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Charge de Amarildo entra em questão do Enem sobre agrotóxicos
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A ignorância dos reacionários da internet que falam em “doutrinação feminista” no Enem
Por Pedro Zambarda de Araújo, colaboração para os Jornalistas Livres
Neste último final de semana ocorreu a prova do Enem
para estudantes do ensino médio e interessados em ingressar em
faculdades e universidades brasileiras. Além das pessoas que foram
barradas por perder a hora e viraram pautas sensacionalistas, as redes
sociais foram tomadas por uma onda de conservadorismo após a execução do
exame.
A avaliação incluiu uma pergunta sobre o livro “O Segundo Sexo”, da filósofa francesa Simone de Beauvoir, utilizando um dos trechos mais famosos da obra que é uma das referências no estudo do feminismo.
O
exame não utilizou apenas Simone como referência e também apresentou
questões abordando o pensamento do educador de esquerda, Paulo Freire, o
filósofo marxista Slavoj Žižek, entre outras perguntas com viés mais
progressista.
A inclusão dos autores foi suficiente para provocar uma convulsão dos reacionários na internet.
No
segundo dia de avaliação, veio o tema da redação: “A persistência da
violência contra a mulher na sociedade brasileira”. E a internet veio
abaixo, com as feministas defendendo a ousadia da prova em finalmente
avaliar questões de desigualdade de gênero.
O
primeiro site reacionário a vomitar besteiras foi o Spotniks. Seguindo a
linha deles na imitação do liberalismo norte-americano de uma maneira
mambembe, publicaram um texto em primeira pessoa de um estudante que
está se transferindo de faculdade e precisava fazer o exame. “Quem lê a
prova sai com a impressão de que a crise de 2008 segue um assunto mais
relevante para a maioria dos estudantes do que a realidade atual do
país”, diz o autor Felippe Hermes, que ignora a situação delicada da
Europa e acha que tudo na esquerda se refere a Karl Marx.
Para
quem não lembra, o mesmo Spotniks que resolveu criticar a presença de
Simone Beauvoir no começo do Enem é aquele site que defendeu que as
mulheres usem armas de fogo para se defender de violência sexual. Seus
autores estão mais preocupados em defender uma pauta pró-armas do que
realmente em diminuir a desigualdade de gêneros.
Os
autores do site também desconhecem a própria esquerda que descrevem.
Nem Simone ou seu marido Jean-Paul Sartre são herdeiros do marxismo. Na
faculdade, ela estudou o racionalista alemão Gottfried Wilhelm Leibniz,
herdeiro de Descartes, e também pesquisou o idealismo francês. Simone de
Beauvoir só se tornou de esquerda na militância política, porque fez
parte da resistência francesa contra o nazismo, que era composta por
socialistas.
Pensadores
mais influenciados diretamente por Karl Marx vieram da tradição da
crítica econômica e da dialética, temas que são caros para Sartre e
Simone, mas jamais foram foco de seus estudos.
É
sim verdade que Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre apoiaram Che
Guevara, Fidel Castro, Mao Tse-Tung e até a União Soviética, porque eles
eram um casal de filósofos existencialistas alinhados com a esquerda da
Segunda Guerra Mundial. Na época, esse pensamento era engajado e
buscava se firmar por governos autoritários.
No
entanto, essa mesma Simone foi a que combateu o governo francês
corrupto de Vichy, que se rendeu a Hitler, e apoiou Sartre na luta pela
independência da Argélia, entre outros diversos países. A crítica dos
reacionários ao Enem chega a ser infantil de tão pobre, por
desconhecimento puro de história mundial.
No
entanto, a ignorância é um celeiro de oportunistas. Os religiosos e
ultraconservadores políticos Marco Feliciano e Jair Bolsonaro já
declararam que o Enem é “doutrinação ideológica do governo Dilma
Rousseff”. Gritando que pensadores de esquerda apoiaram regimes
autoritários, a nossa direita reacionária apela para a ignorância dos
estudantes e quer mesmo que a escola funcione como uma censura ao gênero
feminino e às minorias dos negros, da comunidade LGBT e de outros
segmentos.
A
presidente da República se manifestou favorável às novas questões do
Enem no fim do domingo (25). “A sociedade brasileira precisa combater a
violência contra mulher”, disse Dilma através de sua assessoria de
comunicação.
Enquanto
isso, nossos reacionários permanecem mergulhados numa grave ignorância
intelectual, fruto de um antipetismo midiático e da falta de visão
social. A gritaria contra o feminismo e contra o marxismo revela o
machismo e a falta de leitura deles.
Como
disse uma amiga minha, no Facebook: “O lema ‘machistas não passarão’
está sendo literalmente aplicado agora. Quero ver eles escreverem na
prova que feminismo é ‘falta de rola’ e que mulher deve ser estuprada.
Merecem ser ridicularizados”.
Originally published at medium.com on October 26, 2015.
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