Com diversos eventos em todo o país foi comemorada a Semana da Consciência Negra. Trata-se de uma tentativa de resgate do que realmente significou a escravidão no Brasil e do que, até hoje, significa a discriminação pela cor.
O nosso é um país essencialmente mestiço. Dificilmente encontram-se pessoas de “raça pura”. Mas, procurando, nos estados do sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – há predominância de brancos, resultado da maciça emigração ocorrida durante o Segundo Império, incentivada na Primeira República e até meados do Estado Novo, nos anos ’30.
Também para São Paulo foram levas de emigrantes, principalmente italianos e japoneses. O objetivo era substituir os negros nas grandes lavouras de café, com o fim da escravidão. Do Sudeste para cima – e o Brasil é imenso –, quase somente mestiços. A miscigenação entre brancos, negros e índios deu origem a cafuzos, mulatos e caboclos.
De acordo com a Wikipédia, “mestiços são pessoas que são descendentes de duas ou mais etnias ou raças humanas diferentes, e possuem as características das “raças”. Por exemplo, com antepassados negros e brancos ou negros e índios. São também chamados de mistos em Moçambique e de pardos no Brasil; e também se usam como adjetivos, nas expressões “raça mestiça” ou “cor mestiça”.
Atualmente – e principalmente depois do advento do ”politicamente correto” – a classificação das raças no Brasil perdeu o seu conteúdo científico, principalmente porque não houve mais incentivo para que especialistas e estudiosos intentassem essa classificação. Qualquer tentativa científica de classificação de raças, no Brasil atual, poderá ser chamada de racismo.
Vivemos um perigoso momento de provável institucionalização do racismo. Não pela raça, mas pela cor. Há um grande interesse do governo em captar para si o que chama de minorias, como as mulheres e as pessoas de cor negra. Na verdade, as mulheres são maioria e, muito provavelmente, as pessoas de cor negra também.
Acho ótimo que exista um Movimento Negro, desde que não segregue os brancos, amarelos e indígenas. Mas também acho perigoso um Movimento Negro atrelado ao Estado. Mesmo que se chame de Movimento, se é assim, transforma-se em mais um aliado político da coligação dominante. E a coligação dominante é fascista. Da mesma forma que seria a outra coligação – do Serra – se tivesse vencido as eleições.
E entendo fascismo como o apadrinhamento do Estado a todas ou à maioria das instituições, partidos e movimentos, de forma a torná-los órgãos ou partes do próprio Estado, mesmo que de maneira mascarada.
Qualquer movimento popular que exista, se for apadrinhado pelo Estado será tudo menos movimento. O Sistema, estruturado em qualquer tipo de Estado, quando dominante, tem a tendência de tragar os movimentos populares e usá-los para os seus objetivos de perpetuação das oligarquias escolhidas, que o representam.
As lutas populares devem ser bem mais profundas, ir além da superfície, além da cor da pele.
Deve-se organizar não um movimento de negros ou de brancos ou de amarelos ou de indígenas, mas um movimento do povo brasileiro, visando desmistificar a farsa democrática em que vivemos. Objetivando a participação real do povo - de todo o povo e não somente de alguns segmentos sociais – no poder e no governo.
Delegar poderes para partidos e coligações políticas, como tem sido feito até agora, é um vício de uma política ultrapassada que somente visa a domesticação das pessoas – de qualquer cor.
O Estado é feito pelo povo e não pelos políticos. Mas a mentalidade do povo brasileiro, de sua maioria, ainda é semifeudal quanto a isso, porque acredita em governantes messiânicos, acredita na centralização do poder em alguns poucos escolhidos, acredita que o senhor que mora no castelo foi ungido pelo deus das urnas para governá-lo.
Ir além da superfície da pele é perceber que a pobreza e a miséria não tem cor neste Brasil. E, se ontem eram os escravos que sofriam sob a chibata e depois aqueles negros que acreditaram que negro tinha que ser comportado e apenas jogar futebol e fazer samba, atualmente a principal segregação é entre os que depositam os seus dólares no exterior e querem a entrega do nosso país ao capital estrangeiro e entre os que não tem o que comer e são ludibriados a cada 2 e 4 anos por promessas eleitorais.
Ir além da superfície da pele também é ir além da consciência negra, que deve existir, mas deve abranger todo o povo brasileiro sofrido e enganado. Hoje não existem mais capitães do mato, mas existe a polícia e o exército que todos os dias invadem favelas onde se refugiam brasileiros de todas as cores.
Ir além da consciência negra é ir além da cor da pele e transformar a própria consciência em consciência de justiça e de igualdade social.
Fausto Brignol.
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