O boato histórico diz que Nero foi o responsável pelo incêndio de Roma, iniciado na noite de 31 de julho de 64. Roma era uma cidade velha, ocupada pela plebe e seus vícios e o incêndio, se não foi proposital, veio a propósito.
Após o incêndio, Nero desenvolveu um novo plano urbanístico, incluindo a construção de um novo palácio, o Domus Aurea, e Roma ficou mais bonita, os plebeus foram despejados pelas chamas das casas que ocupavam no centro e os patrícios voltaram a dominar o seu primeiro e antigo território.
O grande incêndio de Londres, que durou de 2 a 5 de setembro de 1666, não ocasionou vítimas entre os nobres, mas não se sabe quantos morreram, porque as pessoas pobres e da classe média não eram contadas. Destruiu 13.200 casas, 44 prédios públicos e a Catedral de St. Paul. O arquiteto Cristopher Wren liderou os muitos arquitetos que participaram da reconstrução, que deu origem à área conhecida como City of London, hoje um distrito financeiro. Os pobres foram empurrados para a periferia.
Não importa quem morra – mulheres, crianças ou adolescentes – o importante é começar agora para deixar o Rio de Janeiro “limpo” para 2014.
As Unidades de Polícia Pacificadora, que iniciaram a sua atuação e instalação através do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), em novembro de 2008, na favela Tavares Bastos, nada mais são que tentativas de isolar “o Rio de Janeiro feio” da carioquíssima “Cidade Maravilhosa”.
O tempo urge, o tempo ruge, e o Rio de Janeiro tem que voltar a ser aquela maravilhosa cidade antes da chegada dos primeiros turistas, em 2014, quando da Copa do Mundo, e estar ainda mais perfeito para 2016, quando sediará as Olimpíadas.
Não importa se a invasão de vilas e favelas fere a Constituição, se atirar em cidadãos é um crime. No Estado fascista, os fardados tem sempre razão. E se não tiverem razão ficarão tendo. Sua ação os justifica.
O importante é derrotar o que chamam de narcotráfico: facções de criminosos organizados que atuam na periferia do Rio de Janeiro. Não, não estou me referindo à polícia, mas aos civis que se organizam para vender drogas. De maconha para cima, porque a maconha já está liberada. Cocaína, heroína, estupefacientes em geral – aquelas drogas que deixam as pessoas entre estúpidas e estupefatas.
É claro que a preocupação das autoridades não é com o vício. Este é um país de viciados. Os que não fumam, bebem; os que não bebem, cheiram. E há os que fazem tudo isso. Esta não é a questão. Os viciados continuarão fumando, bebendo e cheirando. E se matando a seu bel-prazer.
O que está incluso na invasão das favelas do Rio é a disputa por território. Quando a plebe, por qualquer razão que seja, ameaça demarcar território, cobrar pedágio a ponto de tornar-se quase um estado dentro do Estado, o Estado oficial reage com fúria. Como ousas, Catilina? Quosque tandem? Cortem-lhe a cabeça!
A estúpida plebe deve entender que é somente uma estúpida plebe. Pode até vender drogas para os patrícios, mas acanhadamente, com a cabeça baixa, de maneira servil como lhe convém. É um serviço necessário, a venda de drogas. Mas deve ser feito de maneira educada. A clientela é imensa e só tende a aumentar. Uma clientela rica, que pode dispor de milhões para seus vícios particulares. Aos pobres, o “crack”, coisa que os ricos nem pensam; para eles drogas especiais, puras, escolhidas.
A plebe agiu muito mal ao pensar que tinha algum poder somente porque fornece drogas aos ricos. Os ricos tem meios de conseguirem as suas drogas preferidas aonde quiserem. Por isso são ricos.
Agora, corram ratos, porque a polícia vem aí! E o Rio de Janeiro está precisando de uma limpeza étnica para ficar mais estético aos olhos dos turistas e dos muitos ricos. Corram, porque a policia, os blindados da Marinha, os soldados do Exército e, se necessário, as forças da Aeronáutica, estão atrás de vocês. E saibam de uma vez por todas que não há lei, justiça ou qualquer tipo de defesa para os que são desclassificados socialmente.
Vocês cometeram o principal pecado em uma sociedade de classes bem delimitadas: desejar ter o seu próprio território. E se resistirem, insistirem em lutar pela própria vida, não se entregarem nos braços armados da Mãe Gentil, preparem-se para incêndios e devastações que trará, depois, uma limpa e educada reurbanização aos olhos do Corcovado.
Fausto Brignol.
Fausto Brignol.
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