quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ariano Suassuna declama Garcia Lorca

https://www.youtube.com/watch?v=sRkghjG0jeo



   Romance Do Aprazado
García Lorca

Minha solidão sem descanso.
Os olhos deste meu corpo
e os olhos do meu cavalo
não se fecham pela noite
nem olham para o outro lado,
onde se afasta, tranquilo,
um sonho de treze barcos.
Senão, que limpos e duros
escudeiros desvelados,
meus olhos olham o norte
de metais e de penhascos,
onde meu corpo sem veias
consulta naipes gelados.
Os densos touros da água
investem contra os outros rapazes
que se banhavam das luas
de seus chifres ondulados
e os martelos cantavam
sobre bigornas sonâmbulas,
a insônia do ginete
e a insônia do cavalo.

A vinte e cinco de junho,
predisseram ao amargo:
já podes cortar se queres
cravos roxos de teu pátio.
Pinta uma cruz em tua porta
e põe teu nome debaixo
porque cicutas e urtigas
nascerão de teus costados
e agulhas de cal molhada
te bordarão os sapatos.

Será de noite, no escuro,
perto de um monte imantado,
lá onde os touros da água
bebem o julgo sonhando.
Pede luzes, pede sinos,
aprende a cruzar as mãos
e a gostar dos ventos frios,
de metais e de penhascos,
porque dentro de dois meses,
jazerás amortalhado.

A vinte e cinco de junho
abriu seus olhos uma barca.
E a vinte e cinco de agosto,
se deitou para fechá-los.
Homens desciam a rua
para verem o aprazado
que fixava sobre o muro
sua solidão com descanso
e os lençóis implacáveis
de duro assento romano
davam equilíbrio à morte
com as retas de seus panos.

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