O emblemático empresário e inventor Steven Paul Jobs afirmava: “A invenção é o que distingue um líder de um seguidor”. É a capacidade de fomentar e produzir a invenção que distingue os países e Estados protagonistas dos figurantes e periféricos. Nós, como modestos representantes da cultura protagonista da chamada musica “erudita”, afirmamos: ser protagonista nas terras do Pindorama é tentativa de suicídio. As politicas públicas não fomentam o protagonismo, criam todos os empecilhos possíveis para desestimulá-lo. Os objetivos são claros: fomentar e estimular a cultura dos figurantes e recitadores. São os narcisos às avessas, são aculturados com um profundo sentimento de inferioridade, que fundamenta as politicas culturais publicas em nosso Pais.
Nosso saudoso Nelson Rodrigues afirmava: “O brasileiro é um narciso às avessas, cospe na própria imagem”. Evidentemente a prudência nos aconselha a não ter julgamentos generalizantes, porque sempre existe as exceções. A mais emblemática, sem duvida, é aquela do governo Vargas em relação a Villa Lobos.
Devido a este apoio e fomento decisivo tornou possível o reconhecimento internacional do nosso Villa. Não estava instituído na época aquilo que Manuels Castells denominou de sociedade em rede, e que possibilitou a difusão de um produto cultural sem passar pelo crivo das politicas publicas. Na recente campanha eleitoral o atual Governador de Goiás -Marconi Ferreira Perillo– assumiu como compromisso de governo fomentar o protagonismo. Temos demonstrado nossas experiência junto à nossa atual secretária– Raquel Teixeira.
O êxito deste protagonismo não se efetivará somente como uma intenção de administradores, tem que corresponder a um desejo da sociedade. No presente caso, um anseio dos músicos e do publico da chamada musica “erudita”. Este grupo deve se distanciar do secular complexo de inferioridade no que tange à sua relação com a Europa. Não aceitar a posição de satélite, classificando o chamado primeiro mundo de “mestre”. Heitor Villa-Lobos já forneceu a pista, mostrando que temos um entendimento do musical diferente do europeu. A atual Antropologia corrobora esta tese de que toda cultura é contextualizada, não é universal. A música como fenômeno cultural não escapa desta regra. Os exemplos de diversidade musical entre o Brasil e Europa se multiplicam.
Citaremos apenas três exemplos :
1– O compasso binário na Europa resulta em marcha. No Brasil produz samba.
Trata-se de dois entendimentos totalmente diversos do que seja o compasso binário. Na Europa predomina o tempo linear, conta-se 1,2. No Brasil é um tempo não linear, qualquer pessoa que tenha assistido um ensaio numa escola de samba pode verificar que o mestre de bateria inicia com 1,2,1,2,3 .
2– A Europa por tradição cultural produz sons harmônicos. O Brasil ama construir os sons percutidos que possibilitam grandes criações rítmicas. Egberto Gismonti, citando Radamés Gnattali, afirma: “os músicos de orquestras no Brasil tocam música brasileira como russos e tocam as músicas russas como os próprios russos”
3– A Europa, como muito bem demonstrou Max Weber em sua obra “Fundamentos racionais e sociológicos da música ”, tem como caracteristica o intenso racionalismo cartesiano. Segundo Weber é este racionalismo que distingue a música europeia (erudita) das demais praticas musicais humanas. A sociedade civil brasileira, como demonstra o sociólogo Michel Mafessoli, não funciona dentro do paradigma cartesiano. O entendimento de nossa música social não é cartesiano .
Pierre Schaeffer, que na visão do compositor francês Henri Dutilleux , instituiu uma nova maneira de escutar todas as música. Ele afirmava : “ É característica do humano não esquecer sua língua materna”. Mesmo quando se fala um língua estrangeira o sotaque nos denuncia.
Precisamos fomentar a nossa língua e entendimento do musical e produzir a linguagem musical do outro com nosso sotaque para construirmos uma arte protagonista e de referência. Nosso Beethoven deve ser mulato, mestiço e não metido a branco. A politica cultural de desestimular a criação protagonista e estimular a produção dos Beethovens “brancos” é que nos condenou e nos condenará a um eterno papel de figurantes.
(Otavio Henrique Soares Brandão, criador do novo piano Prix Qwartz d´Honneur Pierre Schaeffer/2007., Membro do Conselho de Honra dos Qwartz Award, Pianista/compositor.)
(Ibis Ferreira Soares Brandão, doutora em Sociologia, sob orientação de Alain Touraine, obtendo menção “Très bien” na defesa de teses sobre “Formação socioeconômica de Goiás durante o desenvolvimento do capitalismo dependente brasileiro”, produtora cultural.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário