terça-feira, 27 de outubro de 2015

O ATAQUE CONTRA SUPLICY E HADDAD MOSTRA UMA CRESCENTE VIOLÊNCIA DA DIREITA


Carlos A. Lungarzo
As agressões a figuras (públicas ou não, mas pelo menos objetos de ódio dos linchadores) tem sido exuberantes nos últimos meses.
Secretários municipais, ministros, militantes de grupos políticos e até desconhecidos que portavam algum distintivo partidário e foram interceptados na rua por gangues de coxinhas hooligans, têm sofrido chuvas de insultos, ameaças e provocações de parte de uma ralé da classe média e alta
A vítima mais trágica de esta onda de ódio, barbárie e idiotice (porque acredito que há fascistas inteligentes, mas não são estes) foi o refugiado haitiano de 33 anos, Fetiere Sterlin, que fora assassinado em Navegantes (SC) em 19 de outubro. O caso extremo de assassinato de desafetos políticos, sociais ou raciais é alarmante mesmo num Estado que é curral da imigração do 1º, 2º e 3º Reich e da antiga comunidade salazarista.
Embora não haja havido recentemente assassinatos políticos executados por civis nas regiões mais urbanas do Brasil, é evidente que a forma exponencial em que está aumentado a sanha dos inconformados ex-coxinas nos está colocando numa situação perigosa.
O termo coxina (do qual uma das agressoras de Eduardo Suplicy e Fernando Haddad se envaideceu no dia do tumulto na Livraria Cultura) apareceu como uma conotação sarcástica, quase engraçada para referir-se aos diversos quase yuppies (muitos não são nem tão jovens nem tão ricos), que se frustram pelas dificuldades temporárias para promover um golpe jurídico (não digo branco, porque de branco não tem nada. Se não, que o digam as vítimas do golpe jurídico paraguaio).
Entretanto, hoje em dia estes coxinhas estão virando balilas. Enquanto os mais pobres, captados por movimentos que os tiram da marginalidade para poder usá-los, se mostram abertamente com camisas (pardas?, pretas?, cinzas?) e fazendo uma saudação que lembra muito o Heil!, os coxinhas brancos, de classe média para alta, se mantêm ocultos sob suas grifes. Seus procedimentos covardes, sujos, grotescos, desprovidos de senso do decoro e do ridículo, lembram mais os lendários Balilas de Mussolini, que os Gladiadores, aqueles que parecem mais com as SA.
Digo Babilas e não Deutsches Jungvolk, porque, pelo menos, estes, em sua criminosa tarefa, punham em risco suas próprias vidas. Os coxinhas de hoje são Babilas adultos, que, como aconteceu sempre com a direita dos países latinos (Espanha, Itália, Bélgica, etc.) atacam em número muito maior que seus alvos, se utilizam de todo tipo de baixarias, se fingem de vítimas para poder criar confusão (como a senhora indignada que bradou um “não me empurre” a um jovem que apenas queria discutir), e se apoiam nas instituições, empresas e locais nos quais entram com uma finalidade supostamente “pacífica”.
Digo isto porque dificilmente alguém não seja capaz de ver que a abastada família dona daquele espaço “Cultural” favoreceu a agressão dos Balilas coxinhas.
Será que, num espaço não tão grande como o atual Maracaná, esses mercadores de livros não perceberam que havia uma dúzia de Balilas escrevendo um cartaz?
Será que não ouviram as vaias, os insultos, as ameaças. Isso é liberdade de expressão?
Num país onde qualquer desafeto das gangues jurídicas, políticas, confessionais, empresariais e/ou policiais pode ir preso por ter comprado um chocolate de 3 reais, produzido por uma empresa cuja matriz em Singapura esteve envolvida num possível escândalo de corrupção, denunciado pelo delator do delator de um X9, etc, uma corja de vândalos no melhor estilo Jim Crow (apesar de Suplicy e Haddad serem brancos) bloqueia violentamente um ato pacífico, frente à atitude complacente (por não dizer, entusiasta) dos donos daquele espaço.
O pessoal autopercebido de esquerda, que acha que o fato não tem importância, deveria ler um artigo aparecido no DCM, onde o autor conta o comportamento da Livraria Cultura, quando chegou a SP aquele número da revista Charlie Hebdo, que seguiu as ataques terroristas.
Os donos (que, segundo foi dito há alguns anos, conseguiu um crédito público para montar novas “lojas de livros” (?)), distribuíram a revista com grande sigilo. Medo de atentado? Não foi bem isso! No Brasil os únicos atentados são da direita nacional.
Um dos donos disse que, se deixassem a revista nas pilhas, como acontece com os livros, o público a leria de graça! A esquerda que comoveu o mundo com a homenagem aos chargistas mortos (mas não foi, certamente, só a esquerda), deveria ter em conta que, ao dar ombros contra estes ataques, estão favorecendo não apenas a provocação, mas também a impunidade de setores cujas fortunas financiam a violação aos DH em locais bem conhecidos.
Em que lugar e em que língua, proteger a liberdade de expressão é sabotar um grupo de pessoas que estão respondendo educadamente, seus projetos políticos? O fato de que o façam para um veículo da mídia nojento, apenas prova o senso de civilidade e cortesia do sabatinado prefeito de São Paulo.
Junto com algumas pessoas próximas, em uma mensagem de solidariedade a Suplicy e Haddad, perguntei se pensavam abrir uma ação judicial contra aqueles vândalos. Penso que a ação deve ir também contra os donos do espaço, mas não inclui isso na mensagem.
Não sei o que eles farão. Por um lado, sou consciente de que a maior parte do judiciário arquivaria qualquer denúncia desse tipo. Mas, por outro lado, não se pode deixar que se formem núcleos de terroristas cada vez mais violentos,. É um erro pensar que, por formar uma legião de play babies são inofensivos. Eles conta o apoio militante do Opus Dei, a truculenta polícia de SP, uma justiça de classe, a mídia mercenária, e milhões de fanáticos fundamentalistas.
Outro ponto importante é o papel da esquerda.
No Brasil a esquerda é extremamente pequena, mesmo para os níveis de despolitização da América Latina, e só é avantajada pela exígua esquerda argentina. Portanto, os partidos que se definem claramente de esquerda, deveriam ter mais cuidado com as pessoas que filiam.
Nenhum partido de direita, de centro direita, nem mesmo de centro esquerda, se preocupa com a qualidade moral de seus filiados. Apenas querem votos. Mas, partidos que se manifestam de esquerda (e que, em certa proporção, são realmente de esquerda) deveriam impedir que provocadores se infiltrem em suas filas.
Hoje, num comunicado pela Internet, Jean Willys manifestou seu pesar pelo fato de que a senhora que insultou a Suplicy, Haddad e alguns simpatizantes, tivesse representado ao PSOL numa eleição para uma prefeitura na qual perdeu o pleito.
A preocupação de Willys é louvável, mas deve evitar-se que estes fatos aconteçam. Partidos de esquerda já tiveram candidatos importantes que se uniram à direita para combater os direitos reprodutivos.
Se houver militantes de esquerda aliados com os coxinhas seria uma situação que faria pensar em que nada é possível. Seria lamentável que só pudéssemos  torcer para que nossa espécie seja a próxima a se extinguir.




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