O pipocar enlouquecido dos tiros
nos morros cariocas
- e muito em breve nos morros e não morros
em outras cidades do mesmo país doente –
e nas vielas, nas esquinas, nas estradas,
nos nichos e esconderijos,
nos mínimos e imperfeitos lugares
onde a pátria amada vai caçar os seus filhos
na solidão deste solo,
para humilhá-los, prendê-los, matá-los
heroicamente,
com o seu brado retumbante e a sua clava forte.
A terra mais garrida desce
sobre os inanimados corpos
deitados na vala comum
onde nossos campos tem mais flores
sob o formoso céu profundo,
em berço esplêndido.
O penhor desta igualdade
conquistada pelo braço forte
dos insones assassinos fardados,
amparados pela lei
dos raios fúlgidos nas balas vívidas
brilha no céu da pátria.
A imagem do Cruzeiro resplandece
nos binóculos de longo alcance
e os tiros se sucedem a matar, colossos,
em verde louro e no lábaro vermelho da barbárie,
os impávidos filhos desta terra verdejante.
Coturnos em marcha batida
invadem lares de amor eterno
ao ritmo de “Sal-ve!, Sal-ve!”,
em sonho intenso de grandeza bélica,
enquanto olhos míopes aplaudem
a voz histérica, vampiresca,
da mídia feroz, idolatrada.
Alguém, pouco antes de ser baleado,
diz que em teu seio, ó liberdade,
desafia o nosso peito a própria morte,
terra adorada,
ó mãe gentil!
És tu, Brasil, quem dorme
Hipnotizado
Em drogas plácidas,
Eternamente
No teu sono risonho e límpido.
Fausto Brignol.
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