sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

DOM PEDRO CASALDÁLIGA - EU, ARAGUAIA E TU

Eu, Araguaia e tu, um tempo só.

Abraamicamente numerosas,

nos garantem o sonho proibido

as estrelas, lá fora canceladas.



O ipê batiza ainda com ouros gratuitos

o Silêncio, o que nós, ó Araguaia,

conseguimos salvar dos invasores.



Sempre ainda encontramos — eu e tu —

a pergunta inquietante de uma garça, na beira,

provocando respostas, acordando o Mistério.



Tu estavas, no princípio,

de acordo com a Lua, sacerdotisa virgem,

alfombrando as cadências do Aruanã sagrado.



Os potes Karajá recolhiam teus olhos

e os peixes costuravam de prata teu banzeiro.



Ainda o Padim Ciço não mostrara

tua bandeira Verde aos retirantes.



Não havia Funai, Sudam, nem Incra.

Eram
Deus
e as Aldeias.


Poema extraído da obra CHUVA DE POESIAS, CORES E NOTAS NO BRASIL CENTRAL, 2 ed., de Sônia Ferreira. Goiânia:Editora da UCG; Editora Kelps, 2007, com a autorização da autora.

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