Carlos A. Lungarzo
As
agressões a figuras (públicas ou não, mas pelo menos objetos de ódio dos
linchadores) tem sido exuberantes nos últimos meses.
Secretários
municipais, ministros, militantes de grupos políticos e até desconhecidos que
portavam algum distintivo partidário e foram interceptados na rua por gangues
de coxinhas hooligans, têm sofrido
chuvas de insultos, ameaças e provocações de parte de uma ralé da classe média
e alta
A vítima mais
trágica de esta onda de ódio, barbárie e idiotice (porque acredito que há
fascistas inteligentes, mas não são estes) foi o refugiado haitiano de 33 anos,
Fetiere Sterlin, que fora assassinado em Navegantes (SC) em 19 de outubro. O
caso extremo de assassinato de desafetos políticos, sociais ou raciais é
alarmante mesmo num Estado que é curral da imigração do 1º, 2º e 3º Reich e da
antiga comunidade salazarista.
Embora não haja
havido recentemente assassinatos políticos executados por civis nas regiões
mais urbanas do Brasil, é evidente que a forma exponencial em que está
aumentado a sanha dos inconformados ex-coxinas
nos está colocando numa situação perigosa.
O termo coxina (do qual uma das agressoras de
Eduardo Suplicy e Fernando Haddad se envaideceu no dia do tumulto na Livraria
Cultura) apareceu como uma conotação sarcástica, quase engraçada para
referir-se aos diversos quase yuppies (muitos não são nem tão jovens
nem tão ricos), que se frustram pelas dificuldades temporárias para promover um
golpe jurídico (não digo branco, porque de branco não tem nada. Se não, que o
digam as vítimas do golpe jurídico paraguaio).
Entretanto, hoje em
dia estes coxinhas estão virando balilas. Enquanto os mais pobres, captados por
movimentos que os tiram da marginalidade para poder usá-los, se mostram abertamente
com camisas (pardas?, pretas?, cinzas?) e fazendo uma saudação que lembra muito
o Heil!, os coxinhas brancos, de
classe média para alta, se mantêm ocultos sob suas grifes. Seus procedimentos
covardes, sujos, grotescos, desprovidos de senso do decoro e do ridículo,
lembram mais os lendários Balilas de Mussolini, que os Gladiadores, aqueles que
parecem mais com as SA.
Digo Babilas e não Deutsches Jungvolk, porque, pelo menos,
estes, em sua criminosa tarefa, punham em risco suas próprias vidas. Os
coxinhas de hoje são Babilas adultos, que, como aconteceu sempre com a direita
dos países latinos (Espanha, Itália, Bélgica, etc.) atacam em número muito
maior que seus alvos, se utilizam de todo tipo de baixarias, se fingem de
vítimas para poder criar confusão (como a senhora indignada que bradou um “não
me empurre” a um jovem que apenas queria discutir), e se apoiam nas instituições, empresas e locais nos
quais entram com uma finalidade supostamente “pacífica”.
Digo isto porque
dificilmente alguém não seja capaz de ver que a abastada família dona daquele
espaço “Cultural” favoreceu a agressão dos Balilas coxinhas.
Será que, num
espaço não tão grande como o atual Maracaná, esses mercadores de livros não
perceberam que havia uma dúzia de Balilas escrevendo um cartaz?
Será que não
ouviram as vaias, os insultos, as ameaças. Isso é liberdade de expressão?
Num país onde
qualquer desafeto das gangues jurídicas, políticas, confessionais, empresariais
e/ou policiais pode ir preso por ter comprado um chocolate de 3 reais,
produzido por uma empresa cuja matriz em Singapura esteve envolvida num possível
escândalo de corrupção, denunciado pelo delator do delator de um X9, etc, uma
corja de vândalos no melhor estilo Jim Crow (apesar de Suplicy e Haddad serem
brancos) bloqueia violentamente um ato pacífico, frente à atitude complacente (por
não dizer, entusiasta) dos donos daquele espaço.
O pessoal
autopercebido de esquerda, que acha que o fato não tem importância, deveria ler
um artigo aparecido no DCM, onde o autor conta o comportamento da Livraria
Cultura, quando chegou a SP aquele número da revista Charlie Hebdo, que seguiu
as ataques terroristas.
Os donos (que,
segundo foi dito há alguns anos, conseguiu um crédito público para montar novas
“lojas de livros” (?)), distribuíram a revista com grande sigilo. Medo de
atentado? Não foi bem isso! No Brasil os únicos atentados são da direita
nacional.
Um dos donos disse
que, se deixassem a revista nas pilhas, como acontece com os livros, o público
a leria de graça! A esquerda que comoveu o mundo com a homenagem aos chargistas
mortos (mas não foi, certamente, só a esquerda), deveria ter em conta que, ao
dar ombros contra estes ataques, estão favorecendo não apenas a provocação, mas
também a impunidade de setores cujas fortunas financiam a violação aos DH em
locais bem conhecidos.
Em que lugar e em
que língua, proteger a liberdade de expressão é sabotar um grupo de pessoas que
estão respondendo educadamente, seus projetos políticos? O fato de que o façam para
um veículo da mídia nojento, apenas prova o senso de civilidade e cortesia do
sabatinado prefeito de São Paulo.
Junto com algumas
pessoas próximas, em uma mensagem de solidariedade a Suplicy e Haddad,
perguntei se pensavam abrir uma ação judicial contra aqueles vândalos. Penso
que a ação deve ir também contra os donos do espaço, mas não inclui isso na
mensagem.
Não sei o que eles
farão. Por um lado, sou consciente de que a maior parte do judiciário
arquivaria qualquer denúncia desse tipo. Mas, por outro lado, não se pode
deixar que se formem núcleos de terroristas cada vez mais violentos,. É um erro
pensar que, por formar uma legião de play babies são inofensivos. Eles conta o apoio
militante do Opus Dei, a truculenta polícia de SP, uma justiça de classe, a
mídia mercenária, e milhões de fanáticos fundamentalistas.
Outro ponto
importante é o papel da esquerda.
No Brasil a
esquerda é extremamente pequena, mesmo para os níveis de despolitização da
América Latina, e só é avantajada pela exígua esquerda argentina. Portanto, os
partidos que se definem claramente de esquerda, deveriam ter mais cuidado com
as pessoas que filiam.
Nenhum partido de
direita, de centro direita, nem mesmo de centro esquerda, se preocupa com a
qualidade moral de seus filiados. Apenas querem votos. Mas, partidos que se manifestam
de esquerda (e que, em certa proporção, são realmente de esquerda) deveriam
impedir que provocadores se infiltrem em suas filas.
Hoje, num
comunicado pela Internet, Jean Willys manifestou seu pesar pelo fato de que a
senhora que insultou a Suplicy, Haddad e alguns simpatizantes, tivesse representado
ao PSOL numa eleição para uma prefeitura na qual perdeu o pleito.
A preocupação de
Willys é louvável, mas deve evitar-se que estes fatos aconteçam. Partidos de
esquerda já tiveram candidatos importantes que se uniram à direita para
combater os direitos reprodutivos.
Se houver
militantes de esquerda aliados com os coxinhas seria uma situação que faria
pensar em que nada é possível. Seria lamentável que só pudéssemos torcer para que nossa espécie seja a próxima a
se extinguir.
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