http://www.vermelho.org.br/noticia/22194-11
Mário Faustino: Balada
*
(Em memória de uma poeta suicida)
Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmos sangrento e a alma pura.
Porém, não se dobrou perante o fato
Da vitória do caos sobre a vontade
Augusta de ordenar a criatura
Ao menos: luz ao sul da tempestade.
Gladiador defunto mas intacto
(Tanta violência, mas tanta ternura),
Jogou-se contra um mar de sofrimentos
Não para pôr-lhes fim, Hamlet, e sim
Para afirmar-se além de seus tormentos
De monstros cegos contra um só delfim,
Frágil porém vidente, morto ao som
De vagas de verdade e de loucura.
Bateu-se delicado e fino, com
Tanta violência, mas tanta ternura!
Cruel foi teu triunfo, torpe mar.
Celebrara-te tanto, te adorava
Do fundo atroz à superfície, altar
De seus deuses solares – tanto amava
Teu dorso cavalgado de tortura!
Com que fervor enfim te penetrou
No mergulho fatal com que mostrou
Tanta violência, mas tanta ternura!
Envoi
Senhor, que perdão tem o meu amigo
Por tão clara aventura, mas tão dura?
Não está mais comigo. Nem contigo:
Tanta violência. Mas tanta ternura.
Mário Faustino
O homem e sua hora e outros poemas
Pesquisa e organização: Maria Eugenia Boaventura
Editora Companhia das Letras – edição 2002
"Terra em transe", 1966, direção Glauber Rocha. O comício populista.
https://www.youtube.com/watch?v=qw6zb8NL24k
https://pt.wikipedia.org/wiki/Terra_em_Transe
Nenhum comentário:
Postar um comentário