http://agenciapatriciagalvao.org.br/agenda/ato-solene-da-marcha-das-mulheres-negras-2015/
O Núcleo Impulsor do Estado de São Paulo da Marcha das Mulheres
Negras, com apoio da deputada Estadual Leci Brandão e Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo, realiza no dia 11 de novembro, às
19h, o ato solene de apresentação da carta de princípios do Estado de
São Paulo.
Local: Auditório Paulo Kobayashi – Assembleia
Legislativa de São Paulo – Avenida Pedro Álvares Cabral, 201, andar
monumental, Ibirapuera, São Paulo/SP – CEP 04097-900
https://www.facebook.com/events/1695073590726999/
MANIFESTO DA MARCHA DAS MULHERES NEGRAS
Somos 49 milhões de mulheres negras, isto é, 25% da
população brasileira. Vivenciamos a face mais perversa do racismo e do
sexismo por sermos negras e mulheres. No decurso diário de nossas vidas,
a forjada superioridade do componente racial branco, do patriarcado e
do sexismo, que fundamenta e dinamiza um
sistema de opressões que impõe, a cada mulher negra, a luta pela
própria sobrevivência e de sua comunidade. Enfrentamos todas as
injustiças e negações de nossa existência, enquanto reivindicamos
inclusão a cada momento em que a nossa exclusão ganha novas formas.
Impõe-se na luta pela terra e pelos territórios quilombolas, de onde
tiramos o nosso sustento e mantemo-nos ligadas à ancestralidade.
A
despeito da nossa contribuição, somos alvo de discriminações de toda
ordem, as quais não nos permitem, por gerações e gerações de mulheres
negras, desfrutarmos daquilo que produzimos.
Fomos e continuamos
sendo a base para o desenvolvimento econômico e político do Brasil sem
que a distribuição dos ativos do nosso trabalho seja revertida para o
nosso próprio benefício.
Consideramos que, mesmo diante de um quadro
de mobilidade social pela via do consumo, percebido nos últimos anos,
as estruturas de desigualdade de raça e de gênero mantêm-se por meio da
concentração de poder racial, patriarcal e sexista, alijando a nós,
mulheres negras, das possibilidades de desenvolvimento e disputa de
espaços como deveria ser a máxima de uma sociedade justa, democrática e
solidária.
Não aceitamos ser vistas como objeto de consumo e cobaias
das indústrias de cosméticos, moda ou farmacêutica. Queremos o fim da
ditadura da estética europeia branca e o respeito à diversidade cultural
e estética negra. Nossa luta é por cidadania e a garantia de nossas
vidas.
Estamos em Marcha para
exigir o fim do racismo em todos os seus modos de incidência, a exemplo
da saúde, onde a mortalidade materna entre mulheres negras estão
relacionadas à dificuldade do acesso aos serviços de saúde, à baixa
qualidade do atendimento recebido aliada à falta de ações e de
capacitação de profissionais de saúde voltadas especificamente para os
riscos a que as mulheres negras estão expostas; da segurança pública
cujos operadores e operadoras decidem quem deve viver e quem deve morrer
mediante a omissão do Estado e da sociedade para com as nossas vidas
negras.
Denunciamos as batalhas solitárias contra a drogadição e a
criminalização do nosso povo e contra a eliminação de nossas filhas e
filhos pelas forças policiais e pelo tráfico, há muito tempo!
Denunciamos o encarceramento desregrado de nossos corpos, vez que
representamos mais de 60% das mulheres que ocupam celas de prisões e
penitenciárias deste país.
Ao travarmos batalhas solitárias por
justiça num quadro de extrema violência racial, denunciamos a cruel
violência doméstica que vem levando aos maus tratos e homicídios de
mulheres negras, silenciados em dados oficiais. Lutamos pelo fim do
racismo estrutural patriarcal que promove a inoperância do poder público
e da sociedade sobre a exterminação da nossa população negra .
Estamos em marcha para reivindicamos o livre culto de nossas divindades
de matriz africana sem perseguições, nem profanações e depredações de
nossos templos sagrados.
Estamos em marcha contra a remoção racista
das populações das localidades onde habitam.Lutamos por moradia digna;
por cidades que não limitem nosso direito de ir e vir e contra a
segregação racial do espaço urbano e rural; por transporte coletivo de
qualidade; por condições de trabalho decente nas diferentes profissões
que exercemos. Valorizamos nosso patrimônio imaterial em terreiros,
escolas de samba, blocos afros, carimbó, literatura e todas as demais
manifestações culturais, definidoras da nossa identidade negra.
Estamos em marcha porque somos a imensa maioria das que criam nossos
filhos e filhas sozinhas, as chefes de famílias, com parcos recursos e o
suor de nosso único e exclusivo trabalho.
Estamos em Marcha:
pelo fim do femicídio de mulheres negras e pela visibilidade e garantia de nossas vidas;
pela investigação de todos os casos de violência doméstica e assassinatos de mulheres negras, com a penalização dos culpados;
pelo fim do racismo e sexismo produzidos nos veículos de comunicação
promovendo a violência simbólica e física contra as mulheres negras;
pelo fim dos critérios e práticas racistas e sexistas no ambiente de trabalho;
pelo fim das revistas vexatórias em presídios e as agressões sumárias às mulheres negras em casas de detenções;
pela garantia de atendimento e acesso à saúde de qualidade às mulheres
negras e pela penalização de discriminação racial e sexual nos
atendimentos dos serviços públicos;
pela titulação e garantia das
terras quilombolas, especialmente em nome das mulheres negras, pois é de
onde tiramos o nosso sustento e mantemo-nos ligadas à ancestralidade;
pelo fim do desrespeito religioso e pela garantia da reprodução cultural de nossas práticas ancestrais de matriz africana;
pela nossa participação efetiva na vida pública.
Buscamos num processo de protagonismo político das mulheres negras, em
que nossas pautas de reivindicação tenham a centralidade neste país.
Nosso ponto de chegada e início de uma nova caminhada é 18 de novembro
de 2015 dentre as atividades do Mês da Consciência Negra.
Conclamamos, a todas as mulheres negras, para que se juntem a esse
processo organizativo, nos locais onde estiverem, e a se integrarem
nessa Marcha pela nossa cidadania.
Imbuídas da nossa força
ancestral, da nossa liberdade de pensamento e ação política,
levantamo-nos – nas cinco regiões deste país – para construir a Marcha
das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver,
para que o direito de vivermos livres de discriminações seja assegurado
em todas as etapas de nossas vidas.
ESTAMOS EM MARCHA !
“UMA SOBE E PUXA A OUTRA!”
Brasil, 25 de Julho de 2014.
Comitê Impulsor Nacional da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver 2015
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