domingo, 29 de março de 2009

A OBEDIÊNCIA- FOUCAULT

“O treinamento dos escolares deve ser feito da mesma maneira; poucas palavras, nenhuma explicação, no máximo um silêncio total que só seria interrompido por sinais; sinos, palmas, gestos, simples olhar do mestre, ou ainda aquele pequeno aparelho de madeira que os Irmãos das Escolas Cristãs usavam; era chamado por excelência “Sinal” e devia significar em sua brevidade maquinal ao mesmo tempo a técnica do comando e a moral da obediência” (Foucault, Vigiar e punir, p. 140).

FONTE: http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/expo_escolares/imagensescola.htm

(...)Mas, enquanto a crítica ao poder dominante chamava os Governos à razão, agora são estes que pretendem fazer a crítica aos utentes do espaço público, ou calá-los, com o consentimento destes. O retrato desta figuração encontra-se bem delineado por Foucault que apontou a culpa dos totalitarismos do século XX, não aos governantes, mas aos governados, tese abordada por La Boétie, no século XVI, no seu “Discours de la servitude volontaire”, onde retratava, não o abuso do poder, mas o abuso da obediência. Dizia La Boétie: “ São sempre quatro ou cinco que mantém o tirano; quatro ou cinco que lhe conservam o país inteiro em servidão. Sempre foi assim: cinco ou seis obtiveram o ouvido do tirano e por si mesmos deles se aproximaram; ou então por ele foram chamados para serem os cúmplices de suas crueldades, os companheiros de seus prazeres. Esses seis têm seiscentos que crescem debaixo deles e fazem de seu seiscentos o que os seis fazem do tirano. Esses seiscentos conservam debaixo deles seis mil e esses têm milhões” (“Discurso da Servidão Voluntária” , Ed Brasiliense, SP , 1982: 31-32). Está montado o palco para a tirania, para a ditadura, que só subsiste se houver o abuso do consentimento, o abuso da obediência de todos.. Falar disto é falar do direito desportivo, é falar de como se fazem leis à feição da ditadura de Salazar que seguia o raciocínio de Montesquieu, para quem as leis “sont faites pour des gents de médiocre entendement” (“De l’esprit des lois”, ed. Flammarion, Paris,1979: II, 304). Por isso ninguém foi ouvido, nem convidado a participar na Lei de Bases do Desporto. O Governo fê-la como fazem ao meu cão que aceita tudo o que lhe dão... por submissão, servidão, consentimento e abuso de obediência.(...)

FONTE: http://oldblogs.sapo.pt/comentar?entry_id=324701

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