Ao o indivíduo sai do campo do imaginário para adentrar no campo do simbólico. O homem primitivo, muito mais sensível, captava as imagens, sem analogia, e as fixava mnemicamente; mas conforme evolui começa a abstrair, isto é, a considerar isoladamente, traçando uma correlação, interpretando as formas imagéticas fora dele. É o surgimento da forma simbólica de pensar e para o ser humano o simbólico tem mais valor do que aquilo que ele toca.
Mas a sociedade moderna, voltada para o consumo, atenta contra o pensamento mítico dando ao homem uma “super dosagem” de imagens e ele passa a só entender e valorizar essas imagens.
Um exemplo disso encontramos na fala de um funcionário de uma empresa que chamarei de “XLY”. Disse que ainda se lembrava do início de sua vida profissional nessa conceituada Empresa, da forma como era tratado por ela. Mas ele não conseguia imaginar ou lembrar de algo que não fosse o status que ela lhe dava. Em sua dissertação ficava muito claro o contexto ideológico trabalhando a vaidade e levando os funcionários a “vestirem a camisa” da Empresa. Dessa forma sempre que falava ou pensava em máquinas e equipamentos logo era defendida a ideologia da “XLY”.
O pensar mítico age nos liberando dessa concretude que nos é imposta pela sociedade moderna. O valor do pensamento mítico se deve ao fato de ser ele um trabalho de elucubração do inconsciente e ai reside a sua importância para a Psicanálise já que ela estuda o inconsciente e cuida das doenças existenciais.
Isso quer dizer que ao conhecer as mitologias estamos entrando em contato com o inconsciente social e racial de vários povos, porque como disse Campbell, no mito se revela o que os seres humanos têm em comum.
Dessa forma, a leitura mitológica é uma leitura direta do inconsciente tal qual fazemos ao interpretar um sonho, - “os mitos são uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao que são os sonhos na vida do indivíduo”(Freud).
O sonho, instrumento valioso para a Psicanálise, é uma mitologia pessoal, particular assinalando a existência de um herói, marcando o seu caminho através da “chamada” que o impele na direção de uma busca, uma missão; da “iniciação” e da “glorificação”. O sofrimento extremado do indivíduo no sonho indica que ele não está conseguindo viver sua mitologia pessoal de forma adequada.
Nessa mitologia pessoal, que todos devemos desenvolver independentemente de religião, de dogmas, o indivíduo volta à infância, tenta explicar a sua origem como pessoal.
O psicanalista precisa ter conhecimento sobre mitologia e religião comparada pois a medida que analisa o homem a partir da cultura começa a entender o porque do seu sofrimento, da sua angústia existencial. Se não pesquisar a mitologia não entenderá as raízes dos sofrimentos modernos.
O homem atual, trabalhando maquinalmente, afasta-se mais e mais da sua vontade, ou seja, já não se identifica com o que faz. Alienando-se vai perdendo a capacidade de abstrair, de ter um pensamento individual, de criar um mito pessoal, atendendo tão somente ao mito coletivo da tecnocracia.
A Psicanálise visa a psicocentralização do indivíduo. Levar o indivíduo a pensar por si próprio, a se conscientizar do próprio valor e isso vai protegê-lo do pensar maquinal.(...)
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