terça-feira, 11 de agosto de 2015

A "educação Hacker" e a "desescolarização da sociedade" de Ivan Illich, por Paulo Marques

 Este é o blog do Grupo de Estudos Educação Libertária, organizado por estudantes e professores da Universidade Federal de Pelotas. O blog tem como objetivo a efetivação de um espaço de informação sobre as atividades do Grupo e o intercâmbio de conhecimentos sobre a contribuição teórica e prática dos pensadores libertários da educação.

 A "educação Hacker" e a "desescolarização da sociedade" de Ivan Illich, por Paulo Marques
http://libertariosufpel.blogspot.com.br/2014/06/a-educacao-hacker-e-desescolarizacao-da.html




Há 40 anos o educador Ivan Illich escreveu a obra "Sociedade desescolarizada". Naquela época suas ideias sofreram forte crítica seja da direita como da esquerda. A Escola, era para ambas as ideologias,  algo incontestável, seja pelo que representava (para a direita) como instrumento de reprodução da sociedade, seja como "possibilidade"(para a esquerda) de transformação dessa sociedade. Illich apontava os problemas insuperáveis dessa instituição para além desse otimismo. Todavia estávamos nos anos 70 e 80. Quem, nessa época , imaginaria uma sociedade sem a escola? mas também quem imaginaria o grau de avanço que teríamos das tecnologias de informação como o advento da internet por exemplo? e as possibilidades que se abriram para o compartilhamento de conhecimentos como consequência dessa revolução?
É nesse sentido que podemos dizer que o educador  Ivan Ilich foi profético em pensar os limites da escola institucionalizada e as possibilidades de uma educação para além da escola. Ele  já falava sobre isso em seu livro de 1973,  de uma outra forma de ensino e aprendizagem no qual a liberdade e a colaboração entre as pessoas estariam no centro do processo, utilizando das relações e ferramentas de comunicação que ele denominava de "teias". Bem antes do avento da internet, diga-se.

"Devemos pensar em novas estruturas relacionais, intencionalmente montadas, para facilitar o acesso a esses recursos de todos que queiram procurá-los para melhorar sua formação. Devem ser tomadas as providências administrativas, técnicas e, sobretudo, legais para estabelecer essas estruturas tipo "teia"(Illich, 2007, p.77)

Poderíamos afirmar hoje que as "teias" que Illich imaginou estão concretizadas nas redes de comunicação possibilitadas pela internet. A prática hacker, a colaboração de saberes e fazeres que caracteriza a nova forma de criação e de socialização do saber constituem uma realidade que tende a cada vez tornar-se mais avançada, colocando em xeque o modelo "único" e "institucionalizado" da Escola, como "templo", ou seria "mosteiro" do saber.  "Hackschooling", ou escola Hacker é uma prática que reflete essa mudança de paradigma que estamos vivendo hoje, e que abre enormes possibilidades para repensar os fundamentos do que é a educação no século XXI.

Illich não viveu para ver a revolução das tecnologias da informação, mas suas ideias, hoje, mais do que nunca, expressam as possibilidades da educação para além da escola.

Este video mostra um jovem norte-americano, típico exemplo da nova  geração do século XXI,  que já realiza na prática a educação defendida por Ivan Illich.


 https://www.youtube.com/watch?v=rMHXGP8I0XE

Sobre essa educação Desescolarizada escreveu Ivan Illich:

 " Um bom sistema educacional deve ter  três propósitos: dar a todos que queiram aprender acesso aos recursos disponíveis, em qualquer época de sua vida; capacitar todos os que queiram partilhar o que sabem a encontrar os que queiram aprender algo deles e, finalmente, dar oportunidade a todos os que queiram tornar público um assunto a que tenham possibilidade de que seu desafio seja conhecido(...) é preciso usar a tecnologia moderna para tornar a liberdade de expressão, de reunião e imprensa verdadeiramente universal e, portanto, plenamente educativa. As escolas estão baseadas na suposição de que há um segredo para tudo nessa vida; de que a qualidade da vida depende do conhecimento desse segredo; de que os segredos só podem ser conhecidos em passos sucessivos  ordenados; de que apenas professores sabem revelar corretamente esses segredos. Um indivíduo de mentalidade escolarizada concebe o mundo como uma pirâmide, composta de pacotes classificados; a eles só tem acesso os que possuem os rótulos adequados. Seu objetivo deve ser facilitar o acesso ao aprendiz: se não puder entrar pela porta, permitir-lhe que entre pela janela, olhe para dentro da sala de controle ou do parlamento. Ainda mais, essas novas instituições devem ser canais aos quais o aprendiz tenha acesso sem credenciais ou linhagem- logradouros públicos em que colegas e pessoas mais idosas, fora de um horizonte imediato, tornem-se disponíveis.( Illich, 2007, p. 75) "

Por fim ele destaca ainda:

" Nossa revisão das instituições educacionais leva a uma revisão da imagem que temos do homem. As criaturas de que necessitam as escolas como clientes não tem autonomia nem motivação para se desenvolverem por si mesmas. Podemos dizer que a escolarização universal é a culminância de uma empresa de Prometeu e que a alternativa é um mundo feito para o homem epimeteu. Enquanto dizemos que a alternativa para os funis escolásticos é um mundo tornado transparente pelas verdadeiras teias de comunicação e enquanto sabemos exatamente como poderiam funcionar, só podemos esperar que a natureza epimetéia do homem reapareça; não podemos planejá-la, muito menos produzi-la"( Illich, 2007, p.101)

Parece que Ivan Illich foi mesmo profético no que pensou ha 40 anos sobre Educação e desescolarização...

Referência:

ILLICH, I . Sociedade Desescolarizada, Porto Alegre, Deriva, 2007.

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