores atrocidades na educação: a progressão continuada, que construiu
uma população analfabeta(não venha dizer que uma pessoa que escreve seu
nome, mas não interpreta uma frase, seja alfabetizada), e que por muito
tempo estará á margem da sociedade. Quiseram apenas conseguir com isso o
dinheiro da UNESCO, mas que ao longo do tempo, tornou-se mais nocivo
que a falta dele. Veremos os desastre por completo daqui 2 ou 3 décadas,
período este em que teremos milhares de miseráveis e ao mesmo tempo
analfabetos, sem condições de brigar por um emprego no mercado de
trabalho: Bolsa família + progressão continuada= aumento da violência,
guerra civil e barbárie na sociedade civil. Para que estudar se há a
possibilidade de receber o diploma sem esforço e para que trabalhar se
posso ser sustentado( não sendo inválido), pelo governo.
-
João Vitor, vc não leu direito a entrevista. Na USP não havia guardas
nas salas de aula, mas espiões e informantes dos órgãos de segurança
para sequestrar professores ou alunos, caso estes manifestassem qualquer
ideia que desagradassem ao regime militar. Agora, um absurdo a sua
afirmação de que a democracia "promoveu uma das maiores atrocidades na
educação: a progressão continuada". Essa maldita "progressão automática"
é ideia de um ex-governador de SP chamado José Serra (e prosseguida
por Alckmin). Essa excrescência não tem nada a ver com democracia. Vc
reclama do PT, mas foi o governo desse partido que implantou 18
universidades federais e centenas de escolas técnica no país. Quantas o
FHC criou em seus 8 anos? Nenhuma! Então, meu caro, imagine 21 anos de
destruição da educação pública, somados aos outros mandatários que
praticamente nada fizeram. Agora, não é nada razoável querer debitar
toda essa desgraça na conta do PT.
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Grande !!!! Sinto que a enfermidade cultural e política nos
atormente dia-a-dia, sem que haja por breve uma solução para as
necessidades que a sociedade brasileira e acredito que a sul-americana,
tenham em seus bolsões, chamados agora de classe C, D, E, e mais ...
Aqueles que acreditávamos estar ao nosso lado - e me incluo, pois fui
bolsista federal do extinto CREDUC, e paguei de volta- não mais estão,
fazem igualzinho aos temidos testas de ferro da ditadura. lamentável!
Onde estão os homens do povo?
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No Rio Grande do Sul do século XXI - assim como em todo o Brasil e
América Latina - quem dá as diretrizes, aponta os rumos da educação
pública "em cima e em baixo" é o Banco Mundial.
Tarso Genro, o pai
da Lei do Piso Salarial Nacional quando ministro da Educação, hoje
governador, se nega a pagar o que manda a lei descumprindo sua promessa
de campanha.
Não bastasse isto, implanta uma reforma do ensino
médio que tem por objetivo final exatamente a formação aligeirada e
desprovida de perspectivas de continuidade de estudos em nível superior.
Propõe exatamente "atender as necessidades do mercado..." e orientar os
currículos conforme as demandas dos APLs - Arranjos Produtivos Locais,
em cada região do estado.
Me parece que esta é a continuação da
lógica implantada pela ditadura e, agora, dirigida pelo "governo
planetário", o Banco Mundial.
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O problema de intelectuais é que transformam a realidade em
palavras e não conseguem enxergar a realidade sem palavras, para eles a
realidade é só um conceito.
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Muitos viveram essa época,de perseguição,policiais montados nas
portas das Faculdades,á menor menção de movimento,eles partiam prá cima
com animais guiados por outros.Eles colocavam bombas de gaz nos
elevadores,e esperavam os alunos no final das escadarias.Não se
conseguiu mudar nada,as palavras dessa mestra me levou àqueles
tempos,Era em quase todo o Brasil,viajei prá o Rio,prá casa de uma
amiga,imaginando sair daqui até que as coisas acalmassem,e no aeroporto
mesmo vi que lá estava pior,Castelo Branco assumindo o regime,policiais
por todo o canto,o Catete estava em pé de guerra.Abordavam com toda a
estupidez,revistavam tudo!Foi um horror,fui prá Tijuca prá casa de uma
amiga casada com o dono do Palheta,português,não entendia muito o q
acontecia,e não queria problemas,então politica não se discutia, e
fiquei sitiada. Não gosto de lembrar. Ao voltar,terminei o curso,como
queriam,mudou tudo,e impotentes tínhamos mais que calar! Alguns
realmente estão no poder,e a luta inglória resultou em nada:21 anos de
submissão prá acabar com discursos vazios.A democracia que vivemos hoje,
é tão somente porque aprendemos a calar e se submeter naquela época!
Hoje nossos filhos através de nós aprenderam a acreditar em qualquer
balela.Calar prá esperar melhorarar,porque pior já esteve: foi o que
aprendemos durante o regime militar.AI5 era uma desgraça,censura prá
tudo.Após Ulysses,Tancredo, o que restou foram brasileiros moralmente
cansados e dispostos a recomeçar! Alguns!!
-
Até hoje os professores universitários de esquerda, são perseguidos
de maneira sub-reptcia ou camuflada. A direita conservadora presente e
atuante nas universidades brasileiras é responsável pela privatização
sutil dos hospitais universitários e algumas áreas do ensino.O desmonte
das universidades facilita atese que privatizar é o melhor remédio.
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e após a ditadura? parace que ficou estagnado essas pessoas que era
atormentadas pela ditadura, viraram lideres políticos e não mudaram
nada.. hoje sou professor de Artes, matéria ridcularizada pela política,
matéria feita por pessoas de bom nível, mas tratada na forma da
ditadura.. somos obrigados a ser polivalentes, a ter que enfeitar murais
... Nas escolas públicas de hoje as crianças são apoiadas a fazerem o
que quiserem sem medo ou culpa.. o governo nos obriga a aprova-las.. e
cadê o pessoal que viveu aquilo, foi para o poder e continua fazendo
muito pouco..
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