O PSDB está muito contente. Ele e seus coligados ficaram com cerca de 47% do total dos votos, importantes estados sob sua tutela e conseguiram atrair mais seguidores, talvez até filiados, através da campanha eleitoral. O objetivo foi alcançado muito satisfatoriamente. É claro que sonhava em eleger o Serra, mais para haver uma mudança de perfil no governo do que para mudar o próprio governo, os seus objetivos, a sua política.
Brincou de oposição durante alguns meses, colocou a Dilma e o PT contra a parede, algumas vezes, mas perdeu por pontos depois de cinco assaltos. Dá para barganhar. E este era o principal objetivo da coligação PSDB, DEM & Cia.: ter condições de fazer ótimas barganhas.
Mais uma vez se enganaram ao pensar que os votos conseguidos no segundo turno foram para a sua coligação. Muitos deles, talvez a metade, foram votos anti-petistas e não votos pró-Serra.
O PSDB continua a ser um partido pequeno, com a tendência a desaparecer, no correr dos anos, na medida em que o PT for abocanhando tudo e que surgir uma verdadeira oposição de esquerda no Brasil. Não consegue evoluir. Dá a impressão de que os seus caciques pararam no tempo.
É contra tudo o que venha do povo, defende arraigadamente estruturas de poder quase feudais, como na época dos senhores de engenho, não entende política como evolução social e seu objetivo mais secreto talvez seja o de dar um golpe de estado. Mas como isso não é bom para os negócios, prefere os ganhos advindos de ótimas barganhas. Entende política como uma maneira de ganhar dinheiro, e eleições como a maneira indireta de entrar nos grandes negócios do estado.
Da mesma forma o PT, que adotou a famosa frase de Roberto Marinho: “Eu uso o poder”. Com a diferença de que o PT é profundamente maquiavélico. Dizendo-se um partido dos trabalhadores, enganou os trabalhadores que acreditaram nisso, encurralou-os em centrais sindicais totalmente dominadas pelo governo e deu aos sindicalizados trabalhadores a única opção do eterno voto de cabresto.
Seu objetivo nunca foi um governo do povo ou dos trabalhadores. Mas fingiu bem. O PT desejava o que alcançou agora: aliar-se à burguesia, tanto nacional quanto internacional e, tendo como apoio de base uma classe média hipnotizada pela mídia, dominar completamente a política nacional.
Acreditou que o povo mais miserável poderia ser comprado, porque o povo é a maioria e a maioria vota. Num Estado fascista escudado no voto, é importante que a maioria vote no governo, para legitimá-lo.E acertou. O povo brasileiro não só podia como queria ser comprado. Quem vive na miséria não tem condições de ficar filosofando enquanto os filhos passam fome. Aceita qualquer proposta. O povo mais miserável do Brasil fica no Nordeste e o Nordeste inteiro foi comprado. Apenas para garantir a vitória nas eleições.
Também o Rio de Janeiro foi comprado pela ilusão do dinheiro fácil do petróleo, Copa do Mundo e outros favores. O carioca nunca foi exatamente um exemplo de povo politizado. Talvez devido às belas praias e à linda paisagem. De acordo com a lenda, prefere ser malandro. E na hora de votar, quem dá mais?
PT e PSDB são irmãos ideológicos, com a diferença de que um nasceu antes do outro. E brigam como irmãos: com bolinhas de papel, adesivos, coisas do gênero. Os dois querem a mesma herança da mamãe Ditadura Militar. Por isso, fazem a corte às Forças Armadas. Mas, enquanto o PSDB é o irmão limitado e bronco, o PT quer ser o esperto da família e seguir o exemplo de Jacó: pegar toda a herança para si.
Mas pensam da mesma maneira. Ambos seguem o neoliberalismo econômico e ambos desejam o bi-partidarismo no Brasil. É mais fácil ficar brigando somente entre eles. Se houver um acidente de percurso e um dia o PSDB retomar a presidência, sem problemas. O que não pode acontecer é o PSOL, o PSTU, o PCO ou até o encarquilhado PCB tomarem o poder. Por isso, PT e PSDB lutam juntos para esmagar a esquerda, ou para cooptá-la. O que daria na mesma.
Por enquanto, a esquerda está escondida, se fazendo de morta, o que é muito bom, principalmente para o PT que pode posar com roupa vermelha e fingir que lê Marx. Enquanto o PSDB faz às vezes de partido horrorizado com os livros que o irmão finge que lê ou com o mau gosto da roupa vermelha.
Mas os dois compartilham os mesmo segredos, dormem no mesmo quarto e amam a mesma mulher, que se chama Burguesia. Há uma rivalidade natural, o que é apenas coisa de irmãos.
Agora que o PT garantiu a sua continuidade no poder, com a vitória de Dilma e maioria de sua coligação no Congresso, o PSDB está reclamando a sua parte em altos brados. Obteve 47% dos votos válidos, vários governadores em estados importantes, muitos senadores e deputados. Quer a sua parte no governo. Ministérios, secretarias...
E o PT se faz de compreensivo, enquanto urde lá os seus planos. Por que não dividir de vez o PSDB dando cargos pra turma do Aécio, que foi tão bom adversário?
Depois, todos participarão da mesma festa. Alguns mais emburrados, outros menos. Mas haverá docinhos para todos.
Fausto Brignol.
Fausto Brignol.
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