terça-feira, 11 de agosto de 2015

A Religião Midiática do Fim do Século - Peter Lamborn Wilson

http://pt.protopia.at/wiki/A_Religi%C3%A3o_Midi%C3%A1tica_do_Fim_do_S%C3%A9culo

A Religião Midiática do Fim do Século

Peter Lamborn Wilson


(Original em Inglês - Versão em Espanhol)

Nós podemos definir "a mídia" de acordo se, ou não, um dado um meio, professa a si mesmo como "objetivo" - nos três sentidos da palavra, por exemplo, que ela "reporta objetivamente" a realidade; que se define a si mesmo como uma parte de uma condição objetiva ou natural da realidade; e que isso assume que a realidade pode ser refletida e representada como um objeto através de um observador da realidade. "A Mídia" - usada aqui no singular mas no sentido coletivo - coloca em parênteses o subjetivo e isola ele da estrutura básica da mediação, que é afirmada como o olhar reflexivo do social, "imparcial", "balançado", reportagem puramente empírica. Através de uma deliberada desfocagem da linha entre o objetivo e o subjetivo - como um infotretenimento¹, ou as "novelas" que tanta gente acredita serem "reais", ou acreditam representarem a "vida-real" dos policiais - ou na propaganda - ou nos programas de entrevista - a mídia constrói a imagem de uma falsa subjetividade, embalada e vendida para o consumidor como um simulacro dos seus próprios "sentimentos" e "opiniões pessoais" ou subjetividade. E ao mesmo tempo, a Mídia constrói (ou é construída por) uma falsa objetividade, uma falsa totalidade, a qual se impõe como a visão de mundo que possui autoridade, muito maior do que qualquer assunto - inevitável, inescapável, uma verdadeira força da natureza. Assim, cada "sentimento" ou "opinião pessoal" nasce dentro do consumidor como se ele sentisse isso como uma profunda, objetiva e pessoal verdade. Compro isso porque eu gosto, porque é melhor; apóio a Guerra porque é justa é honrável, e porque ela produz algum entretenimento excitante ("Tempestade no Deserto²", uma mini-série de horário nobre feita-pra-TV). Isso aparentemente refuta o meramente subjetivo (ou a legitimação disso como "arte"), a Mídia ativamente recupera o assunto e o reproduz como um elemento dentro de seu grande objeto, a reflexão total do olhar total: - a mercadoria perfeita em si mesma.


Claro que toda mídia se comporta assim em alguma extensão, e possa talvez estar resistindo conscientemente ou estar inserido "criticamente" em alguma dimensão. Livros podem ser tão venenosos quanto as rádios TOP 40, e tão falsamente objetivos quanto os noticiários. A grande diferença é que qualquer um pode produzir um livro. Ele se tornou um "meio intimista", na qual faculdades críticas são utilizadas, porque agora nós sabemos e entendemos que o livro é subjetivo. Cada livro, como Calvino³ apontou, personaliza uma política pessoal - da qual o autor está consciente ou não. Nosso cuidado nesse sentido aumentou na proporção direta do nosso acesso ao meio. E precisamente por causa do livro não possuir mais a aura de objetividade que um dia teve, eu diria no séc. XVI, essa aura migrou da mídia intimista para "A Mídia", a mídia "pública", como as redes de televisão. A mídia nesse sentido permanece com uma definição fechada e inacessível para minha subjetividade. A mídia quer construir minha objetividade e não ser construída. Se assim fosse permitido, ela se tornaria - novamente por definição - outro meio intimista, privado de seu apelo objetivo, reduzido (em termos espetaculares) a uma relativa insignificância. Obviamente a Mídia irá resistir a essa eventualidade - mas irá fazê-lo precisamente ao nos convidar a investir nossas subjetividades em suas energias totais. Ela irá recuperar minha subjetividade, colocá-la entre parênteses, e usá-la para reforçar sua própria falsa objetividade. Irá me vender a ilusão de que eu estou "me expressando", ao mesmo tempo que me vende o modo de vida da minha "escolha", ou me convida para "aparecer" dentro do olhar da representação.


Na década de 1960 a Mídia estava ainda emergindo e não havia ainda consolidado seu controle sob o reino da imagem. Alguns estranhos problemas aconteciam. Ela tentou trivializar e demonizar a contra-cultura, mas inadvertidamente só conseguiu fazê-la parecer mais atrativa; ela tentou glorificar e justificar a guerra neo-colonialista no Vietnã, mas inadvertidamente revelou sua crueldade e falta de sentido, como uma viagem ruim de LSD⁴. Esses problemas emergiram para além da dissonância entre ideologia e imagem. A voz nos disse que a contra-cultura era patética e quebradiça, mas isso nos soou divertido. A voz nos disse que a guerra era justa e heróica, mas isso nos soou como o inferno. Por sorte (para a Mídia), no entanto, McLuhan⁵ e Debord⁶ vieram logo para explicar o que realmente estava ocorrendo, e a situação estava logo resolvida. (McLuhan queria dar poder a Mídia, Debord queria destruí-la - mas ambos analisaram e criticaram com idéias que se provaram úteis para a Mídia num sentido que ambos não queriam). A mídia estava habilitada para trazer ideologia e imagem em foco, então falavam e eliminavam virtualmente toda dissonância cognitiva.(...)


na íntegra em :  http://pt.protopia.at/wiki/A_Religi%C3%A3o_Midi%C3%A1tica_do_Fim_do_S%C3%A9culo

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