OLHA O RAPA!
(Crônicas da cidade)
Parecia locomover-se mais do
que correndo, voava com a sua grande bolsa. Provavelmente, dentro dela toda a
mercadoria que sobrara do seu dia de vendas, ali pelo Calçadão. Logo a seguir,
deu pra ver a baita caminhoneta da Polícia Militar. Não sabia que a Policia
Militar se encarregasse de perseguir vendedores ou comerciantes de rua.
Camelôs, por assim dizer.
Tanto a polícia quanto a administração
municipal, sabem, perfeitamente – vistas
grossas, como se diz no popular – que não seria o imposto daqueles camelôs
que tirariam o pé do barro em que a cidade, há muito tempo, o havia enfiado. Há
alguns anos atrás, e isso pesa até hoje, muita gente da cidade, os espertos, se
quisermos, jogaram todas as suas fichas numa ciranda financeira, proposta por
outro, mais esperto ainda. A poupança rendia nem um por cento, e o aplicador da tal ciranda, oferecia
quinze a vinte por cento de rendimento ao mês. Teve gente que vendeu até casa.
Os maiores, alguns, ainda deu tempo de resgatarem os seus “investimentos”. A
maioria, uns pobres coitados. Mas, como diz o povo, o dinheiro cega. O raciocínio era simples, vinte por cento ao mês, em
cinco meses, aqueles que venderam suas casas, conseguidas a duras penas, teriam
pouco mais do que duas casas. E, se continuassem “investindo” no tal agiota não
oficializado (os oficializados são bancos, até multinacionais), juros sobre
juros, nem percebiam que o seu dinheiro atingiria volumes tais, que somente, como
exemplo, teria, para explicar, que aplicar o cálculo contido numa progressão
geométrica. Uma loucura, mesmo. Houve caso até de suicídio.
Não precisariam ir longe, bastaria entrar –
em qualquer uma delas – numa loja ali do centro e, lá dentro, descobririam
cobras e lagartos. Então, pra que ficar correndo atrás desses camelôs que,
comparados às lojas, são gatos pingados? É só pegar uma loja por dia, com
fiscal e tudo, e constatar que o buraco é muito mais embaixo.
O garotão, num gesto levado pelo seu
instinto de conservação, provavelmente, largou o bolsão atrás de uma coluna de
um daqueles prédios no estilo Caixa de
Fósforos Fiat Lux, modelo cozinha. Esses
prédios (edifícios) estão, agora,
postados sobre o terreno que outrora pertenceu e funcionava o Mercado Público.
O nome já explica. Uma tramóia, onde o tal de poder público, juntando-se ao
privado, solapou o tal de mercado. Tudo dentro da “lei”. Deles.
Passou o rapa, lá por aquela ruela, a qual,
antes, fizera parte do Calçadão, e que hoje serve de “atalho” entre as duas
vias principais da pequena cidade. Esse atalho, custou, inclusive, para a
regalia de seus usuários, uma grande árvore que teve que ser cortada. A tal
árvore estava atrapalhando o caminho pelo qual a ruela havia sido projetada. E
isso, quer a gente queira, ou não, é um avanço na mentalidade. Pra quem já
arrancou o Mercado Público, o que é um rasgo e a eliminação de uma árvore?
O cara voltou, calmamente, pegou seu bolsão e
foi-se embora. Pelo que deu pra se perceber, aquilo era rotina. Mesmo assim,
deixo a sugestão de vistoriarem uma daquelas lojas, qualquer uma, ali do
centro. Sua caçada seria muito mais proveitosa.
INÍCIO
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