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SOBRE A VILA - ESCOLA PROJETO DE GENTE - EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA NA BAHIA
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Uma breve
história da Vila-Escola Projeto de Gente
A Vila-Escola é uma experiência de educação comunitária,
libertária, democrática, sem fins lucrativos e gratuita, atenta à voz de cada
criança, à liberdade de expressão, ao processo de individuação à construção de
uma sociedade justa e sem preconceitos. A Vila-Escola pretende, um dia, se
constituir como escola formal, vivendo livre, seu próprio desenvolvimento.
Nasci em 2001, na cidade Rio de Janeiro, através das
reflexões de um terapeuta e médico homeopata. Instigado pelo conceito de saúde
sob o ponto de vista da homeopatia, meu idealizador se reuniu com alguns amigos
para conversar sobre a relação entre autoconhecimento e saúde. O homeopata
percebe a saúde começando em cada um, não fora de cada um. Quanto mais alguém
se conhece e se expressa livremente mais seu organismo funciona melhor, mais
saudável. Sobre isso conversavam e logo perceberam a íntima ligação entre a
educação e o bem-estar. Conheceram as escolas Democráticas e criaram a
Associação Projeto de Gente.
Durante os seis anos que esse grupo se encontrou na capital
carioca, eu cresci e amadureci um pouco – a minha base foi cuidada com muito
carinho. Em 2007, vim morar no sul da Bahia – na Vila de Cumuruxatiba -, com
meu idealizador. Nesse momento eu já sabia que era libertária. Libertária no
sentido de que acredito que toda pessoa possa ser autônoma e construtora de um
mundo em que o bem-estar pessoal e coletivo estejam entrelaçados.
A partir desse ano várias crianças apareceram em minha vida
e uma nova etapa se iniciou: finalmente estávamos junto das crianças. Por
favor, não vos precipite pensando que a partir de então somente as crianças se
beneficiaram dessa proposta libertária de educação. Os adultos envolvidos
continuaram em seus processos educativos, agora junto com a meninada. E digo
adultos, no plural, pois muitas(os) moradoras(es) da Vila de Cumuruxatiba, me
adotaram. Desde então, foram muitas as casinhas que ocupei na Vila – até mesmo
debaixo de um pé de jamelão vivi por uns tempos –, também foram muitas crianças
e adultos que passaram pela minha vida. De todos, lugares e pessoas, eu lembro
carinhosamente.
Nesses oito anos na Bahia me conheci democrática também.
Pois como poderia promover um bem-estar pessoal e social entrelaçado, se não
houvesse a possibilidade da participação de todos? Assim, faz oito anos que a
“Roda” bate. Bate porque ela é como um coração, que faz circular todos os tipos
de combinações que nos conduzem ao bem-estar. Na Roda, que não é obrigatória, todos
têm o mesmo direito de se expressar e votar. Tenho muito orgulho em dizer que
todas – todas mesmo – as nossas combinações são criadas na Roda, nenhum adulto
tem voto mais valioso que qualquer criança.
Em Cumuruxatiba também me conheci comunitária. Pois estou
aberta para todos, de forma igual. Sou gratuita. Não há nenhum custo e qualquer
criança que queira vir ter comigo, só precisa colocar seu nome lista de espera
(pois hoje estou com a capacidade máxima de crianças em relação ao número de
educadores). Não existe e nunca existiu nenhum critério de seleção, a não ser a
ordem de chegada. Fico feliz em constatar que a criançada com a qual convivo
faz um recorte bonito da Vila de Cumuruxatiba: somos índios, negros e brancos.
Baianos, mineiros, cariocas, roraimenses e paulistas. Brasileiros e
estrangeiros. Filhas e filhos de pescadores, comerciantes, cozinheiras,
pedreiros, dentistas, pousadeiros. Todos juntos, num só barco.
Há mais ou menos quatro anos comecei a ser atendida pelo
nome de Vila-Escola Projeto de Gente, ou carinhosamente, Vila-Escola. Essa
mudança veio com o pensamento de promover uma educação que abrangesse uma
cidade inteira, no meu caso, uma vila inteira. Fazer assim da vila - e por que
não da vida? – uma constante oportunidade de aprendizagem.
Hoje, eu, Vila-Escola Projeto de Gente, me encontro numa
pequena pousada no centro de Cumuruxatiba. Vou explicar. Como moro numa vila
pequena (cerca de três mil habitantes na zona urbana) e turística, existem
várias pousadas. Devido ao baixo movimento de turismo durante o período
escolar, consegui como morada uma pousada que ficava fechada na baixa temporada.
Assim moro numa escola/pousada. “Pousada no verão, Escola no inverno. ”.
Nesse espaço, em que os apartamentos se tornam biblioteca,
sala de estudos e sala de brinquedos durante a maior parte do ano, são
realizados os diversos Projetos de Saber que compõem o dia-a-dia da moçada da
Vila-Escola. Acredito que o aprendizado começa com interesse da criança/adulto,
pois é esse interesse que torna a caminhada rumo ao conhecimento mais agradável
e duradoura. Assim, todos os projetos presentes no meu dia-a-dia foram e são
propostos por todos. Aqueles projetos que têm mais adesão, são os escolhidos.
Assim, hoje, vivencio: natação, música, inglês, culinária, artes visuais,
futebol, fantoche, fabricação de brinquedos, teatro, pipa e tirolesa. Muitos
outros projetos já foram e outros ainda serão realizados na minha vida. Com uma
abordagem transdisciplinar , o que se pode aprender nesses projetos vai muito
além de seus títulos (nomes). E, acima de tudo, esses projetos permitem ao
educando um “conhecer a si mesmo”, além de conhecer os(as) outros(as).
Participam desses projetos 5 educadores, alguns voluntários,
21 crianças, além de diversas outras crianças que estão na lista de espera (são
21 crianças inscritas e 26 na lista de espera). Também compõem nosso dia a dia
as “atividades livres”. Nessas atividades, as crianças desenvolvem o que
desejam naquele momento, desde que não firam as combinações da Roda e sempre
com o cuidado dos educadores. Tudo isso acontece no período vespertino, no
contra turno escolar.
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/128342?show=full
https://www.youtube.com/watch?v=Dw9Z9YgVTD0
INÍCIO
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