Lygia Clark (Belo Horizonte, 23 de outubro de 1920 - Rio de Janeiro, 25 de abril de 1988) foi uma pintora e escultora brasileira contemporânea, embora se dissesse "não artista".[1](...)
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Lygia Clark (Belo Horizonte, 23 de outubro de 1920 - Rio de Janeiro, 25 de abril de 1988) foi uma pintora e escultora brasileira contemporânea, embora se dissesse "não artista".[1]
História
Lygia Clark iniciou seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, sob a orientação de Roberto Burle Marx e Zélia Salgado. Em 1950, Clark viajou a Paris, onde estudou com Arpad Szènes, Isaac Dobrinsky e Fernand Léger. A artista dedicou-se ao estudo de escadas e desenhos de seus filhos, assim como realizou os seus primeiros óleos. Após sua primeira exposição individual, no Institut Endoplastique, em Paris, no ano de 1952, a artista retornou ao Rio de Janeiro e expõe no Ministério da Educação e Cultura.[2]Clark foi uma das fundadoras do Grupo Frente, em 1954: dedicando-se ao estudo do espaço e da materialidade do ritmo, ela se uniu a Décio Vieira, Rubem Ludolf, Abraham Palatnik, João José da Costa, entre outros.
“Superfícies Moduladas, 1952-57” e “Planos em Superfície Modulada, 1956-58”.suporte, . Lygia ainda participa, em 1954, com a série “Composições”, da Bienal de Veneza – fato que se repetirá, em 1968, quando é convidada a expor, em sala especial, toda a sua trajetória artística até aquele momento.
Em 1959, integra a I Exposição de Arte Neoconcreta, assinando o Manifesto Neoconcreto, ao lado de Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis. Clark propõe com a sua obra, que a pintura não se sustenta mais em seu suporte tradicional. Procura novos voos. Nas “Unidades, 1959”, moldura e “espaço pictórico” se confundem, um invadindo o outro, quando Clark pinta a moldura da cor da tela. É o que a artista chama de “linha orgânica”, em 1954.
A experiência com a maleabilidade de materiais duros converte-se em material flexível. Lygia Clark chega à matéria mole: deixa de lado a matéria dura (a madeira), passa pelo metal flexível dos “Bichos” e chega à borracha na “Obra Mole, 1964”. A transferência de poder, do artista para o propositor, tem um novo limite em “Caminhando, 1963”. Cortar a fita significava, além da questão da “poética da transferência”, desligar-se da tradição da arte concreta, já que a “Unidade Tripartida, 1948-49”, de Max Bill, ícone da herança construtivista no Brasil, era constituída simbolicamente por uma fita de Moebius. Esta fita distorcida na “Obra Mole” agora é recortada no “Caminhando”. Era uma situação limite e o início claro de num novo paradigma nas Artes Visuais brasileiras. O objeto não estava mais fora do corpo, mas era o próprio “corpo” que interessava a Lygia.
A trajetória de Lygia Clark faz dela uma artista atemporal e sem um lugar muito bem definido dentro da História da Arte. Tanto ela quanto sua obra fogem de categorias ou situações em que podemos facilmente embalar; Lygia estabelece um vínculo com a vida, e podemos observar este novo estado nos seus "Objetos sensoriais, 1966-1968”: a proposta de utilizar objetos do nosso cotidiano (água, conchas, borracha, sementes), já aponta no trabalho de Lygia, por exemplo, uma intenção de desvincular o lugar do espectador dentro da instituição de Arte, e aproximá-lo de um estado, onde o mundo se molda, passa a ser constante transformação.
Em 1981, Lygia diminui paulatinamente o ritmo de suas atividades. Em 1983 é publicado, numa edição limitada de 24 exemplares, o “Livro Obra", uma verdadeira obra aberta que acompanha, por meio de textos escritos pela própria artista e de estruturas manipuláveis, a trajetória da obra de Lygia desde as suas primeiras criações até o final de sua fase neoconcreta.
Em 1986, realiza-se, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, o IX Salão de Artes Plásticas, com uma sala especial dedicada a Hélio Oiticica e Lygia Clark. A exposição constitui a única grande retrospectiva dedicada a Lygia Clark ainda em atividade artística. Em abril de 1988, Lygia Clark falece.
Cronologia
- 1947/1950 - Vive no Rio de Janeiro.
- 1947 - Inicia aprendizagem artística com Burle Marx (1909-1994).
- 1950/1952 - Vive e estuda em Paris.
- 1950/1952 - Estuda com Fernand Léger (1881-1955), Arpad Szenes (1897-1985) e Isaac Dobrinsky (1891-1973).
- 1953- Retorna ao Rio de Janeiro.
- 1954/1956 - Integra o Grupo Frente, liderado por Ivan Serpa (1923-1973) e formado por Hélio Oiticica (1937-1980), Lygia Pape (1929-2004), Aluísio Carvão (1920-2001), Décio Vieira (1922-1988), Franz Weissmann (1911-2005) e Abraham Palatnik (1928), entre outros.
- 1954/1958 - Realiza a série Superfícies Moduladas e a série Contra-Relevos.
- 1958/1960 - Recebe em Nova York o Prêmio Internacional Guggenheim.
- 1959 - É uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto.
- 1960 - Leciona artes plásticas no Instituto Nacional de Educação de Surdos, no Rio de Janeiro.
- 1960/1964 - Cria a série Bichos, construções metálicas geométricas que se articulam por meio de dobradiças e requerem a coparticipação do espectador.
- 1964 - Cria a proposta Caminhando, recorte em uma fita de Moebius feito pelo participante .
- 1966 - Passa a dedicar-se à exploração sensorial, em trabalhos como A Casa é o Corpo.
- 1969 - Participa do Simpósio de Arte Sensorial em Los Angeles, nos Estados Unidos.
- 1970/1976 - Vive e trabalha em Paris.
- 1970/1975 - Leciona no Centre Saint-Charles d'Arts Plastiques, na Universidade Paris 1 (Sorbonne), e seu trabalho converge para vivências criativas, com ênfase no sentido grupal.
- 1973 - Realiza o documentário O Mundo de Lygia Clark, com Eduardo Clark.
- 1976/1988 - Volta a residir no Rio de Janeiro.
- 1978/1985 - Passa a dedicar-se ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial, trabalhando com os objetos relacionais.
- 1982 - Profere a palestra "O Método Terapêutico de Lygia Clark", com Luiz Carlos Vanderlei Soares, no Tuca, em São Paulo.
- 1983/1984 - Lançamento de Livro-Obra, contendo propostas de Lygia Clark e confeccionado por Luciano Figueiredo e Rio Meu Doce Rio, com texto de Lygia Clark.
- 1985 - É apresentado o vídeo Memória do Corpo, de Mario Carneiro, sobre o trabalho da artista.
- 1989 - Exibição do vídeo Memória do Corpo, no Paço das Artes.
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